segunda-feira, dezembro 22, 2008

Maurício Tragtenberg: Militância e Pedagogia Libertária

Comentário Moisés Basílio: Muito me alegra o lançamento de mais um livro do meu amigo, de tantas batalhas, Antonio Ozaí. E ainda mais me alegra o fato do livro tratar do grande Maurício Tragtenberg.
Aproveito a divulgação desse livro para relatar que no mês de novembro último, tive a oportunidade de participar de um evento em memória aos 10 anos de falecimento de Mauricio Tragtenberg e de Jaime Cubeiros. A homenagem ocorreu no dia 6 de novembro de 2008, no auditório da Faculdade de Educação da USP-FEUSP, e contou a presença de familiares de ambos os homenageados, professores da FEUSP, convidados e alunos.

Particularmente o evento me emocionou, pois tive a oportunidade de manter relações como o Professor Mauricio Tragtenberg, durante um tempo da minha juventude, quando atuava na Oposição Metalúrgica de São Paulo e trabalhava no Centro de Documentação e Pesquisas Vergueiro – CPV, além de ter lido seus escritos e acompanhado várias de suas palestras e debates no inicio de minha formação política e intelectual. A principal lição que aprendi com Maurício Tragtenberg foi fugir dos dogmatismos e das verdades absolutas, num tempo em que o mais comum era se aferrar aos grandes esquemas explicativos do mundo. A partir das suas indicações bibliográficas, tive acesso as diferentes vertentes do pensamento socialista e libertário, sem os vieses e os preconceitos tão típicos da esquerda da época.

O evento contou com vários depoimentos:

- Bia Tragtenberg (esposa do Mauricio): Contou do amor do Mauricio pela literatura. Leu um texto inédito de Tragtenberg sobre a literatura como antídoto contra a divisão do trabalho.

- José Carlos Morel (Zeca) – do Centro de Cultura Social: Ressaltou a importância da pedagogia libertária como prática de homens como Cubeiros e Tragtenberg, como sendo antítese dos projetos pedagógicos da burguesia e da igreja que se baseiam na dominação. Teceu também comentários sobre o autodidatismo de Tragtenberg.

- Flávia Schilling – Professora da FEUSP: Uma fala cheia de saudades e emoções. Narrou como foi o seu encontro com o Tragtenberg orientador da sua dissertação de mestrado, um arquivo vivo, um homem erudito.

- Lúcia Bruno – Professora da FEUSP: Começo destacando a atualidade da critica que Tragtenberg fez à Universidade. Outro aspecto importante em Tragtenberg era a sua visão indissociabilidade da exploração econômica e dominação política. Não dá para separar e isso é fundamental para se entender a obra de Tragtenberg. Também é importante a crítica às teorias de administração, mostrando que ela não são neutras. Bem como, às críticas à escola, aos partidos políticos e aos sindicatos.

- Evaldo Vieira – Organizados das reedições das obras de Tragtenberg: Lembrou do tempo em que trabalhou junto com o Maurício pelo interior de São Paulo. Destaca a importância do livro “Administração, poder e ideologia” para se entender o trabalho e a educação.

- Carmen Sylvia – Professora FEUSP – Relatou a trajetória do seu relacionamento intelectual e militante com o Tragtenberg. Destacou a importância de Tragtenberg utilizar o marxismo com referencial teórico.

Mais uma coisa: Ainda não li o livro, mas pela trajetória do Ozaí, recomendo. Axé!


Maurício Tragtenberg: Militância e Pedagogia Libertária

Antonio Ozaí da Silva

Ijuí: Editora Unijuí, 2008 (344p.)

Site: http://www.editoraunijui.com.br
Email: editorapedidos@unijui.edu.br

Este é um livro sobre um intelectual inovador a quem o Brasil ainda deve, mas que o pensamento crítico vem reconhecendo paulatinamente. Um autor que pensou e

contribuiu para a educação de modo não-formal, incomum e essencialmente crítico, confiando no papel formador da negação dialética do instituído. Sem se reter aos espaços que tradicionalmente se convencionou delimitar por “acadêmicos”, como Gorki ele considerava as vivências e lutas de sua trajetória como “as minhas universidades”.

Não é gratuito, portanto, que Antonio Ozaí da Silva inicie esta obra sobre Maurício Tragtenberg esquadrinhando os contextos de sua vida e os influxos de seu engajamento militante. O tema da educação libertária não pode ser apreendido nem encerrado nos marcos investigativos do formalismo pedagógico institucional. Isto é, filosoficamente compreendida, a obra de Ozaí lida com um método de abordagem que sabe reconhecer, respeita e não elide o que lhe demanda a natureza do seu objeto de análise.

O livro esclarece, com propriedade, que Tragtenberg, ele mesmo de formação parcialmente autodidata, articula o seu princípio político-pedagógico libertário a partir da defesa da auto-organização dos trabalhadores. Crítico da cisão teoria–prática e da hierarquia intelectual manifestas no homo academicus, ele via na autogestão dos operários o modo social destes recobrarem integralmente o saber e a condição intelectual deles apartados pela classe dominante, que os marginaliza no processo do fazer, negando-lhes o do conhecer.

Com uma obra marcada pelo decantamento crítico das raízes e da natureza histórico-social da dominação burocrática, Tragtenberg levou para a análise da educação os seus princípios teóricos mais gerais. Introduzindo e impondo respeito à pedagogia libertária na universidade brasileira, atacou a ritualística adestradora da educação burocrático-formal, fazendo da defesa da autogestão educacional, da autonomia do indivíduo e da solidariedade anticoncorrencial as balizas de sua pedagogia integral e igualitária, centrada nos interesses dos educandos.

Por fim, este estudo sobre a práxis militante e educativa de Tragtenberg carrega, ainda, um interesse peculiar: na sua leitura do mestre Tragtenberg – título que ele recusaria –, essas páginas vão calando uma a uma, e revelam, de quebra, parte dos fundamentos inspiradores de onde brota o perfil engajado antielitista do próprio cientista social e educador Antonio Ozaí da Silva, manifesto em seu notável empenho, como escritor e editor, pela qualificação crítica e plural da cultura. Enquanto continuidade dessa práxis educativa igualmente informal, essas páginas compõem uma exposição que honra a justa crítica de Tragtenberg ao vetusto e socialmente inútil elitismo acadêmico.

Paulo Denisar Fraga

Professor de Filosofia, Metodologia da Ciência e Pesquisa da Universidade Federal de Alfenas, MG

Sinopse (resumo) O leitor tem em suas mãos um livro que representa um exercício de pedagogia crítica porque rememora para as gerações atuais e futuras o pensamento e a prática do pensador social, educador e ativista político Maurício Tragtenberg, reconhecido por sua atuação libertária nos processos educativos e políticos, tanto no sistema escolar formal, quanto nas redes de movimentos sociais, e sempre empenhado em trazer para o espaço burocrático administrado da universidade a concepção do conhecimento como projeto de emancipação; bem como em realizar uma intervenção política libertária que leve para o restante da experiência social os conhecimentos construídos na universidade.

Ao discutir os vários momentos da trajetória pessoal, política e pedagógica de Maurício Tragtenberg, este livro torna explícita a intenção do autor em realizar uma possível continuidade para a pedagogia do exemplo proposta e praticada por Tragtenberg e experienciada diretamente por Antonio Ozaí da Silva, em uma demonstração de que nos processos investigativos e educativos não há sujeitos nem objetos, pois o outrora professor Tragtenberg, com sua ação pedagógica se transforma em tema de um estudo de um ex-orientando, atualmente professor, pesquisador e ativista empenhado em uma política cultural radical, e que através deste trabalho nos propicia uma espécie de sublimação da dor que sentimos com a perda daquele que consideramos "o mestre": Maurício Tragtenberg.

Walter Praxedes
Doutor em Educação pela USP e docente da Universidade Estadual de Maringá

Sobre o autor

Antonio Ozaí da Silva é graduado em Ciências Sociais pelo Centro Universitário Fundação Santo André e mestre pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo sob a orientação de Maurício Tragtenberg. É doutor em Educação pela Universidade de São Paulo sob a orientação de Nelson Piletti e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá, PR. É editor dos periódicos Revista Espaço Acadêmico, Urutágua e Acta Scientiarum: Human and Social Sciences, sendo autor de inúmeros artigos e do livro História das tendências no Brasil (SP: Proposta, 1987), que teve grande repercussão no estudo da formação das organizações, grupos e partidos da esquerda brasileira.


domingo, dezembro 07, 2008

A COR DA ESCOLA Livro resgata as primeiras imagens de professores e alunos negros

Comentário Moisés Basílio: Minha avó - Maria Candida de Jesus - que nasceu em 1902, num povoado chamado Lagoa Formosa, região noroeste de Minas Gerais, que hoje é um município, mas que na época pertencia administrativamente à cidade de Patos de Minas, preta retinta, como ela mesma se autodeclarava, sabia ler, escrever e contar. Quem lhe ensinou foi seu pai e meu bisavô materno, Pedro Mariano Leal, que segundo me relatou minha avó era o professor da comunidade local. Até a minha geração, minha família em seu ramo materno, que é totalmente formada por negros, sempre prezou o letramento de seus membros, em que pese a dificuldade de acesso ao sistema escolar formal.

A notícia abaixo traz uma informação interessante para se investigar. Mesmo com a sistema de escravidão, muitos negros acabaram tendo acesso à cultura letrada, pois a prática racista não era intensa como a que aflorou entre os anos de 1910 e 1930, com aquilo que chamamos de ideologia do embranquecimento da população brasileira e que de certa forma, mesmo com a chamada democracia racial, se propagou até os dias atuais, afastando o povo negro dos bancos do sistema escolar oficial. Há um outro estudo, de uma pesquisadora mineira, que preciso procurar, que investiga o letramento entre a população negra nos séculos XVII, XVIII e XIX em vários regiões de Minas Gerais. Assim que achar essa informação publico aqui no blog. Axé!


Fonte: Jornal O Globo internet - Publicada em 05/12/2008 às 16h40m
Marta Reis

Alunos e professores da 3ª série da Escola Rodrigues Alves, Rio de Janeiro, 1914
RIO - Foi estudando para sua tese de doutorado em Educação, concluída na UFRJ, que a pedagoga Maria Lúcia Rodrigues teve a sorte de esbarrar com fotos do fim do século XIX e início do XX, que comprovavam - ao contrário do que pensavam alguns estudiosos - que a inclusão de professores negros nas escolas aconteceu bem antes de 1960. Lúcia não consegue precisar exatamente quando isso de fato ocorreu, mas assegura que tenha sido antes mesmo do fim da escravidão. As imagens guardadas pela pesquisadora ao longo de dez anos foram transformadas no livro "A cor da Escola - Imagens da Primeira República" (Ed.UFMT / Estrelinhas), lançado na última semana.
" Entre 1910 e 1930 ocorreu um processo de branqueamento das posições de prestígio e das salas de aula. "

O exemplar é recheado de 54 fotos raras e inúmeros textos que contam a história dos primeiros professores e alunos negros nas escolas da Primeira República (1889 a 1930), nos estados do Rio de Janeiro e Mato Grosso. De acordo com Lúcia, naquela época os negros ocupavam cargos de destaque nas escolas públicas - eram diretores, por exemplo - e representavam boa parte do quadro de docentes. Da mesma forma, alunos brancos e negros dividiam a mesma sala de aula, em semelhante proporção.
Veja a fotogaleria com fotos do livro
- Escrevi diversos artigos sobre o assunto e as pessoas diziam que eu era louca, que os negros só começaram a estudar para ser professor na década de 1960. Então, me senti desafiada a provar aquilo. Demorou dez anos, desde o dia que achei a primeira foto, mas aí está o resultado - comemora Lúcia, que é pesquisadora associada do Programa de Educação sobre o Negro na Sociedade Brasileira, da UFF, e professora da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT).
Reforma educacional afasta os negros das escolas
Professora da Escola José Pedro Varela, em sala de aula, Rio (1923) Segundo a pesquisadora, mesmo antes do fim da escravidão, o Brasil tinha milhares de negros livres que se preocupavam com a educação de seus filhos ou se destacavam no magistério. No entanto, como comprovam as imagens do livro, eles foram desaparecendo aos poucos, até se tornarem uma pequena minoria nas escolas públicas da época.
- Entre 1910 e 1930 ocorreu um processo de branqueamento das posições de prestígio e das salas de aula. Muitos intelectuais achavam que a solução para o desenvolvimento do Brasil era a imigração da população européia. Então, foram criadas regras para afastar os negros.
As normas fizeram parte de uma reforma educacional brasileira do início do século passado, que no Rio aconteceu em 1927. Pelas regras implementadas, professores com mais de quatro obturações dentárias, sem algum dos dentes, ou não nascidos na cidade do Rio de Janeiro não eram aceitos nas escolas. Além disso, foi criado um programa de estímulo à aposentadoria, conta Lúcia.
- Com os alunos, o processo foi parecido. Eles precisavam preencher um formulário escolar que mais parecia uma ficha médica, que acabava por discriminar os mais pobres, em sua maioria negros.
Cotas contribuem para a formação de uma elite negra, dia Lúcia
Maria Lúcia Rodrigues / Marta Reis O resultado dessa política, a professora acredita, é sentido ainda hoje no reduzido número de negros no magistério - apenas 4,3%, segundo dados do último Censo - e nas universidades. Para resolver o problema, ela se diz a favor da reserva de vagas para estudantes negros, adotada por algumas instituições, entre elas a Uerj.
- Pesquisas já comprovaram que os cotistas não diminuíram a qualidade do ensino dessas universidades. Pelo contrário, eles são os mais esforçados. As políticas afirmativas são essenciais para que criemos uma elite negra no país. Se elas não são a solução definitiva, são pelo menos a temporária - defende.

sábado, novembro 29, 2008

ZUMBI GUERREIRO VIVE EM SAPOPEMBA

Comentários Moisés Basílio: Essa semana continuamos as comemorações do 20 de novembro, dia da Consciência Negra no Sapopemba. Na quinta-feira, dia 27, tive o prazer de ajudar a animar a roda de discussão sobre a memória de Zumbi e as lutas libertárias hoje, junto com o Padre Luiz Fernando, companheiro de outros carnavais e que a tanto tempo não via.

Trinta anos depois do lançamento do manifesto que deu origem ao Movimento Negro Unificado e de uma nova etapa da luta do povo negro no Brasil, a luta continua. Em 1978 tinha 18 anos e trabalhava como office-boy no centro de São Paulo. Fui testemunha ocular do nascimento desse novo movimento negro, onde o político se cruzou com o cultural, com o econômico e o social.

Na minha opinião, a grande riqueza do atual Movimento Negro é a sua pluralidade. Não existe só um caminho para lutarmos contra o racismo. Axé!



27.11.2008 - Zumbi Vive em Sapopemba
De 27 a 30/11 ocorrem diversas atividades na região que celebram o legado de Zumbi dos Palmares e a Consciência Negra. Veja programação abaixo:

PALESTRA

Tema: A memória de Zumbi e as lutas libertárias do povo negro hoje contra a discriminação racial.

Palestrantes: Sr. Moisés Basílio Leal e Padre Luís Fernando

Data: 27/11/08

Local: Paróquia Santa Madalena

Horário: 19h30

OFICINAS DE IDENTIDADE NEGRA

Trançados e Cabelos Afro

Artesanato (brincos, colares, pulseiras...)

Culinárias Afro

Data: 29/11/08

Local: Paróquia Nossa Senhora de Fátima

Horário: 9h00 às 16h00

ALMOÇO AFRO

Data: 30/11/08

Local: Paróquia Nossa Senhora das Graças

Horário: 12h00

MISSA AFRO

Data: 30/11/08

Local: Paróquia de São Sebastião

Horário: 18h00

ORGANIZAÇÃO: Setor Sapopemba – Paróquias: São Sebastião, Santa Madalena, Nossa Senhora das Graças, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora da Esperança, Divino Espírito Santo, Imaculada Conceição.



sábado, novembro 22, 2008

REDES SOCIAIS - Entrevista com David de Ugarte

Comentários Moisés Basílio: O eixo temático "redes sociais" tem sido uma das minhas prioridades de estudo no momento. Comecei a me interessar por essa temática no início da década de 90, por duas vias. De um lado pelos contatos com Francisco Whitaker, um amigo dos tempos da Pastoral da Juventude e que já trabalhava com o conceito de redes sociais desde os anos 70, e por outro lado acompanhando o trabalho de pesquisa sobre redes de jovens, da minha amiga Ann Mische. Mais recentemente tenho acompanhado essa discussão via meu amigo Augusto de Franco e as iniciativas da Escola de Rede. A seguir uma entrevista interessante que aponta de forma didática algumas questões atuais sobre as redes sociais. Axé.

Fonte: Sítio da RTS - Rede de Tecnologia Social - http://www.rts.org.br/entrevistas/david-de-ugarte-socio-da-sociedad-de-las-indias-electronicas-e-autor-do-livro-el-poder-de-las-redes

Entrevista: David de Ugarte, sócio da Sociedad de las Indias Electrónicas e autor do livro El poder de las redes.

Foto: Divulgação RTS
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David de Ugarte

30/04/2008 - Desde 1994, o especialista mundial em redes David de Ugarte desenvolve trabalhos, projetos e empreendimentos ligados à Internet. Atualmente, é sócio da Sociedad de las Indias Electrónicas, empresa fundada em 2002 com o objetivo de realizar análises de redes sociais. Nesta entrevista, que recupera parte do debate com representantes de instituições associadas à RTS durante o Encontro Redes – Nova Arquitetura Organizacional, realizado em São Paulo (SP), David fala sobre a evolução das redes centralizadas para redes distribuídas, da expansão da internet e do surgimento de novas esferas de relação social.

Quais as principais fragilidades de uma rede centralizada?
David de Ugarte - As redes centralizadas são redes geradoras de dependência. Se você perde o centro a partir do qual todos circulam, você perde toda a rede. É o limite da insustentabilidade do modelo organizacional. O que define uma rede distribuída é que se você elimina algum dos nós ela continua a pulsar. Podemos pensar isso em termos políticos, energéticos, culturais e muitos outros. O que temos de ter em mente é que a fórmula da rede social que liberta e se desenvolve de forma equilibrada é naturalmente distribuída.
De que modo as redes sociais influenciam na formação da identidade cultural nacional?

DU -
Eu acho que a identidade transmuta uma coisa que pertence ao indivíduo. Até agora pertencíamos à nossa religião, à nossa nação. Agora é a nacionalidade que pertence ao indivíduo. Então, temos um novo tipo de multiculturalidade, que não é de caixas ou separada e de onde você não pode sair. Passa a ser uma ação pessoal porque é você que passa a construir a rede. Então, quando falamos numa nação-rede, estamos falando de uma nação de identidade, não garantida pelo Estado, pelo nacionalismo, mas pelas próprias pessoas em seu interagir.

Como funciona essa nova rede que os blogs e Internet estão formando?

DU - Os blogs e a internet estão expandindo o campo do local. O local sempre foi distribuído, todos com todos. Vocês, no Brasil, têm uma instituição que gosto muito que se chama multidão. A blogosfera dá às pessoas a possibilidade de organizar multidões massivas num espaço social muito maior.
Qual a importância da internet na formação da opinião pública?
DU - Hoje, é a garantia de que a opinião pública não seja filtrada. É a promessa de uma opinião pública realmente pública, realmente de todos, onde você ou qualquer pessoa pode incorporar à agenda pública os temas que de fato nos interessam. Nesse processo, temos que entender que não é que a rede democratiza a informação. É que ela é a própria democracia.
Vivemos num país de base continental, onde a presencialidade que você considera fundamental para construir a confiança na rede é muito difícil. Como contornar esse desafio a partir da construção de redes não presenciais que só existem pela internet?
DU - Basicamente, com paciência, perseverança e uma boa infra-estrutura de conhecimento. A gente pensa que, para a rede, a infra-estrutura mais importante é de telecomunicações, os cursos de formação tecnológica. Não é. O que você tem que ensinar às pessoas é a perder o medo, se expressar, escrever, relatar sua realidade. A chave, quando falamos que a agenda pública democratiza porque a rede é a própria democracia, é que as pessoas comecem a fazer o relato de sua realidade. Não é um relato que vem de fora, na tradição messiânica, na tradição leninista. É o relato que sai do povo, da gente.

Muitas pessoas que tentam empreender localmente e se articular em rede não têm acesso à internet no Brasil. Como contornar esse gargalo?

DU - Quando falamos da exclusão digital, estamos defendendo o modelo de infra-estrutura pública. Hoje é cada vez mais barato garantir acesso à internet. Tomemos oexemplo de uma cidade de três milhões de pessoas, como Montevidéu. Você poderia doar uma conexão de internet para essas pessoas, para toda a vida, com um investimento básico de US$ 1,5 milhão. Então, isso é muito pouco para uma prefeitura como Montevidéu. Depois, pode, por exemplo, dar às empresas a oportunidade de vender a conexão global à internet. Fazer a rede local é um investimento muito pequeno. Na Espanha, temos experimentado a internet gratuita para uma cidade inteira.

O problema de inclusão é um problema de vontade política. A gente quer se incluir. Mas não podemos esquecer uma coisa. Em Montevidéu, os jovens, segundo um estudo apresentado este ano, dedicam um mínimo de duas horas por dia à internet e aos cibercafés. Hoje os cibercafés são espaços de liberdade, de coesão social. Em países como o Marrocos, homens, mulheres e jovens estão juntos, e estão juntos nos cibercafés. A sociedade é inclusiva. Se você deixa a mínima liberdade e as mínimas infra-estruturas, a sociedade inclui ela mesma.

É possível fazer uma distinção clara entre países ditos desenvolvidos e em desenvolvimento no que se refere à constituição de redes distribuídas?

DU - Não há diferenças por princípio. A diferença fundamental é cultural. A primeira grande mobilização em uma rede distribuída na internet, por exemplo, foi a queda do presidente das Filipinas. A segunda foi a queda do presidente Asnar na Espanha. A forma foi praticamente idêntica e a motivação muito similar, embora estes países sejam bastante diferentes.
Como podemos pensar na construção de redes que produzam conhecimento de forma colaborativa?

DU - A boa comunidade é uma comunidade de produção. A rede panal, na Argentina, é um bom exemplo. Formada por músicos amadores e profissionais, os integrantes da rede produzem música coletivamente e novas parcerias a partir da internet. É uma comunidade virtual, mas é sobretudo real por envolve pessoas que se dedicam a esta interação e à produção de conhecimentos que só podem passar a existir pela troca.

Como vê o futuro destas redes?
DU - Nosso esforço é a criação do tecido da rede e o futuro para nós é no hardware livre distribuído. Pode ser que parte da sociedade mantenha-se no Google, mas precisamos entender que entramos numa era em que precisamos fazer demandas que até agora só fazíamos ao Estado. O Google, por exemplo, é um monstro ao qual temos que reclamar direitos civis. Para diminuir os riscos precisamos distribuir também a rede de servidores.

sexta-feira, novembro 21, 2008

LÉVI-STRAUSS FAZ 100 ANOS

Comentários Moisés Basílio: Quando entrei no curso de Ciências Sociais na PUC/SP em 1981, aos 21 anos de idade, e em plena militância política, o que mais gostava estudar eram as disciplinas de Ciência Política e Sociologia. Em relação à Antropologia meu comportamento era igual a de uma criança que nunca comeu verduras ou legumes, mas que já de antemão não gosta. Meio contra vontade tive que me matricular nas disciplinas de Antropologia. E então, aqueles meus preconceitos e ignorância foram água abaixo. Entre os autores que estudei, o que mais me marcou foi Claude Lévi-Strauss pelo riqueza de suas análises. Esse meu encontro com Lévi-Strauss me fez olhar o Outro como sujeito, eu que mergulhado nas minha certezas ideológicas e políticas tinha uma visão já definida de mundo. O que mais me marcou foi começar a olhar esse Outro que estava ao meu redor, com suas histórias, mitos e culturas, como minha mãe, minha avó, os migrantes da favela do Parque Santa Madalena ou os operários metalúrgicos das fábricas da Mooca. Foi uma grande descoberta que guardo comigo até hoje. Axé!

Fonte: Site Cronópios 20/11/2008 03:38:00 - www.cronopios.com.br/site/ensaios.asp?id=3666
Entre gêmeos desiguais

Por Sérgio Medeiros

No dia 28 de novembro, o antropólogo Claude Lévi-Strauss completará 100 anos. Nascido em Bruxelas, de uma família de judeus alsacianos, Lévi-Strauss vive hoje em Paris, onde comemorará seu centenário, pois fez da França sua pátria. Autor de livros fundamentais, como Tristes Trópicos e Mitológicas (quatro volumes), Lévi-Strauss é considerado o maior antropólogo vivo e um dos grandes intérpretes da cultura ameríndia, tendo vivido no Brasil, onde estudou a cultura urbana e indígena do País, a partir de 1935. Para homenagear o célebre etnólogo decidi reler sua obra, ou, pelo menos, um de seus textos fundamentais, que resume suas grandes teses.

Publicado na França em 1991, o livro Histoire de Lynx (História de Lince), do antropólogo Claude Lévi-Strauss, atrai inicialmente o leitor pelas páginas bem-humoradas, destacando-se o prefácio, onde o autor afirma que seus estudos sobre mitologia indígena se situam entre os contos de fadas e os romances policiais, gêneros considerados fáceis de ler. Por isso ele se surpreende quando reclamam da complexidade de suas análises, embora admita que os quatro volumes que compõem as Mitológicas, publicados entre 1964 e 1971, possam ser difíceis. O fato é que Lévi-Strauss inventou, como os críticos reconhecem, uma nova linguagem para resumir e comparar mitos, um estilo inconfundível que começou a ser forjado nos anos 1950 e cuja verve e frescor perduram na História de Lince, um livro que retoma os anteriores, porém apostando na concisão e na simplicidade da exposição. Pode-se dizer que, nesse livro, Lévi-Strauss reviu toda sua obra e fez uma defesa contundente do método que sempre empregou para analisar os mitos. Clifford Geertz chega a dizer, num estudo sobre a originalidade do discurso antropológico, que “Lévi-Strauss não quer que o leitor olhe através de seu texto: quer que olhe para o texto”, situando-o numa linhagem literária que incluiria nomes como Baudelaire, Mallarmé, Rimbaud e em especial Proust. Quem freqüentar as páginas dessa obra-prima que é Tristes Trópicos, publicada em 1955, não ignorará sua assombrosa dimensão literária, digna de Mallarmé, caso esse poeta simbolista tivesse vivido na América do Sul, como já se afirmou.

Quando a Europa programava as comemorações dos 500 anos da descoberta da América, Lévi-Strauss lançou História de Lince e lembrou, em suas páginas, que houve invasão e destruição, não descoberta. O prefácio bem-humorado termina lamentando a destruição dos povos indígenas e de seus valores e anuncia um dos temas desse livro fascinante: o branco e o índio não seriam irmãos gêmeos? É possível sustentar essa hipótese?

A “descoberta” do Novo Mundo não teria agitado muito a consciência européia. Ao espanto inicial, nada espetacular, sobreveio certa indiferença, quando a cegueira voluntária do Velho Mundo se sobrepôs à evidência de que a sua “humanidade plena” não representava o gênero humano, mas uma parte dele. Para o século XVI, a descoberta da América teria confirmado, muito mais do que revelado, a diversidade dos costumes, como se nada de absolutamente novo tivesse sido trazido à luz. Outra teria sido, contudo, a reação dos índios quando se depararam pela primeira vez com os europeus recém-chegados ao seu território. Essas duas atitudes opostas são discutidas pelo antropólogo Claude Lévi-Strauss em História de Lince, onde ele se debruça sobre o papel que os brancos exerceram no imaginário indígena, antes mesmo do efetivo desembarque dos europeus no Novo Mundo.

Para falar do nascimento dos gêmeos mitológicos, Lévi-Strauss resume as relações sexuais possíveis entre humanos e não-humanos, numa época em que as fronteiras ontológicas eram porosas e pululavam contatos inusitados no território ameríndio. Nesse sentido, além de conto de fadas e de romance policial, a análise estrutural pode incluir também a narrativa erótica, sempre atribulada e exuberante: certa jovem, por exemplo, que recusou todos os pretendentes, acabou levando uma vida solitária e se resignou finalmente a desposar uma raiz, com a qual teve um filho, que cresceu ao seu lado. À medida que, nesse livro, os diferentes mitos vão sendo apresentados, o leitor se depara com vegetais e animais sedutores e, sobretudo, já nas páginas iniciais, com o lince, um velho pouco atraente que se une a uma moça virgem. O casal vive feliz porque o lince é, na verdade, um rapaz belo e forte. Quem imagina que o príncipe encantado é tema exclusivo da literatura do Velho Mundo será surpreendido, na História de Lince, por uma galeria de heróis bem-apessoados, embora, inicialmente, todos se caracterizem pela má aparência e a idade avançada. Contudo, há sempre uma pele jovem sob a pele encarquilhada, e o feio oculta o belo. Das uniões sexuais entre esses heróis ambíguos (seres sobrenaturais) e moças cobiçadas pelos homens nascem os gêmeos ameríndios.

Na América do Sul, à época da “descoberta”, os povos indígenas temiam em geral os gêmeos (estes podiam ser mortos ao vir ao mundo), embora eles também fossem venerados, como sucedia entre os incas. Os mitos ameríndios, contudo, parecem se comprazer em apresentar, em todos os rincões do Novo Mundo, nascimentos de gêmeos, filhos do mesmo pai ou de pais diferentes, seja porque a mãe se relacionou com dois homens ou com um homem e um animal. Segundo a tese de Lévi-Strauss, isso poderia ser explicado pelo fato de que o mundo e a sociedade estão estruturados sobre uma série de bipartições. As partes, porém, não são iguais, uma é sempre superior à outra. É o que acontece com os gêmeos míticos: eles são diferentes entre si, um agressivo, o outro pacífico; um forte, o outro fraco; um inteligente e hábil, o outro desajeitado e tonto etc. Tampouco os seios das mulheres são gêmeos idênticos, lembram os mitos: um é distinto do outro, pois o peito das índias é assimétrico.

Entre as mais importantes polaridades míticas, Lévi-Strauss destaca a bipartição em índios e brancos. Ele constata que os brancos, logo após sua chegada, foram facilmente incorporados à gênese ameríndia, como se o lugar deles nesse relato mítico já tivesse sido previsto antes da invasão do Novo Mundo. A criação dos índios, afirma Lévi-Strauss, tornava necessário que o demiurgo também criasse os não-índios. O deus civilizador Quetzalcoatl, por exemplo, anunciou que viriam pelo mar, de onde o sol nasce, seres semelhantes a ele mesmo, cuja aparência, conforme acreditavam os índios, era a de um homem grande, branco e de barba longa. Porém, o mesmo e o outro, idealmente gêmeos, sempre se revelaram desiguais nos mitos e na realidade. Esse desequilíbrio era ainda mais forte entre brancos e índios. Ou seja, os gêmeos não são de fato gêmeos, conclui Lévi-Strauss, tudo neles contradiz essa condição. O filho do Velho Mundo e o filho do Novo Mundo entraram inevitavelmente em conflito, o que os mitos já previam. O índios não puderam ficar indiferentes à chegada dos europeus, mas tampouco puderam reverter a seu favor a superioridade numérica. Há um pormenor inquietante nesse conto de horror e mistério, inserido em História de Lince: o incapacidade indígena de opor uma resistência eficaz ao europeu, mesmo quando 20.000 homens armados, por exemplo, se defrontaram, no Peru, com um número inexpressivo de espanhóis. Essa paralisia terá muitas explicações, inclusive a de que o intruso inicialmente foi visto, pelos incas e pelos astecas, e talvez por outros povos, como uma antiga divindade desaparecida, cujo retorno era esperado e anunciado.

É possível especular como seriam hoje as sociedades indígenas se o “reencontro” entre os gêmeos tivesse ocorrido milhares de anos atrás. Depois de percorrer os Ensaios de Montaigne, um europeu imune à “cegueira voluntária” que acometeu os homens do século XVI, Lévi-Strauss lembra, numa nota de rodapé, que o filósofo lamentou que a conquista do Novo Mundo não tivesse se dado no tempo da Grécia ou de Roma, quando as armas respectivas seriam comparáveis e o contato não teria redundado no extermínio dos mais fracos. Esse belo mito, sonhado por Montaigne e recuperado por Lévi-Strauss, não foi ainda narrado por ninguém. Os gêmeos continuam desiguais, sobretudo nesta parte do mundo, como o demonstra a História de Lince.

Sérgio Medeiros traduziu o poema maia Popol Vuh (Iluminuras, 2007), com a colaboração do americanista Gordon Brotherston, e publicou, entre outros, três livros de poesia. Ensina literatura na UFSC. Participará de uma homenagem a Claude Lévi-Strauss no Centro Cultural Arquipélago de Florianópolis, no dia 22 de novembro, às 19 horas, quando lerá seu poema longo “O retrato totêmico de Claude Lévi-Strauss”. E-mail: panambi@matrix.com.br

domingo, outubro 26, 2008

ERIC HOBSBAWM - Crise do Capitalismo e Marx

Comentários Moisés Basílio: Reproduzimos nesse blog a boa entrevista concedida por Eric Hobsbawm para a revista Sin Permiso. Aproveite e entre no sítio da revista para conhecê-la, pois é de ótima qualidade. Axé.

Fonte: Revista Sin Permisso - www.sinpermiso.info


La crisis del capitalismo y la importancia actual de Marx 150 años después de los Grundrisse. Entrevista
Eric Hobsbawm · · · · ·

28/09/08

"Para cualquier interesado en las ideas, sea un estudiante universitario o no, es patentemente claro que Marx es y permanecerá como una de las grandes mentes filosóficas y analistas económicas del siglo diecinueve y, en su máxima expresión, un maestro de una prosa apasionada. También es importante leer a Marx porque el mundo en el cual vivimos hoy, no puede entenderse sin la influencia que los escritos de este hombre tuvieron sobre el siglo XX. Y, finalmente, debería ser leído porque como él mismo escribió, el mundo no puede ser cambiado de manera efectiva a menos que sea entendido, y Marx permanece como una soberbia guía para la comprensión del mundo y los problemas a los que debemos hacer frente."

Eric Hobsbawm es considerado uno de los más grandes historiadores vivientes. Es Presidente de la Birkbeck College (London University) y profesor emérito de la New School for Social Research (New York). Entre sus muchos escritos se encuentran la trilogía acerca del "largo siglo XIX": The Age of Revolution: Europe 1789-1848 (1962); The Age of Capital: 1848-1874 (1975); The Age of Empire: 1875-1914 (1987) y el libro The Age of Extremes: The Short Twentieth Century, 1914-1991 (1994) traducidos a varios idiomas. Le entrevistamos cuando la publicación del volumen Karl Marx's Grundrisse. Foundations of the Critique of Political Economy 150 Years Later y con motivo de la nueva actualidad que están teniendo en los últimos años los escritos de Marx y después de la nueva crisis de Wall Street. Nuestro colaborador Marcello Musto lo entrevistó para Sin Permiso.

1) Marcelo Musto. Profesor Hobsbawm, dos décadas después de 1989, cuando fue apresuradamente relegado al olvido, Karl Marx ha regresado al centro de atención. Libre del papel de intrumentum regni que le fue asignado en la Unión Soviética y de las ataduras del "marxismo-leninismo", no solo ha recibido atención intelectual por la nueva publicación de su obra sino que también ha sido el centro de un mayor interés. De hecho, en 2003, la revista francesa Nouvel Observateur dedicó un número especial a Karl Marx. Le penseur du troisième millénaire? Un año después, en Alemania, en una encuesta organizada por la compañía de televisión ZDF para establecer quien eran los más importantes alemanes de todos los tiempos, más de 500.000 televidentes votaron por Karl Marx; quien obtuvo el tercer lugar en la clasificación general y primero en la categoría de "relevancia actual". Luego, en 2005, el semanario Der Spiegel le dedicó una portada con el título de Ein Gespenst Kehrt zurük (Un espectro ha vuelto) mientras los escuchas del programa In Our Time de Radio 4 de la BBC votaron por Marx como el más grande filósofo.
En una conversación recientemente publicada con Jacques Attalí, usted dijo que paradójicamente "son los capitalistas, más que otros, quienes han estado redescubriendo a Marx" y usted habló de su asombro, cuando el hombre de negocios y político liberal, George Soros, le dijo a usted que: "He estado leyendo a Marx y hay muchas cosas interesantes en lo que él dice". Aunque sea débil y más bien vago ¿cuáles son las razones de este renacimiento? ¿Es probable que su obra sea de interés solamente para los especialistas e intelectuales, para ser presentada en cursos universitarios como un gran clásico del pensamiento moderno que no debería ser olvidado? o ¿también podría venir una nueva "demanda de Marx" en el futuro desde el lado político?

Eric Hobsbawm. Hay un indudable renacimiento del interés público en Marx en el mundo capitalista, sin embargo, probablemente no todavía en los nuevos miembros de la Unión Europea de Europa del Este. Este renacimiento, fue probablemente acelerado por el hecho de que el 150 aniversario de la publicación del Manifiesto del Partido Comunista coincidió con una crisis económica internacional particularmente dramática en medio de un período de ultra-rápida globalización del libre mercado.

Marx predijo la naturaleza de la economía mundial en el comienzo del Siglo XXI, sobre la base de su análisis de la "sociedad burguesa", ciento cincuenta años antes. No es sorprendente que los capitalistas inteligentes, especialmente en el sector financiero globalizado, fueran impresionados por Marx, ya que ellos fueron necesariamente más concientes que otros de la naturaleza y las inestabilidades de la economía capitalista en la cual ellos operaban. La mayoría de la izquierda intelectual ya no supo que hacer con Marx. Fue desmoralizada por el colapso del proyecto social-demócrata en la mayoría de los Estados Atlánticos del Norte en los ochenta y la conversión masiva de los gobiernos nacionales a la ideología de libre mercado así como por el colapso de los sistemas políticos y económicos que afirmaban ser inspirados por Marx y Lenin. Los así llamados, "nuevos movimientos sociales" como el feminismo, tampoco tuvieron una conexión lógica con el anti-capitalismo (aunque como individuos sus miembros pudieran estar alineados con él) o cuestionaron la creencia en el progreso sin fin del control humano sobre la naturaleza que tanto el capitalismo como el socialismo tradicional habían compartido. Al mismo tiempo, "el proletariado", dividido y disminuido, dejó de ser creíble como el agente histórico de la transformación social de Marx. Es también el caso que desde 1968, los más prominentes movimientos radicales han preferido la acción directa no necesariamente basada sobre muchas lecturas y análisis teóricos. Claro, esto no significa que Marx dejara de ser considerado como un gran y clásico pensador, aunque por razones políticas, especialmente en países como Francia e Italia, que alguna vez tuvieron poderosos Partidos Comunistas, ha habido una ofensiva intelectual apasionada contra Marx y los análisis marxistas, que probablemente llegaron a su más alto nivel en los ochenta y noventa. Hay signos de que ahora el agua retomará su nivel.


2) M. M. A través de su vida, Marx fue un agudo e incansable investigador, quien percibió y analizó mejor que ninguno otro en su tiempo, el desarrollo del capitalismo a escala mundial. Él entendió que el nacimiento de una economía internacional globalizada era inherente al modo capitalista de producción y predijo que este proceso generaría no solamente el crecimiento y la prosperidad alardeados por políticos y teóricos liberales sino también violentos conflictos, crisis económicas e injusticia social generalizada. En la última década hemos visto la Crisis financiera del este asiático, que empezó en el verano de 1997; la crisis económica argentina de 1999-2002 y sobre todo, la crisis de los préstamos hipotecarios, que empezó en Estados Unidos en 2006 y ahora ha devenido la más grande crisis financiera de la post-guerra. ¿Es correcto decir entonces, que el regreso al interés en Marx está basado en la crisis de la sociedad capitalista y sobre su perdurable capacidad de explicar las profundas contradicciones del mundo actual?


E. H. Si la política de la izquierda en el futuro será inspirada una vez más en los análisis de Marx, como lo fueron los viejos movimientos socialistas y comunistas, dependerá de lo que pase en el mundo capitalista. Pero esto aplica no solamente a Marx sino a la izquierda como un proyecto y una ideología política coherente. Puesto que, como usted dice correctamente, la recuperación del interés en Marx está considerablemente –yo diría, principalmente- basado sobre la actual crisis de la sociedad capitalista, la perspectiva es más prometedora de lo que fue en los noventa. La presente crisis financiera mundial, que bien puede devenir en una mayor depresión económica en Estados Unidos, dramatiza el fracaso de la teología del libre mercado global incontrolado y obliga, inclusive del Gobierno norteamericano, a considerar optar por tomar acciones públicas olvidadas desde los treinta. Las presiones políticas están ya debilitando el compromiso de los gobiernos neoliberales en torno a una globalización incontrolada, ilimitada y desregulada. En algunos casos (China) las vastas desigualdades e injusticias causadas por una transición de modo general a una economía de libre mercado, plantea ya problemas importantes para la estabilidad social y dudas inclusive en altos niveles de gobierno.

Es claro que cualquier "retorno a Marx" será esencialmente un retorno al análisis de Marx del capitalismo y su lugar en la evolución histórica de la humanidad —incluyendo, sobre todo, sus análisis de la inestabilidad central del desarrollo capitalista que procede a través de crisis económicas auto-generadas con dimensiones políticas y sociales. Ningún marxista podría creer por un momento que, como argumentaron los ideólogos neoliberales en 1989, el capitalismo liberal se había establecido para siempre, que la historia tenía un fin o, en efecto, que cualquier sistema de relaciones humanas podría ser para siempre, final y definitivo.


3) M. M. No piensa usted que si las fuerzas políticas e intelectuales de la izquierda internacional, que se cuestionan a sí mismas con respecto al socialismo en el nuevo siglo, renunciaran a las ideas de Marx, ¿no perderían una guía fundamental para el examen y la transformación de la realidad actual?


E. H. Ningún socialista puede renunciar a las ideas de Marx, en tanto que su creencia de que el capitalismo debe ser sucedido por otra forma de sociedad está basada, no en la esperanza o la voluntad sino en un análisis serio del desarrollo histórico, particularmente de la era capitalista. Su predicción real de que el capitalismo sería re-emplazado por un sistema administrado o planeado socialmente todavía parece razonable, aunque él ciertamente subestimó los elementos de mercado que sobrevivirían en algún sistema(s) post-capitalista. Puesto que él deliberadamente se abstuvo de especular acerca del futuro, no puede ser hecho responsable por las formas específicas en que las economías "socialistas" fueron organizadas bajo el "socialismo realmente existente". En cuanto a los objetivos del socialismo, Marx no fue el único pensador que quería una sociedad sin explotación y alienación, en que los seres humanos pudieran realizar plenamente sus potencialidades, pero sí fue el que la expresó con mayor fuerza que nadie, y sus palabras mantienen el poder para inspirar.

Sin embargo, Marx no regresará como una inspiración política para la izquierda hasta que sea entendido que sus escritos no deben ser tratados como programas políticos, autoritariamente, o de otra manera, ni como descripciones de una situación real del mundo capitalista de hoy, sino más bien, como guías hacia su modo de entender la naturaleza del desarrollo capitalista. Ni tampoco podemos o debemos olvidar que él no logró una presentación bien planeada, coherente y completa de sus ideas, a pesar de los intentos de Engels y otros de construir de los manuscritos de Marx, un volumen II y III de El Capital. Como lo muestran los Grundrisse. Incluso, un Capital completo habría conformado solamente una parte del propio plan original de Marx, quizá excesivamente ambicioso.

Por otro lado, Marx no regresará a la izquierda hasta que la tendencia actual entre los activistas radicales de convertir el anticapitalismo en anti-globalismo sea abandonada. La globalización existe y, salvo un colapso general de la sociedad humana, es irreversible. En efecto, Marx lo reconoció como un hecho y. como un internacionalista, le dio la bienvenida, teóricamente. Lo que él criticó y lo que nosotros debemos criticar es el tipo de globalización producida por el capitalismo.


4) M. M. Uno de los escritos de Marx que suscitaron el mayor interés entre los nuevos lectores y comentadores son los Grundrisse. Escritos entre 1857 y 1858, los Grundrisse son el primer borrador de la crítica de la economía política de Marx y, por tanto, también el trabajo inicial preparatorio del Capital; contiene numerosas reflexiones sobre temas que Marx no desarrolló en ninguna otra parte de su creación inacabada. ¿Por qué, en su opinión, estos manuscritos de la obra de Marx, continúan provocando más debate que cualquiera otro, a pesar del hecho de que los escribió solamente para resumir los fundamentos de su crítica de la economía política? ¿Cuál es la razón de su persistente interés?


E. H. Desde mi punto de vista, los Grundrisse han provocado un impacto internacional tan grande sobre la escena marxista intelectual por dos razones relacionadas. Permanecieron virtualmente no publicados antes de los cincuenta y, como usted dice, conteniendo una masa de reflexiones sobre asuntos que Marx no desarrolló en ninguna otra parte. No fueron parte del largamente dogmatizado corpus del marxismo ortodoxo en el mundo del socialismo soviético, de ahí que el socialismo soviético no pudiera simplemente desecharlos. Pudieron, por tanto, ser usados por marxistas que querían criticar ortodoxamente o ampliar el alcance del análisis marxista mediante una apelación a un texto que no podría ser acusado de ser herético o anti-marxista. Por tanto, las ediciones de los setenta y los ochenta antes de la caída del Muro de Berlín, continuaron provocando debate, fundamentalmente porque en estos manuscritos Marx plantea problemas importantes que no fueron considerados en el Capital, como por ejemplo, las cuestiones planteadas en mi prefacio al volumen de ensayos que usted recolectó (Karl Marx's Grundrisse. Foundations of the Critique of Political Economy 150 Years Later, editado por M. Musto, Londres-Nueva York, Routledge, 2008).


5) M. M. En el prefacio de este libro, escrito por varios expertos internacionales para conmemorar el 150 aniversario desde su composición, usted escribió: "Quizá este es el momento correcto para regresar al estudio de los Grundrisse menos constreñidos por las consideraciones temporales de las políticas de izquierda entre la denuncia de Nikita Khrushchev de Stalin y la caída de Mikhail Gorbachev". Además, para subrayar el enorme valor de este texto, usted establece que los Grundrisse "contienen análisis y la comprensión, por ejemplo, de la tecnología, que lleva al tratamiento de Marx del capitalismo mas allá del siglo XIX en la era de una sociedad donde la producción no requiere ya mano de obra masiva, de automatización, de potencial de tiempo libre y de las transformaciones de alienación en tales circunstancias. Este es el único texto que va, de alguna manera, más allá de los propios indicios de Marx del futuro comunista en la Ideología Alemana. En pocas palabras, ha sido correctamente descrito como el pensamiento de Marx en toda su riqueza. Por tanto ¿cuál podría ser el resultado de la re-lectura de los Grundrisse hoy?


E. H. No hay probablemente más que un puñado de editores y traductores que han tenido un pleno conocimiento de esta gran y notoriamente difícil masa de textos. Pero una re-re-lectura o más bien lectura de ellos hoy puede ayudarnos a repensar a Marx: a distinguir lo general en el análisis del capitalismo de Marx de lo que fue específico de la situación de la "sociedad burguesa" en la mitad del siglo XIX. No podemos predecir qué conclusiones de este análisis son posibles y probablemente solamente que ellos ciertamente no llevarán a acuerdos unánimes.


6) M. M. Para terminar una pregunta final ¿Por qué es importante leer hoy a Marx?


E. H. Para cualquier interesado en las ideas, sea un estudiante universitario o no, es patentemente claro que Marx es y permanecerá como una de las grandes mentes filosóficas y analistas económicas del siglo diecinueve y, en su máxima expresión, un maestro de una prosa apasionada. También es importante leer a Marx porque el mundo en el cual vivimos hoy, no puede entenderse sin la influencia que los escritos de este hombre tuvieron sobre el siglo XX. Y finalmente debería ser leído porque como él mismo escribió, el mundo no puede ser cambiado de manera efectiva a menos que sea entendido, y Marx permanece como una soberbia guía para la comprensión del mundo y los problemas a los que debemos hacer frente.

Eric Hobsbawm es el decano de la historiografía marxista británica. Uno de sus últimos libros es un volumen de memorias autobiográficas: Años interesantes, Barcelona, Critica, 2003.

Traducción para www.sinpermiso.info: Gabriel Vargas Lozano

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www.sinpermiso.info, 28 septiembre 2008

sábado, outubro 25, 2008

CURINTIÁ, AXÉ!

Comentários Moisés Basílio: Hoje o Timão volta para a Série A. No Blog do Juca Kfuori uma singela homenagem com toda a criatividade do Gilberto Gil. Muito bonita. Já decorei e transcrevi para vocês. Axé!

Para ver o vídeo clique:
http://mais.uol.com.br/view/123260

http://www.youtube.com/watch?v=nJ39nqWLkhA

CURINTIÁ

De Gilberto Gil


Ser corintiano é decidir,

Que todo ano a gente vai sofrer.

Se enrolar no pano da bandeira

E reclamar se o time não vencer.

Mas de repente o ano é santo

A gente tá no céu

O time é forte, a sorte é grande,

Axé, tá com a fiel.

O Axé, tá com a fiel

Voa suave o gavião.

O Axé, tá com a fiel

Bate na trave o coração.

Bate na trave o coração.

Ser corinthiano é mergulhar no oceano

Da ilusão que afoga

Não importa o plano do destino

Cada jogo é o coração que joga

Bate na trave

A ilusão da gente, vai que vai...

Chutar de novo

Que o coração entra e o grito sai:

É o gol! Curintiá!

É o gol! Curintimão!

É o gol! Curintiá!

É o gol! Curintimão!


sexta-feira, outubro 03, 2008

ANN MISCHE - Partisan Publics: Communication and Contention Across Brazilian Youth

Comentários Moisés Basílio: Olha aí, o grande livro da minha grande amiga Ann Mische, que traz uma citação sobre os meus tempos de Pastoral de Juventude. Por enquanto só em inglês. Assim que for possível, disponibilizo meus comentários sobre esse trabalho. Axé.

Partisan Publics: Communication and Contention Across Brazilian Youth ...

Partisan Publics: Communication and Contention Across Brazilian Youth ... - Página 126

de Ann Mische - 2008 - 432 páginas
As Moises Basilic Leal, an early youth pastoral leader from Sao Paulo (and
eventually a committed PT leader) recalls, In the election of 1982, a majority of ...

quinta-feira, setembro 11, 2008

Notícas do México

COMENTÁRIO MOISÉS BASILIO: Abaixo trecho de uma carta do inicio de setembro do meu filho Pedro que está fazendo um curso de intercâmbio no México. Axé!






Olá Pai,
aqui as coisas estao tranquilas.
Estou aproveitando para viajar com a universidade e também com as pessoas que me convidam para suas casas. Como quase todos não moram em Texcoco entonces vem gente de tudo quanto é lugar do México.
Neste fim de semana teve uma puente (feriado), pois aqui no México uma vez por ano (1 setembro) tem esclarecimentos de que o governo fez no ano anterior. Aproveitei para ir a um pueblo (sta. Maria del Monte) muito bonito onde vive uma amiga. A situacão nao é das melhores e lá me disseram que é um reflexo de como vive a maioria dos mexicanos. Comida não falta, porém não tem luxo. A diversão dos jovens nos fins de semana é beber até cair e arranjar briga. muitos pueblos estao esvaziados de homens que vão tentar a vida nos EUA. É impressionante como algumas casas das familias dessas pessoas que vão aos Estados Unidos são diferentes, isto é, grandes e com estilo estadosunidense.
Fui também em um encontro de campesinos. A situacão é a mesma do Brasil. O governo traça uma politica de producão que é mundial e financia somente quem a segue. Porém os campesinos desta comunidade (1 de maio) estao mudando a lógica e primeramente estao plantando para comer e depois para vender. Está dificil porem estao em luta. (...)


segunda-feira, agosto 11, 2008

Escola Pública e Sociedade

Fonte: Portal Arca Pedagógia - Profº Elie Ghanen - Sociologia da Educação - FEUSP -
LEAL, Moisés Basílio, SILVA, Valdir Gomes da, CARDOSO,Wladimir. <em>Escola pública e sociedade</em>: projeto de pesquisa. São Paulo, 2007. 2 p. — Portal colabor


Escola Pública e Sociedade: Minuta de projeto de pesquisa. São Paulo, 2007..

Enunciado do problema:

Por que a instituição escolar pública de educação básica, ao realizar as suas ações educativas, tem dificuldades em fazer interlocuções com as organizações e instituições que atuam em seu entorno?

Definição do problema:

A população alvo da educação pública escolar básica é formada por crianças, adolescentes, jovens e adultos que não freqüentaram a escola em seu devido tempo. Só que a ação da escola pública sobre essa população não acontece no vazio, pois várias organizações e instituições da sociedade e também do Estado, fazem parte do cotidiano dessa população e podem valorizar, desvalorizar ou ignorar o trabalho da educação escolar.

Considerando que o papel da atual Escola Pública brasileira, expresso nas legislações vigentes, principalmente na Constituição de 1988, fruto de amplo debate político realizado no processo de redemocratização brasileira, após o longo período do regime de ditadura militar, tem como pressupostos e fundamentos uma concepção democrática e cidadã de escola. Também há de se considerar o conceito de “Cidade Educadora”, movimento surgido em âmbito mundial e do qual a cidade de São Paulo faz parte. Então há de se questionar: Até que ponto essa concepção de escola pública está presente nas práticas organizativas da instituição escola pública.

O conceito de interlocução é de fundamental importância para a prática democrática. A interlocução pressupõe a existência de sujeitos que se comunicam a partir de situações pertinentes a realidade social concreta sentida pelos sujeitos. No caso da realidade da escola pública, o que o nosso projeto de pesquisa buscará explicitar é se há ou não interlocução entre o sujeito instituição escola pública e os outros sujeitos, cidadão, instituições e organizações, que atuam em seu entorno.

A relevância deste problema está situada no papel social que a escola pública de ensino básico é chamada a responder diante da sociedade brasileira, ou seja, o de contribuir com o processo educativo da sociedade brasileira, a partir da educação escolar básica para as gerações que não tiveram oportunidades no seu devido tempo e para as novas gerações. Para nós o conceito de educação de uma sociedade é mais amplo do que o conceito de educação escolar, pois o acesso ao conhecimento das pessoas não se reduz só ao âmbito do ensinar e aprender escolar. Mas, nas sociedades modernas a complexidade de conhecimentos necessários para que uma pessoa se torne sujeito, faz com que o conhecimento escolar ganhe importância. Mas também, esse conhecimento escolar não tem valor em si mesmo, como um conhecimento pronto e acabado para ser transmitido. Ele só adquire importância para as pessoas e para a sociedade quando responde as suas necessidades de conhecimento.

Assim, a escola pública para cumprir a sua missão, no mundo atual, não pode se contentar em ser somente um espaço de transmissão de conhecimentos, o desafio é tornar-se um espaço de produção de conhecimentos, e para isso tem que necessariamente fazer a interlocução com os outros produtores de conhecimentos e de políticas públicas, para que possa contribuir de fato com o amplo processo educacional.

Enunciado de hipóteses

  1. A escola pública como instituição estatal e burocrática

As origens históricas da atual instituição escolar pública brasileira, data dos anos 30, e tem como bases o Estado autoritário e uma organização burocrática. Essas origens, ao longo do tempo foram reforçadas, e mesmos nos períodos de regimes democráticos, a estrutura do Estado permanece autoritária e a cultura de organização burocrática na instituição escola, dificultam a implementação de uma cultura democrática.

  1. Diversidades de interesses e de concepções em relação à escola pública

Se de um lado há um claro consenso na sociedade brasileira sobre a necessidade de se ter uma política pública de educação escolar básica de caráter universal, que possa ser acessado por todos, por outro lado há uma diversidade de interesses quanto à qualidade dessa educação. O consenso se expressou historicamente em várias ações para garantir vagas para todos nos sistemas escolares.

  1. Debilidades na construção de mecanismos de interlocuções da escola pública com a sociedade

Tanto por parte da instituição escolar, como por parte das organizações e instituições da sociedade não há uma prática sistemática de interlocução. De um lado, a estrutura burocrática estatal da instituição escolar, fundada num saber técnico competente sobre educação, fecha-se sobre si mesma e dificulta o acesso de participação da sociedade, por considerá-la incompetente do ponto de vista técnico para participar das decisões referentes às demandas da educação escolar. Por outro lado há um comportamento de passividade por parte da sociedade ao aceitar esse pressuposto, fato que legitima a prática burocrática da instituição escolar.

Grupo: Moisés Basílio Leal, Valdir Gomes da Silva, Wladimir Cardoso.

Entenda como funciona o bônus do PASUSP

Comentários Moisés Basílio: Boa noticia para quem luta, há anos, pela democratização do acesso ao ensino público no Brasil. Sem entrar no mérito da medida, o importante é constatar que mais gente da escola pública chegará em 2009 à USP. No ano que vem poderemos avaliar melhor os impactos da medida. Axé!

Fonte: Assessoria de Imprensa da USP - www.usp.br/inclusp

O Programa de Avaliação Seriada da USP (PASUSP) abre inscrições para alunos do terceiro ano do Ensino Médio Público Regular do estado de São Paulo que desejarem realizar prova cujo resultado será revertido em bônus adicional de até 3% na nota da primeira e da segunda fases do vestibular da FUVEST. A pré-inscrição gratuita será realizada entre os dias 11 e 22 de agosto, diretamente nas escolas onde os estudantes estão matriculados. A prova será aplicada pela FUVEST no dia 19 de outubro.

Neste primeiro ano, a prova será destinada aos estudantes do terceiro ano que também tenham cursado o primeiro e o segundo anos do Ensino Médio Regular em escolas públicas do Brasil. A participação dos alunos no Programa será voluntária. A partir de 2010 e 2011, o PASUSP será implantado progressivamente nas outras séries. Além da possibilidade de 3% de bônus adicional, pelo PASUSP, o estudante poderá conseguir até 12% de acréscimo em sua pontuação da primeira e segunda fases no vestibular:


Bônus no Vestibular
Bônus Universal – O aluno que realizou integralmente o ensino médio em escolas publicas públicas brasileiras recebe bônus de 3% sobre a nota do vestibular.

Bônus ENEM – Ao participar do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), o estudante de escola pública brasileira pode ter um acréscimo de até 9% na nota do vestibular, dependendo do seu desempenho na prova.

Bônus PASUSP – Com o programa, o acréscimo na nota do vestibular pode chegar a 12%.

* Ensino Médio Público = 3%
* Ensino Médio Público + ENEM = até 9%
* Ensino Médio Público + ENEM + PASUSP = até 12%

O PASUSP é um programa desenvolvido em parceria com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Foi criado após uma avaliação amplamente favorável dos resultados iniciais do Programa de Inclusão Social da USP (INCLUSP) que, após os dois primeiros anos da implantação, atingiu o objetivo de aumentar o ingresso na USP de estudantes provenientes do Ensino Médio Público.

A principal finalidade do PASUSP é aproximar a Universidade das escolas públicas de Ensino Médio do Estado de São Paulo, contribuindo assim para ampliar progressivamente o percentual de ingressantes na USP que cursaram o Ensino Médio na rede pública de ensino, de modo a atingir a meta de 30% em 2009. O PASUSP visa ainda minimizar os efeitos da auto-exclusão e potencializar as chances de ingresso na USP de candidatos egressos do sistema público de ensino, mantido o critério de mérito acadêmico como requisito para o ingresso.

O Programa tem ainda o propósito de contribuir para a avaliação do desempenho acadêmico de estudantes do 3º ano do Ensino Médio Regular do Estado de São Paulo, por meio de prova elaborada pela USP com base nas expectativas de Aprendizagem apresentadas nos documentos das Propostas Curriculares para o Ensino Médio da Secretaria Estadual da Educação do Estado de São Paulo.

Etapas
• Pré-inscrição dos candidatos, na escola de origem do estudante: de 11 a 22 de agosto de 2008;
• Divulgação dos locais de exame, no site da FUVEST: início de outubro de 2008;
• Data do exame: 19 de outubro de 2008.

Cálculo do bônus e desenvolvimento do programa
Dependendo do desempenho do candidato na prova, sua nota no vestibular FUVEST 2009 poderá ser multiplicada por um fator que varia de 1,00 a 1,03, ou seja, o aluno pode receber bônus de até 3% sobre a pontuação da 1ª e da 2ª fases do vestibular. A equação abaixo mostra como o bônus vai ser calculado em função do desempenho do estudante na prova:

Bônus (%) = 3(NP – 12)/38, onde NP é o número de pontos na prova do Pasusp, 12 corresponde à probabilidade de acertos aleatórios e 38 resulta da subtração de 12 do total de 50 questões.

Assim, por exemplo, um aluno que acertar as 50 questões da prova terá NP = 50; 50 – 12 = 38 e, por sua vez, 38/38 = 1 que, multiplicado por três, representa o bônus máximo de 3%. Para acertos abaixo de 50 será adotada a mesma lógica e o bônus será proporcional ao resultado obtido. Um número de acertos igual ou abaixo de 12 não resultará em bonificação.

Para o recebimento da bonificação adicional qualificada pelo desempenho na prova, conforme explicitado na equação acima, as notas dos alunos no Pasusp poderão ser utilizadas no vestibular deste ano (FUVEST 2009) e também no vestibular do ano seguinte (FUVEST 2010).

Prova
A prova será aplicada pela FUVEST. Constará de 50 questões objetivas, de múltipla escolha. Será aplicada em escolas públicas localizadas em 5 regiões da Capital e em 44 cidades do Estado de São Paulo.

DIA DOS PAIS 2008

Comentário Moisés Basílio: Parodiando uma canção do Milton Nascimento, certos poemas que leio cabem bem dentro de mim. O poema Infância é de autoria do Carlos Drummond de Andrade. Ao ler, tomei a liberdade de adaptá-lo à minha realidade - os verso em itálico e negrico foram escritos por mim. É um lindo poema, que me fez lembrar meu querido Pai e minhas raízes ancestrais negra. Não o pai da minha idade adulta, mas meu Papai de criança. Axé!

INFÂNCIA

Meu Pai pegava o ônibus, ia para o centro da cidade.
Minha Mãe ficava sentada cosendo.
Minha irmã pequena dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé.
Comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha minha Avó
café gostoso
café bom.

Minha Mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!

Lá longe meu Pai trabalhava
nas ruas sem fim da cidade

E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.

quarta-feira, julho 23, 2008

JUVENTUDE: “RITOS DE PASSAGENS” CONTEMPORÊNEOS – O caso "eu controlo, paro de beber quando quiser"

Comentário Moisés Basílio: Minha experiência com o beber começou na juventude, quando militava no movimento sindical/operário metalúrgico, na região da Mooca, em Sampa. Beber virou um passaporte para transitar no mundo do operariado. No entorno das portas de fábricas, as barracas e os bares, era a fonte que nos entorpeciam de manhã, ao meio dia, à tarde e à noite.
Nesse tempo, bebia, mas não bebia muito. Meu "ultimo copo" era determinado pelo meu fazer político de militante.
Nesse tempo, não bebia em casa, pois minha mãe era precavida e tinha receio dos filhos se tornarem alcoólatras, tanto que não permitia guardar bebida em casa. Não que não se bebessem em casa, mas era aquela cervejinha do domingo e bastou. Nada de guardar uma garrafa de destilado para apreciar no cotidiano. No meu grupo de jovens, da Pastoral da Juventude, da Igreja Católica, beber não era bem visto. A regra era não beber.
E assim se fez minha passagem pela juventude, onde o álcool oscilou entre "o divino e o diabólico". Já adulto, confesso que bebi muito, pois a militância social e política nos anos 80 e 90 teve grande em Dionísio um dos seus grande deuses. Um reunião sempre terminava no bar. O problema sempre foi determinar o "ultimo copo". Convivi com pessoas que passaram por diferentes tipos de experiências com a bebida nesse tempo, experiências de vida e também experiências de morte. Sempre optei beber para exaltar as experiências de vida, como diz um amigo, beber a bebida e não ser bebido por ela. Axé!


Fonte: Internet - Portal Cronópios - www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=3406 20/7/2008 14:18:00

Álcool: divino/diabólico? -
Por Daniel Lins


Dentre os comentários sobre a obra de Deleuze, o tema que trata de sua relação com o álcool é raramente abordado. Talvez seja o caráter “não-filosófico” desta questão que levou o álcool em Deleuze a ser considerado como um simples detalhe biográfico. No entanto, tal questão ocupou tanto em sua vida quanto em sua reflexão um lugar não desprezível. Deve-se observar que não existe uma experiência unitária do álcool, mas experiências do álcool.

Diante da comoção social provocada pela implantação da Lei Seca no Brasil, emerge a parte mal-dita tornando o não dito em memória passiva, marcada pelo luto e loucura provocados pelos incidentes, pelo não retorno da juventude sacrificada. Lágrimas, orfandade, trauma social. Mas, o álcool dito diabólico não perde seu carisma, sua alma, sua cartografia criadora, sua origem mitológica, religiosa, divina?

Dioniso é o deus do vinho e da festa. O álcool participa ativamente das celebrações sociais e religiosas greco-romanas, africanas. Noé, diz a Bíblia, fez uso da bebida a ponto de se embriagar, "tendo à mostra as suas vergonhas".

O álcool é o amor e a perda do amor, o dinheiro e a perda do dinheiro, a vida e a perda da vida. Palavra líquida, o álcool é o rio das próprias ilusões. Nada, porém, mais forte para manter o homem vivo que a crença na estética líquida: ninguém sobrevive ao real sem uma dose de poesia. Há no álcool, afora o discurso moral, um erotismo errante, uma força da fragilidade, um corpo que se acorda e... dorme.

Gilles Deleuze:

- Bebi muito. Parei, bebi muito... Seria preciso perguntar a outras pessoas que beberam, perguntar aos alcoólatras. Zomba-se muito dos drogados, ou dos alcoólatras, porque eles sempre dizem: "Eu controlo, paro de beber quando quiser". Zombam deles, porque não se entende o que querem dizer. Quando se bebe, se quer chegar ao último copo. Beber é, literalmente, fazer tudo para chegar ao último copo. É isso que interessa.

Em outros termos, um alcoólatra é alguém que está sempre parando de beber, ou seja, está sempre no último copo. O que isto quer dizer? O primeiro copo repete o último, é o último que conta.

Insisto: o que quer dizer o último copo?

- Não é o primeiro, o segundo, o terceiro que o interessa, é muito mais, um alcoólatra é malandro, esperto. O último copo quer dizer o seguinte: ele avalia o que pode agüentar, sem desabar... Ele não suporta beber mais naquele dia. É o último que lhe permitirá recomeçar no dia seguinte, porque, se ele for até o último que excede seu poder, se ele vai além do último em seu poder para chegar ao último que excede seu poder, ele desmorona, e está acabado, vai para o hospital, ou tem de mudar hábito, de agenciamento.

- Quando ele diz: o último copo, não é o último, é o penúltimo, ele procura o penúltimo. Não o último, pois o último o poria fora de seu arranjo, e o penúltimo é o último antes do recomeço no dia seguinte. O alcoólatra é aquele que diz e não pára de dizer: vamos... é o que se ouve nos bares, é tão divertida a companhia de alcoólatras, a gente não se cansa de escutá-los, nos bares quem diz: é o último, e o último varia para cada um. E o último é o penúltimo. Não, ele não diz: amanhã eu paro; diz: paro hoje para recomeçar amanhã.

Como parar de beber?

- Tudo bem beber, se drogar, pode-se fazer tudo o que se quer, desde que isso não o impeça de trabalhar, criar, se for um excitante é normal oferecer algo de seu corpo em sacrifício.

Álcool e juventude:

- Que bebam, se droguem, o que quiserem, não somos policiais, nem pais, não sou eu quem deve impedi-los ou ... mas fazer tudo para que não virem trapos. No momento em que há risco, eu não suporto. Suporto bem alguém que se droga, mas alguém que se droga de tal modo que, não sei, de modo selvagem, de modo que digo para mim: pronto, ele vai se ferrar, não suporto. Não suporto um jovem que se ferra, não é suportável.

Um velho que se ferra, que se suicida, ele teve sua vida, mas um jovem que se ferra por besteira, por imprudência, porque bebeu demais... É verdade que o papel das pessoas é de tentar salvar os garotos, o quanto se pode. E salvá-los não significa fazer com que sigam o caminho certo, mas impedi-los de virar trapo (Gilles Deleuze: O Abecedário).


Daniel Lins é Sociólogo, filósofo e psicanalista, com doutorado em Sociologia - Université de Paris VII - Université Denis Diderot (1990) e pós-doutor pela Université de Paris VIII (2003). Atualmente é porfessor adjunto IV do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará, Professor Colaborador do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Ceará; Coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas da Subjetividade (LEPS/UFC) articulista da Empresa Jornalística O Povo S. A., Coordenador do GT Filosofia Contemporânea da Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Filosofia (ANPOF), Coordenador do Simpósio Internacional de Filosofia – Nietzsche / Deleuze que se realiza anualmente e m Fortaleza-CE. É autor, entre outros, de Antonin Artaud: o Artesão do Corpo sem Órgãos [Relume Dumara 2001] Juízo e Verdade em Deleuze [Anablume 2001], Expressão: Espinosa em Deleuze – Deleuze em Espinosa [forense universitária 2007] E-mail: dlins2007@yahoo.com.br