segunda-feira, fevereiro 26, 2007

EDUCAÇÃO: PROGRAMA DE DEBATES NA ZONA LESTE

Recebi a programação de debates do Fórum de Educação da Zona Leste para o primeiro semestre de 2007. Vamos participar! Moisés Basilio.

Caríssimas amigas e amigos,

O Fórum de Educação da Zona Leste definiu seu programa de debates para 2007. Serão na USP Leste (Each-Escola de Artes, Ciências e Humanidades), no Auditório Azul, Rua Arlindo Béttio 1000 Ermelino Matarazzo. Ocorrerão sempre em tardes de sábados, nas seguintes datas e horários:

10 de março de 2007, 14h30 às 17h - Educação de Qualidade para Todas e Todos: plano de educação para o município de São Paulo. Pessoas convidadas para exposição inicial:

João Kleber de Santana Souza, diretor da Escola Municipal de Ensino Fundamental Prof. José Pedro Leite Cordeiro (15 min)

Alexandre Alves Schneider, Secretário Municipal de Educação de São Paulo (15 min)

14 de abril de 2007, 14h30 às 17h - O Sentido do Ensino Médio: alto índice de estudantes da Zona Leste que abandonam a escola. Pessoas convidadas para exposição inicial:

Milton Alves Santos, integrante da equipe de assessores da ONG Ação Educativa, Área Juventude (15 min)

Luiz Candido Rodrigues Maria, coordenador da Cogsp-Coordenadoria de Ensino da Grande São Paulo, Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (15 min)

19 de maio de 2007, 14h30 às 17h - Formação Profissionalizante e Mercado de Trabalho: a pequena oferta na Zona Leste. Pessoas convidadas para exposição inicial:

Dulce Helena Cazzuni, Secretária do Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão de Osasco (15 min)

Hiroshi Kimura, subdelegado da Subdelegacia da Zona Leste do Ministério do Trabalho e Emprego (15 min)

16 de junho de 2007, 14h30 às 17h - Presença da USP na Zona Leste. Pessoas convidadas para exposição inicial:

Héber Rocha, estudante da USP Leste e diretor do Diretório Central dos Estudantes da USP (15 min)

Ulisses Araújo, coordenador do Nasce-Núcleo de Apoio Social, Cultural e Educacional da USP Leste (15 min)

Prevê-se a participação de um público principalmente (mas, não exclusivamente) composto por profissionais de escolas públicas básicas e líderes comunitários da Zona Leste.

Divulguem amplamente e compareçam. Participem do grupo eletrônico de discussão do Fórum de Educação da ZonaLeste: forumeduca_leste@yahoo.com.br. Mais informações sobre o Fórum no portal fdezl.incubadora.fapesp.br (sem www).

Abração!

Elie Ghanem (professor) 11-9219-9960
Faculdade de Educação da USP
Avenida da Universidade 308 - Cidade Universitária
05508-900 São Paulo SP

EFEITO ESTUFA E AQUECIMENTO GLOBAL

Recebi do meu amigo João Kleber esta animação. Moisés Basílio.

Animação que explica o efeito estufa e aquecimento global é só clicar
http://earthguide.ucsd.edu/earthguide/diagrams/greenhouse/

sábado, fevereiro 24, 2007

EXIGÊNCIAS DA NOVA POBREZA

Há quatro anos, em 2003, foi realizada aqui no distrito do Sapopemba, zona leste de São Paulo, uma série de audiências públicas convocadas pelos Movimentos Sociais locais para cobrar dos poderes públicos, principalmente do Governo Municipal, investimentos para enfrentar as demandas sociais do distrito.
A primeira dificuldade foi conseguir dados regionalizados, pois os orçamentos são centralizados e divididos por secretarias que não se intercomunicam. Por exemplo: Uma demanda prioritária dos Movimentos Sociais era em relação aos investimentos ao quesito Infância e Juventude. Ora, os orçamentos em todos níveis de governo apresentam diversos programas para atender essa demanda, mas sem nenhuma relação entre eles, porque estão espalhados pelas diversas secretarias de educação, assistência social, esporte, saúde, etc., e nos diferentes níveis de governo. Não raro é existir disputas entre os diferentes órgãos governamentais em cima da mesma demanda com o objetivo de aumentar as suas áreas de influências, prestígio, poder com o aumento de suas rubricas orçamentárias.
Outro dado importante, durante esse processo, e que não coincidiu com a avaliação dos Movimentos Sociais, foi descobrir que a região contava com a maior receita absoluta entre todos os distritos da capital.
Daí resultavam duas questões: 1)As demandas represadas era de tal monta que mesmo com grandes investimentos, as respostas seriam demoradas; 2) A eficiência e a eficácia na aplicação dos recursos públicos deveriam ser revistas. Infelizmente esse processo não seguiu adiante naquele momento e as questões não foram respondidas.
Outro ponto importante que o artigo destaca é quanto ao peso do funcionalismo público na implementação das políticas públicas e sociais. O artigo constata a redução que vem sofrendo o funcionalismo público direto nos últimos anos em relação ao crescimento populacional. Há aqui, ao meu ver, duas novas tendências que estão se impondo, que o artigo não quantifica e nem qualifica. De um lado os serviços públicos e sociais estão sendo terceirizados para empresas privadas, e de outro lado estão sendo assumidos por organizações do terceiro setor, as ditas ONGs.
Este artigo do Márcio Pochmann nos dá elementos para pensarmos os atuais limites matriciais que estamos vivendo em relação a implementação das políticas públicas e sociais no Brasil. Moisés Basílio.


Opinião - Exigências da nova pobreza
Valor Econômico - 22/02/2007
Márcio Pochmann

A superação da visão de pobreza natural prevalecente no século XIX deu lugar à estruturação do Estado em novas bases para tratar do pauperismo emergente do capitalismo urbano-industrial. Até então, a concepção de pobreza natural não levava a demandas de políticas públicas, a não ser às de repressão policial para manter a ordem burguesa. Isso porque a pobreza era definida como inevitável e de estrita responsabilidade da própria população pauperizada, que "teimava" em se reproduzir num ritmo maior que o da produção de alimentos, conforme explicava, desde 1789, Thomas Malthus no famoso Ensaio Sobre a População.

As primeiras experiências de políticas públicas voltadas ao enfrentamento da nova pobreza resultaram na departamentalização do Estado, como no caso da Inglaterra, que por intermédio das Leis dos Pobres aprovadas pelo Parlamento inglês e postas em práticas pelas paróquias e magistrados locais (casas de trabalho), definiam os carentes não mais como vítimas, mas portadores de direitos de proteção e apoio social. Mesmo assim, a concessão por parte do
Estado do indispensável para não morrer de fome não era acompanhado do direito de cidadania (mobilidade territorial e voto).

Com o pioneiro estudo de Rowntree, em 1901, os segmentos populacionais pobres que se reproduziam na cidade de York, em meio à abundância da industrialização inglesa, passaram a ser definidos cientificamente a partir da medida de insuficiência de renda para reprodução humana. A partir daí, as interferências do Estado se tornaram cada vez mais departamentalizadas e especializadas para o enfrentamento da condição de privação social
reproduzida pelo avanço material do capitalismo industrial. Em síntese, o Estado passou a se estruturar na forma especializada de departamentos educação, saúde, habitação, trabalho, transporte, entre outros) para lidar parcialmente com as incapacidades individuais da população pauperizada, o que gerou o padrão de políticas sociais do século 20.

No Brasil, a estruturação do Estado não foi diferente. A partir da Revolução de 1930 que a ossatura do Estado avançou decisivamente na forma departamentalizada de ações especializadas para tratar da manifestação diferenciada das carências individualizadas (pobre faminto, pobre
analfabeto, pobre sem teto, pobre desassistido, pobre doente, entre outras modalidades). Apesar dos avanços verificados desde então, o país segue, neste início do século 21, sem superar a velha condição de pobreza, com a significativa presença de famintos, analfabetos, sem teto etc. Para agravar, verifica-se a manifestação de uma nova pobreza, não mais parcial e individualizada pela condição de baixa renda, fome, reduzida educação etc, mas sistêmica no quadro geral de vulnerabilidades que se totalizam sobre o indivíduo.

Justamente por conta disso, as políticas públicas tradicionais, estruturadas por departamentos especializados, estão condenadas ao enfrentamento fracassado da nova pobreza, comprometendo recursos relativamente ascendentes e oferecendo resultados decrescentes por unidade de dispêndio. Não se justificam mais como avanço isolado no interior dos complexos da política social, seja no âmbito da habitação popular, da qualificação profissional, da assistência, da educação, da saúde, entre outras. É preciso reconhecer que a nova pobreza é totalizante, exigindo, portanto, matricialidade nas políticas públicas e articulação inteligente do conjunto das ações no plano territorial. Em síntese, cabe uma nova ossatura do Estado. Não mais os sistemas únicos de especialização do Estado departamentalizado que se estruturam por caixinhas (saúde, assistência, trabalho, habitação, entre outros) e operam como se a pobreza pudesse ser fatiada. É por isso que o sucesso de uma política pública tende a se restringir apenas e tão somente a uma parte dos pobres, como no caso da redução da desigualdade no Brasil vista tão somente pela repartição do rendimento do trabalho) que ocorre simultaneamente ao aumento do desemprego, da diminuição do salário real e da piora da educação durante os últimos dez anos.

Nos dias de hoje, o avanço social requer um novo padrão de políticas públicas. Mas para isso, urge superar três constrangimentos no Brasil: 1) o anacronismo do processo orçamentário, que ainda funciona com rubricas inibidoras da gestão compartilhada de recursos e ações; 2) a concepção ultrapassada de gestores e corporações quanto à nova pobreza e 3) o conservadorismo das elites em relação à necessária estruturação matricial do Estado. Sobre isso, aliás, destaca-se a fraqueza do Estado para lidar com a nova questão social frente à redução relativa do quadro de funcionários públicos. Se até a década de 1980 o emprego público era crescente e compatível com o aumento da população (de 1,2% para 5,1% dos habitantes entre 1940 e 1980), a partir de 1990 ele vem decaindo, para se situar num dos mais baixos parâmetro do mundo.

A nova pobreza requer um outro padrão de política pública no Brasil. Mas este se encontra bloqueado por constrangimentos vinculados à concepção ultrapassada do papel do Estado em relação à questão social. Até quando?

Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro
de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade de Campinas.

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Ser negro no Brasil: alcances e limites

Um bom artigo acadêmico para nos situarmos no emaranhado das questões técnicas sobre o que é ser negro no Brasil. Moisés Basílio

Fonte: site scielo Brasil - www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142004000100006&script=sci_arttext&tlng=pt Fátima Oliveira -


RESUMO

O ARTIGO aborda a mestiçagem, a condição de afro-descendência e a classificação racial oficial do Brasil (IBGE), além de tecer breves considerações sobre os conceitos de raça e de etnia; identidade racial/étnica; e políticas de ação afirmativa segundo sexo/gênero e raça/etnia. Conforme convenção do IBGE, no Brasil, negro é quem se autodeclara preto ou pardo, pois população negra é o somatório de pretos e pardos. Para fins políticos, negra é a pessoa de ancestralidade africana, desde que assim se identifique.


ABSTRACT

THIS ARTICLE deals with mixed ancestry, the condition of afro-descent and the official classification of races in Brazil, and includes brief considerations on the concepts of race and ethnicity, on racial/ethnic identification, and on sex/gender- and race/ethnicity-specific affirmative action policies. According to convention adopted by the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE), a black person in Brazil is anyone who claims to be black or brown, inasmuch as the black population is deemed as the sum total of all blacks and mulattos. In political terms, a black person is anyone of African descent who identifies him/herself as such.


O BRASIL É UM PAÍS mestiço, biológica e culturalmente. A mestiçagem biológica é, inegavelmente, o resultado das trocas genéticas entre diferentes grupos populacionais catalogados como raciais, que na vida social se revelam também nos hábitos e nos costumes (componentes culturais). No contexto da mestiçagem, ser negro possui vários significados, que resulta da escolha da identidade racial que tem a ancestralidade africana como origem (afro-descendente). Ou seja, ser negro, é, essencialmente, um posicionamento político, onde se assume a identidade racial negra.

Identidade racial/étnica é o sentimento de pertencimento a um grupo racial ou étnico, decorrente de construção social, cultural e política. Ou seja, tem a ver com a história de vida (socialização/educação) e a consciência adquirida diante das prescrições sociais raciais ou étnicas, racistas ou não, de uma dada cultura. Assumir a identidade racial negra em um país como o Brasil é um processo extremamente difícil e doloroso, considerando-se que os modelos "bons", "positivos" e de "sucesso" de identidades negras não são muitos e poucos divulgados e o respeito à diferença em meio à diversidade de identidades raciais/étnicas inexiste. Desconheço estudos brasileiros consistentes sobre identidade racial/étnica.

As classificações raciais: alcances e limites

Em 1775, Johann Friedrich Blumenbach (1752-1840), alemão, fundador da Antropologia, determinou a região geográfica originária de cada raça e a cor da pele como elementos demarcatórios entre elas (branca ou caucasiana; negra ou etiópica; amarela ou mongólica; parda ou malaia e vermelha ou americana). No século XIX, foram agregados outros quesitos fenotípicos, como o tamanho da cabeça e a fisionomia. Desde Blumenbach, no entanto, a cor da pele aparece como um dado recorrente. Inferindo-se, daí, que, dos dados do fenótipo, isto é, das características físicas, a "cor da pele" é o que tem sido mais usado e considerado importante, pois aparece em quase todas as classificações raciais.

Para fins de estudos demográficos, no Brasil, a atual classificação racial do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) é a que é tomada como oficial desde 1991. Tal classificação tem como diretriz, essencialmente, o fato de a coleta de dados se basear na autodeclaração. Ou seja, a pessoa escolhe, de um rol de cinco itens (branco, preto, pardo, amarelo e indígena) em qual deles se aloca. Como toda classificação racial é arbitrária e aceita não sem reservas, a do IBGE não foge à regra, pois possui limitações desde 1940, quando coletou pela primeira vez o "quesito cor"*. Sabendo-se que raça não é uma categoria biológica, todas as classificações raciais, inevitavelmente, padecerão de limitações. Todavia, os dados coletados pelo IBGE, ao reunir informações em âmbito nacional, são extremamente úteis, pois apresentam grande unidade, o que permite o estabelecimento de um padrão confiável de comparação.

O IBGE trabalha então com o que se chama de "quesito cor", ou seja, a "cor da pele", conforme as seguintes categorias: branco, preto, pardo, amarelo e indígena. Indígena, teoricamente, cabe em amarelos (populações de origem asiática, historicamente catalogados como de cor amarela), todavia, no caso brasileiro, dada a história de dizimação dos povos indígenas, é essencial saber a dinâmica demográfica deles. Um outro dado que merece destaque é que a população negra, para a demografia, é o somatório de preto + pardo. Cabe ressaltar, no entanto, que preto é cor e negro é raça. Não há "cor negra", como muito se ouve. Há cor preta. Apesar disso, em geral, os pesquisadores insistem em dizer que não entendem, mesmo com a obrigatoriedade ética de inclusão do "quesito cor" como dado de identificação pessoal nas pesquisas brasileiras desde 1996, segundo a Resolução 196/96. Normas de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (VI. Protocolo de pesquisa. VI.3 '- informações relativas ao sujeito da pesquisa [...] cor [classificação do IBGE]).

A identidade racial/étnica

De acordo com a convenção do IBGE, portanto, negro é quem se auto-declara preto ou pardo. Embora a ancestralidade determine a condição biológica com a qual nascemos, há toda uma produção social, cultural e política da identidade racial/étnica no Brasil.

Vale mencionar ainda as polêmicas sobre o conceito de raça e de etnia, que, grosso modo, raça deveria ser um conceito biológico, enquanto etnia deveria ser um conceito cultural. Não sendo raça uma categoria biológica, etnia também se revela como um conceito que não é estritamente cultural, pois a delimitação de grupos étnicos parte de uma suposta alocação deles no conjunto dos grupos populacionais raciais sem abstrair a unidade do local de origem, e, para delimitar etnia, considera-se a concomitância de características somáticas (aparência física), lingüísticas e culturais. Enfim, o conceito de raça é uma convenção arbitrária e pode ser enquadrada como uma categoria descritiva da antropologia, uma vez que é baseada nas características aparentes das pessoas. Portanto, o uso dos termos raça ou etnia está circunscrito à destinação política que se pretende dar a eles.

Estudos da genética molecular, sob o concurso da genômica, são categóricos: a espécie humana é uma só e a diversidade de fenótipos, bem como o fato de que cada genótipo é único, são normas da natureza. Tendo o DNA como material hereditário e o gene como unidade de análise, não é possível definir quem é geneticamente negro, branco ou amarelo. O genótipo sempre propõe diferentes possibilidades de fenótipos. O que herdamos são genes e não caracteres!

Se para as ciências biológicas raça não existe e é consensual nas ciências sociais que o conceito de raça está superado, por que a insistência, em particular do movimento negro, em usá-lo como um paradigma da luta contra a opressão de base racial/étnica, ou seja, do racismo? Por questões políticas, já que o racismo existe e é uma prática política que tem por base não apenas a existência das raças, mas que as "não-brancas" são inferiores.

Políticas de ação afirmativa segundo sexo/gênero e raça/etnia

A alocação das pessoas segundo classe social, sexo/gênero e raça/etnia se constitui em indicadores que podem ser traduzidos em políticas públicas antidiscriminatórias na área da saúde, da educação, do saneamento, da habitação, da segurança etc. Um exemplo paradigmático é dado pelo Dossiê "Assimetrias raciais no brasil: alertas para a elaboração de políticas", publicado pela Rede Feminista de Saúde e elaborado pela pesquisadora Wânia Sant'Anna (2003). Este Dossiê promove um diálogo entre dados com recorte racial/étnico nas mais diferentes áreas da vida social, sistematizados pelo Ipea e obtidos das PNADs da década de 1990 até 2001, além dos Megaobjetivos do "Plano Plurianual (PPA) 2004-2007 - Orientação estratégica de governo, um Brasil de todos: crescimento sustentável, emprego e inclusão social". O referido Dossiê visibiliza a crueza da realidade vivenciada pela população negra, uma situação de desvantagens e vulnerabilidades em todas as esferas da vida (disponível em < www.redesaude.org.br/dossies/html/dossieassimetriasraciais.html).

A medicina baseada em evidências demonstra que algumas doenças são mais comuns ou mais freqüentes, ou evoluem de forma diferenciada, em determinados agrupamentos humanos raciais ou étnicos, conforme determinadas interações ambientais e culturais com o patrimônio genético. Relembrando que humanos são seres biológicos regidos também por leis biológicas, urge considerar que há uma produção social da enfermidade, ou da manutenção da sanidade, nas condições das sociedades de classes, da opressão racial/étnica e da opressão de gênero. Diante do exposto, o significado político de se dar visibilidade aos dados da morbidade e da mortalidade segundo sexo/gênero e raça/etnia é incomensurável.

No caso da população negra, há vários estudos que corroboram que o recorte racial/étnico na saúde é um componente essencial para a compreensão do que chamamos predisposição biológica, a qual, como tenho afirmado em vários escritos, significa a maior ou a menor capacidade de um ser vivo responder às complexas interações solicitadas pelo meio ambiente físico, e, no caso de humanos, também pelo meio ambiente cultural em que vive. A predisposição biológica resulta e refere-se a um longo processo evolutivo da humanidade, é o binômio indissociável: constituição hereditária + meio ambiente. O que quer dizer que o caráter social e histórico das doenças é amplamente demonstrado através da história de vida das pessoas, e esta está intimamente vinculada ao sexo (ao privilégio ou desprivilégio de gênero); à raça/etnia (à vivência ou não do racismo).

Apesar das limitações inerentes ao que se convenciou denominar de classificação racial, é de grande valia uma classificação racial como a brasileira, pois através dela é possível delimitar de que adoece (morbidade) e de que morre a população negra, indicadores fundamentais para políticas de combate ao racismo institucional no aparelho formador, nas instituições e profissionais de saúde, sendo o mesmo válido para outras áreas.

Texto recebido e aceito para publicação em 23 de fevereiro de 2004

Fátima Oliveira é médica, secretária executiva da Rede Feminista de Saúde (2002-2006) e presidenta da Regional Minas Gerais da Sociedade Brasileira de Bioética. Autora de: Engenharia genética: o sétimo dia da criação (Moderna, 1995); Bioética: uma face da cidadaniaOficinas mulher negra e saúde (Mazza, 1998); Transgênicos: o direito de saber e a liberdade de escolher (Mazza, 2000); O "estado da arte" da reprodução humana assistida em 2002 e Clonagem e manipulação genética humana: mitos, realidade, perspectivas e delírios (CNDM/MJ, 2002); e Saúde da população negra, Brasil 2001 (Moderna, 1997); (OMS/Opas, 2002).

* Em 1940, o "quesito cor" era composto de: amarelo, branco e preto, mas havia o recurso para "cor indefinida" - que na tabulação dos dados foi denominada de "pardo" - o qual englobava: mulato, caboclo, moreno e similares que expressassem "não-brancos" e não enquadrados como amarelo ou preto.

Saúde da População Negra

Fonte: Orkut - Comunidade Saúde da População Negra
Livros

Em 2001, Fátima Oliveira compilou e o Ministério da Saúde editou o livro "Saúde da População Negra".
É composto por textos de diversos autores fazendo um levantamento histórico, social e epidemiológico do povo negro brasileiro.
Este material tem servido de base para muitos partirem para aprofundamento das questões ali expostas.
No endereço abaixo é possível fazer o download do livro.

http://www.opas.org.br/publicmo.cfm?codigo=68

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

ARTIGOS SOBRE INCLUSÃO SOCIAL NAS UNIVERSIDADES

Apresentação do site INCLUSÃO SOCIAL um debate necessário? - da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG - www.ufmg.br/inclusaosocial/

Atualmente, 24 universidades brasileiras têm projetos de reserva de vagas, nove delas federais e 15 estaduais. Na UFMG, o debate tem se intensificado e o objetivo deste sítio na Internet é exatamente o de estimular a reflexão e reunir sugestões sobre que caminhos tomar para que consigamos, definitivamente, promover a inclusão social na Universidade.

A sociedade brasileira espera muito de suas instituições públicas de ensino superior. Não é possível desconhecer essas expectativas e esperanças. Ao contrário, devemos tecer nossa tarefa articulada às aspirações e necessidades de nosso povo. É necessário, portanto, realizar uma reflexão, certamente complexa, talvez penosa, mas necessária e urgente sobre este tema.

Resumo do artigos já publicados no site até fevereiro 2007.

O debate sobre as ações afirmativas…
“eminentemente político, que reflete a visão de mundo dos que dele participam, e também - o que se costuma deixar de lado - as posições que cada um ocupa na sociedade.” DA TRIBUNA DA Câmara costumava dizer que a Abolição da Escravatura no Brasil não passava de uma bela mentira […]

8 DE NOVEMBRO DE 2006
A discussão das cotas para a população negra nas universidades brasileiras criou uma grande celeuma entre os intelectuais, inclusive os de esquerda. É certo que, neste caso, não podemos falar em mocinhos e bandidos, em racistas e anti-racistas, pois existem personalidades progressistas dos dois lados da trincheira.
Porém, se observarmos atentamente a […]

As divergências sobre as quotas oferecem uma boa oportunidade para se discutir os caminhos da democratização do terceiro grau para o Brasil. De um lado, encontram-se os professores, reitores e estudantes brancos que já estão cursando a universidade. Do lado de cá estamos nós, dos movimentos sociais negros, com poucos aliados numa sociedade que até […]

Em praticamente todos os argumentos de ação afirmativa em admissões das universidades, inclusive aquele feito pela Universidade de Michigan em seu atual caso na Suprema Corte, está a afirmação de que a tolerância racial e a experiência educacional são maiores em um corpo estudantil diverso. Ainda assim, esse pode não ser o caso de alunos, […]

Uma das características mais perversas do subdesenvolvimento é a de copiar “modismos” que ocorrem nos países desenvolvidos sem entendê-los completamente e sem nenhum espírito crítico. Esse é o caso de um dos mais recentes deles, que é o estabelecimento de cotas para negros nas universidades públicas, que foram introduzidas em algumas universidades americanas há vários […]

Com a turbulência política das últimas semanas, caiu numa espécie de limbo, como tudo o mais, o debate sobre o anteprojeto de reforma universitária em discussão já há alguns meses. Mas, no lapso de tempo em que o novo texto foi debatido, salvo raras vozes discordantes, em geral concluiu-se que, mesmo não sendo ainda o […]

Minha manifestação neste espaço busca debater as posições apresentadas em número anterior sobre a adoção de uma política de cotas raciais na UFMG. Para tal, centro-me na problematização do conceito de mérito que sustenta, no artigo, a rejeição à adoção de uma política de ações afirmativas em nossa Universidade.
Antes, porém, deixe-me situar de onde falo: […]

Em vez de discutir cota, é melhor investir na educação. Não se deve adotar um sistema que separa por raça, pois isso criará racismo. Não se pode ferir o princípio constitucional de que todos são iguais perante a lei. Nunca pode ser revogado o princípio do mérito acadêmico. Os argumentos se repetem e parecem ótimos. […]

“as pessoas têm direito a ser iguais sempre que a diferença as tornar inferiores, contudo têm também direito a ser diferentes sempre que a igualdade colocar em risco as suas identidades”. Boaventura Souza Santos

Somos jovens integrantes do Programa Ações Afirmativas na UFMG, Observatório da Juventude da UFMG, Conexões de Saberes e Conexões de Saberes + […]

Marcelo Chiaretto (Professor Adjunto, COLTEC/FALE/UFMG)
Em uma democracia moderna, o professor de leitura costuma desempenhar um papel ambíguo. Por um lado, pode transformar interesses e discursos em vontade política legítima de comunidades. Por outro lado, tem interesses particulares ligados à sua própria identidade e formação que se refletem na sua leitura de mestre, necessária de se […]

1- as cotas ferem o princípio da igualdade, tal como definido no artigo 5º da Constituição, pelo qual “todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza”. São, portanto, inconstitucionais.
Na visão, entre outros juristas, dos ministros do STF, Marco Aurélio de Mello, Antonio Bandeira de Mello e Joaquim Barbosa Gomes, o princípio […]

Os argumentos contra as cotas raciais me lembram daquele conto. Como se a declaração de que o rei está nu é que o desnudasse
As posições expressadas pelos opositores da instalação de um regime de cotas raciais na universidade pública brasileira me fizeram lembrar da história de Hans Christian Andersen em que um menino denuncia: “O […]

A adoção de cotas no vestibular de 2003 da Uerj resultou numa enxurrada de pedidos de mandados de segurança, por parte de candidatos que se sentiram prejudicados. O mais pungente desses casos é o de Ricardo Menezes da Silva, de 18 anos. Através de uma reportagem publicada no GLOBO de 26 de fevereiro, soubemos que […]

Certamente, a humanidade do futuro não acreditará em raças mais do que acreditamos hoje em bruxaria
Do ponto de vista biológico, raças humanas não existem. Essa constatação, já evidenciada pela genética clássica, hoje se tornou um fato científico irrefutável com os espetaculares avanços do Projeto Genoma Humano. É impossível separar a humanidade em categorias biologicamente significativas, […]

Prof. Dr. Kabengele Munanga (USP)
Etmologicamente, o conceito de raça veio do italiano razza, que por sua vez veio do latim ratio, que significa sorte, categoria, espécie. Na história das ciências naturais, o conceito de raça foi primeiramente usado na Zoologia e na Botânica para classificar as espécies animais e vegetais. Foi neste sentido que o […]

Warley Matias de Souza
(Estudante de graduação do oitavo período do curso de Letras)
08 de outubro de 2006

As cotas vão eliminar toda a defasagem escolar e social do indivíduo beneficiado? Não. As cotas vão fazer com que a Universidade possa experimentar a ilusória sensação de dever cumprido? Talvez sim. Afinal de contas, qual os benefícios […]

terça-feira, fevereiro 06, 2007

AQUECIMENTO GLOBAL

No final de semana a questão do aquecimento global tomou conta da mídia. Entre as várias coisas faladas, gostei da crônica do velho Nei Lopes contando como assunto foi comentado lá pelas bandas do Rio de Janeiro. Moisés Basílio.

Fonte: Blog Meu Lote - Nei Lopes - www.neilopes.blogger.com.br

Aqui no Lote e na vizinhança não se fala de outra coisa. É "aquecimento global" pra lá, "aquecimento global pra lá"... Mas ninguém sabe direito o quê que é. E aí, tome de opinião, entre uma lapada e outra de 51; entre uma e outra caneca de vinho "Sultão"; entre um versículo e o seguinte do Apocalipse, ao som de mais um desafinado "louvor gospel".

- Chegou a hora do juízo! E quem nunca teve, vai ser cozido feito costela abafada no forno do Maldito!

Isso, quem berra é o ministro Ebenézer, do Tabernáculo Hexagonal das Sarças de Fogo do Monte Horebe, o qual, em seus tempos de folia, calango e timbuca, era só conhecido como "Bené da Sanfona".

Já o pessoal da obra acha que "Cimento Global" é mais uma propaganda enganosa. E Seu Pedro Pedreira alerta o servente sobre o perigo da novidade:

- Cês lembra do tal de "Cal Marx" que apareceu quando o Alemão da Loja se candidatou a vereador pelo PC do B? Ele dizia pra gente que vinha da Alemanha, que vendia muito na Rússia, mas quando a gente foi caiar aquele muro, cês lembra? O muro caiu... Essas novidades nunca dão certo. O melhor é a gente ficar com o Mauá, com o Irajá, com o Barroso e não trocar o certo pelo duvidoso.

Mas Djosilayne, Khristielly e Rosymarley, que já gostam de uma novidade, estão que é um ouriço só. Pra elas, agora, no baile do Furacão, com o MC Foguinho de São João, a chapa vai esquentar ainda mais. E aí, elas vão poder ganhar neném mais cedo; e pedir o DNA já com 11, 12 anos.

Já as irmãs Selma, Sandra e Sueli não estão nem um pouquinho "hezitada" - como escreveu a primeira num bilhete à segunda. É que, pra elas, "aquecimento global", de verdade, é namorar motorista de ônibus e ir daqui até a cidade, todo dia, sentada em cima do motor.

Agora... vibrando mesmo quem está é o Dezóio, nosso amigo e guru para assuntos de aluguel e copiagem ilícita de fitas de vídeo e DVDs.

Dezóio é vidrado em televisão e filmes de ação. E é certamente por isso ou para isso que ostenta aqueles zoião butucado (do quicongo 'butuka', nascer, brotar; ver a luz do dia, seg. o Novo Dicionário Banto do Brasil, Pallas, 2003) que lhe valeram o apelido. Então, quando ouviu falar em "aquecimento global", nosso amigo butucou ainda mais os olhos e quase teve um troço, de tão contente:

- Caraca, maluco! Agora mesmo é que não perco mais nenhuma "Tela Quente" nem "Temperatura Máxima"! A Globo é fera, mermo, né não ?!

E saiu, mandando a velha fuleira:

- Tchau! A gente se vê por aqui!

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

A democracia de aluguel

Um bom texto para refletirmos sobre os problemas atuais que o mundo e o Brasil vêm enfrentando para a construção da Democracia com D maiúsculo. Moisés Basílio

Fonte: O Estado de São Paulo - 26/01/2007 - caderno Aliás

Organização que aluga manifestantes para diferentes causas joga água gelada no devaneio de um protesto social puro

José de Souza Martins*

Já foi o tempo em que o protesto social era praticado direta e exclusivamente pelos interessados na defesa de uma causa, de um direito ou no questionamento de uma violação de direitos. No mundo inteiro, a luta operária era de operários; a luta estudantil era de estudantes; a luta camponesa era de camponeses; a luta feminina era das mulheres. A notícia difundida pela BBC e pelos jornais, nesta semana, do surgimento, na Alemanha, de uma organização que aluga manifestantes para diferentes causas joga água gelada no devaneio de um protesto social puro e legítimo. Por cerca do equivalente a R$ 300,00, um manifestante de aluguel pode participar da multidão, carregar cartazes, gritar palavras de ordem e defender uma causa que não é a sua e que não o afeta diretamente.

De outro modo e com outro formato, já havíamos inventado isso aqui na América Latina e no Brasil em particular. É até antigo o empréstimo de manifestantes, de um grupo social por outro, em favor de causas que nada têm a ver com a condição social daquele em cujo nome a manifestação se faz. Durante muito tempo se pensou que isso representava a generosa e comovente solidariedade de um grupo social em relação a outro. Com o tempo foram surgindo indicações de que esse deslocamento de sujeitos de uma causa para outra era em boa parte oportunismo de grupos de manipulação. Os nossos coronéis sertanejos fizeram isso durante os longos anos da República Velha, rurícolas miseráveis arrebanhados como gado manso para fazer-se representar por delegados cujos interesses eram opostos aos seus em troca de uma dentadura ou de favor futuro.

O pagamento a cabos eleitorais para fazer boca de urna em favor de candidatos e partidos, forma de pressão política que só recentemente começou a ser combatida, foi a nossa maneira de criar um mercado de serviços políticos de ocasião não muito diferente do que começa a acontecer na Alemanha. A diferença é a de que lá as demandas dos manifestantes alugados são principalmente de causas restritas, como melhor assistência hospitalar aos velhos ou melhores serviços públicos para determinadas categorias que se sentem prejudicadas. Aqui, tudo tende ao partidário, como temos visto com freqüência.

Aqui, o nosso manifestante de aluguel ainda se esconde no rebuço dos empregos públicos de recompensa por sua militância e, portanto, se esconde no pagamento indireto de uma causa que vai além da causa de seu próprio bolso. Não raro racionaliza e fantasia para atenuar a culpa que decorre da invasão de sua vida e da sua consciência pelas premissas e pelos critérios da economia de mercado e do próprio neoliberalismo que denuncia e combate até com barulhenta convicção. É evidente que há nesse quadro as muitas exceções dos profissionais competentes motivados pelo afã de prestar competente serviço ao Estado e à sociedade.

A mais difundida racionalização dessas formas de empréstimo e aluguel de manifestantes e de militâncias é a de que as diferenças se combinam em nome de causas que são componentes de um sistema político de demandas que convergiriam no ápice de um regime político que resolveria todas as nossas misérias e todas as nossas contradições. Aqui há no manifestante de empréstimo uma certa personificação de um eu coletivo que age em nome da sociedade, sobretudo a sociedade do futuro e nova, a sociedade 'alternativa' da terra sem males, a terra que mana leite e mel, o beatífico socialismo tropical. Mas há também os muitos que são recompensados com os empregos públicos de livre provimento, mais do que aluguel de manifestante, verdadeiro arrendamento da militância política.

Não tem sido menos importante, a pretexto da solidariedade, a ocupação consentida da manifestação de um grupo por outro, nos casos daqueles que são politicamente débeis ou conjunturalmente enfraquecidos, cuja demonstração solitária indicaria antes fraqueza do que força política.

Foi o que aconteceu com a classe operária e seus sindicatos nas caronas que pegou nas demonstrações dos sem-terra na Praça dos Três Poderes, em Brasília, mais de uma vez.

A diferença entre o que se evidenciou agora na Alemanha e o que acontece no Brasil há mais tempo é que lá, sociedade moderna e desenvolvida que é, a decisão de alugar-se para protestar é decisão individual, de cidadão que abre mão da sua cidadania em favor da dos outros. Aqui, a decisão dos manifestantes fora de seu lugar social tem ainda forte carga de manipulação coletiva, de grupos organizados de interesse político (e, quem sabe, outros mais), mediante formas indiretas de compensação material.

O que separa essas distintas manifestações de abastardamento da consciência e da ação política é a forma da venda e da compra, do aluguel e do arrendamento, perdidos que estamos num passado que insiste em permanecer. A cidadania precária ainda é uma cidadania de manipulação. Mudou apenas o dono do curral, que de eleitoral passou a ser curral de demandas sociais, nem por isso menos legítimas, ainda que em forma antidemocrática.

Essas transfigurações do processo democrático e a diluição dos sujeitos sociais e políticos em práticas teatrais, nas quais o cidadão se propõe como ator e não como agente, substituem as categorias sociais e políticas em nome das quais a sociedade contemporânea passou a pensar-se desde a Revolução Francesa. Essa é uma das razões pelas quais as pregações políticas em nome de visões de mundo que estavam referidas às práticas e aos sistemas conceituais que as grandes revoluções sociais e políticas nos legaram, tornam-se inconsistentes e caricaturais na nova realidade de uma militância teatral e remunerada.

A imensa questão que se abre diante de nós, em face da emergência e disseminação dessas modalidades de manifestação das demandas sociais, é a questão da democracia. Que democracia é essa da cidadania de aluguel, do sujeito político sem um rosto próprio e de demandas sociais que tem preço de mercado antes de terem conseqüências políticas?

*José de Souza Martins é professor de sociologia da Faculdade de Filosofia da USP

Dois tipos de lutas populares

Tirei o texto abaixo, escrito em galego, de um site - <www.galizalivre.org> - de movimentos populares da Galiza - uma das regiões autônoma da Espanha. Note que o idioma galego é bem próximo do português. Este texto aborda uma discussão acalorada que travei dias atrás sobre "democracia" e formas de lutas política e sociais com meus filhos.
Achei o texto interessante porque além de abordar a clássica discussão entre "revolução ou reforma", traz essa discussão para o cotidiano de uma luta atual que o povo da Galiza vem enfrentando no que diz respeito a construção dos Trens de Alta Velocidade - TGV - do francês: Train à Grande Vitesse.
Não concordo com o dualismo que o autor estabelece entre as duas formas de lutas - "assembléias ou plataformas", embora reconheça as dificuldades de articulá-las. Um exemplo disso é a experiência do Partido dos Trabalhadores. Lembro que nos primeiros 10 anos do PT, entre 1980 e 1990, ele foi mais "assembléias" do que "plataformas", ou seja, o PT era mais expressão das lutas populares do que da dinâmica institucional. Esse acumulo de forças, adquiridos nas lutas populares, fez o partido crescer dentro da institucionalidade oficial, ganhando espaços nos poderes legislativos e principalmente nos executivos. Destaca nesse período a vitória da Luiza Erundina em 1988 e a quase vitória de Lula em 1989.
O que se sucede nos anos seguintes é a inversão da dinâmica, com o PT assumindo prioritariamente as lutas institucionais, dentro da ordem estabelecida, quase como a única forma de luta social e política, reservando às lutas populares um papel secundário de apoio, e a reboque da luta institucional oficial. Aquele ar libertário e anti-capitalista com que grande parte dos militantes do PT iam para as lutas populares se transforma naquele ar institucionalizante, que busca enquadrar as lutas populares à lógica das disputas de espaços institucionais capitalista. O discurso programático do partido torna-se pragmático e oscila entre uma retórica em busca do socialismo e uma prática que nega a retórica. O próprio perfil do militante petista muda. Antes sempre era um trabalhador, líder de um movimento social. Hoje um assessor comissionado num gabinete parlamentar, num órgão do executivo ou numa ong de faixada. E nos cargos de direção o mesmo se segue.
Se falo tudo isso não é para negar minha posição, mas para reforçá-la. A experiência do PT dos primeiros 10 anos de sua existência demonstra que é possível combinar a luta dentro da ordem social dominante com a luta à margem (contra) desta mesma ordem, com grandes vitórias para a luta popular e para construção da democracia no Brasil. Florestan Fernandes já apontava num brilhante reflexão, nos anos 80, o dilema dos partidos socialista no Brasil, que segundo ele, para cumprirem seus objetivos conjunturais deveriam operar uma revolução dentro da ordem social dominante, mas para atingirem seus objetivos históricos deveriam operar fora da "ordem" dominante. Combinar ou não essa dinâmica é o desafio atual que o PT enfrentará no seu 2º Congresso.
Axé!
Moisés Basílio

Fonte: www.galizalivre.org/index.php?option=com_content&task=view&id=520&Itemid=35

Assembleias ou plataformas?

Image Abordamos um dos dilemas mais clássicos dos movimentos populares nas luitas reivindicativas. Deve-se somar esforços dispersos mediante a acumulaçom de colectivos ou, em troca, assumir a representaçom individual directa em forma de assembleia? O militante libertário catalám Miquel Amorós aposta polo segundo, e liga a sua reflexom com as mobilizaçons em defesa do território. A sua análise inspira-se nas experiências produzidas na Europa dos últimos tempos, nomeadamente na crítica radical contra o 'desarrollismo' e as infraestruturas agressivas com o meio e as comunidades locais. Em galego para @s activistas do País.

Miquel Amorós - militante libertário catalám

Dous tipos de luta aparecem face à devastação do ambiente social e a degradação das comunidades.

Um aposta por reconstituir a comunidade à margem da ordem social dominante enfrentando-se a ela; o outro tenta actuar dentro servindo-se das instituições, à procura de objectivos limitados mediante a negociação. Estamos perante a velha alternativa entre Reforma e Revolução. Os partidários das reformas e do diálogo com a ordem estabelecida opinam que não se devem opor as melhoras quotidianas obtidas nos gabinetes às metas finais perseguidas na rua; ao fim e ao cabo a meta, seja qual for, não importa nada; o logro constante de reformas é tudo. Os partidários da liquidação social pensam o contrário: que o fim é tudo, que as reformas não são possíveis nas condições actuais de desenvolvimento capitalista e que não se podem conseguir objectivos por mínimos que sejam a não ser após duras lutas e amplas mobilizações. Também, ao fim e ao cabo, entre as lutas por deter os efeitos catastróficos do desenvolvimentismo e a reconstrução de uma sociedade livre onde o ser humano seja a medida de todas as cousas, existe um laço indissolúvel: as lutas são o meio, a humanização da sociedade é o fim.

A controvérsia entre os métodos institucionais e a acção directa de massas não é, portanto, uma simples questão de táctica, porque está em jogo a própria existência dos movimentos de luta contra a contaminação e a degradação como movimentos reais de transformação social. São métodos que não se podem combinar: ora escolhemos a via da pressão institucional e aceitamos as regras do jogo político, ora não aceitamos e escolhemos a via da alteração da ordem. A forma em que a ordem se altera depende do momento; na assembleia o novo grão rompe a casca, quer dizer, o movimento de lutas encontra a sua própria rota e a adequada expressão. Pelo sistema de assembleias -o único verdadeiramente democrático- o movimento de lutas pode converter-se num poder municipal paralelo e disso é precisamente do que se trata; pelo sistema de plataformas cívicas, o movimento não passará de ser um complemento secundário da política, a pano de fundo das discussões sobre o nível tolerável da destruição.
Os plataformistas, que não por casualidade costumam ser militantes sindicais ou políticos, procuram a resolução do conflito entre hierarcas, advogados e peritos, esquecendo que o que está em jogo não são as suas poltronas, mas a vida da gente posta sem o seu consentimento na balança dos intercâmbios mundiais. Precisamente por isso, inclusive a mais modesta das lutas é demasiado importante para ficar em mãos desses aprendizes de bruxo e a população afectada não pode encargar-se de assuntos que tanto lhe atingem a não ser através de assembleias. Os plataformistas aceitam a divisão da sociedade entre dirigentes que decidem sobre a modalidade de sobrevivência e dirigidos que consomem os seus produtos e usam os seus serviços. Para eles terão de ser os dirigentes os que resolvam, cousa que não significa mais do que administrarem o desastre.
Os assembleístas, que acreditam no entanto na necessidade de suprimi-lo, pisam o mesmo terreno que aqueles, mas terão de saber que estão presentes nele como inimigos, sob pena de ver-se reduzidos ao papel de comparsas. O plataformismo não é mais do que uma tentativa dos elementos políticos e reformistas que ingressaram no movimento de lutas para corromper as suas práticas e reduzir os seus fins em beneficio próprio. É uma variante do que chamam noutras partes «cidadanismo». As plataformas são agrupamentos de entidades variadas. As assembleias são reuniões de indivíduos despossuídos. O problema de plataformas ou assembleias é, basicamente, o problema do carácter cidadão ou proletário do movimento de lutas.

Se contamos com que uma parte das nossas rendas do trabalho é investida em meios de transporte que nos levam ao lugar onde trabalhamos, e que uma vez fora dele exercemos o ofício de consumidor, concluiremos que a jornada laboral não termina nas portas da fábrica, do escritório ou onde quer que trabalhemos, mas dura todo o dia. Estamos dupla ou triplamente explorados: no trabalho propriamente dito, nos nossos deslocamentos e no lazer. A nossa jornada laboral dura vinte e quatro horas. Somos proletários a tempo completo: somos indivíduos privados permanentemente de todo o poder de decisão na produção das nossas condições de existência. Poderemos ter toda a classe de objectos que representem hoje em dia o conforto e o bem-estar, mas estamos privados do direito a organizar a nossa vida como quisermos. Não somos donos de nada e dependemos cada vez mais dos artefactos que nos rodeiam. Ensinam-nos a desejar nada mais que o que nos é oferecido com a promessa de ser um bocado mais livres mas nunca a nossa existência esteve tão condicionada, nem teve tantas cadeias, e nunca a escravatura foi tão aclamada como liberdade. Cada novidade técnica do mercado tem significado pela nossa parte uma abdicação.
Os verdadeiros organizadores e administradores da nossa existência dirigem-se a nós com aparente deferência: já que não temos liberdade para decidir, asseguram-nos que somos livres para ir de um lado para outro, comprar uma cousa ou outra, livres para votar neste ou naquele. Tomam-nos à vez por turistas e eleitores mas, ante tudo, por consumidores. E, efectivamente, relacionamo-nos com tudo mediante o consumo. Consumimos ar, consumimos paisagens e consumimos política. Então adquirimos o status de cidadão. O cidadão é o consumidor por antonomásia; confia no sistema estabelecido embora discrepe de algum aspecto, visto que como consumidor acredita ser exigente. Pensa que, através dos seus representantes faz parte dele e que, visto que uma parte da decisão é obra daqueles, é também obra sua.
Portanto, acha factível a possibilidade de modificá-la chamando à ordem aos cargos responsáveis. Longe de duvidar da sua legitimidade e de opor-se frontalmente, o cidadão descarta actuar fora do sistema. Respeita todos os seus valores: confia na bondade do barulho mediático, das moções consistoriais ou das perguntas parlamentares, no saber dos peritos e na lei. Em boa lógica o cidadão não recorrerá às massas porque para ele somente existem cidadãos devidamente enquadrados em associações de vizinhos, entidades cívicas, partidos ou sindicatos. A legitimidade não descansa para ele no seio das massas agitadas, mas no reconhecimento institucional do labor dos seus líderes. Apelará portanto a presidentes, vogais, jornalistas, advogados e vereadores para construir as suas plataformas e influir na acção política dentro das instituições. Não se desalentará perante resultados adversos porque terá demonstrado que o sistema é apesar de tudo reformável, visto que «funciona». E funciona graças a ele.
O proletário no entanto sabe que outros movem os fios e que tudo está disposto para que ele não possa remediá-lo, de forma que opondo-se realmente a um aspecto concreto da sua despossessão há-de opor-se à despossessão em conjunto. Cada peça do sistema relaciona-se com as outras: para mudar uma só peça haveria de mudar-se tudo. A final de contas não tem nada que perder, a não ser as cadeias do consumo e do conforto tecnológico. A luta de classes reaparecerá ali onde o processo de proletarização se fizer mais visível, nos movimentos contra a degradação do ambiente social e a contaminação. O proletário terá que elaborar neles um interesse geral que sirva para reunir uma multidão ao seu redor. Encontrará então na assembleia o meio da auto-organização dos despossuídos e o lugar onde dito interesse se estampa colectivamente em objectivos concretos. Para a tarefa que se impõe não necessita da ajuda de políticos nem demais mediadores porque não quer discutir com o poder, com a ordem dominante. Quer fazê-lo retroceder, para o qual não necessita de ir a gabinetes, nem frequentar corredores, nem recolher assinaturas, nem convocar conferências de imprensa, nem apresentar alegações: precisa demonstrar força e dar medo. O poder terá de convencer-se de que será pior resistir. Inteligência colectiva, gente e marcha é, portanto, o que faz falta. A assembleia fará o resto.

As lutas contra a alta velocidade ferroviária encontraram-se perante a disjuntiva entre as plataformas ou as assembleias, inclinando-se muitas das vezes pelas primeiras. Os resultados foram obviamente muito pobres e a crítica formulada contra o TGV, muito parcial e pouco difundida. Convém assinalar os seus pontos fracos para contribuir a uma reelaboração mais certeira por parte das comissões assembleares que se ocupem de fazê-lo. Em primeiro lugar teria de ficar claro que a solução ao transporte de alta velocidade não é outro transporte, um ponto menos veloz ou mais económico. Por exemplo, há uma plataforma que, caindo no erro de querer dar lições de economia aos seus gestores, chegou a tentar demonstrar que o TGV é caro e pouco rendível, como dando a entender que é menos capitalista. Em segundo lugar, se admitimos o que por convenção chamamos “progresso”, eliminamos os melhores argumentos para rejeitar o TGV, reduzindo-se o rechaço a reformas de detalhe. Muitas plataformas, convencidas de que «não podemos estar contra o progresso», acabaram por admitir o suposto benefício do TGV, com um simples soterramento de vias, uma menor velocidade, túneis, outro traçado... Finalmente, nalgum momento, todos reivindicaram «um transporte público de qualidade» e, inclusive, trataram de convencer os investidores – o Estado, a União Europeia, os consórcios privados – e os potenciais usuários do TGV – os executivos e os turistas – de o Talgo pendular ter sido uma alternativa melhor, mais cómoda, segura e barata. Em vão, visto que com qualidade ou não, o transporte público não poderá ser desenvolvido mais que com as ruínas do transporte privado. A sociedade que constrói TGVs é aberrante em si própria. De aceitarmos uma aberração maior, aceitamos todas as aberrações que a compõem: o transporte privado e, por suposto, o TGV.
Para criticarmos coerentemente o TGV temos de ligar a questão da alta velocidade ferroviária com a mobilidade crescente da população, relacionada com o crescimento ilimitado das cidades, a colonização tecnológica da vida quotidiana, a divisão do trabalho e a fragmentação do espaço social. Isto é, precisamente com aquilo que chamam “progresso”. A nossa existência encontra-se espalhada entre lugares afastados: trabalhamos num local, moramos noutro, a escola está também noutro, compramos noutro, divertimo-nos noutro, estamos de férias noutro, e por aí fora. As nossas necessidades de mobilidade multiplicaram e o carro parece ser a única solução. Citando uma organização que na Inglaterra se ocupa disto como convém, Reclaim the Streets:

'Os carros dominaram as nossas cidades, contaminando, congestionando e dividindo as comunidades. Isolaram as pessoas umas das outras e as nossas ruas converteram-se em simples canalizações de viaturas a toda a velocidade, indiferentes aos transtornos que causam na vizinhança. Os carros criaram vazio social; gente que permanece em movimento longe das suas casas, vidas e actividades quotidianas dispersas, anomia social crescente. Reclaim the Streets considera que a sociedade montada em carro deveria apartar-se do meio para recriarmos um ambiente vivente mais atraente e seguro, devolver as ruas às pessoas que moram nelas e, se calhar, descobrir o sentido da “solidariedade social”. Mas os carros são somente uma peça do quebra-cabeça e Reclaim the Streets também enfoca questões mais abrangentes sobre a solução ao transporte e as forças políticas e económicas que dirigem a “cultura do automóvel”. Os governos proclamam que «as autoestradas são boas para a economia». Maior número de mercadorias viajam durante mais longas jornadas; queima-se mais petróleo, mais clientes para as grandes superfícies dos arrabaldes – todo gira sobre o aumento do “consumo” porque é um indicador do “crescimento económico”. A mesquinha exploração a curto prazo de recursos limitados sem ter em conta os custos imediatos ou a longo prazo. Portanto, o ataque de Reclaim the Streets aos carros não pode ser desligado de um ataque mais amplo contra o próprio capitalismo.'

A cultura do automóvel significa o triunfo da ideologia burguesa da vida quotidiana. Um cidadão não veria nela mais do que “progresso” dos quatro costados com tal que os condutores respeitassem os sinais. Com o carro chega a promessa de uma liberdade de movimentos e um alto standing social que não se cumpre; no seu lugar resulta uma absoluta dependência, lentidão e uniformidade. Mas se a liberdade prometida não existe, a cultura do automóvel permanece. Os interesses que se alimentam dessa máquina tão incómoda e perigosa querem que seja o único meio de locomoção e procuraram suprimir todas as possíveis alternativas, principalmente o comboio. Cada caminho aberto ao trânsito converteu mais vulneráveis os espaços naturais. Cada estrada dissolveu um pouco mais as comunidades agrárias sem que por isso as cidades ficassem a ganhar. Cada autoestrada sentenciou um pouco mais os caminhos de ferro tradicionais. A decadência do comboio – e em geral, a da viagem – é fruto do auge do automóvel. Só o avião pôde competir com o carro nas longas distâncias. E agora a alta velocidade ferroviária que, como foi definida por Borrell, não é mais que um 'avião que voa baixo'.
Mas o TGV não procura competir com o trânsito rodado de mercadorias, embora possa, nem também deslocar o automóvel dos longo percorridos, mas somente o avião. É melhor um complemento e um aliado do carro. Chegamos de carro ao estacionamento de uma estação do TGV e partimos de carro de outro. O TGV é, portanto, uma simples parêntese entre carro e carro, mas cedo deixará de sê-lo porque está previsto que os automóveis acompanhem os seus proprietários em carruagens preparados para tal mester. As razões que possamos aduzir contra o TGV podem aplicar-se melhor ainda às estradas e autoestradas. A luta contra o TGV e a luta contra o carro – a luta contra a motorização da vida quotidiana – é um mesmo combate. É o combate pela recuperação das cidades, pela reconciliação com a natureza, pelo restabelecimento de estruturas comunitárias... Pela abolição do Capital e o Estado.
Essas são as perspectivas que há que ter presentes sempre, por limitado que for o estádio em que se encontre uma luta particular, por escassas que forem as forças reunidas, por suspeitosos que forem os seus aliados ou por ambíguas que se voltem as tácticas empregadas a causa das condições adversas em que a luta se desenvolve. De todos modos, o final de um combate não será mais do que o prelúdio do combate seguinte. Na actualidade não podemos falar de um movimento anti-industrial que se oponha firmemente aos avances da mundialização tecnológica e por isso as lutas concretas devem de sulcar um mar de contradições. Tal movimento não existe porque as lutas retrocedem amedrontadas quando descobrem a enormidade dos seus fins, sem que as circunstâncias impeçam a sua marcha atrás e gritem «hic Rodhus, hic salta!» Por essa razão não nos pode surpreender a presença do cidadanismo naquelas, mas melhor a sua pobreza e debilidade. Em determinados momentos, à quentura de uma promoção mediática, parece dispor de uma base prática séria, mas quando as suas personagens públicas discursam só ouvimos a linguagem manida da política e a ordem. Nem uma ideia nova, nem a sombra de um pensamento original; nada que outros não tenham dito antes muito melhor ou que não tenha sido contundentemente refutado. Chega com que o oportunismo cívico fale para que ficque demonstrado que não tem nada a dizer.
Na realidade o plataformismo cidadão não é mais do que um reflexo da debilidade das lutas que, por agora, dificilmente conseguem ser estruturadas em eficazes assembleias; mas, na medida em que ponham o dedo ferida e consigam atrair massas conscientes da sua despossessão, observarão as misérias cidadanistas e afastar-se-ão delas com arrogância e desdém.