quarta-feira, dezembro 20, 2006

Poema de Natal

Vinicius de Moraes

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

Fonte: O acima foi extraído do livro "Antologia Poética", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 147.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

ÉTICA é uma coisa relativa!?

Fonte: Recebi através de um email sem identificação de origem.

O sociólogo Peter Berger escreveu livrinho delicioso: "Introdução à Sociologia".
Um dos seus capítulos tem um título estranho: "Como trapacear e se manter ético ao mesmo tempo".

Estranho à primeira vista. Mas logo se percebe que, na política, é de suma importância juntar ética e trapaça. Para explicar vou contar uma historieta.

Havia numa cidade dos Estados Unidos uma igreja batista. Os batistas, como se sabe, são um ramo do cristianismo muito rigoroso nos seus princípios éticos. Havia na mesma cidade uma fábrica de cerveja que, para a igreja batista, era a vanguarda de Satanás. O pastor não poupava a fábrica de cerveja nas suas pregações.. Aconteceu, entretanto, que, por razões pouco esclarecidas, a fábrica de cerveja fez uma doação de 500 mil dólares para a dita igreja. Foi um auê.. Os membros mais ortodoxos da igreja foram unânimes em denunciar aquela quantia como dinheiro do Diabo e que não poderia ser aceito.

Mas, passada a exaltação dos primeiros dias, acalmados os ânimos, os mais ponderados começaram a analisar os benefícios que aquele dinheiro poderia trazer : uma pintura nova para a igreja, um órgão de tubos, jardins mais bonitos, um salão social para festas. Reuniu-se então a igreja em assembléia para a decisão democrática.

Depois de muita discussão registrou-se a seguinte decisão no livro de atas:
"A Igreja Batista Betel resolve aceitar a oferta de 500 mil dólares feita pela Cervejaria na firme convicção de que o Diabo ficará furioso quando souber que o seu dinheiro vai ser usado para a glória de Deus."

É isso aí...

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Dia Nacional do Samba

Caros,
Segue, mais uma vez, um reflexão do meu "guru" de negritudes atualmente, o Nei Lopes, a respeito do Dia Nacional do Samba.

O SAMBALANÇO SAÚDA O DIA DO SAMBA - Nei Lopes - fonte: www.neilopes.blogger.com.br/

Dias atrás ganhei em São Paulo, do músico Marco Mattoli dois CDs e um DVD. O conteúdo é "samba-rock", que aqui no Rio a rapaziada chama de "suíngue" - aportuguesamento do inglês swing, balançar.

No DVD, depoimentos e aparições de velhos conhecidos como Marku Ribas, Luiz Camilo, Boca Nervosa, Seu Jorge, Paula Lima; do inefável Ivo Meireles, dos indispensáveis herdeiros do grande cantor Wilson Simonal, e até do "tremendão" Erasmo Carlos, que um dia ia entrando no samba mas foi embora, ler seu Pasquim.

Pra quem teve a oportunidade de dançar samba ao som, principalmente, de Ed Lincoln ou apenas ouvir os que vieram depois, como os conjuntos Copa Sete, Devaneios, Charme e Chanel, foi uma viagem que merece reflexão, aliás já feita por nós, em outro lugar e momento.

É que, a partir da bossa-nova, instituiu-se uma espécie de "samba de concerto", que só se podia ouvir sentado, geralmente no chão, quase em postura de ioga, sem dançar, como nas disciplinadas e quase militares rodas de choro.

Mas o samba, que desde o pós-guerra, principalmente nas gafieiras, à base de trombone, sax e piston, já canibalizava elementos do be-bop e do boogie-woogie e os devolvia em um produto de alta voltagem rítmica, dançante até a raiz dos cílios anais, não se aquietou. E, depois de ter contaminado Denis Brean, Osvaldo Guilherme, Haroldo Barbosa, Geraldo Jacques, Geraldo Pereira e até Gordurinha, foi gerando o samba-jazz dos trios de piano, baixo e bateria; e chegou ao sambalanço de Pedrinho Rodrigues, Sílvio César, Orlann Divo, Sonia Delfino, Miltinho, Elza Soares, Luiz Reis etc, nas boates da Zona Sul, até parir Jorge Ben.

Esse Jorge, depois Benjor, é pois o mítico herói-fundador do samba-rock e do Clube do Balanço. Que tem hoje no Marco Mattoli e na Tereza Gama seus pontas-de-lança em São Paulo.

Sinceramente, meus camaradas: se vocês têm pelo samba a gamação que eu tenho, deixem de radicalismos e ouçam o Mattoli e seu Clube do Balanço. Aí, vocês vão ver o samba numa de suas formas mais fortes e competitivas: totalmente dançante, capaz de encarar pau a pau, nesse campo, a imbatível música afro-cubana. E de botar até o rythm'n' blues no chinelo, quanto mais esse pop-rockzinho michuruca que anda por aí.

Quem quiser música pra ficar ouvindo sentado (o que também é bom!) ligue na Rádio MEC. Ou vá ao Teatro Municipal. Quem estiver a fim de letras literariamente elaboradas, ouça, além dos mais antigos, o Paulinho Pinheiro, o Aldir, o Hermínio, o Luiz Carlos da Vila...

Mas quem, neste Dia Nacional do Samba, quiser dançar, segurando a dama pela cintura, dizendo uma lera no ouvido dela, cruzando, soltando, rodando, grudando de novo... não vá a rave, não, que rave dá raiva. O verdadeiro êxtase (e não ecstasy) é dançar um samba balançado, com a metaleira metendo bronca. Como o que faz o pessoal o pessoal do sambalanço, suíngue, samba-jazz ou samba-rock - ao qual o meu mais novo amigo de infância Marco Mattoli acaba de me reapresentar.

"Samba é isso, afro-mestiço, do jeito que negão nunca negou" - falou Alcione, que também é do ramo.