sábado, março 30, 2013

SOBRE O PIMESP E O DEBATE DE COTAS RACIAIS NAS UNIVERSIDADES PAULISTAS

COMENTÁRIOS MOISÉS BASÍLIO LEAL


O ponto central da crítica do Professor Kabegele sobre a proposta do Programa de Inclusão por Mérito no Ensino Superior Público - PIMESP - do governo paulista  é a insistência, entre outras coisa, principalmente na defesa da meritocracia como critério de acesso ao ensino superior.  


Há mais de 10 anos que as experiências de políticas afirmativas vem sendo praticadas em universidades federais e estaduais Brasil afora, mas aqui em São Paulo há uma forte resistência. Mas, como o mundo gira e a Lusitânia roda os resultados positivos das políticas afirmativas alhures forçaram o governo paulista a sair do imobilismo e tentar avançar na inclusão dos setores estruturalmente excluídos dos campus paulista. Vamos ao debate. 



________________________________________ 
Fonte: Sítio CEERT - http://www.ceert.org.br/noticiario.php?id=3612
Kabengele Munanga - Universidade de São Paulo


O debate sobre cotas para negros e indígenas ocorre desde 2002 depois da III Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e as Formas Conexas de Intolerância, ocorrida em Durban, África do Sul, organizada pela ONU em agosto/setembro de 2001, isto é 10 anos atrás. Cerca de 120 universidades públicas federais e estaduais que se envolveram nesse debate já estão experimentando o sistema de cotas há mais ou menos dez anos. Todas as universidades federais que ficaram indecisas por questões supostamente legais, entre outras, vão agora entrar no sistema de cotas, por força da lei 12.711, promulgada pela presidenta da República no ano passado. As três universidades do Estado de São Paulo, nossa USP, a UNICAMP e a UNESP, não entraram oficialmente nesse debate. Os motivos alegados eram a defesa da excelência e do mérito. No entanto, diante da pressão social acerca do assunto, a UNICAMP adotou o sistema de bônus ou pontuação acrescida para candidatos negros e brancos no vestibular de ingresso. A USP adotou o INCLUSP, também com o sistema de bônus ou pontuação sem considerar o critério racial parcialmente contemplado no sistema de bônus da UNICAMP. A UNESP, até onde eu saiba, criou apena  um cursinho pré-vestibular para alunos oriundos da escola pública.


O debate está chegando oficialmente agora por motivos obviamente políticos. As razões e justificativas originalmente apresentadas contra cotas quando começaram os debates em 2002 eram as seguintes:

1. Dificuldade de definir quem é negro no Brasil, por causa da mestiçagem;

2. Possibilidade de eventuais conflitos raciais não conhecidos no Brasil graças ao ideal de democracia racial;

3. Inconstitucionalidade;
4. Mérito, qualidade e excelência, entre outras;

Essas razões e justificativas apresentadas como obstáculos a uma política afirmativa na modalidade "cotas" não resistiram a uma análise serena e à experiência de 10 anos das universidades que adotaram o sistema de cotas.

No entanto, sobra ainda o mérito, um princípio fortemente defendido pelos dirigentes das universidades paulistas e muitos de nossos colegas e alunos beneficiados pelo sistema de vestibular. Sobre o mérito, a questão é saber se é mais justo colocar na mesma linha de partida alunos oriundos do ensino privado e os oriundos do ensino público que não tiveram igualdade de oportunidade no acesso à educação e fazer uma classificação equitativa entre eles, ou submetê-los separadamente a um mesmo conteúdo seletivo? O que é afinal a bendita meritocracia medida pelos testes vestibulares? As potencialidades intelectuais inatas dos alunos ou a classe social à qual pertencem? O mérito é um princípio do darwinismo social que estipula que "na luta e na competição pela vida, são os 3 melhores que ganham". Quem são esses melhores em nossos exames de vestibular? Certamente, os alunos preparados nos bons colégios privados e nos melhores cursinhos do país. Mas nada confirma que são por natureza os mais inteligentes se os compararmos com aqueles alunos oriundos da escola pública, brancos e negros. Por exemplo, uma nota sete que permitiria a um aluno oriundo da escola particular ingressar em um curso de medicina não é tão superior a uma nota seis, que impediria a um aluno oriundo da escola pública ingressar no mesmo curso, se compararmos as condições sociais de ambos e os caminhos que percorreram. O mérito é certamente discutível, apesar de sua aparência de justiça. Pois, por comparação à escola pública, estamos medindo a classe social e não a potencialidade natural.


Quanto à qualidade e a excelência, as pesquisas realizadas em muitas universidades que adotaram o sistema de cotas nos últimos dez anos comprovam que a qualidade e a excelência não foram prejudicadas. Os alunos cotistas tiveram em média um rendimento acadêmico igual aos alunos não cotistas e as taxas de evasão dos cursos não são tão diferentes entre as duas categorias de alunos. Acho que a questão do mérito e da excelência constitui ainda grande entrave para uma proposta serena de cotas nas universidades paulistas. O que justificou os sistemas de pontuação ou de bônus na UNICAMP e o INCLUSP na USP? Não sou avaliador desses dois sistemas, mas parece que ambos apresentaram estatísticas positivas e produziram discursos sobre seus sistemas de inclusão que souberam conciliar a inclusão dos pobres e negros com mérito. Difícil é saber quantos negros e indígenas entraram na USP, na UNICAMP e na UNESP e em que cursos, desde a implantação de seus sistemas tão bem autoavaliados. Eu não vejo alunos negros circulando nos corredores dos cursos da minha Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, a maior unidade da USP, competindo numericamente apenas com a Politécnica. Quem sabe, entraram nas Ciências Biomédicas, na Politécnica, na FEA, na Faculdade de Direito, na Faculdade de Medicina e em outras áreas de ciências exatas e naturais, mas na minha Faculdade não, pois vejo circulando nos corredores mais os alunos africanos que ingressaram por convênios do que os alunos negros brasileiros. Infelizmente naturalizamos essa invisibilidade do negro em nossa universidade como em outros setores da vida nacional. O que me surpreende e surpreendeu a muitos, é essa proposta do PIMESP e de um "college" de dois anos que prepararia melhor alunos negros, indígenas e brancos oriundos das escolas públicas, para preservar os sagrados princípios de mérito e excelência. A proposta impressiona pelas estatísticas e projeções numéricas sem fontes, mas não é de uma interpretação fácil. No entanto, ela deixa claro que "esses" alunos ingressariam numa das faculdades das três universidades se obtiverem no fim do segundo ano do College uma nota media de sete ou maior que sete. Os que não obtiveram essa nota mínima terão apenas um diploma que facilitaria seu ingresso no mercado de trabalho, mas não o ingresso na universidade. Formidável e genial, não é? Como salientaram as Professoras Lilia M. Schwarcz e Maria Helena P. T. Machado, da USP, e o Professor John M. Monteiro, da UNICAMP, em matéria publicada no Caderno Tendências/Debates do Jornal Folha de S. Paulo de 12 de março de 2013, a proposta tem um conteúdo separatista e segregacionista. Durantes dois anos, os alunos que ingressarem nesse College semipresencial não terão a oportunidade de se conhecer e conviver como é de tradição num curso universitário.


Além de viver separados entre si, o que os impediria de construir sua identidade e os mecanismos de solidariedade, eles viverão num centro que fisicamente terá pouca existência e num sistema segregacionista que vai adiar por dois anos seu encontro físico com os colegas oriundos dos colégios particulares que ingressaram pelo vestibular tradicional. Mal abriu-se o debate oficialmente nas três universidades paulistas para discutir as políticas afirmativas e as cotas, o pacote "enlatado" do PIMESP e seu College (palavra pomposa), pronto para consumir, caiu de repente das nuvens para impedir que o debate democrático entre professores e alunos de diversas unidades ou faculdades das três universidades ocorra natural e tranquilamente. Vocês têm 60, 30 dias para se posicionarem, determinaram! O que estaria por trás de tanta pressa para resolver uma questão tão importante e cujo debate está apenas começando?

O que a proposta do PIMESP, que nada tem a ver com o sistema de cotas, tem de melhor? Suponho que sejam a qualidade e a excelência embutidas no princípio da meritocracia. Isto pressupõe que na experiência de 10 anos das universidades federais e estaduais que entraram no sistema de cotas, exemplos da UnB, da Faculdade Paulista de Medicina, de todas as universidades federais e estaduais do sul do país (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná), da Federal de São Carlos, entre outras, essas universidades tenham esquecido o mérito que as três universidades paulistas querem salvaguardar através do PIMESP e do college! – Veja a injustiça que o PIMESP vai produzir comparativamente ao sistema de cotas já em vigor em muitas universidades e a partir deste ano em todas as universidades federais. Enquanto o aluno que ingressou pelas cotas nas federais ou estaduais onde já funcionam as cotas estiver terminando o segundo ano para entrar no terceiro ano de um curso superior, seu colega que entrou no college paulista estaria obtendo, se for aprovado, seu diploma de college. Ele pode ser aprovado ou reprovado. Se for reprovado, ele teria perdido seus dois anos.


Para entrar numa faculdade, ele deve ter uma nota de no mínimo sete, nota essa que não é de corte para todos os cursos concorridos pelos alunos que competem pelo vestibular sem cotas. Que tremenda injustiça! Se tiver nota de aprovação inferior a sete, ele está preparado para o mercado. Ora, existem cursos técnicos que preparam para o mercado e que exigem menos tempo. Dizem-nos que esse modelo de College já existe em alguns países da Europa, Estados Unidos e Canadá. Não discordamos, mas por quais finalidades? Para incluir negros, índios e brancos pobres? Com certeza, nossas finalidades são diferentes das desses países que têm colleges. É interessante lembrar que quando se começou a discutir cotas por volta de 2002, alegava-se que era um modelo importado dos Estados

Unidos e que nada tinha a ver com as peculiaridades brasileiras. É o caso de perguntar se o modelo de college de inspiração estrangeira serviria mesmo para incluir negros, indígenas e brancos oriundos da escola pública. Eu tenho sérias dúvidas.

Concordamos com a observação de que existem desníveis entre a formação dos alunos oriundos das escolas públicas e das escolas particulares melhor aparelhadas, e que esses desníveis interferem no aprendizado e no progresso dos alunos nas universidades. Considerando que a sociedade não existe apenas para os alunos superdotados e acima da média, capazes de desafiar as lacunas anteriores e de supera-las quando eles têm  em mãos uma oportunidade única, mas que ela existe também e, sobretudo, para a maioria da população não superdotada. Visto deste ponto de vista, acredito que nossas universidades públicas, mais do que quaisquer outras instituições, têm recursos humanos capazes de minimizar as lacunas dos estudantes oriundos das escolas médias públicas através de programas de formação complementar que os acompanhem desde seu ingresso na universidade. Alias, é o que fazem algumas universidades que recebem esses alunos e que afinal apresentaram um rendimento acadêmico surpreendente. O melhor exemplo disso é da Universidade da Califórnia - Berkeley, estudada por Sabrina Moehlecke em sua tese de doutorado defendida em 2004 na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (Fronteiras da Igualdade no Ensino Superior: Excelência e Justiça Racial, 2004). A Universidade de Berkeley é um dos nove campi da Universidade de Califórnia; uma universidade seletiva, voltada à pesquisa, que foi o primeiro campi a adotar planos de ação afirmativa sensíveis à raça em seus processos de admissão. De 1965 a 1979, essa universidade criou vários programas que ofereciam basicamente serviços de apoio à qualificação acadêmica dos estudantes cotistas durante o curso universitário, e de apoio financeiro, como forma de atuar em áreas complementares ao processo específicos do ingresso e minorar as desigualdades existentes entre os alunos. Segundo essa pesquisa de Sabrina Moehlecke, a excelência e a qualidade do ensino não foram afetadas naquela universidade. No entanto, não se precisou de um college universitário de dois anos que pouco garantiria o ingresso de negros na universidade.


Terminaria com outro ponto polêmico, a questão da cota dita social que consideraria apenas a situação socioeconômica dos alunos e alunas, como se não fosse social a situação do negro e do indígena e como se não existisse a discriminação racial que faz deles duplamente vítimas da exclusão socioeconômica e "racial". Continuaria a pregar no deserto, pois é difícil convencer a maioria dos brasileiros a esse respeito por causa da força da inércia do mito de democracia racial. Continuo a acreditar que a dita cota social não resolveria rápida e devidamente a questão da inclusão do negro na universidade pública, por dois motivos. O primeiro, o abismo acumulado entre negros e brancos coletivamente falando em matéria de educação superior é chocante e assustador de acordo com as estatísticas do IPEA e do IBGE. Exemplo, entre os brasileiros/brasileiras que têm um diploma universitário, 97% são brancos, 1% são orientais e apenas 2% são afrodescendentes (negros e mestiços). Evidentemente, é uma estatística do ano de 2000 que mudou pouco graças aos 10 anos de cotas em algumas universidades do  país. Fala-se aproximativamente de 4% de afrodescendentes que têm um diploma universitário, quando hoje são demograficamente 51% dos brasileiros. A reserva de cotas separadas para negros que alguns consideram como uma discriminação contra brancos pobres é o único caminho rápido para a inclusão do negro na universidade. Para os que consideram essa reserva como uma discriminação, o que não é meu ponto de vista; eu lhes responderia que é uma discriminação positiva que ajudaria a resolver em pouco tempo uma grave questão social que as políticas ditas universalistas não resolveriam tão rapidamente. Prova disso, as universidades que adotaram as cotas, no caso da UnB, por exemplo, receberam e formaram nos últimos 10 anos mais negros do que receberam e formaram durante toda sua existência anterior às cotas. O segundo motivo que me leva a defender a reserva de cotas separadas para negros tem a ver com os riscos da probabilidade matemática. Por causa da taxa de evasão e abandono da escola fundamental e média do alunado negro comparativamente ao branco, são poucos os negros que concluem o ensino médio e que concorrem ao vestibular com alunos brancos, muito mais numerosos. Se oferecer as vagas reservadas indiscriminadamente entre um pequeno número de alunos negros e um grande número de alunos brancos, matematicamente os negros 10 poderiam de novo sobrar. É por isso, no meu entender, que se defende uma divisão proporcional de porcentagem, de acordo com a representação demográfica de cada segmento étnicoracial na população do Estado.


Se dependesse de mim, se discutiria apenas a questão das cotas no modelo das universidades federais e estaduais que as adotaram e não do College, seja ele de um ou de dois anos. Quem sou eu para decidir, mas não posso deixar de dizer o que penso a respeito!

São Paulo, 15 de março de 2013.
____________________________________________ 

FONTE: Sítio do Jornal Folha de S. Paulo, 12/03/2013 - 03h30 - http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/1244586-tendenciasdebates-cotas-em-dialogo.shtml

Tendências/Debates: Cotas em diálogo

LILIA SCHWARCZ
MARIA HELENA MACHADO
JOHN MONTEIRO


O estratégico e espinhoso assunto das cotas sociais e étnico-raciais está em pauta. Acaba de ser enviado aos docentes da USP (Universidade de São Paulo) o projeto Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior Público Paulista (Pimesp), com um prazo exíguo de 30 dias para a manifestação da comunidade universitária.

Sabemos que as universidades estaduais paulistas estão atrasadas, sobretudo em relação às federais, no que tange ao ingresso amplo ao ensino superior público e de qualidade. No entanto, tal situação não justifica que, após anos de silêncio, sejamos levados a tomar decisões de afogadilho, que podem aprofundar os problemas que queremos corrigir.

O projeto não traz autoria e vem recheado de números cuja origem não é indicada. Fica a impressão de um projeto apressado e preliminar, preparado sem dar ouvidos à comunidade acadêmica paulista ou aos movimentos sociais que vêm discutindo a questão da inclusão social e das cotas já há um bom tempo.

O projeto do Pimesp declara o objetivo de que pelo menos 50% das matrículas sejam preenchidas por alunos oriundos do ensino médio público e, dentre esses, 35% autodeclarados PPIs (pretos, pardos e indígenas). A proposta apresenta, no entanto, medidas problemáticas, que podem aumentar as desigualdades sociais e étnico-raciais, em vez de abrir caminho para diminuí-las.

A medida mais problemática é a criação de um Instituto Comunitário de Ensino Superior (Ices), inspirado no "Community College" norte-americano, que são faculdades de formação profissional e de educação continuada em cursos de dois anos. Não parece acertado que as universidades estaduais paulistas, centros de excelência reconhecidos internacionalmente, apropriem-se de maneira inadequada de um modelo que não se coaduna com nossas reais necessidades de inclusão.
Herman Tacasey/Folhapress
O Ices se propõe a oferecer cursos gerais de complementação da escolarização média e "formação sociocultural superior para exercício de cidadania". Ora, se queremos enfrentar as desigualdades, devemos começar por reconhecer os jovens de baixa renda e os PPIs como cidadãos que merecem e exigem muito mais do que uma extensão do ensino médio num formato paternalista. O que esses alunos almejam é participar da experiência universitária de nossos campi, de maneira plena e cidadã.

Ademais, tal proposta parece desconhecer o grau de inserção e desempenho dos alunos que entram em outras escolas pelo sistema de cotas. O risco é criarmos novos espaços de exclusão e distanciar o nosso ensino público da direção almejada por todos nós: a diminuição das desigualdades sócio-raciais.

Segundo a proposta, os alunos da escola pública e os PPIs fariam esse curso, em grande parte, à distância. Nada justifica a implantação desse sistema para jovens alunos, carentes justamente das possibilidades que a convivência universitária pode trazer.
Finalmente, após dois anos, o Pimesp considera a possibilidade do aluno "incluído" ingressar na universidade real, "respeitando o mérito acadêmico". O Pimesp não oferece, pois, nenhuma garantia de acesso desse aluno ao sistema universitário integral e, pior, aqueles que conseguem completar os cursos, terão feito no mínimo seis anos de formação, com os dois cursados no Ices.

Aprovado o Pimesp como está, não é difícil imaginar que continuaremos a ter universidades predominantemente brancas e elitistas, já que a inclusão se dará à distância.
Consideramos, assim, premente a abertura de um amplo debate público nas universidades estaduais paulistas. É passo necessário para o processo de democratização e inclusão efetiva no ensino superior, meta que hoje o Brasil enfrenta como um dos seus maiores e mais profundos desafios.
LILIA M. SCHWARCZ é professora titular da Universidade de São Paulo (USP) e global professor da Universidade Princeton; MARIA HELENA P. T. MACHADO é professora titular da USP; e JOHN M. MONTEIRO é professor titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

SAPOPEMBA, DESENVOLVIMENTO LOCAL E O PLANO DE METAS DO GOVERNO HADDAD

COMENTÁRIOS MOISÉS BASÍLIO


Ao apresentar o seu plano de metas o governo Haddad dá um passo importante para construir uma relação de transparência com a sociedade, pois traduz em 3 eixos, 21 objetivos e 100 metas o que pretende fazer na cidade nos próximos 4 anos. 

Para a população do distrito do Sapopemba uma novidade: O plano de metas aponta para a criação de uma nova subprefeitura, como prevê a meta 89, elevando o número de subprefeituras da capital para 32.

Dando um olhada por cima no conjunto das metas dá para perceber que elas foram pensadas a partir de um diagnóstico da cidade, um olhar geral, mas não fica claro qual a relação desse olhar geral com as distintas realidades locais. 

A tradução dessas metas gerais para as realidades locais implicará numa disputa política entre atores que das esferas políticas, social e econômica da cidade. Como o coberto é curto e o corpo é grande, não dá para cobrir todos os interesses em jogo em quatro anos de governo. 

Negociações e disputas girarão em torno da implantação dessas metas. Em minha opinião um elemento importante é a apropriação dessa discussão por amplos setores da sociedade, pois quanto mais gente compreender o que está em jogo, menos possibilidades teremos de manobras dos setores da burocracias política e dos setores minoritários da sociedade que detém forte poder político de puxar a sardinha para a sua brasa em detrimento dos interesses das maiorias apáticas e desorganizadas politicamente na defesa de seus interesses. 

Aqui no Sapopemba a novidade da criação da subprefeitura pode se tornar um momento rico de ampliação das discussões,dos estudos sobre a realidade do território local e de elaboração de alternativas para o desenvolvimento local. Um movimento que deveria partir da realidade de cada casa, barraco ou do lugar que abriga o morador de rua; de cada rua ou viela de favela;e se agrupar num diagnóstico dos principais problemas de cada bairro, para que se chegasse numa síntese das prioridades da subprefeitura do Sapopemba e se cruzasse essas prioridades com as metas prevista no plano de metas da cidade para serem executadas nos próximos quatro anos. 

Seria importante que no processo de criação da subprefeitura do Sapopemba houvesse esse interação entre o governo,  as forças políticas local, os setores econômicos e o conjunto da sociedade civil local. Se houver essa maturidade política, o sonho de superarmos os graves problemas estruturais do distrito do Sapopemba começaria a ser realizado. 

________________________________________________ 


Fonte: Sítio G1, 26/03/2013 14h08 - Atualizado em 26/03/2013 14h08 - http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2013/03/confira-100-metas-da-gestao-haddad-na-prefeitura-de-sp.html
Confira as 100 metas da gestão Haddad na Prefeitura de SP

Plano de metas vai custar até R$ 23 bilhões, diz Haddad.

Lista está dividida em três eixos e estipula objetivos a serem alcançados.

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), apresentou na manhã desta terça-feira (26) o plano de metas da sua gestão. São cem objetivos do mandato que vai até 2016. De acordo com o prefeito, aexecução do plano custará entre R$ 22 bilhões e R$ 23 bilhões.
A apresentação está prevista na Lei Orgânica do Município (LOM). Kassab foi o primeiro a trabalhar tendo como base um programa de metas. Ele apresentou em 2009 o documento Agenda 2012 com 223 metas, das quais cumpriu 123 em quatro anos.

No caso do petista Haddad, as metas foram divididas em três eixos: compromissos com os direitos sociais e civis; desenvolvimento econômico sustentável com redução das desigualdades; e gestão descentralizada, participativa e transparente.

Plano de metas

Veja abaixo, segundo redação da própria Prefeitura, quais são as 100 metas:

"Eixo 1 - Compromisso com os direitos sociais e civis
Objetivo 1 - Superar a extrema pobreza na cidade de São Paulo, elevando a renda, promovendo a inclusão produtiva e o acesso a serviços públicos para todos
• Meta 1 - Inserir aproximadamente 280 mil famílias com renda de até meio salário mínimo no Cadastro Único para atingir 773 mil famílias cadastradas
• Meta 2 - Beneficiar 228 mil novas famílias com o Programa Bolsa Família
• Meta 3 - Implantar 60 Centros de Referência da Assistência Social - CRAS
• Meta 4 - Implantar 7 Centros de Referência Especializada da Assistência Social - CREAS
• Meta 5 - Garantir 100.000 vagas do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC)
• Meta 6 - Formalizar aproximadamente 22.500 microempreendedores individuais

Objetivo 2 - Alcançar ao final de 2015 o índice no IDEB de 5,4 (anos iniciais) e 5,3 (anos finais) do Ensino Fundamental e garantir a alfabetização na idade certa (até 8 anos) para todos os alunos matriculados na educação básica
• Meta 7 - Valorizar o profissional da educação por meio da implantação de 32 pólos da Universidade Aberta do Brasil (UAB)
• Meta 8 - Ampliar a jornada escolar de 100 mil alunos da Rede Municipal de Ensino, aderindo ao programa federal Mais Educação
• Meta 9 - Ampliar a Rede CEU em 20 unidades

Objetivo 3 - Ampliar em 150 mil a oferta de vagas para a educação infantil, assegurando a universalização do atendimento em pré-escola para crianças de 04 e 05 anos, atendendo a demanda declarada por creches em 01/01/2013 e consolidando o Modelo Pedagógico Único
• Meta 10 - Obter terrenos, projetar, licitar, licenciar, garantir a fonte de financiamento e construir 243 Centros de Educação Infantil – CEI (71 em andamento com o governo do Estado e 172 em parceria com o MEC)
• Meta 11 - Construir 65 Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEIs) e um Centro Municipal de Educação Infantil (CEMEI)
• Meta 12 - Expandir a oferta de vagas para educação infantil por meio dos novos CEUs
• Meta 13 - Expandir a oferta de vagas para educação infantil por meio da rede conveniada e outras modalidades de parcerias

Objetivo 4 - Ampliar o acesso, aperfeiçoar a qualidade, reduzir as desigualdades regionais e o tempo de espera e fortalecer a atenção integral das ações e serviços de saúde
• Meta 14 - Obter terrenos, projetar, licitar, licenciar, garantir a fonte de financiamento, construir e instalar 32 unidades da Rede Hora Certa distribuídas em cada uma das Subprefeituras
• Meta 15 - Desenvolver o processo de inclusão do módulo do prontuário eletrônico do paciente (PE) na rede municipal de saúde, integrada ao Sistema SIGA
• Meta 16 - Obter terrenos, projetar, licitar, licenciar, garantir a fonte de financiamento e construir 3 novos hospitais, ampliando em 750 o número de leitos do sistema municipal de saúde
• Meta 17 - Recuperar e adequar 16 hospitais municipais, com a ativação de 250 leitos
• Meta 18 - Obter terrenos, projetar, licitar, licenciar, garantir a fonte de financiamento, construir e instalar 43 novas Unidades Básicas de Saúde - segundo o modelo da UBS Integral
• Meta 19 - Reformar e ampliar os serviços de 14 Prontos Socorros e 6 AMA-24h existentes, transformando-os em UPA
• Meta 20 - Implantar 5 novas UPA III (3 hospitalares e 2 isoladas)

Objetivo 5 - Ampliar o acesso da população à cultura, por meio de equipamentos e ações, a partir da sua descentralização no território
• Meta 21 - Obter terrenos, projetar, licitar, licenciar, garantir a fonte de financiamento, construir e instalar pelo menos 1 equipamento cultural nos 19 distritos que não possuem qualquer tipo de equipamento público de cultura
• Meta 22 - Alcançar um calendário anual que inclua uma Virada Cultural no Centro, 2 Descentralizadas e mais 3 outros eventos temáticos
• Meta 23 - Viabilizar dois novos Centros Culturais de Referência
• Meta 24 - Ampliar a rede de Pontos de Cultura na cidade, com a inclusão de 300 novos pontos
• Meta 25 - Criar e efetivar o Fundo Municipal de Fomento à Cultura
• Meta 26 - Apoiar 300 artistas por meio do programa Bolsa Cultura
• Meta 27 - Atingir 160 projetos anuais dos programas de Fomento ao Teatro, Dança e Cinema
• Meta 28 - Atingir 500 projetos fomentados pelo Programa para Valorização das Iniciativas Culturais (VAI) e pelo VAI 2

Objetivo 6 - Ampliar o acesso à moradia adequada
• Meta 29 - Obter terrenos, projetar, licitar, licenciar, garantir a fonte de financiamento e produzir 55 mil Unidades Habitacionais
• Meta 30 - Beneficiar 70 mil famílias no Programa de Urbanização de Favelas
• Meta 31 - Beneficiar 200 mil famílias no Programa de Regularização Fundiária

Objetivo 7 - Implantar um Programa Territorializado de Prevenção da Violência e da Criminalidade
• Meta 32 - Implantar 18.000 novos pontos de iluminação pública eficiente
• Meta 33 - Ampliar o efetivo da Guarda Civil Municipal em 2.000 novos integrantes
• Meta 34 - Capacitar 6.300 agentes da Guarda Civil Metropolitana em Direitos Humanos e 2.000 em Mediação de Conflitos
• Meta 35 - Reformular a Operação Delegada utilizando 1/3 do efetivo para o patrulhamento noturno em áreas com altos índices de violência
• Meta 36 - Integrar os sistemas das diversas instituições municipais para melhorar o aproveitamento das informações (Guarda Civil Metropolitana, Companhia de Engenharia de Tráfego, SAMU, Defesa Civil)
• Meta 37 - Obter terreno, projetar, licitar, licenciar, garantir a fonte de financiamento, construir e instalar uma Casa da Mulher Brasileira em São Paulo
• Meta 38 - Obter terrenos, projetar, licitar, licenciar, garantir a fonte de financiamento, construir e instalar mais uma Casa Abrigo e uma Casa de Passagem para ampliar a capacidade de atendimento de proteção às mulheres vítimas de violência

Objetivo 8 - Promover a prática de atividades esportivas, recreativas e de lazer
• Meta 39 - Obter terrenos, projetar, licitar, licenciar, garantir a fonte de financiamento, construir e instalar 2 Centros Olímpicos de Iniciação e Formação
• Meta 40 - Criar 1 Parque de Esportes Radicais
• Meta 41 - Abrir 32 equipamentos esportivos para uso 24 horas nos finais de semana por meio do programa "Revirando a Virada”
• Meta 42 - Requalificar 50 equipamentos esportivos entre Centros Desportivos da Comunidade (CDC) e Clubes-Escola
• Meta 43 - Projetar, licitar, licenciar, garantir a fonte de financiamento, construir e instalar 5 Centros de Iniciação Esportiva - CIEs

Objetivo 9 - Garantir a acessibilidade e mobilidade urbana nos espaços públicos e de uso público no que tange às dimensões arquitetônica, comunicacional, metodológica, instrumental e atitudinal
• Meta 44 - Tornar acessíveis 850 mil m² de passeios públicos
• Meta 45 - Efetivar o funcionamento da Central de Libras, Intérpretes e Guias-Intérpretes – CELIG no período de 24h/dia
• Meta 46 - Garantir a oferta de vagas a todas as crianças beneficiárias do Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social (BPC) e seu acompanhamento nos moldes do BPC Escola
• Meta 47 - Ampliar a acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida, garantindo 100% da frota acessível
• Meta 48 - Revitalizar os Centros de Formação e Acompanhamento à Inclusão (CEFAI) ampliando a oferta de vagas para crianças com necessidades especiais

Objetivo 10 - Promover uma cultura de cidadania e tolerância, reduzindo as manifestações de discriminação de todas as naturezas
• Meta 49 - Criar e efetivar a Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial
• Meta 50 - Viabilizar a implementação das Leis Federais 10.639/2003 e 11.645/2008 que incluem no currículo oficial da rede de ensino a temática da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena
• Meta 51 - Criar e efetivar a Secretaria Municipal de Políticas Para as Mulheres
• Meta 52 - Reestruturar os 5 Centros de Cidadania da Mulher, redefinindo suas diretrizes de atuação
• Meta 53 - Desenvolver ações permanentes de combate à homofobia e respeito à diversidade sexual
• Meta 54 - Implantar a Ouvidoria Municipal de Direitos Humanos e Combate à Discriminação e à Intolerância
• Meta 55 - Implementar a Educação em Direitos Humanos
• Meta 56 - Criar a Comissão da Verdade, da Memória e da Justiça no âmbito do Executivo municipal

Objetivo 11 - Requalificar os espaços públicos
• Meta 57 - Requalificar a infraestrutura e os espaços públicos do Centro, incluindo a renovação dos calçadões e projetos estratégicos no Vale do Anhangabaú, Parque D. Pedro II, Pátio do Pari e os arredores do Mercado Municipal
• Meta 58 - Implantar 42 áreas de conexão wi-fi aberta, com qualidade e estabilidade de sinal
• Meta 59 - Criar 32 programas de requalificação do espaço público e melhoria de bairro

Eixo 2 - Desenvolvimento econômico sustentável com redução das desigualdades

Objetivo 12 - Promover o crescimento econômico e a geração de postos de trabalho na cidade de São Paulo
• Meta 60 - Criar e efetivar a Agência São Paulo de Desenvolvimento
• Meta 61 - Criar uma agência de promoção de investimentos para a cidade de São Paulo a partir da expansão da atuação da Companhia São Paulo de Parcerias - SPP
• Meta 62 - Criar e efetivar o Programa de Incentivos Fiscais nas Regiões Leste e extremo Sul

Objetivo 13 - Promover a cidade de São Paulo como centro de tecnologia e Inovação
• Meta 63 - Obter terreno, projetar, licitar, licenciar, garantir a fonte de financiamento e instalar 1 Centro Tecnológico Municipal na Zona Leste e apoiar a criação do Centro Tecnológico Estadual do Jaguaré
• Meta 64 - Implantar o Programa VAI TEC para o incentivo de desenvolvedores de tecnologias inovadoras, abertas e colaborativas
• Meta 65 - Apoiar a implantação da UNIFESP e do Instituto Federal São Paulo nas Zonas Leste e Norte, respectivamente

Objetivo 14 - Proteger os recursos naturais da cidade, conservando as áreas de mananciais, ampliando o sistema de áreas verdes, preservando os recursos hídricos e monitorando as áreas de risco
• Meta 66 - Concluir as fases I e II e iniciar a fase III do Programa de Mananciais, beneficiando 70 mil famílias
• Meta 67 - Criar e efetivar um programa de incentivos fiscais para carros elétricos e prédios verdes
• Meta 68 - Criar um sistema de contrapartida para fins de implantação de áreas verdes e financiamento de terrenos para parques
• Meta 69 - Readequar 34 Parques e Unidades de Conservação Municipais
• Meta 70 - Criação de 400 Núcleos de Defesa Civil - NUDEC

Objetivo 15 - Ampliar os índices de coleta seletiva oficial no município de 2% (2012) para 10%
• Meta 71 - Ampliar a coleta seletiva municipal para os 21 distritos que ainda não são atendidos
• Meta 72 - Obter terrenos, projetar, licitar, licenciar, garantir a fonte de financiamento e construir 4 novas centrais de triagem automatizadas
• Meta 73 - Implantar 84 novos Ecopontos

Objetivo 16 - Ampliar as áreas de circulação exclusiva e qualificar o sistema de ônibus municipal, aumentando a velocidade média dos horários de pico de 14km/h (ago/2012) para 25km/hora
• Meta 74 - Projetar, licitar, licenciar, garantir a fonte de financiamento e construir 150 km de novos corredores de ônibus
• Meta 75 - Implantar as novas modalidades temporais de Bilhete Único (Diária, Semanal e Mensal)
• Meta 76 - Implantar horário de funcionamento 24h no transporte público municipal
• Meta 77 - Implantar 150 km de faixas exclusivas de ônibus

Objetivo 17 - Melhorar a mobilidade urbana universal reduzindo o índice de lentidão no trânsito e diminuindo o número de mortes em acidentes de trânsito
• Meta 78 - Implantar uma rede de 400 km de vias cicláveis
• Meta 79 - Modernizar a rede semafórica
• Meta 80 - Realizar as obras previstas no âmbito da Operação Urbana Consorciada Água Espraiada (OUCAE)
• Meta 81 - Projetar, licitar, licenciar e garantir a fonte de financiamento para a execução do Plano Viário Sul
• Meta 82 - Projetar, licitar, licenciar e garantir a fonte de financiamento para viabilizar as obras do apoio viário norte e sul da Marginal do Rio Tietê
• Meta 83 - Concluir obras do complexo Nova Radial
• Meta 84 - Projetar, licitar, licenciar, garantir a fonte de financiamento e construir a ponte Raimundo Pereira de Magalhães

Objetivo 18 - Reduzir a ocorrência de enchentes e alagamentos, diminuindo o índice anual de pontos de alagamento por mm de chuva
• Meta 85 - Intervir em 79 pontos de alagamentos por meio do Programa de Redução de Alagamentos – PRA
• Meta 86 - Realizar intervenções de macrodrenagem nos córregos Ponte Baixa, Zavuvus, Sumaré/Água Preta, Aricanduva, Praça da Bandeira e Av. Anhaia Mello
• Meta 87 - Desenvolver o programa de drenagem e manejo das águas pluviais, com a criação de uma instância municipal de regulação, articulação e monitoramento da drenagem urbana

Eixo 3 - Gestão descentralizada, participativa e transparente
Objetivo 19 - Aproximar a Prefeitura do cidadão, descentralizando e modernizando a gestão, aumentando a qualidade dos espaços e serviços e reduzindo o tempo de espera no atendimento
• Meta 88 - Criar 32 Centros de Atendimento ao Cidadão CAC
• Meta 89 - Criar a Subprefeitura de Sapopemba
• Meta 90 - Ampliar e modernizar os serviços oferecidos por meio do 156
• Meta 91 - Implantar a Central de Operações da Defesa Civil para a gestão de riscos e respostas a desastres
• Meta 92 - Implantar o Gabinete Digital, como instrumento de transparência e participação social
• Meta 93 - Implantar um Sistema de Informação Geográfica, com dados abertos e livre consulta pelo público

Objetivo 20 - Promover a participação e o controle social na administração pública municipal
• Meta 94 - Criar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e mais 6 novos Conselhos Temáticos
• Meta 95 - Realizar 18 Conferências Municipais Temáticas
• Meta 96 - Criar Conselhos Participativos nas 32 Subprefeituras
• Meta 97 - Implementar todos os Conselhos Gestores previstos em Lei

Objetivo 21 - Revisar o marco regulatório do desenvolvimento urbano de forma participativa
• Meta 98 - Revisar o Plano Diretor Estratégico
• Meta 99 - Revisar a Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo
• Meta 100 - Revisar os Planos Regionais Estratégicos"


sexta-feira, março 29, 2013

CHINUA ACHEBE: A VOZ DA LITERATURA AFRICANA DO SÉCULO XX

Comentários Moisés Basílio:

Pouco da história e das coisas em geral da África chegam ao Brasil pela voz dos africanos. Ainda os vieses colonialista ou neocolonialista estão presentes nas informações que temos recebidos do grande continente. As coisas que são importantes sabermos sobre a África não ignoradas. O falecimento do grande escritor e intelectual, nigeriano, do povo Igbo, é um bom momento para evocar nossa ancestralidade e refletirmos sobre os rumos que vem tomando o continente negro.

Nascido no século XX e temperado na luta anti-colonial, Chinua Achebe soube preservar a memória oral através de seus escritos, e por isso só em parte a biblioteca arde, como diz um ditado africano. Kalumba resgata a importância dos mais velhos para as culturas de matrizes africanas: 

"Os anciãos são também a memória do povo, aqueles que preservaão a história e uma infinidade de acontecimentos e palavras recebidos do passado. 'Velho que morre, biblioteca que arde', dizia Hempaté Ba. Um provérbio bambara, na África ocidental, afirma que 'o velho vê sentado aquilo que o jovem de pé não descortina'. Desta forma se associa a idade (os anos vividos) à sabedoria. Em diversos idiomas da cultura banta, 'ancião' e 'sábio' são dois conceitos coincidentes; por exemplo, mzee, em swahili, significa ancião, sábio, respeitavel. Os anciãos são aqueles que 'viram o Sol antes dos mais novos', aqueles que sabem ensinar. (in Blog Além Mar, Anciãos: os pilares da África, por Léon Ngoy Kalumba, sacerdote Jesuíta Congolês, http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EEFlAZZpuFgpqgltZb).

A seguir um apanhado informações sobre Achebe.

Texto 1: Artigo publicado no Estadão em 27/03/13;
Texto 2: Texto do Wikipedia;
Texto 3:  Um comentário sobre seu principal livro "O mundo se despedaça", editado no Brasil pela Companhia das Letras.
_________________________________________________

Achebe, a voz da África

O escritor nigeriano era conhecido por defender o que acreditava e lutou energicamente contra a corrupção

27 de março de 2013 | 2h 09

É ESCRITOR, FOTÓGRAFO, VICTOR, EHIKHAMENOR, THE NEW YORK TIMES, É ESCRITOR, FOTÓGRAFO, VICTOR, EHIKHAMENOR, THE NEW YORK TIMES - O Estado de S.Paulo
Cresci embaixo da antiga pereira do meu avô, na aldeia de Uwessan, na Nigéria. As raízes da árvore eram poderosas e suas folhas nos protegiam do sol tropical quando jogávamos futebol. Os mais velhos também aproveitavam da sua sombra sob a qual tomavam vinho de palma e, à noite, sentavam para contar histórias de caçadas. Às vezes, trepávamos num galho mais baixo para colocar armadilhas e apanhar passarinhos. Quando um galho mais velho caía, ia para o fogo.
Mas o mais importante era que a árvore rendia um bom dinheiro ao meu avô, que vendia seus frutos a comerciantes vindos de longe.
Chinua Achebe, o escritor nigeriano morto na semana passada, foi uma valiosa fonte cultural para toda uma geração de nigerianos. Ele significou coisas diferentes para pessoas diferentes, mas, antes de tudo, foi um escritor que todos aprendemos a respeitar.
Fama. Fomos criados ouvindo as histórias de Achebe. Sua fama se espalhou por cidades e aldeias de toda a Nigéria, e até mesmo além das fronteiras. Eu o conheci quando tinha 10 anos através das páginas de Chike e o Rio, um livro de histórias infantis. Mais tarde, Achebe tornou-se uma leitura fundamental em cada fase da minha educação.
No curso secundário, sua obra prima, O Mundo Desmorona, era um texto recomendado.
Meus irmãos mais velhos leram o romance e me transmitiram a história e um exemplar bastante manuseado. Uma de minhas irmãs mais velhas me alertou que alguma partes do livro eram tão trágicas que me fariam chorar. Até então, eu nunca soubera que palavras escritas poderiam produzir tais emoções. Quando uma criança cresce numa aldeia como a minha, não são muitos os livros que têm personagens, ambientes ou uma fraseologia familiar como os de Achebe.
O seu uso das parábolas e dos provérbios fez com que eu me apaixonasse por sua escrita, pois dizia coisas que eu ouvia todos os dias na aldeia.
Na universidade, no departamento de língua e literatura inglesa, escrevemos longos ensaios sobre o escritor e sua obra. Durante quatro anos, quase todos nós lemos tanto as suas obras que tínhamos a impressão de conhecê-lo pessoalmente.
Finalmente pude conhecê-lo, anos mais tarde, em Nova York. Quando ele entrou na sala, todos congelamos fascinados. Ele não era um gigante fisicamente, mas tinha uma voz possante. Era a agulha delicada que costurava vestes andrajosas, a minúscula cauda do escorpião repleta de veneno. Respondeu a todas as perguntas com a precisão de um franco atirador. Falava delicadamente, mas foi um escritor "em cuja companhia as paredes da prisão desmoronavam", como disse Nelson Mandela.
Achebe foi um motivo de orgulho para muitos nigerianos, um ancião que podíamos apontar quando o mundo ria de nossas deficiências. Muitas vezes invocamos seu nome como o de um deus violento.
Defensor. Além do seu vigor literário, Achebe era conhecido por defender aquilo em que acreditava.
Quando os que a desconheciam, contavam a história africana para se vangloriar, ele se levantava como um leão e destruía o discurso dos caçadores com a verdade. Não só ele atacava os relatos mentirosos dos exploradores brancos sobre nossa história; mas preparou outros escritores para fazê-lo.
Com obras de ficção e de não ficção, ele nos ajudou a zombar do colonialismo. No final dos anos 60, esteve na linha de frente da Guerra de Biafra, e foi embaixador de uma república separatista de vida breve, quando sentiu a necessidade de apoiar seus companheiros da etnia igbo em sua luta frustrada pela independência.
Também lutou energicamente contra a corrupção, ensinando os nigerianos mais jovens a não ficarem esfomeados a ponto de vender o que nos pertence por direito. Sua alma e sua consciência não eram negociáveis.
Por duas vezes rejeitou honrarias nacionais da Nigéria, pois era uma dessas pessoas que acreditam que um ancião não deve comer sua refeição em cima de um monte de lixo malcheiroso.
Achebe era um rebelde gentil que se recusou a apertar as mãos necróticas estendidas dos líderes corruptos. Ele pertencia a uma antiga estirpe, um sábio de uma geração diferente que não tolerava a pilhagem deliberada dos cofres públicos da Nigéria.
Achebe teria adorado passar os anos do crepúsculo de sua existência entre seu próprio povo e não nos Estados Unidos. Com a degradação de uma nação da qual outrora se orgulhara pelos cleptocráticos governantes militares e civis, o ancião não teve mais um país onde viver. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
_______________________________________
CHINUA ACHEBE
FONTE: WIKIPEDIA - http://pt.wikipedia.org/wiki/Chinua_Achebe

Chinua Achebe (Ogidi16 de novembro de 1930 – Boston22 de março de 2013) foi um romancistapoetacrítico literário e um dos autoresafricanos mais conhecidos do século XX. Achebe escreveu cerca de 30 livros (romance, contos, ensaio e poesia), alguns dos quais retrataram a depreciação que o Ocidente faz sobre a cultura e a civilização africanas, bem como os efeitos da colonização do continente pelos europeus, mas também escreveu obras abertamente críticas à política nigeriana.

Biografia

Albert Chinualumogu Achebe nasceu em Ogidi no início da década de 1930, 30 anos antes da Nigéria se libertar do domínio colonial britânico. Fez seus estudos básicos em um colégio missionário e, embora educado na cultura ocidental, também foi criado na cultura tradicional Igbo, seu grupo étnico, no sudeste da Nigéria. Quando chegou a universidade, ele renegou o seu nome britânico, Albert, para assumir o seu nome Igbo: Chinualumogu (Chinua abreviado).
Sua obra mais conhecida é O mundo se despedaça (em inglês: Things fall apart), publicada em 1958, quando ele tinha 28 anos, e que foi traduzida para mais de cinquenta línguas. O romance tratava de considerações a respeito dos conflitos entre o governo colonial britânico e a cultura Igbo. Outros destaque da sua carreira literária foram A paz dura poucoA flecha de Deus e A educação de uma criança sob o protetorado britânico. Ele foi um crítico da maneira como os autores estrangeiros retratavam a África, especialmente no livro O coração das trevas, de Joseph Conrad.
O escritor deixou sua pátria várias vezes para trabalhar como professor nos Estados Unidos e passou a morar definitivamente nesse país em 1990, após sofrer um acidente de carro que o deixou com problemas motores. Ainda assim, lecionava na Universidade de Brown. Mesmo sendo muito respeitado na Nigéria, tanto pela sua obra literária quanto também pelas suas tomadas de posição, Achebe criticava frequentemente os dirigentes nigerianos, pela corrupção e má administração do país, tendo recusado por duas vezes ser condecorado pelas autoridades locais.
Em 2007, foi galardoado com o prestigioso Prémio Internacional Man Booker. Em 2012, ele lançou o livro There was a country: a pessoal history of Biafra, onde relembrou suas vivências na época do conflito em Biafra e o governo central da Nigéria, quando Achebe desempenhou funções diplomáticas e fez parte do Ministério de Informação de Biafra até o fim da guerra.
Achebe morreu em Boston, aos 82 anos, em março de 2013.

Referências

Ligações externas

_______________________________________________


O MUNDO SE DESPEDAÇA
Fonte: Sítio da Editora Companhia das Letras - http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=12738
R$ 44,50Comprar
Indisponível
IndiqueComente
É necessário estar logado para utilizar este recurso.Acompanhe

O mundo se despedaça conta a história de um guerreiro chamado Okonkwo, da etnia ibo, estabelecida no sudeste da Nigéria, às margens do rio Níger.

O momento que a narrativa retrata é o da gradual desintegração da vida tribal, graças à chegada do colonizador branco. Os valores da Ibolândia são colocados em xeque pelos missionários britânicos que trazem consigo o cristianismo, uma nova forma de governo e a força da polícia.

O delicado equilíbrio de costumes do clã vinha sendo mantido por gerações, mas então atravessa um momento de desestabilização, pois os missionários europeus e seus seguidores, africanos convertidos, começam a acorrer às aldeias de Umuófia pregando em favor de uma nova crença, organizada em torno de um único Deus. A nova religião contraria a crença nas forças anímicas e na sabedoria dos antepassados, em que acreditam os ibos. Além disso, os homens brancos trazem novas instituições: a escola, a lei, a polícia. 

Okonkwo, o mais bravo guerreiro do clã, é dos principais opositores dos missionários, mas ele não contava com a adesão à nova crença de muitos de seus conterrâneos, vizinhos e companheiros de aldeia. Entre eles está ninguém menos que seu primogênito, Nwoye. Também aderem à religião do homem branco aqueles que foram marginalizados pela sociedade tradicional, os párias ou osus, as mulheres, os jovens sem perspectiva. 

Como escreve o diplomata e estudioso das literaturas africanas Alberto da Costa e Silva, no prefácio ao livro, o romance de Achebe é uma das obras fundadoras do romance nigeriano contemporâneo. Segundo ele, o livro "narra a desintegração de uma cultura, com a chegada do estrangeiro, com armas mais poderosas e de pele, costumes e ideias diferentes". Mas, para o ensaísta, Chinua Achebe, que escreve em inglês,"é cidadão de uma Nigéria criada pelo colonizador" e sabe que a "História não é boa nem má, nascemos dela, de seus sofrimentos e remorsos, de seus sonhos e pesadelos".

O romance é considerado um dos livros mais importantes da literatura africana do século XX e fundador da moderna literatura nigeriana. Foi publicado originalmente em 1958, dois anos antes da independência da Nigéria. Primeiro romance do autor, foi publicado em mais de quarenta línguas.


"Chinua Achebe é um escritor mágico - um dos maiores do século XX." - Margaret Atwood

"Uma imaginação vívida ilumina cada página [...] Um romance que enxerga a vida tribal de um ponto de vista interno, genuíno." - Times Literary Supplement