sábado, março 04, 2006

EXPERIÊNCIA EM SALA DE AULA-Fev/2006

Quando estava para entrar em sala de aula, na sexta-feira, 24/02, recebi de dois alunos uma folha com uma cópia da letra da música Cidadão, gravada pelo Zé Geraldo. Havia também, junto com a letra, uma ilustração retratando um homem e um prédio.
Perguntei aos dois alunos se haviam lido o texto. Eles, em tom de brincadeira, me responderam que se tratava de um homem se jogando do prédio. De imediato, devolvi a folha para um dos alunos e pedi que os dois lessem o que estava escrito para ver se o que eles supunham estava correto. Eles se dirigiram prontamente para a mesa do professor e, animados, começaram a ler.
Enquanto isto, entrei na sala e comprimentei o restante dos alunos. Alguns alunos vieram me entregar uma atividade de casa, troquei algumas palavras com eles e logo em seguida dei voz de comando para iniciarmos mais uma jornada de trabalho. Havia preparado uma atividade que envolvia leitura e interpretação de texto sobre a biografia do pintor Pablo Picasso.
Antes de iniciar a atividade, fui cobrar dos dois alunos a leitura. Eles haviam lido, mas não conseguiram entender o que leram. Um dos alunos continuou a afirmar o tema do suicídio. Apontou-me no texto a palavra "norte", e leu "morte".
Deu um estalo! Esqueci da aula que havia preparado e propus para eles ler o poema para classe. Eles toparam. Como já conheço a letra de cor, foi fácil fazer uma boa leitura, usando e abusando das entoações e gestos. Os olhinhos brilharam e deu para sentir as palavras calarem nas mentes e corações de cada um. Pediram bis.
Depois propus uma questão interpretativa do texto para a classe: Quem era o cidadão? Os três primeiros alunos que responderam disseram que era o trabalhador que construiu o prédio e a escola. Outros concordaram. Perguntei se havia alguém na classe que discordava da resposta da maioria. Uma menina, que estava quietinha, lá no seu canto, levantou o braço e discordou: "O cidadão, professor, é o que atrapalha o trabalhador." E assim a discussão pegou fogo.
A partir dessa primeira questão, perguntei o que era cidadão/cidadã para eles. Sintetizamos as respostas na lousa em dois pontos: Cidadão é aquele que tem a consciência de seus Direitos e Deveres.
Essa síntese gerou uma atividade para casa, pois a aula já estava acabando. Cada um ficou de relacionar em duas folhas diferentes, os direitos e deveres dos alunos da nossa escola.
Na próxima aula vamos discutir os resultados. Alguns alunos propuseram que os resultados fossem escritos em um cartaz e pregado no pátio. Outros querem fazer alguma coisa para que seus direitos sejam respeitados. A discussão está aberta.
Sai da classe alegre. Não é todo dia que se consegue FAZER uma aula junto com os alunos.

CIDADÃO (parte da letra)
Autor da letra: Lúcio Barbosa
Canção gravada no disco Zé Geraldo Acústico, de Zé Geraldo. EMI Songs/Paradoxx Music, 1996, faixa 3.

Tá vendo aquele edifício, moço?
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Eram quatro "condução":
Duas pra ir, duas pra voltar
Hoje, depois dele pronto
Olho pra cima e fico tonto
Mas me vem um cidadão
E me diz desconfiado
Tu taí admirado,
Ou tá querendo roubar?
Meu domingo tá perdido
Vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber
E pra aumentar o meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio
Que eu ajudei a fazer
Tá vendo aquele colégio, moço?
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Fiz a massa, pus cimento
Ajudei a rebocar
Minha filha inocente
Vem pra mim toda contente
Pai, vou me matricular
Mas me diz um cidadão
Criança de pé no chão
Aqui não pode estudar
Esta dor doeu mais forte
Por que é que eu deixei o Norte?
Eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava
Mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer
(...)


OS DESAFIOS DE EDUCAR

O objetivo deste espaço será o de disponibilizar algumas experiências educativas que ocorrem nas aulas que faço com os alunos do ensino fundamental, na EMEF Rodrigues de Carvalho, e também, junto com os alunos dos Núcleos Novo Milênio e Fênix do EDUCAFRO Pré-Vestibulares.