sábado, setembro 29, 2007

OCUPAÇÃO E GREVE NA FUNDAÇÃO SANTO ANDRÉ

Comentário Moisés Basílio: Recebi e publico a mensagem de apoio que meu filho Pedro enviou aos companheiros da Fundação Santo André. Axé!

OBS: Esta mensagem segue como apoio contra os atos arbitrários que o Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA) e seus administradores vêm tendo contra os alunos que lutam pelos direitos de uma educação pública e de qualidade. Mais informações sobre o assunto visitem: http://ocupacaofsa.blogspot.com

Salve, salve companheiros da FSA!

É com grande satisfação que escrevo esta mensagem, já que acompanhei e venho acompanhado os atos de selvageria por parte de um grupo, representado pela desgraça pelada do senhor excelentíssimo reitor Odair Bermelho, que está preocupado em servir as exigências do mercado indo contra um modelo de Universidade que precariamente está vigente em nosso país e na America Latina desde o levante em Córdoba.
Creio não ser um problema exclusivo do Centro Universitário Fundação Santo André: o sucateamento, a falta de investimento, a qualidade na formação, o suporte para alunos pobres, etc. Digo essas palavras, pois sabemos que a invasão de faculdades privadas com o aval do MEC, entre outras coisas, liberando cursos de licenciatura curta é apenas o começo para um projeto bem maior que é a total mercantilização da educação. Não podemos nos esquecer que esse processo de sucateamento do ensino público já está em vigor há tempos. Quem já não viu ou ouviu falar do ensino público de antigamente, que se tinha vestibulinhos para entrar nas escolas públicas e quem estudava em escola privada era apenas pessoas endinheiradas que não passavam nos testes públicos. Eu mesmo tenho boas recordações do ensino público na época em que a ex-prefeita Luiza Erundina exercia o cargo na cidade de São Paulo.
Hoje com todos os problemas ainda nos deparamos com a reforma universitária que tenta resolver problemas de vagas apenas aumentando as mesmas sem que haja verbas para novos professores serem contratados, ou ainda, com a proposta de diversificar cursos como vemos na USP Leste e Universidade Federal do ABC, com cursos de humanidades, tecnologias, gestão ambiental, etc não se preocupando com a qualidade da formação dos jovens, já que essa formação é genérica, sem profundidade e com objetivos finais bem definidos e claros, isto é, visando o mercado. Talvez fique mais claro se eu usar um exemplo dado pelo Prof° Roberto Leher da Universidade Federal do Rio de Janeiro: è como se você entrasse no shopping onde todos tem acesso e podem se deliciar vendo os produtos expostos nas vitrines das lojas mais chiques, produtos esses que durarão muito tempo, que serão recordados ao longo da vida, etc, porém essas opções custam dinheiro e então você se contenta com um pacotão da loja de departamentos(C&A, Lojas Americanas e assim por diante). Então ao invés de fazer Geografia que lhe custará mais tempo e conseqüentemente mais dinheiro ele fará Gestão Ambiental, ou seja, um pacotão genérico e sem profundidade.
Pode-se ainda perguntar-se: não será bom um curso com menos duração? A pessoa não sairá com uma carreira? O aumento de vagas não será uma forma de inclusão? Não é interessante a diversificação dos cursos?
Ora , vamos pegar o que disse o Reitor da Federal da Bahia: - já que hoje se vive um momento, no processo do desenvolvimento capitalista, que o trabalho é flexível e que as pessoas não tem carreiras especificas para seguir, então a formação dessas pessoas deveria ser flexível também. Interessantíssimo um reitor de uma Universidade pública afirmar isso, pois ele pode deter o Poder do conhecimento de fato, enquanto a massa se contentará com o pacotão da loja de departamentos.
Indo mais fundo e fazendo uma analise mais global, vemos que a onda do etanol no Brasil não é resultado de uma decisão governamental apenas e sim uma necessidade dita mundial, mas que na verdade atende interesses de nações nortistas, tais como, estadunidense, união européia e Japão, fundamentalmente. Se for verdade está afirmação, não teria dedos imperialistas por trás dessa reestruturação do ensino público no Brasil? Porque não se Reestrutura a Harvard ou então a Universidade de Berlim? Porque não diversificam seu conhecimento?
Uma Coisa certa é que precisamos de intelectuais e pesquisadores em nosso país, tanta vezes conduzido pelo coronelismo, igreja, industriais, corporações e lobbystas. Só na região do Amazonas, segundo estimativas, precisamos de milhares de Doutores. Precisamos pensar o futuro do país e do mundo, porém embasado em conhecimento verdadeiro. Não digo aqui que o conhecimento positivo que vem sendo construído desde o período da modernidade será a salvação, porém muito menos esse que estão querendo nos impor. Partiremos dele sim, pois é o que está posto! Mas queremos mais, eu quero mais! Quero um conhecimento sem doutrinas ou paradigmas, um conhecimento que possa ser questionado. Fora a racionalização e que paire a racionalidade. “A verdadeira racionalidade conhece os limites da lógica, do determinismo e do mecanicismo... É não só crítica, mas autocrítica” (MORIN, E. – Os sete saberes necessários à educação do futuro – p. 23).
Creio ter me alongado na discussão, porém o que quero deixar claro é a necessidade de apoio as instituições públicas e a Fundação faz parte desse rol. E mais, é uma Universidade com um histórico de luta e que foi fundada para atender a classe operária que ali era crescente. Com o passar dos anos a Fundação Santo André que não cobrava nada passou a cobrar um valor simbólico e hoje vemos mensalidades que ultrapassam os R$ 500,00. Vemos aqui que as apropriações dos espaços públicos não se dão de uma hora pra outra e pior se dão dentro de uma legalidade democrática e com o cansaço da população que necessita desses lugares. Se conversássemos com o Capeta sem dente, isto é, o reitor ele nos afirmaria que os cursos só estão fechando, pois não há concorrentes no vestibular e são necessários tantos alunos para abrir uma sala ou poderia dizer que a FAFIL, principal prejudicada pela perda de salas, não dá lucro.
E digo mais: A fundação Santo André se diferencia, talvez, das outras universidades públicas, pois lá as pessoas estão a fim de aprender de fato, já que lá não se tem possibilidade de uma pós-graduação, mensalidades são abusivas e também a lógica dos colegiados perpassam a quantidade de produções científicas publicadas e o foco é a qualidade do ensino.
Ora, porque ele não lutou para que a implementação da federal do ABC fosse a fundação já que essa tinha uma estrutura montada, porém como já foi dito acima talvez não fosse interesse do governo federal o modelo de Universidade da Fundação que faz pensar. A federalização não eliminaria a falta de interesse por vaga? Pelo que me consta as pessoas não desanimaram de estudar e sim não tem incentivo e em muitos casos olham grade horária da Fundação Santo André e tem que pagar R$500,00, tem aulas de sábado, duração de 4 anos o curso e pelo outro lado as instituições privadas de ensino que cercaram a Fundação cobram R$300,00 e são apenas 3 anos. Claro que de um lado a Fundação oferece licenciatura e bacharelado de qualidade e outras privadas (UNIBAM,UNIP,...) são os cursos de licenciatura curta como já citado acima.
Pergunta-se: A perda de qualidade na formação de profissionais não está legitimada? Se a fundação Santo André é pública então porque se cobra R$500,00 de mensalidade? Os cursos de licenciatura curta estão preocupados com a qualidade dos futuros professores da região?
Apesar de quere falar mais e poder estar ai ajudando neste momento de luta que eu sempre sonhei que aconteceria, deixo aqui meu apoio à ocupação, ao acampamento (PESSOAL DA RESISTÊNCIA) e que tenhas forças a cada dia para lutar contra uma força local, mas que não deixa de refletir o modo de vida e produção da Sociedade industrial capitalista desenvolvida e a qual estamos condicionados.
Saudações brasilianas,
Pedro Carignato B. Leal
Ex-aluno de Geografia da Fundação Santo André e atual aluno de Geografia da Federal de Uberlândia

sábado, setembro 22, 2007

A CULTURA DA PERIFEIRA VAI À LUTA

Comentário Moisés Basílio: A cultura produzida na periferia, de uns tempos para cá, está dando um salto de qualidade. Já não se trata de produzir para a indústria cultural para ter visibilidade, mas de criar espaços próprios de produção e circulação dos bens culturais. A quantidade de iniciativa é enorme, mas só eventualmente a grande mídia divulga, como no caso dessas matéria que reproduzo abaixo, aqui no blog. Axé!

Fonte: Revista Época - ed. 487 - 23/09/2007 - http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG79089-6014-487,00.html

Os novos antropófagos

Artistas da periferia de São Paulo lançam sua própria Semana de Arte Moderna

Eliane Brum



Manifesto da Antropofagia Periférica

A Periferia nos une pelo amor, pela dor e pela cor. Dos becos e vielas há de vir a voz que grita contra o silêncio que nos pune. Eis que surge das ladeiras um povo lindo e inteligente galopando contra o passado. A favor de um futuro limpo, para todos os brasileiros.
A favor de um subúrbio que clama por arte e cultura, e universidade para a diversidade. Agogôs e tamborins acompanhados de violinos, só depois da aula.
Contra a arte patrocinada pelos que corrompem a liberdade de opção. Contra a arte fabricada para destruir o senso crítico, a emoção e a sensibilidade que nasce da múltipla escolha.
A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.
A favor do batuque da cozinha que nasce na cozinha e sinhá não quer. Da poesia periférica que brota na porta do bar.
Do teatro que não vem do “ter ou não ter...”. Do cinema real que transmite ilusão.
Das Artes Plásticas, que, de concreto, querem substituir os barracos de madeira.
Da Dança que desafoga no lago dos cisnes.
Da Música que não embala os adormecidos.
Da Literatura das ruas despertando nas calçadas.
A Periferia unida, no centro de todas as coisas.
Contra o racismo, a intolerância e as injustiças sociais das quais a arte vigente não fala.
Contra o artista surdo-mudo e a letra que não fala.
É preciso sugar da arte um novo tipo de artista: o artista-cidadão. Aquele que na sua arte não revoluciona o mundo, mas também não compactua com a mediocridade que imbeciliza um povo desprovido de oportunidades. Um artista a serviço da comunidade, do país. Que, armado da verdade, por si só exercita a revolução.
Contra a arte domingueira que defeca em nossa sala e nos hipnotiza no colo da poltrona.
Contra a barbárie que é a falta de bibliotecas, cinemas, museus, teatros e espaços para o acesso à produção cultural.
Contra reis e rainhas do castelo globalizado e quadril avantajado.
Contra o capital que ignora o interior a favor do exterior. Miami pra eles? “Me ame pra nós!”.
Contra os carrascos e as vítimas do sistema.
Contra os covardes e eruditos de aquário.
Contra o artista serviçal escravo da vaidade.
Contra os vampiros das verbas públicas e arte privada.
A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.
Por uma Periferia que nos une pelo amor, pela dor e pela cor.


É TUDO NOSSO!
Sérgio Vaz
Poeta da Periferia




ARTISTAS DE DOIS MUNDOS
Na foto, Sérgio Vaz e a comissão organizadora da Semana de Arte Moderna da Periferia, no boteco do Zé Batidão, na zona sul de São Paulo.

O escritor Oswald de Andrade, um dos líderes da Semana de Arte Moderna de 1922, fez uma profecia: "a massa ainda comerá do biscoito fino que fabrico". Morreu sem vê-la realizada. Oitenta e cinco anos depois do marco do movimento modernista, Sérgio Vaz, poeta da periferia de São Paulo, pretende comer o biscoito fino, o próprio Oswald, o Bispo Sardinha, a "elite que viaja para Miami" e mais alguma coisa. E depois, diz ele, "vomitar". Líder da Cooperifa, o maior sarau de poesia do Brasil, Vaz é o idealizador da Semana de Arte Moderna da Periferia, a Semana de 2007. De 4 a 11 de novembro, os artistas querem "provocar" o centro onde o destino do país é forjado – e onde também se determina o que é arte. Se fosse vivo, o modernista Oswald possivelmente teria um sorriso nos lábios ao ser devorado pelos antropófagos das margens de São Paulo.

A força da Semana de 2007 vem da primeira geração de escritores da periferia, forjada à margem da escola, na legião dos sem-museu, sem-cinema, sem-teatro, sem-biblioteca. Pela primeira vez, o Brasil tem não um, nem dois autores, mas um movimento literário nascido nas margens. Seus protagonistas se identificam pela origem, marcam essa diferença e buscam uma estética fundada nessa raiz. Eles se apropriaram de um código da elite – a palavra escrita – e começaram a escrever sua versão da História. Agora, preparam-se para sacudir o marasmo cultural de um país que viu muito pouco de original desde o tropicalismo dos anos 60.

“Antes eram os intelectuais que escreviam sobre a periferia. Hoje, alguns dizem que não sabemos escrever. Estamos chegando agora pra aprender, depois de 500 anos”, diz Sérgio Vaz, de 43 anos. “A arte sempre foi o pão do privilégio. Agora é servida no café-da-manhã da periferia. Com menos manteiga, talvez, mas arte. Nossa literatura tem menos esses, menos crases, mas é literatura. Agora que escrevemos sobre nós, o que os intelectuais vão fazer? Que comam brioches!”

1) Sérgio Vaz, 2) Jairo, 3) Sales, 4) Gunnar, 5) Wéley Noog, 6) Ademir, 7) Cocão, 8) Ana Bela, 9) Marcelo, 10) Mavortirc, 11) Juliana, 12) Robson Canto, 13) Casulo, 14) Preto Will, 15) Ricarda, 16) Rose Dorea, 17) Tadeu, 18) Euller, 19) Roberto, 20) Jair Guilherme, 21) Wagner Felipe, 22) Marcio Batista, 23) Lerói, 24) Anderson, 25) Vicente

Mais uma provocação. O antropófago da periferia vive na última de uma tripa de casas nos arredores de Taboão da Serra, na Grande São Paulo. Deixou uma carreira de auxiliar de escritório para ser poeta no Brasil. Vendeu 5 mil livros de poesia sem editora e sem livraria, de mão em mão. Só o quinto – Colecionador de Pedras (Global) – chegou ao mercado. Em 2001, Vaz criou a Cooperativa Cultural da Periferia (Cooperifa) ao ocupar uma fábrica abandonada para fazer um evento de arte. Já estava tentado pela Semana de 1922.

O sarau da Cooperifa passou de bar em bar até achar seu lugar no boteco do Zé Batidão, na zona sul de São Paulo. “Na periferia não tem museu, tem boteco”, diz Vaz. “Então transformamos o Zé Batidão em centro cultural.” Toda quarta-feira, três centenas de cidadãos periféricos ali desembarcam depois de um dia de trabalho duro para fazer e ouvir poesia. “Povo lindo! Povo inteligente! É tudo nosso!”, diz Vaz, abrindo a noite. E o boteco vem abaixo, a multidão se espalha pelas ruas. É tudo deles, sim.

A Semana de 2007 começou a nascer nessa esquina, pelas mãos ásperas de poetas sem berço. Seu primeiro ato será uma caminhada dos artistas pela periferia. Nada vai acontecer no centro. Quem quiser conhecer o que se passa nas bordas de São Paulo terá de inverter o tráfego. Os grupos Manicômicos (teatro), Arte na Periferia (cinema), Espírito de Zumbi e Umoja (dança) são alguns dos autoproclamados “focos de resistência” que tentam fincar sua estética em ruas onde antes só corria esgoto. “Escolhemos um símbolo da elite paulistana pra provocar. Vamos à casa grande mexer com eles”, diz Vaz. “Que seja o estopim.”

Imagem dos organizadores da Semana de Arte Moderna de 1922, no Hotel Terminus, no centro de São Paulo.



RAIZ FORTE

O hip-hop está na raiz dessa árvore antropofágica. O movimento praticamente inventou a identidade periférica. Especialmente seu símbolo maior: os Racionais MCs e seu líder, Mano Brown. Capazes de vender milhões de CDs sem precisar nem de gravadoras nem de imprensa, eles provaram que é possível viver, fazer sucesso e sustentar a família fora do mercado. E sem sair da periferia.

Desde o fim dos anos 80, os “manos” e as “minas” passaram a proclamar: “Eu sou da periferia. Vocês são do centro, playboys”. Comportamento oposto ao dos pais, migrantes nordestinos que, de cabeça baixa, mentiam o endereço. O hip-hop dançou break sobre o mito da democracia racial. Agora havia “nós” – e havia “eles”. As diferenças – explícitas no cotidiano, mas não pronunciadas – estavam colocadas. E por quem, havia pouco tempo, só tinha voz quando cantava samba. Foi também a primeira vez que os ídolos não se mudaram da periferia como sempre fizeram os astros de futebol na primeira oportunidade.

O hip-hop mantém parte de sua força. Mas, neste início de milênio, uma figura nova assumiu a vanguarda: o escritor. Em 1960, uma negra semi-analfabeta chamada Carolina Maria de Jesus assombrou o Brasil – e o mundo. Ao fazer uma reportagem numa favela do Canindé, na beira do Rio Tietê, em São Paulo, o jornalista Audálio Dantas descobriu Carolina e “uns 20 cadernos encardidos em seu barraco”. Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada vendeu 10 mil exemplares numa semana. Foi traduzido para 13 idiomas. Carolina só teve dois anos de estudo formal. Tornou-se a primeira favelada publicada no Brasil.

Na virada do milênio, três novos escritores mostraram que algo diferente acontecia nas margens das capitais brasileiras: o carioca Paulo Lins, com Cidade de Deus (Companhia das Letras), em 1997, e os paulistanos Ferréz, com Capão Pecado (Labortexto, reeditado pela Objetiva), de 2000, e Luiz Alberto Mendes, que descobriu a literatura durante mais de 30 anos de cárcere, com Memórias de um Sobrevivente (Companhia das Letras), de 2001.

A partir de 2000, Ferréz e a revista Caros Amigos organizaram três edições especiais com a produção de 30 escritores das periferias do Brasil, sob o título Literatura Marginal. Em 2005, uma coletânea do material virou livro. O escritor não era mais caso isolado, mas fenômeno coletivo. Na apresentação, Ferréz escreveu: “Cala a boca uma p..., agora a gente fala, agora a gente canta, e na moral agora a gente escreve. Quem inventou o barato não separou entre literatura boa/feita com caneta de ouro e literatura ruim/escrita com carvão (...). Não somos o retrato, pelo contrário, mudamos o foco e tiramos nós mesmos a nossa foto”.




SUBURBANO CONVICTO

Quando Alessandro Buzo caminha pelo Itaim Paulista, nos confins da zona leste de São Paulo, os meninos o cumprimentam, reverência na voz: “Aê, Buzo”. Só daqui a uma década será possível avaliar o impacto da mudança: a referência de sucesso na periferia não é mais – ou apenas – o traficante, mas o escritor. “A elite achava que a gente não sabia nem ler”, diz Buzo. “E agora a gente escreve.”

Aos 35 anos, Buzo tem quatro livros publicados, o último deles um romance, Guerreira. Editou na base da prestação, pagou uma parte com feijão, arroz, macarrão e azeite, porque ganhava a vida vendendo comida. Há alguns meses, vive de arte, R$ 1.500 por mês. Ele sozinho é um movimento cultural. Criou uma biblioteca num bloco carnavalesco. Comanda o Favela Toma Conta, evento anual de hip-hop. Duas vezes por mês faz o Cine Favela, levando filmes brasileiros às periferias. É dono de uma “lojinha de periféricos” (livros, DVDs e CDs feitos nos guetos). Dá oficinas de escrita para os garotos da Febem. No dia 25, lança uma coletânea de 12 autores das periferias de sete Estados. E ainda faz literatura nos dois cômodos de sua casa na Favela do Buraco, onde vive com a mulher, Marilda, e o filho Evandro, de 7 anos. Alessandro Buzo declara-se “Suburbano Convicto, escritor da periferia”.

Oitava série incompleta, Buzo é filho de mãe doméstica e pai “que se mandou”. A mãe fugia da devastação da vida devorando livros comprados com trocados nos sebos. Um dia deu ao filho um presente raro: o Menino Maluquinho, de Ziraldo. Ainda moleque, Buzo endoidou pela história. Anos depois, maluco por cocaína e mesclado (maconha com pedra), diz que só não foi bandido porque a mãe que tudo lia avisou com antecedência que jamais leria carta de presidiário.

“Aqui o tráfico não é nem de maconha nem de cocaína. Nós traficamos livros”
Alessandro Buzo

Buzo conta que começou a escrever por indignação. O trem remendado e triste que carrega o povo da zona leste ao centro levou Buzo para a literatura. Ele queria expressar sua revolta com tanta gente amontoada, tanta indiferença. Escreveu um texto, espalhou pelo trem e, no dia seguinte, era celebridade.

O trem virou o primeiro livro. Vendeu pouco, os passageiros mal tinham dinheiro para comer, livro era de outro planeta. Buzo ia se desgarrando da literatura quando escutou o rap dos Racionais: O covarde morre sem tentar... você é do tamanho dos seus sonhos... junta seus pedaços e desce pra arena. Buzo se levantou. Ou melhor: sentou e escreveu mais. E o resto é – literalmente – história.




A SEMANA DE 2007

No Manifesto Antropófago, lançado em 1928, Oswald de Andrade data o início do Brasil por um episódio insólito: a morte do Bispo Sardinha, devorado por índios canibais. É uma ironia para definir o conceito de arte antropofágica: os primeiros brasileiros digeriram – literalmente – a cultura européia. Com o Manifesto da Antropofagia Periférica, os organizadores da Semana de 2007 escrevem um capítulo inédito. Nele, os novos antropófagos tratam pouco de estética, muito de política e de comportamento. Sérgio Vaz comenta os principais pontos:

1) Somos periféricos
“Ninguém gosta de esgoto a céu aberto nem de barraco. Mas nós queremos mudar a periferia – e não da periferia.”

2) Criamos nosso mercado
“Nós produzimos a nossa arte. Estamos criando um outro mercado, o nosso. Vamos comprar nossos CDs, nossos livros, nossos filmes.”

3) Sabemos consumir
“Ninguém nos diz o que devemos consumir. Não podemos boicotar o Cirque du Soleil porque nunca tivemos dinheiro pra pagar. Mas podemos boicotar Ivete Sangalo, livro de auto-ajuda, um monte de coisas. Não queremos nossas filhas dançando na boquinha da garrafa nem cantando Festa no Apê. Nem nossos filhos precisando de tênis Nike. Nós boicotamos o pirata, porque não somos cidadãos de segunda classe, e boicotamos o original porque é ruim ou é caro ou não precisamos.”

4) Queremos educação
“Revolução sem r é evolução. Queremos escola de qualidade. Não pregamos a saída pela arte. Não dá pra todo mundo virar artista. As ONGs querem ensinar o povo a cantar e a dançar. A gente não agüenta esse discurso ongueiro, que pega R$ 1 milhão pra ensinar a batucar. TV, pra nós, é entretenimento. Nos preocupa a televisão que educa. Queremos escola que eduque. Se a escola educar, nossos filhos vão saber ver TV.”

5) O artista tem de ser cidadão
“Queremos artista comprometido com a comunidade. Não queremos arte que imbeciliza, teatro que quando acaba dá pra comer pizza, música que vende guaraná de manhã, macarrão à tarde e carro às 15 pras 8. Somos contra artista enriquecer. ”




LADRÃO DE LIVROS

Na abertura do primeiro romance, Graduado em Marginalidade, o escritor apresenta sua origem em oito linhas. Nela, os homens são reduzidos a um espermatozóide sem nome, mas com profissão: “De Isabel Alves de Souza, com um dono de escravos, nasceu Maria. A junção de Maria Alves de Sousa, com um trabalhador rural, gerou Geralda. De Geralda Alves de Sousa, com um pedreiro, nasceu Maria Natalina. Do namoro de Maria Natalina Alves, com um carpinteiro, nasceu Ademiro Alves”. Ademiro Alves é Sacolinha, o primeiro homem da linhagem com nome e sobrenome. E pseudônimo: Sacolinha é escritor.

Aos 24 anos, ele diz: “Se não fossem os livros, eu estaria a sete palmos de terra”. Sacolinha – filho de pai sumido e mãe feirante – trabalhou dos 9 aos 21 anos como cobrador de lotação: “Metrô Itaquera, Cidade Tiradentes, Jacupêssego, Iguatemi...”. Nessa linha urbana, diz que beijou na boca a primeira menina, despediu-se alegremente da virgindade, virou homem e foi batizado de Sacolinha.

Para chegar ao trabalho, eram 40 minutos de trem. Sacolinha terminara o ensino médio “semi-analfabeto, sem entender o que lia”, mas estava enjoado de olhar a cara dos passageiros. “Reparei então que tinha gente que lia e resolvi experimentar, pra passar o tempo.” O único parente possuidor de livros era um tio que estudava para padre. Sacolinha bem que pediu com gentileza, mas o tio não acreditou nas intenções letradas. O sobrinho conta que iniciou então uma bem-sucedida carreira de ladrão de livros pela própria família. Ampliou suas atividades por livrarias, bienais e conferências. Tem certeza de que não cometeu crime algum. “Eu precisava muito e não tinha dinheiro”, diz.

Aos 18 anos, Sacolinha começou a ler. Aos 22, conta que fez uma rifa para publicar o primeiro romance. Chefe de família, vivia com a mãe e dois irmãos em dois cômodos construídos abaixo do nível da rua. Não tinha água nem luz. Estragou os olhos lendo à luz de velas, mas iluminou-se todo. Ao encontrar Carolina Maria de Jesus em seu Quarto de Despejo, sua vida sofreu uma freada brusca e pegou outro rumo: “Não acreditei que tava lendo um livro assim. Bati na mão e disse: ‘É isso que eu quero ser’”.

Sacolinha partiu em busca de professores de Literatura. “Me disseram que eu podia ler Ferréz e Paulo Lins, mas devia também ler os clássicos”, conta. Sua jornada pela literatura é um sobressalto: “Aluísio Azevedo descreveu de um jeito a primeira menstruação da Pombinha que me deu até vontade de menstruar. Memórias do Cárcere, do Graciliano Ramos, tava muito chato. Até eu perceber que ele tava passando a chatice do cárcere pro leitor. Fantástico!”.

“O Brasil só vai melhorar quando o povo começar a roubar livros em vez de armas, drogas e dinheiro”
Sacolinha

“Salvo pela literatura”, Sacolinha criou uma ONG para divulgar novos autores, organizou trocas literárias para abastecer bibliotecas, criou dois saraus de poesia, promoveu oficinas de escrita, entrou na faculdade de Letras e publicou um livro de contos. Desde 2005 é coordenador de literatura da Prefeitura de Suzano, na Grande São Paulo. “Se a porta do banco trava porque sou negro, feio e uso calça larga, não discuto mais com o segurança”, diz. “Meu projeto é muito maior: tenho de discutir com o público.” Sacolinha dá entrevista em sua nova casa-escritório: dois cômodos mobiliados em 45 prestações nas Casas Bahia. Serve vinho rosé. Guarda os manuscritos do primeiro romance em perfeitas condições – “para a posteridade”.



A TOMADA DA CANETA

A primeira geração de escritores da periferia se formou à margem da escola. Em alguns casos, apesar dela. A conquista da escola se iniciou de forma inusitada: pela literatura das ruas, entrando pelo portão na mão dos alunos. “Literatura sempre foi uma palavra alienígena pra nós. Fica do outro lado do interditado. A gente sempre se viu mal representado como personagem”, diz o escritor Allan da Rosa. “Nossa missão é entrar dentro do sistema pra conseguir nosso espaço. E o sistema é letrado. Quem marioneta a parada são os letrados. Então vamos fustigar o sistema de dentro dele.”

Aos 31 anos, Allan é um dos poucos escritores que chegaram à universidade. Formou-se em História na USP e hoje faz mestrado em Educação. Filho de atendente de enfermagem e presidiário, começou a trabalhar aos 13 anos, como office boy. Depois vendeu churros, incenso, livros, seguros, jazigos de cemitério. Começou a escrever por causa do futebol de botão. Inventava times e criava uma biografia para cada craque. “Eu não tenho lembranças positivas de leituras dentro da escola. Tenho de fora, de outros rolês”, diz Allan.

Hoje, ele é um dos escritores reivindicados nas aulas por alunos de escolas públicas. “Quando a gente entra no sistema escrito, consegue poder. Não o poder substantivo, mas o poder verbo. Poder criar em vez de só sair de manhã, pegar duas horas de busão lotado e trabalhar prum cara onde você não pode nada. E depois voltar cansado demais pra viver”, diz ele. “A palavra falada é majestosa, a música é rainha. Mas a palavra escrita tem dentro dela algo que só ela tem. Que é poder chegar nas escolas com seu jeito de escrever, com seu tema e começar a tomar conta do que sempre usaram pra nos orquestrar.”




MUÇULMANO DO GUETO

A primeira piada racista que o menino Ridson ouviu foi em casa, contada pelo pai, um negro. Seu Lourival, baiano que migrara para São Paulo, padeiro de profissão, dizia que não tinha sotaque “porque já tava domesticado”. O filho achava graça. Quando o irmão mais novo tinha 6 anos, Ridson conta que o garoto começou a se recusar a tomar café e a comer feijão. Só aceitava leite e arroz. A mãe, Hosana, mistura de africano com europeu, estranhou. O menino então explicou: “Se eu comer só arroz e leite agora que sou pequeno, quando eu crescer vou ficar branco”.

Ridson tinha 10 anos. Nunca mais riu das piadas do pai: “Foi a primeira vez que percebi que algo de muito errado acontecia ao meu redor”. Ridson começou então a se transformar em Dugueto, nome que tatuou no braço direito para gravar na pele raça e geografia. “Eu sou negro. Minha identidade quem define sou eu”, diz. “E isso incomoda. Até hoje me perguntam por que digo que sou negro se ‘sou tão bonito e tenho olhos verdes’. Nenhum branco é racista até ter a seu lado um negro orgulhoso.”

Há dois anos, ele se transformou em Dugueto Shabazz. Havia descoberto sua terceira identidade – muçulmano. Shabazz, como Malcolm X, o ativista negro dos Estados Unidos convertido ao islã. Muçulmano negro do gueto, ele usa a caneta para denunciar preconceito e desigualdade. É uma das vozes mais contundentes do movimento literário da periferia. Além de escritor, é rapper. Já esteve na Venezuela, em Cuba e na França, onde conviveu com jovens muçulmanos dos subúrbios franceses, em 2005. Lá, conta ele, foi expulso de uma loja num ato de discriminação.

Educado, gentil, com voz baixa e suave, ele fala sobre dores e convicções numa mesquita. A seu redor, muçulmanos de várias partes da África, migrantes em São Paulo, formam uma babel de línguas e dialetos entre uma oração e outra. “Espero que não me faltem poesias porque tenho muita raiva”, diz Dugueto Shabazz. Tem 24 anos.

“Espero que não me faltem poesias porque tenho muita raiva. Não queremos cisão, mas reparação”
Dugueto Shabazz

Então fala longamente sobre uma nação ferida: “Acho que ainda vai haver uma grande cisão neste país. A sociedade branca e rica tem se incomodado cada vez mais com o orgulho negro. Nós queremos nossa contribuição reconhecida. Basta olhar a história. Quem deve pra quem? Quem está nas favelas, nas cadeias, na rua? Todos os dias há uma cobrança nos faróis, encarnada pelo menino que faz malabares quando deveria estar na escola, de 50 pessoas no coletivo e o cara atrás do blindado. Mas não percebem. Como muçulmano, busco a paz até o último instante. A gente não quer cisão, a gente quer reparação. Mas, se for para ter uma nação bicolor, então escolhemos ser negros – e não brasileiros”.

Dugueto Shabazz se cala para atender ao chamado da última oração do dia.



A REINVENÇÃO DO LIVRO

Em 2005, Allan da Rosa decidiu fazer “livro pra quem não sabe ler”. A Toró, um selo editorial, nasceu dentro da Cooperifa. Já publicou oito escritores periféricos. “Toró vem da chuva que alaga ruas e barracos e porque chegou a hora de fazer chover livros”, diz ele. A mudança estética, proposta pelo movimento literário periférico, já começa pelo objeto livro. O livro da Toró é impresso numa gráfica, mas chega nu. Cada exemplar é acabado em casa, alguns deles escritos à mão, em letra cursiva. Têm pano, bordados, conchinhas, corda. “Dizem que nossos livros não podem ir pra biblioteca porque não seguem os padrões. Paciência. Pra nós, é segundo plano que nossos livros estejam nas bibliotecas do centro. Queremos ser lidos nas duas horas de busão”, diz Allan.

Na prosa e na poesia, além de falar de seu próprio mundo, de um cotidiano estrangeiro à classe média, os periféricos usam palavras inventadas nas margens, trazem o movimento e a riqueza da língua recriada nos guetos, às vezes misturada a dialetos africanos, obedecendo a outras sintaxes. Algumas palavras trazem s a grafia “errada” para estar literariamente “certas”. A escolha é expressão artística e ato político: a exclusão pela linguagem empurrou muitas crianças pobres para fora da escola. “A arte da palavra permite que a gente ventile as coisas, mas é preciso ter sensibilidade”, diz Allan. “O Gato Preto (escritor baiano) deu o título pro seu texto de ‘Colombo, Pobrema, Problemas’. Há um diálogo aí, ele sabe o que tá fazendo.”

O escritor das margens é novo também no modo de estar no mundo: ele não é uma figura submersa em si mesma, distante. Cada um é ligado a uma ação cultural. Ou a várias. A maioria deles tem casas de um ou dois cômodos. Tecem enredos sem solenidade, enquanto alguém frita um pastel, o filho joga bola. “A gente é trágico, sentimental, gosta de tocar nas pessoas”, diz Sérgio Vaz.

Escrever na periferia é um ato profano. A literatura nasce ao rés do chão, sem pedestal. Por ter atravessado séculos inalcançável, a palavra escrita precisa ser dessacralizada. Quando a Toró decide fazer livros à mão, escritos à mão, não é um capricho. É preciso que o leitor toque – também literalmente – a letra do escritor. Para que possa ser tocado pelo que sempre lhe esteve interditado. Na antropofagia periférica, por definição nada é sagrado. Muito menos as letras, agora capturadas entre as presas de antropófagos que até pouco tempo atrás se supunha sem dentes.




PERIFÉRICO NO CENTRO

Sebastião Nicomedes é de outra periferia: o centro geográfico de São Paulo. Nascido em Assis, interior paulista, ele praticamente ressuscitou no centro depois de uma queda de 4 metros de altura. Tentava instalar o luminoso de uma loja quando, há três anos, despencou lá de cima. Quando acordou, Sebastião estava só. Machucado, sem poder trabalhar, ninguém apareceu para ampará-lo. Estava no chão. Até para se matar, coisa que diz ter cogitado, era preciso subir alguns degraus. Sebastião virou morador de rua. Percebeu então que só precisava ter uma caneta para reescrever sua vida. E lentamente foi escalando sua queda, agarrado às cordas das letras.

Hoje, Sebastião vive só na “cobertura” de uma pensão do Brás. Em agosto, o Teatro Sérgio Cardoso abrigou a segunda temporada de sua peça, Diário dum Carroceiro. Seu primeiro livro, Simone, Cátia e Outras Marvadas (Dulcinéia Catadora), foi lançado no ano passado. “Minhas histórias vêm do segundo mundo, que ninguém quer ver”, diz.

Quando anda pelas ruas do centro, ele vai apontando as placas arrancadas pela Lei Kassab para combater a “poluição visual”. Placas pintadas por ele, de que se orgulhava. As últimas provas materiais de que Sebastião Nicomedes teve outra vida. Seu celular toca. Do outro lado, uma voz avisa que mais um morador de rua morreu de frio. Sebastião sofre. “Minha escrita é o clamor da alma de cada indigente que morre”, diz. “Escrevo pra não me armar de fuzil.”

Toda a literalidade de sua vida – começando pela queda real – não é um detalhe. Marca também sua escrita. Isso fica explícito quando, depois de muito tempo, ele confessa, envergonhado, que passa frio à noite. Até então não tinha cobertor, só uma colcha fina. Sebastião não interpreta o frio, não inventa o frio, não nomeia o frio. Sebastião – quando escreve sobre o frio – sente o frio.

Tempos atrás, ele andava assediado por ONGs e governos. Por ser uma figura simbólica, recebia propostas. Numa, ganharia R$ 900 por mês para trabalhar num albergue. Sebastião conta que caminhou até a porta, viu os moradores de rua, percebeu que caberia a ele expulsar os bêbados, “os que mais precisam”. “Não era um emprego, era um cala-boca”, diz. Virou as costas.

“Minha escrita é o clamor da alma de cada indigente que morre. Escrevo pra não me armar de fuzil”
Sebastião Nicomedes

Naquela noite, deixou seu quartinho pobre na pensão e dormiu na rua. Ao amanhecer, escreveu de uma lan house do centro um e-mail. Nele, conta ter decidido não manter nada de seu, exceto a alma: “Ontem eu refiz um caminho de busca para reencontrar esse cara que ressurgiu das cinzas. Catei um papelão e fui dormir na rua. Fiquei a maior parte do tempo acordado. Lembrei dos meus anseios e das coisas que queria ter. Eu não pedia grandes coisas. Um lugar pra me proteger da chuva, um travesseiro, um chuveiro, um fogão pra comer o que me desse vontade, sem esperar hora e ordem pra fazer o que quero. E fazer o que mais gosto: escrever. Quando acordei pela manhã, nos primeiros raios de sol, o clarão forte ardeu-me os olhos. Levantei e vi que tudo o que pedi eu tenho. Eu não pedi carro, não pedi cheques e roupas de marca, relógio, ouro ou tela plana. Eu tenho exatamente tudo o que sonhava”.
Fotos: Frederic Jean/ÉPOCA, Anderson Schneider/ÉPOCA, André Valentim/ÉPOCA e I.E.B.

quarta-feira, setembro 19, 2007

'Currículo deve tornar aluno capaz de exercer auto-aprendizagem'

Comentário Moisés Basílio: A rede municipal de educação da cidade de São Paulo está vivendo um processo de discussão curricular. Entre os colegas educadores essa discussão tem sido encarada como mais uma proposta burocrática, vinda de cima para baixo e como outras iniciativas que seguem essa dinâmica na rede, estará fadada ao fracasso. Tenho ponderado com os colegas, que nós, profissionais da educação, deveríamos aproveitar essa oportunidade, pautada na rede, para ampliar essa discussão, principalmente no âmbito da unidade escolar. Ao invés de só adotarmos uma posição de crítica defensiva à proposta de parâmetros curriculares municipal, deveríamos agir de forma propositiva, abrindo nas escolas essa discussão no sentido de uma elaboração local de uma proposta curricular, para dialogar, negociar e confrontar com as propostas municipal e federal. Axé!

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo - VIDA & - 17/09/2007
César Coll: psicólogo e educador
Consultor do MEC para a criação dos Parâmetros Curriculares de 1997, Coll defende atualização curricular contínua

Simone Iwasso

Diretor do Departamento de Psicologia Evolutiva e professor da Faculdade de Psicologia da Universidade de Barcelona, na Espanha, o educador César Coll é também um dos responsáveis por um modelo que inspirou mudanças na educação de vários países, inclusive o Brasil. Consultor do Ministério da Educação (MEC) entre 1995 e 1996, colaborou na elaboração dos nossos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), publicados em 1997. Agora, dez anos depois, ele defende uma revisão dessas normas. O professor falou ao Estado em sua última passagem pelo País, na semana passada, para discutir competências comunicativas num seminário organizado pelo Grupo Santillana.

Há dez anos estabelecemos nossos parâmetros curriculares, dos quais o senhor foi consultor. Eles seguem válidos ou não?

Foi um esforço de atualização e revisão dos conteúdos curriculares da base. Foi muito importante para colocar em dia o que os alunos deveriam aprender na escola. É claro que há um problema. Os currículos devem refletir o que é recomendável que os estudantes aprendam. Mas quem define isso é uma sociedade determinada, na qual eles estão inseridos. E essa sociedade está em mudança contínua. Portanto, continuamente deveria haver um mecanismo que permitisse atualizar os parâmetros curriculares, para ir incorporando os saberes e as competências que vão aparecendo de maneira emergente como necessários. Hoje temos necessidades de informação, de formação e de desenvolvimento de competências que há dez anos não tínhamos. Com o fenômeno da globalização, das tecnologias da informação e da comunicação, a internet, que há dez anos não tinha a abrangência que tem hoje, é uma das fontes fundamentais de comunicação e de informação. Portanto, está claro que um currículo estabelecido há dez anos necessita de uma revisão e de uma atualização.

Quais seriam as competências necessárias hoje?

Em todo o mundo neste momento há um movimento de esforço para redefinir quais devem ser essas competências. Há um consenso no sentido de que as competências necessárias para exercer a cidadania no mundo atual não são as mesmas de 20 ou 15 anos. E são principalmente as relacionadas com a mundialização cultural, da nova economia do conhecimento, dos fenômenos de tipo social que exigem isso. São, basicamente, competências cognitivas para que o aluno tenha autonomia, auto-aprendizagem, capacidade para seguir aprendendo, para adequar-se a situações, para absorver problemas e resolvê-los de maneira independente. São competências comunicativas e informativas, fundamentais hoje. A outra parte são as competências emocionais, num mundo interconectado, onde as relações sociais são intensas. A capacidade de se colocar no lugar do outro, poder interpretar o outro e a si mesmo, e de se equilibrar. A grosso modo, porque cada um diz em palavras diferentes, são esses grupos de competências os essenciais a serem incorporados hoje, mais até do que as clássicas, escolares, acadêmicas, que são as preocupações até hoje dos parâmetros.

Para um país tão grande como o Brasil, os parâmetros devem ser flexíveis ou mais restritos?

Os parâmetros aqui são orientativos, não prescritivos. Não se impõem, são referências para que prefeituras e governos elaborem seus próprios currículos. Isso é uma boa solução. Um currículo básico nacional deve ser muito específico, contemplar somente as competências-chave, básicas, que são aquilo que, se não foi aprendido no fim da educação básica, destina os alunos a uma vida marginalizada, os coloca numa situação de vulnerabilidade social extrema. A outra coisa é orientar quem formaliza, orientar sobre o que se considera desejável. Sim, podia ser muito pequeno e dar modelos de atuação, para cada um organizar seus próprios currículos.

Mas aqui ainda não foram estabelecidos até hoje os currículos municipais e estaduais.

Isso pode estar acontecendo por falta de capacidade técnica. O problema da autonomia, da descentralização, é um problema político, de instituição de poder e competências, mas também técnico. É complicado descentralizar se não há a competência técnica necessária para desenvolver seus próprios currículos. Se não tem a competência técnica, tem que assumir a responsabilidade técnica para isso. A única possibilidade seria que, na constituição do currículo, houvesse uma ajuda para transformar os parâmetros, com a ajuda de livros didáticos, em coisas concretas.

E as competências comunicativas? Por que é tão difícil desenvolvê-las nos estudantes?

Não acredito que seja tão difícil como se pensa, nem que se faça tão mal como se pensa aqui no Brasil. É ser capaz de conversar, de responder, de se comunicar, de se entender com as pessoas, com o outro. Uma parte da competência comunicativa é saber a hora de falar, de transmitir, e também ler, é claro. Mas não só ler textos acadêmicos, mas ler e produzir diferentes tipos de textos adequados a diferentes situações. O tipo que a escola pede é um tipo muito determinado de competências comunicativas, estamos todos baseados em apenas um dos usos da língua, e nos usos que aparecem cada vez menos no mundo atual. É preciso repensar os usos da língua escrita e falada no mundo atual, mas também os outros sistemas de signos, como a imagem. Esse é um debate que está sendo travado em todo o mundo.

Quem é:
César Coll


Diretor do Departamento de Psicologia Evolutiva e professor da Faculdade de Psicologia da Universidade de Barcelona

Consultor do Ministério da Educação entre 1995 e 1996, colaborou na elaboração dos Parâmetros Curriculares

Com Jesús Palacios e Álvaro Marchesi, é autor de Desenvolvimento Psicológico e Educação (3 volumes), entre outros

sábado, setembro 15, 2007

RAÇA E COR NO PNAD 2006

Comentário Moisés Basílio:

Foi divulgada na sexta-feira, 14/09, os dados da PNAD 2006 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio) do IBGE - www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=977&id_pagina=1

Entre as várias informações estatísticas é importante notar o crescimento de pessoas que estão assumindo sua cor de pele. No Brasil essa questão ainda é controversa. O IBGE utiliza as expressões gerais cor ou raça e solicita ao entrevistado escolher entre as variáveis - branca, preta, amarela e indígena. Esse tipo de classificação da população brasileira é inadequado e ainda permanece devido a uma herança racista da sociedade brasileira. Em pleno século XXI, usar o termo raça para classificar a população, além de equívoco antropológico, é de um grande mau gosto. E a classificação de cor da pele padece do mesmo viés e ainda é restritivo, pois para ser exato deveria também discriminar a miscigenação cabocla da população branca. Para constatar essa inadequação, basta consultar o Almanaque Abril, nos verbetes relativos aos países do mundo, para se verificar que essa terminologia só se aplica ao Brasil, pois todos os outros países se utilizam do termo etnia. A seguir reproduzo uma tabela histórica,com dados dos censos (10 anos) e da PNAD (anual) que construí a partir dos dados do IBGE.

COR/RAÇA 2006
PNAD
2005
PNAD
2004
PNAD
2003
PNAD
2000
Censo
1991
Censo
1980
Censo
Branca 49,9 51,4 52,1 53,3 53,4 51,6 55,2
Preta/Parda 49,5 47,0 47,3 46,1 45,0 42,9 43,8
Preta 6,9 6,3 5,9 5,6 6,1 5,0 6,0
Parda 42,6 40,7 41,4 40,5 38,9 42,4 37,8
Amarela/Indígena 0,7 0,6 0,6 0,6 0,4 0,2 1,0

Uma questão polêmica na leitura dos números é a classificação conjunta das variáveis "preta e parda" para gerar o componente étnico e político afrodescendente. Pois, se o termo "branca" está relacionado com a matriz étnica de origem européia e o termo "preta" é relacionado com a matriz étnica da população de origem africana, o termo "pardo" se relaciona com qual matriz de origem étnica?
O "pardo", elemento fruto da miscigenação, passa a ser um componente da população sem origem étnica, ou então, uma parte da população em disputa na construção da identidade étnica nacional.
Até os primórdios o século XX, o pardo é visto como uma degeneração pela ideologia eugênica. Depois, principalmente a partir dos escritos de Gilberto Freire, que funda a ideologia de democracia racial, o "pardo" ganha o estato de brasileiro, ou seja, em termos práticos ele não tem nem origem européia e nem origem africana, e fica situado numa zona cinzenta, ou para usarmos a própria terminologia, numa zona parda, sem identidade étnica. Como os valores culturais válidos são os da sociedade européia, num processo que busca embranquiçar a nação, o "pardo" passa a ser uma construção ideológia para que parte da população de origem africana passe a se identificar com os valores da cultura dominante e a negar quaisquer resquícios de origens africanas. Aqui se trava uma luta para desafricanizar a sociedade brasileira.
A retomada dos Movimentos Negros, com maior densidade política a partir dos anos 70 do século XX, bebendo das experiências das lutas anteriores, questiona esse processo silencioso e sagaz do racismo brasileiro e, com vitalidade, inicia a construção uma nova visão sobre a questão étnica para o Brasil, onde a contribuição da matriz étnica de origem africana deve ter o mesmo status, e não uma apêndice folclórico, da matriz européia. Já não se trata de discutir raça, conceito sepultado depois da experiência histórica do nazismo, nem de reduzir a questão da origem étnica e cultural ao fenótipo da cor da pele. Trata-se de se reconstituir a identidade étnica e cultural de uma nação que se constituiu a partir de uma história marcada pela escravidão. Trata-se de se fazer a prestação de contas desse passado, que fundou-se na discriminação dos povos de origem africana. Trata-se de relembrar que a passagem do trabalho escravo para o trabalho assalariado, no Brasil, não garantiu a cidadania plena para as populações de origem africanas.
Assim, nesse novo patamar de Consciência Negra, pretos e pardos (mestiços), todos estamos no mesmo barco, pois temos as mesmas origens, sofremos as mesmas injustiças históricas e vivemos as mesmas discriminações, e portanto, só nos resta lutarmos juntos para construirmos uma sociedade brasileira que supere as marcas histórica da herança escravista e racista. Axé!

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo - Economia & Negócio - 15/09/2007.
49,5% da população é preta e parda

Diferença para a população de pessoas brancas, que é de 49,7%, não era tão pequena no País há muitos anos

Irany Tereza

A população de pretos e pardos (49,5% do total) encostou na de brancos (49,7%) em 2006, fato que não ocorria há muitos anos, como ressalta o economista Marcelo Paixão, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “No censo de 1872, 64% da população era preta e parda; em 1890, passou a 66%. Depois, ficamos anos sem contagem e já na década de 1940 a situação se inverteu e os pretos e pardos foram 34%. Isso fez parte de uma estratégia de Estado que tentava ‘europeizar’ a população”, comenta o professor.

Ele prevê que já no ano que vem a parcela de pretos e pardos ultrapasse a de brancos, levando em conta a tendência dos últimos dez anos, que registra queda contínua, de 0,5 ponto porcentual ao ano, da população que se autodeclara branca. “Apesar de todos os problemas raciais, o País vive um processo de valorização do negro. Começa a haver uma mudança de percepção das pessoas em relação à própria cor e raça.”

Paixão atribui a esse processo o destaque de algumas personalidades negras na sociedade, como a ginasta Daiane dos Santos. O total de pessoas que se autodeclaram pretas, porém, continua muito baixo: 6,9%, um ligeiro aumento em relação a 2005, quando o índice foi de 6,3%.

A coordenadora de Emprego e Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE), Márcia Quinstlr, explicou que houve uma migração na declaração de raça de pardos para pretos, “mas, ainda que isso já tenha sido observado em pesquisas anteriores, é preciso esperar um pouco mais para afirmar que houve uma mudança de comportamento”.

Em 2006, segundo a pesquisa, a população era composta por 49,7% de brancos, 42,6% de pardos e 6,9% de pretos. Entre as regiões, a composição mostrou-se bastante diferenciada: enquanto no Norte e Nordeste predominavam pardos e pretos, na Região Sul quase 80% das pessoas eram brancas.

“O importante é que o País valorize a diversidade. Por isso, é motivo de comemoração essas mudanças, mesmo sutis. A forma de classificação por cor e raça tem um grau muito grande de subjetividade. E é significativo notar que as pessoas estejam encarando de forma positiva se perceberem como pretas”, diz Paixão.

Autor de livros como Manifesto Anti-Racista e O ABC das Desigualdades Sociais, Paixão acredita que ações como a polêmica definição de cotas para negros nas universidades têm efeito benéfico nessa mudança de percepção. “As pessoas estão assumindo sua cor não apenas por causa do que chamamos de prestígio difuso, mas também para garantir acesso a direitos legítimos.”




sábado, setembro 08, 2007

Moisés caricatura setembro 2007

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Sistema facilita acesso ao perfil educacional e de população em cada município do País

COMENTÁRIO MOISÉS BASÍLIO: Abaixo, os números da educação escolar do município de São Paulo retirados do novo sistema de consultas do INEP. São dados interessantes para pensar a escola em nossa cidade. Axé!

Fonte: INEP - O Ministério de Educação, em parceria com o Inep, acaba de disponibilizar um novo sistema de consulta a indicadores demográficos e populacionais . Clique aqui para acessar. O novo sistema permite que se construa, num só clique, o perfil da população e da rede de ensino em cada um dos municípios brasileiros.

IndicadoresSAO PAULO - SP

Este conjunto de doze tabelas traz informações sobre população, Produto Interno Bruto (PIB), Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), Índice de Desenvolvimento da Infância (IDI) e taxa de analfabetismo. Há ainda o número de escolas e matrículas em cada nível de ensino da educação básica oferecida no município, e também quantas instituições de ensino superior existem no local.

Especificamente sobre a rede municipal, são apresentadas as taxas de escolarização nos ensinos fundamental e médio, resultados da Prova Brasil e do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Com as informações também é possível saber se no município há escolas localizadas em área rural, assentamento, áreas remanescentes de quilombos e comunidades indígenas, bem como obter as taxas de aprovação, reprovação e abandono por série, distorção idade-série e distorção idade-conclusão, além do número de matrículas em Programas de Correção de Fluxo, média de alunos por turma, média diária de horas/aula e a relação matrícula/função docente. Os indicadores cuja fonte dos dados não é indicada nas tabelas foram gerados pelo Inep.



Tabela 1. Informações sobre o município
População(1) PIB (R$)
(2)
IDH
(3)
IDI
(4)
Taxa analfabetismo (%) (1)
Urbana Rural Total População de
10 a 15 anos
População de
15 anos ou mais
Fonte: (1) IBGE - 2000; (2) IBGE - 2003; (3) Índice de Desenvolvimento Urbano - UNESCO - 2000; (4) Índice de Desenvolvimento da Infância - Unicef - 2004
9.010.991 543.755 9.554.746 147.000.000,0 0,84 0,80 1,8 4,9

Tabela 2. Número de estabelecimentos de ensino por categoria administrativa - 2006
Número de Escolas - Educação Básica Número de IES
Privadas Federais Municipais Estaduais Total Total Geral Pública Privada Total
U R U R U R U R U R
Legenda: U - Zona Urbana; R - Zona Rural; IES - Instituições de Ensino Superior
3.203 6 1 0 1.303 2 1.154 5 5.661 13 5.674 6 140 146

Tabela 3. Taxa de escolarização líquida (%)
Ensino Fundamental Ensino Médio
Dados: IBGE 2000; Tabulação: Inep/MEC
92,8 54,2

Tabela 4. Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - IDEB 2005
Ensino Fundamental
Anos Iniciais
Ensino Fundamental
Anos Finais
Ensino Médio
Brasil
Total 3,8 3,5 3,4
Urbano 4,0
Rural 2,7
Rede Pública 3,6 3,2 3,1
Rede Federal 6,4 6,3 5,6
Rede Estadual 3,9 3,3 3,0
Rede Municipal 3,4 3,1 2,9
Rede Privada 5,9 5,8 5,6
Rede Estadual do seu Estado 4,5 3,8 3,3
Rede Estadual do seu Município 4,6 3,8
Rede Municipal do seu Município 4,1 4,1

Tabela 5. Informações gerais - 2006
Rede Municipal de Ensino
Apresenta escola em zona rural: Sim (X ) Não ( )
Apresenta escola em área de assentamento: Sim () Não (X)
Apresenta escola em área remanescente de quilombo: Sim () Não (X)
Apresenta escola em área de comunidade indígena: Sim (X) Não ()

Tabela 6. Distribuição de estabelecimentos, matrículas e funções docentes por localização, duração do turno e formação - rede municipal - 2006
Nível Número de
Estabelecimentos de Ensino
Matrículas por turno Funções Docentes
Urbana Rural Total Urbana Rural Total Geral C/FS C/EM S/EM Total
D-4 D+4 N-4 N+4 T D-4 D+4 N-4 N+4 T


LEGENDA PARA MATRÍCULAS POR TURNO:

D-4: Diurno (início das aulas antes das 17 horas) - menos de 4 horas/aula/dia
D+4: Diurno (início das aulas antes das 17 horas) - 4 horas/aula/dia ou mais
N-4: Noturno (início das aulas a partir das 17 horas) - menos de 4 horas/aula/dia
N+4: Noturno (início das aulas a partir das 17 horas) - 4 horas/aula/dia ou mais

LEGENDA PARA FUNÇÕES DOCENTES:

C/FS: Com formação superior
C/EM: Com ensino médio
S/EM: Sem ensino médio

Creche 348 1 349 0 27.353 0 0 27.353 0 172 0 0 172 27.525 1.112 4.572 3 5.687
Pré-escola 790 0 790 0 285.444 0 0 285.444 0 0 0 0 0 285.444 8.069 1.793 0 9.862
Ensino Fundamental - Anos Iniciais 464 1 465 0 289.494 0 0 289.494 0 484 0 0 484 289.978 9.451 968 0 10.419
Ensino Fundamental - Anos Finais 450 0 450 0 258.230 0 2.242 260.472 0 0 0 0 0 260.472 12.143 48 0 12.191
Classe Multidisciplinar 0 0 0
Ensino Médio 8 0 8 0 1.314 0 1.968 3.282 0 0 0 0 0 3.282 141 0 0 141

Tabela 7. Condições de oferta municipal - rede municipal - 2006
Indicador Creche Pré-escola Ensino Fundamental
Anos Iniciais
Ensino Fundamental
Anos Finais
Ensino Médio
U R U R U R U R U R
Legenda: U - Zona Urbana; R - Zona Rural
Média de alunos por turma 10,0 10,8 32,0 35,1 34,6 35,5 34,5
Média de hora - aula diária 11,8 12,0 4,6 4,1 4,0 4,2 4,4
Relação Matrícula/Função Docente 4,8 7,2 28,9 27,8 34,6 21,4 23,3

Tabela 8. Taxa de rendimento (%) - rede municipal
Fase/Nível Taxa Aprovação Taxa Reprovação Taxa Abandono
U R T U R T U R T
Legenda: U - Zona Urbana; R - Zona Rural
1ª série / 2º ano 2001 94,7 94,7 2,1 2,1 3,2 3,2
2005 96,5 96,5 2,1 2,1 1,4 1,4
2ª série / 3º ano 2001 97,0 97,0 1,4 1,4 1,6 1,6
2005 98,1 98,1 1,5 1,5 0,4 0,4
3ª série / 4º ano 2001 97,2 97,2 1,3 1,3 1,5 1,5
2005 98,3 98,3 1,4 1,4 0,3 0,3
4ª série / 5º ano 2001 85,8 85,8 12,5 12,5 1,7 1,7
2005 87,6 87,6 12,0 12,0 0,4 0,4
5ª série / 6º ano 2001 95,2 95,2 2,7 2,7 2,1 2,1
2005 96,5 96,5 2,9 2,9 0,6 0,6
6 série / 7º ano 2001 94,7 94,7 2,7 2,7 2,6 2,6
2005 95,7 95,7 3,5 3,5 0,8 0,8
7ª série - 8º ano 2001 93,5 93,5 3,5 3,5 3,0 3,0
2005 95,0 95,0 3,9 3,9 1,1 1,1
8ª série / 9º ano 2001 86,4 86,4 9,6 9,6 4,0 4,0
2005 86,0 86,0 11,9 11,9 2,1 2,1
Ensino Médio 2001 87,3 87,3 8,1 8,1 4,6 4,6
2005 83,9 83,9 14,1 14,1 2,0 2,0

Tabela 9. Resultados da Prova Brasil 2005 - rede municipal
Fase/Nível Matrícula
(urbana)
Nº participantes
(Prova Brasil)
Matemática Língua Portuguesa Padronização Matemática Padronização Língua Portuguesa
4ª série 82.615 76.084 172,79 166,36 4,30 4,27
8ª série 58.836 43.189 238,66 226,48 4,62 4,22

Tabela 10. Distorção idade-série (%) - rede municipal
Fase/Nível Ano Urbana Rural Total
1ª série / 2º ano 2001 3,9 3,9
2005 2,7 2,7
2ª série / 3º ano 2001 5,9 5,9
2005 4,1 4,1
3ª série / 4º ano 2001 8,9 8,9
2005 5,8 5,8
4ª série / 5º ano 2001 24,3 24,3
2005 16,5 16,5
5ª série / 6º ano 2001 25,4 25,4
2005 16,6 16,6
6ª série / 7º ano 2001 24,4 24,4
2005 18,7 18,7
7ª série / 8º ano 2001 26,6 26,6
2005 18,0 18,0
8 série - 9 ano 2001 31,1 31,1
2005 21,6 21,6
Ensino Médio 2001 25,7 25,7
2005 31,7 31,7

Tabela 11. Distorção idade-conclusão (%) - rede municipal
Localização Ensino Fundamental Ensino Médio
2001 2005 2001 2005
Urbana 26,9 61,4 41,4 25,8
Rural 38,3
Total 27,0 61,4 41,4 25,8

Tabela 12. Matrículas em Programas de Correção de Fluxo e alunos reclassificados no Ensino Fundamental- rede municipal 2005
Nível Matrículas em programa de correção de fluxo (classe de aceleração) Quantidade de alunos reclassificados no Ensino Fundamental
Ensino Fundamental - Anos Iniciais 0 174
Ensino Fundamental - Anos Finais 0 537
Total 0 711