segunda-feira, julho 21, 2014

VOA RUBEM ALVES

Por Moisés Basílio

 
Na semana que passou nosso querido educador e escritor Rubem Alves bateu asas e voou. Além da doída saudade momentánea, daqueles que partem para não mais voltar, deixou a doce, terna e eterna saudade nas obras que produziu em vida.
 
Para mim, ficará para sempre como legado a bela história sobre as coisas do amor e da saudade, narrada num pequeno livro infantil seu, "A Menina e o Pássaro Encantado", que marcou me marcou intensamente no relacionamento com meus filhos, Luanda e Pedro, durante um fase de nossas vidas. Lemos esse livro juntos, conversamos muitos sobre as ideias que ele nos apresentava e por fim compus uma pequena canção incompleta, que ainda hoje de vez enquanto entoamos.
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A menina e o pássaro encantado

Autor: Ruben Alves

Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo.
Ele era um pássaro diferente de todos os demais: era encantado.
Os pássaros comuns, se a porta da gaiola ficar aberta, vão-se embora para nunca mais voltar. Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades… As suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava. Certa vez voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão…
Menina, eu venho das montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco do encanto que vi, como presente para ti…
E, assim, ele começava a cantar as canções e as histórias daquele mundo que a menina nunca vira. Até que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pássaro.
Outra vez voltou vermelho como o fogo, penacho dourado na cabeça.
Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga. As minhas penas ficaram como aquele sol, e eu trago as canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes.
E de novo começavam as histórias. A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina, e por isto voltava sempre.
Mas chegava a hora da tristeza.
Tenho de ir
dizia.
Por favor, não vás. Fico tão triste. Terei saudades. E vou chorar…— E a menina fazia beicinho…
Eu também terei saudades
dizia o pássaro. — Eu também vou chorar. Mas vou contar-te um segredo: as plantas precisam da água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios… E o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza, na espera do regresso, que faz com que as minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudade. Eu deixarei de ser um pássaro encantado. E tu deixarás de me amar.
Assim, ele partiu. A menina, sozinha, chorava à noite de tristeza, imaginando se o pássaro voltaria. E foi numa dessas noites que ela teve uma ideia malvada: “Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá. Será meu para sempre. Não mais terei saudades. E ficarei feliz…”
Com estes pensamentos, comprou uma linda gaiola, de prata, própria para um pássaro que se ama muito. E ficou à espera. Ele chegou finalmente, maravilhoso nas suas novas cores, com histórias diferentes para contar. Cansado da viagem, adormeceu. Foi então que a menina, cuidadosamente, para que ele não acordasse, o prendeu na gaiola, para que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz.
Acordou de madrugada, com um gemido do pássaro…
Ah! menina… O que é que fizeste? Quebrou-se o encanto. As minhas penas ficarão feias e eu esquecer-me-ei das histórias… Sem a saudade, o amor ir-se-á embora…
A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas não foi isto que aconteceu. O tempo ia passando, e o pássaro ficando diferente. Caíram as plumas e o penacho. Os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio: deixou de cantar.
Também a menina se entristeceu. Não, aquele não era o pássaro que ela amava. E de noite ela chorava, pensando naquilo que havia feito ao seu amigo…
Até que não aguentou mais.
Abriu a porta da gaiola.
Podes ir, pássaro. Volta quando quiseres…
Obrigado, menina. Tenho de partir. É preciso partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro de nós. Sempre que ficares com saudade, eu ficarei mais bonito. Sempre que eu ficar com saudade, tu ficarás mais bonita. E enfeitar-te-ás, para me esperar…
E partiu. Voou que voou, para lugares distantes. A menina contava os dias, e a cada dia que passava a saudade crescia.
Que bom pensava ela
o meu pássaro está a ficar encantado de novo…
E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos, e penteava os cabelos e colocava uma flor na jarra.
Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje…
Sem que ela se apercebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado, como o pássaro. Porque ele deveria estar a voar de qualquer lado e de qualquer lado haveria de voltar. Ah!
Mundo maravilhoso, que guarda em algum lugar secreto o pássaro encantado que se ama…
E foi assim que ela, cada noite, ia para a cama, triste de saudade, mas feliz com o pensamento: “Quem sabe se ele voltará amanhã...”
E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro.
* *

Para o adulto que for ler esta história para uma criança:
Esta é uma história sobre a separação: quando duas pessoas que se amam têm de dizer adeus…
Depois do adeus, fica aquele vazio imenso: a saudade.
Tudo se enche com a presença de uma ausência.
Ah! Como seria bom se não houvesse despedidas…
Alguns chegam a pensar em trancar em gaiolas aqueles a quem amam. Para que sejam deles, para sempre… Para que não haja mais partidas…
Poucos sabem, entretanto, que é a saudade que torna encantadas as pessoas. A saudade faz crescer o desejo. E quando o desejo cresce, preparam-se os abraços.
Esta história, eu não a inventei.
Fiquei triste, vendo a tristeza de uma criança que chorava uma despedida… E a história simplesmente apareceu dentro de mim, quase pronta.
Para quê uma história? Quem não compreende pensa que é para divertir. Mas não é isso.
É que elas têm o poder de transfigurar o quotidiano.
Elas chamam as angústias pelos seus nomes e dizem o medo em canções. Com isto, angústias e medos ficam mais mansos.
Claro que são para crianças.
Especialmente aquelas que moram dentro de nós, e têm medo da solidão…
*
As mais belas histórias de Rubem Alves Lisboa, Edições Asa, 2003
Fonte: Internet, blog Histórias em Português, acessado em 21/07/2014, endereço eletrônico: http://contadoresdestorias.wordpress.com/2008/01/07/a-menina-e-o-passaro-encantado-ruben-alves/





domingo, junho 22, 2014

"O OUTRO" CONTO DE JORGE LUIS BORGES - UMA INTERPRETAÇÃO

Por Moisés Basílio, escrito em 2010.


O conto “O outro” se estrutura em torno de um narrador que é ao mesmo tempo dois outros personagens. Há três temporalidades se entrelaçando na narrativa: A narração dos fatos feita no ano de 1972; a personagem do velho, de 70 anos de idade, que situa o acontecimento em 1969; e a personagem jovem, com quase vinte anos de idade, que se situa no mesmo acontecimento, em 1918. 

De início para o narrador, que se identifica com a personagem do velho, o fato ocorreu num tempo de inverno (tempo da velhice) ao observar a correnteza de um rio com pedra de gelo. A imagem do rio é a ponte para abrir o diálogo com a idéia de tempo de Heráclito.

Para construção do dialogo, o acontecimento fantástico começa a emergir na narrativa. O outro começa a ser construído enquanto personagem e o seu reconhecimento se dá pela voz, que é a mesma. O fantástico então está posto, o mesmo se divide em dois outros – um no ocaso da idade de vida (70 anos) e o outro na aurora da vida (19 anos). 

O que Borges vai intuir nesse conto é o principio formulado do Heráclito de Éfeso, que também fora apelidado de "o Obscuro", da unidade permanente do ser diante das transformações das coisas particulares e transitórias, posto que há uma harmonia universal, que é gerada e construída pelas tensões.


Assim, ao estabelecer a possibilidade do encontro entre dois momentos opostos da vida de um mesmo ser - o ser jovem e o ser idoso –, em planos de temporalidade diferentes – sonho e real –, Borges vai construir um diálogo que aponta as diferenças e contradições, mas que também revela os pontos de harmonia do ser, tal qual formulou Heráclito, ou seja, o outro que é o mesmo. 

Nota: Interessante notar que, para os gregos, a "voz" era também entendida como a "luz" do homem: aquilo que o identivicava. Ao se perceberem por meio da voz, "os Borges" indicam isso. Professor Marcos Sidnei Pagotto-Euzébio, FEUSP, 2010. 

Para ler o conto de Borges: Sítio da Casa da Palavra, Santo André, SP: 
http://casadapalavrasa.blogspot.com.br/2011/10/o-outro-de-jorge-luis-borges-traducao.html

quinta-feira, maio 01, 2014

DESAFIOS ECONÔMICOS PARA O BRASIL EM 2015: FAÇAMOS NOSSAS APOSTAS

Por Moisés Basílio

O jornal paulistano "O Estado de S. Paulo" vem publicando aos domingos uma série de entrevistas com economistas de diferentes matizes e experientes no trato das questões espinhosas de nossa economia, em seus aspectos sociais e políticos.  
Aproveitei as leituras e fiz um dossiê do que já foi publicado até agora, pois estamos em ano eleitoral e temos o dever cívico de nos preparamos para escolher nossos próximos governantes federal e estadual. 
A economia é uma arte de difícil manejo. Por mais estudos que se faça, as variáveis são tantas que o resultado final é difícil de ser previsto com antecipação. A partir de uma base de princípios e hipóteses iniciais se faz uma aposta e durante o caminho de sua execução vai se corrigindo a rota. A incerteza é sua companheira constante e só ao final de um ciclo é que saberemos se nossas apostas foram válidas ou equivocadas.
No plano macro-econômico brasileiro as grandes apostas são feitas de quatro em quatro anos no momento da disputa eleitoral. As forças politicas, econômicas e sociais da nação entram numa disputa para a consolidação de uma nova maioria para governar. 
Estamos vivendo o primeiro momento dessa disputa que é a fase pré-eleitoral, onde se formam as primeiras alianças e se constrói o programa para ganhar a eleição e também se afina o discurso eleitoral. E é bom lembrar que o programa para ganhar a eleição não é o programa que vai governar. Esse só se estabelece depois do resultado final das eleições. 
Com a realização da Copa do Mundo de futebol no Brasil nesse ano de 2014, entre o primeiro e o segundo momento, teremos uma momento intermediário importante, que de uma forma ou de outra influenciará no resultado final das eleições. Três fatores terão influência nesse momento: 1. O bom ou o mau desempenho da organização geral da Copa no país; 2. As manifestações de massa pró ou contra a realização da Copa; 3. O desempenho da Seleção Brasileira.
O segundo momento é o da campanha eleitoral do primeiro turno. Começa para valer com o início do horário eleitoral gratuito na televisão e rádio, a campanha de rua, e nas últimas eleições tem sido potenciado pela rede mundial de computadores. 
O terceiro momento é o da campanha eleitoral do segundo turno. Dependendo dos resultados do primeiro turno, tudo pode ser rearranjado para a nova disputa. Com o quadro do parlamento já definido, os dois candidatos majoritários que vão à nova disputa terão que moldar suas ações a partir das novas forças políticas que emergirem das urnas. As alianças são repactuadas e novas apostas serão feitas. 
O quarto momento é o tempo entre a festa da vitória dos que ganharam as eleições e a posse do novo governo. Da euforia inicial da vitória até a posse no poder para governar há um hiato onde as apostas se renovam. O ponto culminante se dá na difícil montagem do novo governo com as respectivas divisões dos cargos, tanto no poder executivo, quanto no poder legislativo. 
Os economistas listados a seguir estão em dois grandes campos: Os que em linha geral apoiam a atual maioria que governa, tendo à frente a Presidenta Dilma e os que tem se destacados no campo da oposição às apostas do atual governo. Pela leitura do perfil biográfico e pelos resumos das principais citações de cada economista, do resumo que preparei, já dá para perceber quais serão suas apostas. É bom também ressaltar que falta muita gente ainda entrar nesse debate e que essa lista é uma escolha da linha editorial do jornal. Assim que tiver acesso a outras posição com certeza compartilharei nesse espaço.
Vamos ao debate. Façamos nossas apostas.

Série de debates - Desafios Econômicos para o Brasil em 2015
Fonte: Jornal o Estado de S. Paulo 
Nelson Barbosa - Ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa é bacharel em Economia pela UFRJ e PHD em Economia pela New School for Social Research. Ingressou na equipe econômica do governo em 2003 e deixou o cargo de secretário executivo da Fazenda no ano passado. ‘É preciso ir além com o gasto social’, diz ex-secretário executivo da Fazenda. Na primeira de uma série de entrevistas do 'Estado' com economistas, Nelson Barbosa diz que o próximo governo deve avançar em habitação, transporte público e inclusão digital - http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,e-preciso-ir-alem-com-o-gasto-social-diz-ex-secretario-executivo-da-fazenda,1130766,0.htm

Eduardo Giannetti da Fonseca - Doutor em economia pela Universidade de Cambridge, mineiro de Belo Horizonte, Giannetti formou-se em economia e ciências sociais pela Universidade de São Paulo, onde também lecionou. Foi professor na Universidade de Cambridge e é autor de vários livros, entre eles ‘O valor do amanhã’. - ‘Educação e meio ambiente devem ser as prioridades’, diz Eduardo Giannetti - Em um novo modelo de crescimento, investimentos devem ser direcionados para o capital humano - http://economia.estadao.com.br/noticias/economia-geral,educacao-e-meio-ambiente-devem-ser-as-prioridades-diz-eduardo-giannetti,178374,0.htm


José Roberto Mendonça de Barros - Doutor em Economia pela USP, com pós doutorado em Yale, Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda entre 1995 e 1998, José Roberto Mendonça de Barros é o fundador da MB Associados, consultoria que atende cerca de 50 das maiores empresas e instituições financeiras do País- ‘Investimento privado vai nos tirar da armadilha’, diz Mendonça de Barros - Para ex-secretário do Ministério da Fazenda no Plano Real, País volta a crescer se mobilizar empresários - http://economia.estadao.com.br/noticias/economia-geral,investimento-privado-vai-nos-tirar-da-armadilha-diz-mendonca-de-barros,178888,0.htm

André Lara Resende - Economista foi um dos ‘pais’ do Plano Real e dirigiu o BNDES, economista, formado pela PUC-Rio, obteve posteriormente o título de PhD em Economia pelo Massachusetts Institute of Technology. Foi um dos formuladores do Plano Real e presidente do BNDES no governo de Fernando Henrique Cardoso. - ‘É preciso crescer com qualidade de vida’, diz Lara Resende - Para o economista, modelo de desenvolvimento baseado apenas em expansão de PIB e consumo material não se sustenta - http://economia.estadao.com.br/noticias/economia-geral,e-preciso-crescer-com-qualidade-de-vida-diz-lara-resende,179169,0.htm

Edmar Bacha - diretor da Casa das Garças, mineiro, de Lambari, foi um dos primeiros economistas brasileiros a concluir doutorado no exterior, em Yale, nos EUA. Professor titular na PUCRio, UFRJ e FGV-Rio. Foi presidente do BNDES no governo Fernando Henrique Cardoso- ‘Para escapar do pibinho, o caminho é a abertura’, diz Edmar Bacha - A integração às cadeias globais de produção levará ao choque de produtividade que o País precisa - http://economia.estadao.com.br/noticias/economia-geral,para-escapar-do-pibinho-o-caminho-e-a-abertura-diz-edmar-bacha,179704,0.htm

Márcio Pochmann - Presidente da Fundação Perseu Abramo - Gaúcho, de Venâncio Aires, é professor na Universidade Estadual de Campinas, presidiu o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e foi consultor da Organização Internacional do Trabalho. Na política, concorreu à prefeitura de Campinas. - ‘Donos de propriedade pagam pouco imposto’, diz Marcio Pochmann - Presidente de organização do PT diz que é preciso buscar novas formas de financiamento do Estado - http://economia.estadao.com.br/noticias/economia-geral,donos-de-propriedade-pagam-pouco-imposto-diz-marcio-pochmann,180170,0.htm    


Luiz Gonzaga Belluzzo - Professor e sócio fundador da Facamp - Doutor em Economia pela Universidade Estadual de Campinas, em 1975, onde se tornou professor titular em 1986. Em 1999, fundou a Faculdades de Campinas. Foi consultor pessoal de economia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. - 'Desembrulhar o pacote de 2015 não vai ser fácil', diz Belluzzo - Para o economista que já foi conselheiro do ex-presidente Lula, a política fiscal caminha num corredor estreito, mas o cenário para os investimentos é promissor - http://economia.estadao.com.br/noticias/economia-geral,desembrulhar-o-pacote-de-2015-nao-vai-ser-facil-diz-belluzzo,182467,0.htm

Delfim Netto - Ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento - Cursou Economia na Universidade de São Paulo, onde fez carreira acadêmica. Quando ocupou o Ministério da Fazenda, o Brasil viveu o período conhecido como Milagre Econômico. Foi ainda deputado federal por cinco mandatos consecutivos. - ‘Existe um pessimismo muito acima do razoável’, diz Delfim Netto - Na avaliação do economista, Brasil não está tão fora do eixo como alguns fazem crer - http://economia.estadao.com.br/noticias/economia-geral,existe-um-pessimismo-muito-acima-do-razoavel-diz-delfim-netto,180745,0.htm

Samuel Pessoa - Professor e colunista na área de Economia - Bacharel e mestre em Física e doutor em Economia pela Universidade de São Paulo. É especialista em crescimento e planejamento econômico. Chefia o Centro de Crescimento Econômico do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV). - ‘Deu errado o ensaio desenvolvimentista’ - Para o economista Samuel Pessoa, atual modelo econômico é um desastre que precisa ser revisto - http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,deu-errado-o-ensaio-desenvolvimentista,1149939,0.htm

Armínio Fraga Neto -    Professor e sócio do Grupo Gávea Investimentos  Graduado e mestre em Economia pela PUC-Rio e doutor pela Universidade de Princeton, nos EUA. Em Nova York, trabalhou no banco Salomon Brothers e no fundo do megainvestidor George Soros. Presidiu o Banco Central de 1999 a 2002.  ‘Gasto público deveria ser limitado por uma lei’, diz Armínio Fraga - Na avaliação do ex-presidente do Banco Central, medida abriria espaço para a reforma tributária - http://economia.estadao.com.br/noticias/economia-geral,gasto-publico-deveria-ser-limitado-por-uma-lei-diz-arminio-fraga,181922,0.htm  

Gustavo Franco - Fundador e sócio da gestora de recursos Rio Bravo Investimentos - Pesquisador, professor e consultor na área de Economia. Doutor pela universidade americana de Harvard, com uma tese sobre hiperinflação. Nos anos 90, atuou como secretário do Ministério da Fazenda e presidente do Banco Central. É preciso retomar a agenda das reformas, diz Gustavo Franco - Para economista, reformas tributária, da previdência e trabalhista abririam espaço para mais produtividade e crescimento - http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,e-preciso-retomar-a-agenda-das-reformas-diz-gustavo-franco,1159140,0.htm

domingo, abril 06, 2014

COLEÇÃO HISTÓRIA DO BRASIL NAÇÃO: 1808-2010

Por Moisés Basílio Leal

Sonho de consumo historiográfico essa instigante coleção organizada pela produtiva pesquisadora Lilia Moritz Schwarcz com nomes de peso de nossa historiografia e patrocinada pela Fundação espanhola Mapfre. Tudo que essa mulher faz é sempre de boa qualidade. Porém, tenho que tomar cuidado para comprar mais do que posso ler.

Já comprei o primeiro volume, mas ainda não li. Agora que sairam o quinto e sexto volumes confesso que minha mão coçou para adquirir. Fica aqui registrada a resenha da coleção para me fazer lembrar o compromisso e lê-la em breve. 

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Fonte: Montagem feita a partir de informações do sítio da Editora Objetiva: http://www.objetiva.com.br/site2011/livro_ficha.php?id=1058 

Sobre a coleção HISTÓRIA DO BRASIL NAÇÃO: 1808-2010

A coleção História do Brasil Nação não apenas propõe uma nova leitura sobre a história do Brasil, mas proporciona as chaves para o estudo de suas conexões com a América Latina. Contando com o primoroso trabalho de renomados especialistas e a seleção de farto material iconográfico, cada volume apresenta diferentes aspectos da realidade brasileira em seus últimos duzentos anos a partir de perspectivas econômicas, políticas, sociais e culturais.

Parte de um projeto maior — intitulado América Latina na História Contemporânea — que se estende por todo o continente americano e vários países europeus, a coleção é uma iniciativa pioneira no campo historiográfico e documental e referência obrigatória para todos que estudam ou se interessam pela nossa história.

A coleção História do Brasil Nação: 1808-2010 será composta de seis volumes. Dirigida pela antropóloga, historiadora, escritora e editora Lilia Moritz Schwarcz, a obra faz parte de um projeto de amplitude ibero-americana chamado América Latina na História Contemporânea. Idealizado em parceria com a FUNDACIÓN MAPFRE e o Grupo Santillana (presente no Brasil através da Editora Objetiva), o projeto já conta até o momento com a publicação de coleções em dez países. Todas apresentam uma reflexão, por meio de textos e imagens, sobre a trajetória dos países da América Latina nos últimos duzentos anos em diversos aspectos, que abrangem população e sociedade, política, economia, cultura e relações internacionais.
História do Brasil Nação: 1808-2010 propõe não só uma leitura sintética e reflexiva sobre a história do Brasil, como também proporciona as chaves para o estudo da história comparada da América Latina, na qual o papel do único país de língua portuguesa nas Américas é fundamental. A história do Brasil - cujo nascimento como nação independente se enquadra nos complexos processos de transformação política, conhecidos pela historiografia atual como "revoluções atlânticas" - percorreu uma trajetória paralela a de seus vizinhos na América do Sul, o que, entretanto, não se refletiu em uma interação profunda entre o Brasil e os demais países latino-americanos de língua espanhola.
Embora elaborada por especialistas qualificados, a coleção pretende transcender os círculos acadêmicos especializados, para alcançar um público mais amplo. Para tal, se prestou especial atenção tanto na estrutura, como na natureza do texto e no próprio conteúdo da obra.
Sobre a coleção brasileira
Uma das características mais distintivas do projeto internacional é o fato de cada país ter elaborado e conduzido de maneira autônoma a produção de sua coleção. Apesar de todos os envolvidos seguirem uma estrutura básica que privilegia a visão de conjunto e comparativa, no Brasil a coleção se distingue por oferecer uma visão sintética, mas ao mesmo tempo rigorosa, dos grandes acontecimentos e processos históricos que marcaram a trajetória do país a partir do início do século XIX.
Alberto da Costa e Silva, José Murilo de Carvalho, Lilia Moritz Schwarcz, Angela de Castro Gomes e Daniel Aarão Reis assinam a coordenação dos cinco volumes históricos. Boris Kossoy, Lilia Schwarcz e Vladimir Sachetta são responsáveis pelo volume de fotografia e pela exposição que será apresentada em São Paulo e no Rio de Janeiro. Lúcia Garcia está à frente da pesquisa iconográfica e secretaria do projeto.
Tal como nos demais países, a coleção conta com a supervisão de conselho editorial reunido sob a direção de Pablo Jiménez Burillo e coordenação de Javier J. Bravo García. Os livros brasileiros dispõem de projeto gráfico original, de autoria de Victor Burton, além de incluírem farta iconografia no miolo dos livros e caderno de imagens colorido, ao final.
O primeiro volume da coleção, lançado agora em setembro de 2011, tem coordenação de Alberto da Costa e Silva. O volume 2, sob coordenação de José Murilo de Carvalho, chega às livrarias em fevereiro de 2012; o volume 3, sob coordenação de Lilia Moritz Schwarcz, em julho de 2012, juntamente com o volume A História do Brasil através da fotografia (que contará com 350 documentos que recobrirão desde os anos 1850 até a primeira eleição de Lula) e conta com a coordenação de Boris Kossoy. Finalmente, os volumes 4 e 5, sob coordenação de Angela de Castro Gomes e Daniel Aarão Reis, respectivamente, sairão em outubro de 2012 e março de 2013. A coleção estará, assim, completa e à disposição do público brasileiro até o primeiro trimestre de 2013. Em seguida, será toda vertida para o espanhol, de maneira a facilitar sua circulação pela América Latina.


Um olhar sobre o Brasil - A fotografia na construção da imagem da nação: 1833-2003

História
ISBN: 9788539004232
Lançamento: 01/11/2012
Formato: 23,5 X 27,5
Peso: 2350 gramas
464 páginas
Preço: R$ 159,90

O novo volume da coleção História do Brasil Nação, uma coedição da editora Objetiva com a FUNDACIÓN MAPFRE e direção geral de Lilia Moritz Schwarcz, é inteiramente dedicado à fotografia e repassa em 459 imagens os últimos 170 anos da trajetória histórica do Brasil, cobrindo o período de 1833 a 2003. Com a coordenação de Boris Kossoy, Um olhar sobre o Brasil - A fotografia na construção da imagem da nação: 1833-2003 inclui imagens emblemáticas, selecionadas a partir de um extenso garimpo em arquivos públicos e coleções privadas, que demarcam o aparecimento da fotografia no país e sua crescente importância para a historiografia nacional. 



Parte da série de seis títulos sobre a História do Brasil entre 1808 e 2010, concebida para o projeto América Latina na História Contemporânea, realizada pela FUNDACIÓN MAPFRE, o livro integra ainda a exposição homônima de fotos no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, com inauguração no dia 12 de novembro, reproduzindo em grande escala as imagens selecionadas para este volume. A mostra segue a cronologia apresentada no livro, de acordo com os principais fatos históricos do país. 
O ano de 1833 é o ponto de partida do livro com as experiências precursoras de Antoine Hercule Romuald Florence (1804–1879) em Campinas. Antoine foi o primeiro a concretizar experiências fotográficas nas Américas, simultâneas às que se realizavam na Europa. É, no entanto, no Segundo Reinado que a técnica ganha impulso com o apoio do imperador D. Pedro II, ele próprio um aficionado pelas possibilidades da tecnologia.
O século XX foi marcado pela primazia da imagem. A fotografia ganhou as ruas e os meios de comunicação, flagrando de perto os momentos marcantes do Brasil e do mundo. O advento do Estado Novo, a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial, a construção de Brasília, o clamor das massas pela redemocratização; em todos esses momentos a fotografia teve papel crucial para documentar e repercutir a história. Líderes populares como Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, Leonel Brizola e Luiz Inácio Lula da Silva também posaram para as lentes, gerando imagens que se tornaram ícones de diferentes fases da história recente.
Em seu texto de apresentação do volume, Kossoy destaca o aparecimento da fotografia no século XIX e sua relevância na vida cotidiana da sociedade, tornando-se um fenômeno não só artístico, mas comercial. Além de fixar tipos humanos, o advento tecnológico passou a imortalizar espaços urbanos, rurais e a natureza local.
“Trata-se de um conjunto que documenta aspectos expressivos de fatos sociais, políticos, culturais, religiosos, científicos, artísticos, entre tantos outros, fios que tecem a trama histórica de uma nação. Nosso objetivo é a reflexão acerca das conexões mais profundas desses fatos, apenas sugeridos pelas imagens; a fotografia é uma fonte preciosa de informação; trata-se, não obstante, de um conhecimento de aparência (...) Um conhecimento que parte da superfície iconográfica e tanto mais nos revela quanto mais buscamos sua realidade interior”, reflete Kossoy.
Na América Latina, o Brasil é um dos países com maior acervo fotográfico ao longo do século XIX e XX. A fotografia substituiu as aquarelas e quadros pintados pelos viajantes da primeira metade do século XIX. Segundo Kossoy, a principal contribuição desses fotógrafos foi permitir registro iconográfico de diferentes aspectos do passado, que possibilitaram a preservação para a posteridade das feições do brasileiro comum, do campo e da cidade, assim como a aparência de logradouros, moradias e ruas. 
Entre eles, Kossoy destaca nomes como Augusto Riedel, A. Frisch, Benjamin Mullock, Victor Frond, Augusto Stahl, J. Otto Niemeyer, Marc Ferrez, Militão Augusto de Azevedo, Guilherme Gaensly, entre muitos outros, que produziram uma extensa documentação visual do país.
Em seu texto de introdução para o livro, a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz chama a atenção para a ampliação das possibilidades documentais, expandindo a própria noção de arquivo e de acervo para além das bases escritas. “Hoje nos arriscamos a produzir conhecimento a partir da análise de objetos de cultura material como moedas, lápides, telas, esculturas, além das fontes literárias, obras teatrais e, tomando um lugar cada vez mais importante, as fotografias.”, explica.
Lilia ressalta a presença de imagens de momentos históricos marcantes, como o registro da multidão concentrada no Paço Imperial para a assinatura da Lei Áurea, em 1888. Há também imagens corriqueiras, que apresentam o dia a dia da população brasileira, como, por exemplo, a foto de um homem sendo carregado numa liteira por escravos.

Modernização, ditadura e democracia: 1964-2010 – HISTÓRIA DO BRASIL NAÇÃO – 1808-2010 – VOL. 5


História
ISBN: 9788539005536
Lançamento: 01/04/2014
Formato: 16 x 23
320 páginas
Preço: R$ 49,90

Os seis volumes da coleção HISTÓRIA DO BRASIL NAÇÃO reúnem 27 renomados autores brasileiros que, pela primeira vez, atuam juntos em um mesmo projeto. Ilustrada com rico material iconográfico, alia linguagem acessível e rigor na pesquisa documental, apresentando textos que expõem singularidades e novas abordagens da história do Brasil. Integrada ao projeto América Latina na História Contemporânea, idealizado pela FUNDACIÓN MAPFRE, esta coleção vem sendo realizada em mais de dez países e discute, de forma abrangente, os grandes acontecimentos e processos históricos que marcaram as repúblicas latino-americanas desde a sua independência.

O início dos anos 1960 foi um divisor de águas na história do Brasil. A sociedade brasileira se viu dividida entre dois modelos opostos. De um lado, um projeto reformista revolucionário. De outro, o medo da revolução social e do caos. Prevaleceu a opção conservadora e instaurou-se no país uma ditadura civil-militar. De lá para cá, muita coisa mudou, mas o legado de sucessivos governos autoritários ainda permanece em variados aspectos de nossa sociedade. A redemocratização, iniciada nos anos 1980, ampliou a cidadania sem que o Estado perdesse o protagonismo. Os anos 2000, embora não tenham resolvido nossas tantas desigualdades sociais, promoveram o encontro das classes populares com o país e seus símbolos.
Questionando algumas interpretações consagradas desses anos tão conturbados, cinco renomados pesquisadores — Herbert S. Klein, Francisco Vidal Luna, Francisco Carlos Teixeira da Silva, Paul Singer e Marcelo Ridenti —, sob a coordenação de Daniel Aarão Reis, analisaram, em Modernização, ditadura e democracia: 1964-2010 – HISTÓRIA DO BRASIL NAÇÃO – VOL. 5, as profundas transformações que ocorreram de 1964 até o fim dos anos 2000, detendo-se no caráter transicional (e paradoxal) dos eventos mais marcantes desses quase cinquenta anos de história.


sábado, abril 05, 2014

ADEUS AO GRANDE MEDIEVALISTA LE GOFF

Por Moisés Basílio

Li alguns livros e também muitos capítulos em cópia - vício de nossas faculdades - do Le Goff durante minha formação acadêmica, fiz trabalhos escolares, discussões em salas de aula, mas foram nos incontáveis diálogos com os amigos e professores, muitos deles regados com cervejas, vinhos etc. nos bares da vida, sobre as coisas das História e da Historiografias que me fizeram entrar n'alma as ideias do mestre Le Goff sobre as coisas da Idade Média. 

Depois Le Goff continuou a me acompanhar com sua farta bibliografia durante os anos 17 anos em que exerci continuamente o magistério de professor de História na escola de educação básica, nos cursinhos preparatórios para os vestibulares e também em várias palestras gerais que ministrei nesse mundo afora. 

E agora, nesse momento da vida quando a História já não é mais meu instrumento de trabalho cotidiano, mas sim meu deleite diário, volta e meia me vejo diante de algum livro seu que ainda não li, ou frente um novo lançamento. Por isso, nesse primeiro de abril um sentimento de tristeza bateu em mim ao saber de sua morte. Axé Le Goff!
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Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo - 01 de abril de 2014 | 10h 47  http://www.estadao.com.br/noticias/arte-e-lazer,historiador-jacques-le-goff-morre-aos-90-anos,1147726,0.htm  

Historiador Jacques Le Goff morre aos 90 anos

Ele era uma das principais referências da antropologia medieval


O historiador francês especializado na Idade Média Jacques Le Goff, um dos idealizadores da corrente conhecida como "Nova História", morreu nesta segunda-feira, 31, de acordo com a família. Le Goff dedicou boa parte de sua carreira à antropologia medieval, disciplina que enriqueceu ao abordar todos os aspectos da vida em sociedade. 
Dentro da tradição dos grandes historiadores franceses, não hesitava em sair de sua especialidade para opinar sobre temas atuais. Nascido em 1º de janeiro de 1924, o historiador sucedeu Fernand Braudel na direção da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, em 1972. A partir dos anos 70 foi um dos pais do movimento "Nova História", com uma reflexão sobre a profissão do historiador em ensaios como "Faire de l'histoire" (1986, Fazer História, com Pierre Nora) ou "Histoire et mémoire" (História e memória, 1988).
Dois de seus livros foram lançados recentemente no Brasil, A Idade Média e o Dinheiro (Ed. Civilização Brasileira) e Homens e Mulheres da Idade Média (Ed. Estação Liberdade), tema de reportagem do Caderno 2 no último sábado, 29. No primeiro, ele retrata o nascimento do capitalismo através da religião cristã, enquanto no segundo Le Goff disseca o imaginário do homem medieval, tendo como fio condutor santos, heróis e figuras mitológicas. (Com informações da AFP)
Veja uma resenha dos dois mais recentes livros do Le Goff lançados no Brasil:

quinta-feira, abril 03, 2014

PÉROLA IMPERFEITA: A HISTÓRIA E AS HISTÓRIAS NA OBRA DE ADRIANA VAREJÃO

Por Moisés Basílio,

Um bela dica de leitura que aqui vai resenhada por Antonio Gonçalves Filho do Estadão. E é com muito prazer que compartilho aqui nesse espaço com vocês, meus caros leitores. 

Ainda não adquiri o livro, mas com certeza ele já está na minha lista de desejos para 2014.

Axé!
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Pintura de Adriana Varejão é analisada em livro

Artista lança obra em e revê a miscigenação em mostra que abre em São Paulo

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo - 02 de abril de 2014 | 20h 00

Antonio Gonçalves Filho - O Estado de S. Paulo
Leitora dos livros da antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz, a pintora Adriana Varejão, que a conheceu numa ponte aérea entre Rio e São Paulo, pediu a ela que escrevesse um texto para seu livro Entre Carnes e Mares, publicado há cinco anos pela editora Cobogó. Nele, Lilia analisava a presença do barroco e a desconstrução da história do Brasil nas telas da artista, que começou sua carreira há quase 30 anos. A parceria deu tão certo que, cinco anos depois, surge um novo livro da dupla, Pérola Imperfeita: A História e as Histórias na Obra de Adriana Varejão. O livro, publicado em conjunto pela Cobogó e Companhia das Letras. Simultaneamente, será aberta, no sábado, sua exposição Polvo, no Galpão Fortes Vilaça.

Há cinco anos sem expor no Brasil, a pintora apresenta na mostra telas da série Polvo Portraits, pinturas faciais geométricas de inspiração indígena que redefinem um mesmo rosto de mulher com traços de diferentes cores. Um conjunto de tintas idealizado pela artista com base na cor da pele do brasileiro complementa a exposição, para a qual foi criada a marca fantasia Polvo. O marco zero da mostra foi uma pesquisa realizada pelo IBGE em 1976, em que o instituto introduziu a questão "qual é a sua cor?", ouvindo dos pesquisados as mais extravagantes respostas, todas desafiando o bom senso etnográfico.

Com base na pesquisa, Adriana selecionou 33 dessas exóticas cores dos brasileiros ("café com leite", " queimada de sol" e "enxofrada", entre elas) e mandou confeccionar uma caixa com 33 tubos de tinta, usados nos 45 retratos expostos na mostra. Múltiplo com tiragem de 200 exemplares, esse estojo de pintura contribui para o lado conceitual de uma exposição de retratos – do rosto da artista – encomendados a outros artistas. São suas intervenções que marcam a autoria desse trabalho.

Reinterpretação, aliás, caracteriza toda a obra de Adriana Varejão, uma "devoradora de imagens de livros", na definição de Lilia Schwarcz, que recontou a história do Brasil em pinturas paródicas cujas vítimas preferenciais foram os pintores viajantes. De Eckhout a Taunay, passando por Debret, todos eles foram usados na ficção visual da artista carioca, lembrada por seu canibalismo amoroso e anticolonialista.

Qual é a cor da pintora carioca Adriana Varejão? Branquinha? Nem sempre. Na série de retratos Polvo, ela deveria pintar um autorretrato para se auto conhecer – meta, aliás, do tradicional gênero de pintura. Mas preferiu encomendar a pintura de seu rosto a outros retratistas e interferir nele com pinturas geométricas indígenas, que usam 33 cores de tinta da marca fantasia Polvo, criada por ela. Assim, a "branquinha" se transforma na "moreninha", na "fogoió" e na "queimada de sol", cores levantadas pelo censo do IBGE de 1976 e ponto de partida da exposição Polvo, aberta a partir de sábado no Galpão Fortes Vilaça.

O conjunto de retratos mantém vínculo estreito com trabalhos anteriores de Adriana Varejão, de assumido caráter expressivo, paródico e ancorado na estética barroca. Com tantos nomes de cores e todos os 136 matizes de peles mencionados na pesquisa do instituto oficial, a questão racial é diluída, observa a pintora, que se interessou pelo trabalho da historiadora Lilia Schwarcz justamente após ler seu livro O Espetáculo das Raças (1993). Nele, a historiadora mostra como a imagem do Brasil – a de um grande laboratório racial no século 19 – mais estigmatizou do que ajudou a construir uma democracia mestiça.

Canibalismo. Há provas artísticas de como a noção de superioridade racial foi disseminada por perversos darwinistas no país da cobra grande. Num trabalho anterior, Testemunhas Oculares (1997), Adriana se fez retratar por uma pintora acadêmica como uma índia, uma chinesa e uma moura. Faltou a branca, justamente a que iria classificar e ordenar as demais, segundo conta Lilia no livro Pérola Imperfeita.

A índia, observa a historiadora, veio de Eckhout, que costumava retratar canibais levando pernas e mãos decepadas para piqueniques na floresta. A moura veio de Delacroix, um ótimo pintor e péssimo orientalista. Complementando o trabalho, três pares de olhos em porcelana e prata camuflavam cenas do belga Theodor de Bry, todas registrando atos de canibalismo praticados pelos nativos. Detalhe: nas três Adrianas que representam três diferentes raças, foram arrancados um dos olhos, "como faziam as senhoras dos escravos, invejosas das mucamas, amantes de seus maridos", lembra Lilia Schwarcz.

Subversão. A pintura de Adriana é feita de imagens de violência e canibalismo. É uma réplica da história sangrenta registrada pelos pintores viajantes e por artistas que jamais pisaram no Brasil, como Theodore de Bry (1528-1598), um ourives e gravador fascinado pelo Novo Mundo, que retratou cenas de canibalismo relatadas por Hans Staden. De Bry teve de fugir para a Alemanha, perseguido por católicos espanhóis. "Uso essa iconografia para subverter", nota a artista. E subverte mesmo, acentua a historiadora Lilia Schwarcz, citando o exemplo de sua intervenção na paisagem brasileira idealizada por Taunay, destruída pela inserção de blocos de tinta vermelha assemelhados a nacos de carne.

Há no livro outros exemplos de subversão, como duas pinturas que fazem uma releitura erótica de Debret. Em duas telas denominadas Filho Bastardo (uma de 1992 e outra de 1995), é possível identificar um senhor de escravos de um aquarela de Debret, Um Jantar Brasileiro (1827), seviciando a escrava. Numa outra releitura, é um padre católico que assume o estupro. Nada disso passou pela cabeça de Debret, um neoclássico. "A gente aprendeu a ver o Brasil a partir do olhar estrangeiro", observa Lilia Schwarcz, destacando o papel de Adriana como "detonadora de dúvidas", uma pintora que vem "problematizar", mais do que explicar.

Barroca. É essa tensão entre o neobarroquismo de Adriana e o ideal neoclássico debretiano que transforma a visão do sistema escravocrata brasileiro na época colonial. Em Debret, os escravos são atletas, segundo a historiadora. Na reinterpretação de Adriana, eles são vítimas de sevícias. O "não dito" em Debret vira um grito estridente nas pinturas da carioca. A historiadora conta que se interessou por sua obra pela irreverente interpretação dos azulejos portugueses – que, aliás, são belos exemplos de caninalismo artístico, roubando o azul da porcelana chinesa. "Até inventei o verbo azulejar para definir a obra de Adriana, porque ela pavimenta um caminho em que dialoga diretamente com o barroco, alterando o contexto original dessas obras, ou seja, sem saudosismo ou sentimento nostálgico".

Adriana diz que o barroco é "sensacional" e que grandes gênios da arte latina – Aleijadinho, por exemplo – provam como a miscigenação deu certo abaixo do Equador. "Sou produto disso e me sinto constantemente inspirada pela teatralidade, pela paixão do barroco". Esse canibalismo estético é ditado pelas leis de antropofagia oswaldiana, ou seja, pela constatação modernista de que nunca fomos civilizados e vivemos canibalizando outras culturas, o que nos transforma em seres mais fortes, alimentados pelo espírito do inimigo. A erotização tropical entra como um elemento a mais (como na livre releitura de Debret, em que o padre estupra a negra).

Após o desmonte da iconografia construída pelos pintores viajantes, Adriana agora leva para o estrangeiro sua nova produção. Ela abre duas mostras nos EUA: uma em Nova York, na Lehmann Maupin Gallery (dia 24) e outra em Boston, no ICA Boston, dia 18 de novembro.
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Lilia Moritz Schwarcz e Adriana Varejão
Número de páginas:
360
ISBN:
978-85-60965-53-3
Encadernação:
Capa dura
Formato:
21 x 26 cm
Ano de edição:
2014

R$ 90,00

Pérola imperfeita: A história e as histórias na obra de Adriana Varejão

Em Pérola imperfeita: A história e as histórias na obra de Adriana Varejão, a antropóloga e historiadora Lilia Moritz Schwarcz percorre os caminhos de pesquisa e construção da obra de Adriana Varejão, tecendo um diálogo entre a releitura da história por parte da artista e as várias possibilidades narrativas enredadas nesse processo criativo. Este livro feito a quatro mãos pela artista e pela antropóloga, perpassa a colonização europeia na América, a reconfiguração da tradicional azulejaria portuguesa, a miscigenação e o contato direto com a cultura Yanomami, entre muitos outros caminhos. Aqui, texto e imagem disputam o mesmo espaço, aprofundando a reflexão sobre as relações entre a história e a arte.

domingo, março 09, 2014

12 ANOS DE ESCRAVIDÃO - UMA CORREÇÃO HISTÓRICA

Fonte:Sítio "North American Slave Narrativas" - http://docsouth.unc.edu/fpn/northup/support1.html

THE KIDNAPPING CASE. Narrative of the Seizure and Recovery of Solomon Northrup. INTERESTING DISCLOSURES.

FROM New York Times 20 Jan. 1853.

Note: Throughout this article, the author misspells Solomon Northup's last name as "Northrop." The text is presented exactly as printed originally.

We have obtained from Washington the subjoined statement of the circumstances attending the seizure and recovery of the negro man SOLOMON NORTHROP, whose case has excited so high a degree of interest. The material facts in the history of the transaction have already been given, but this narrative will be found a more complete and authentic record than has yet appeared:
SOLOMON NORTHROP, the subject of the following narrative, is a free colored citizen of the United States; was born in Essex County, New York, about the year 1803; became early a resident of Washington County, and married there in 1829. His father and mother resided in the County of Washington about fifty years, till their decease, and were both free. With his wife and children he resided at Saratoga Springs in the Winter of 1841, and while there was employed by two gentlemen to drive a team South, at the rate of a dollar a day. In fulfilment of his employment he preceeded to New-York, and having taken out free papers, to show that he was a citizen, he went on to Washington City, where he arrived the second day of April, the same year, and put up at GADSBY'S Hotel. Soon after he arrived, he felt unwell and went to bed.
While suffering with severe pain some persons came in, and, seeing the condition he was in, proposed to give him some medicine and did so. That is the last thing of which he had any recollection until he found himself chained to the floor of WILLIAMS' slave pen in this City, and handcuffed. In the course of a few hours, JAMES H. BURCH, a slave dealer, came in, and the colored man asked him to take the irons off from him, and wanted to know why they were put on. BURCH told him it was none of his business. The colored man said he was free and told where he was born. BURCH called in a man by the name of EBENEZER RODBURY, and they two stripped the man and laid him across a bench, RODBURY holding him down by his wrists. BURCH whipped him with a paddle until he broke that, and then with a cat-o'-nine tails, giving him a hundred lashes, and he swore he would kill him if he ever stated to anyone that he was a free man. From that time forward the man says he did not communicate the fact from fear, either the fact that he was a free man, or what his name was, until the last summer. He was kept in the slave pen about ten days, when he, with others was taken out of the pen in the night, by BURCH, handcuffed and shackled, and taken down the river by a steamboat, and then to Richmond, where he with forty-eight others was put on board the brig Orleans. There BURCH left them. The brig sailed for New-Orleans, and on arriving there, before she was fastened to the wharf, THEOPHILUS FREEMAN, another slave dealer, belonging in the city of New-Orleans, and who in 1838 had been a partner with BURCH in the slave trade, came to the wharf and received the slaves as they were landed, under his direction. This man was immediately taken by FREEMAN and shut up in his pen in that city. He was taken sick with the small pox immediately after getting there, and was sent to a Hospital where he lay two or three weeks. When he had sufficiently recovered to leave the hospital, FREEMAN declined to sell him to any person in that vicinity, and sold him to a Mr. FORD, who resided in Rapides parish, Louisiana, where he was taken and lived a little more than a year, and worked as a carpenter, working with FORD at that business.
FORD became involved and had to sell him. A Mr. TIBAUT became the purchaser. He in a short time sold him to EDWIN EPPES in Bayou Beouf, about one hundred and thirty miles from the mouth of Red River, where EPPES has retained him on a Cotton plantation since the year 1843.
To go back a step in the narrative, the man wrote a letter in June 1841 to HENRY B. NORTHROP, of the State of New-York, dated and post marked at New-Orleans, stating that he had been kidnapped and was on board a vessel, but was unable to state what his destination was; but requesting Mr. N. to aid him in recovering his freedom, if possible. Mr. N. was unable to do anything in his behalf in consequence of not knowing where he had gone, and not being able to find any trace of him. His place of residence remained unknown, until the month of September last, when the following letter was received by his friends:
BAYOU BEOUF,
August, 1852
Mr. WM. PENY, or Mr. LEWIS PARKER:
GENTLEMEN: It having been a long time since I have seen or heard from you, and not knowing that you are living, it is with uncertainty that I write to you; but the necessity of the case must be my excuse. Having been born free just across the river from you, I am certain you must know me; and I am here now a slave. I wish you to obtain free papers for me, and forward them to me at Marksville, La., Parish of Avovelles, and oblige
Yours,
SOLOMON NORTHROP
On receiving the above letter, Mr. N. applied to Governor HUNT, of New-York, for such authority as was necessary for him to proceed to Louisiana, as an agent to procure the liberation of SOLOMON. Proof of his freedom was furnished to Governor HUNT, by affidavits of several gentlemen, General CLARKE among others. Accordingly, in pursuance of the laws of New-York, HENRY B. NORTHROP was constituted an agent to take such steps, by procuring evidence, retaining counsel, &c., as were necessary to procure the freedom of SOLOMON, and to execute all the duties of his agency. He left Sandy Hill, in New-York, on the 14th of December last, and came to the city of Washington, and stated the facts of the case to Hon, PIERRE SOULE, of Louisiana; Hon, Mr. CONRAD, Secretary of War, from New-Orleans, and Judge NELSON, of the Supreme Court of the United States, and other gentlemen. They furnished Mr. N, with strong letters to gentlemen residing in Louisiana, urging their assistance in accomplishing the object of restoring the man to freedom.
From Washington, Mr. N. went, by the way of Pittsburg and the Ohio and Mississippi rivers, to the mouth of the Red River, and thence up that river to Marksville, in the parish of Avovelles, where he employed Hon, JOHN P. WADDILL, an eminent lawyer of that place, and consulted with him as to the best means of finding and obtaining possession of the man. He soon ascertained that there was no such man at Marksville, nor in that vicinity. Bayou Beouf, the place where the letter was dated, was twenty-three miles distant, at its nearest point, and is seventy miles in length. For reasons which it is unnecessary to give, the very providential manner in which the residence of the man was ascertained, cannot now be given, although the circumstances would add much to the interest of the narrative. But he was found without great difficulty, and legal proceedings commenced. A process was placed in the hands of a Sheriff, directing him to proceed to Bayou Beouf and take the colored man into his possession, and wait the order of the Court in regard to freedom. The next day, the owner, with his counsel, came to Marksville and called upon Mr. N., who exhibited to them the commission which he had received from the Governor of New-York, and the evidence in his possession relating to the man's being a free citizen of New-York.
EPPES' counsel, after examining it, stated to his client, that the evidence was ample and satisfactory; that it was perfectly useless to litigate the question further, and advised him by all means to deliver the colored man up, in order that he might be carried back to the State of New-York, in pursuance with the Governor's requisition. An article was drawn up between the claimant and Mr. NORTHRUP, the counsel for the colored man, and recorded in accordance with the laws of the place, showing that the colored man was free. Having settled everything satisfactorily, the agent and the rescued man started for New-Orleans on the 4th of January instant, and on arriving there, traced the titles of the colored man from TIBAUT to EPPES, from LORD to TIBAUT, and from FREEMAN to FORD-all the titles being recorded in the proper books kept for that purpose.
Having traced the titles back as far as possible in New-Orleans, the party then proceeded to the City of Washington, where BIRCH lived; and on making inquiry, found who was the keeper of the slave pen in 1841; and also ascertained from the keeper, upon the colored man (SOLONON N.) being pointed out to him--that he was placed in that pen in the Spring of 1841, and then kept for a short period by BURCH.
Immediately upon the receipt of this information, complaint was made before the Police of Washington against BURCH, for kidnapping and selling into slavery a free colored man. The warrant for his arrest was issued on the 17th instant by Justice GODDARD, and returned before Justice MANSELL. BURCH was arrested and held to bail in the sum of $3,000, SHEKELS, a slave-trader of seventeen years standing, going his bail.
It is but justice to say that the authorities of Avovelles, and indeed at New-Orleans, rendered all the assistance in their power to secure the establishment of the freedom of this unfortunate man, who had been snatched so villainously from the land of freedom, and compelled to undergo sufferings almost inconceivable in this land of heathenism, where slavery exists with features more revolting than those described in "Uncle Tom's Cabin."
On the 18th instant, at 10 o'clock, both parties appeared before the magistrate. Senator CHASE from Ohio, Gen. CLARK, and HENRY B. NORTHRUP, being counsel for the plaintiff, and J. H. BRADLEY for the defendant. Gen. CLARK and E. H. NORTHRUP, who were sworn as witnesses on the part of the prosecution, and established the foregoing facts. On the part of the defendant, BENJAMIN SHEKELS and B. A. THORN were sworn. The prosecution offered the colored man who had been kidnapped, as a witness on the part of the prosecution, but it was objected to, and the Court decided that it was inadmissable. The evidence of this colored man was absolutely necessary to prove some facts on the part of the prosecution, as he alone was cognizant of them.
Mr. SHEKELS, who had been, as before stated a slave trader in the City of Washington seventeen years, testified that some ten or twelve years ago he was keeping public house in this city; that BURCH boarded at the house and carried on the business of buying and selling slaves; that in that year, two white men came into his barroom and stated that they had a slave for sale. Mr. BURCH immediately entered into a negotiation for his purchase. The white men stated that they were from Georgia; had brought the negro with them from that State, and wished to sell him to be carried back to that State; that the negro expressed a willingness to be sold in order to return to Georgia; SHEKELS, however, was unable to state the names of either of the white men, or the name of the colored man; was unacquainted with either of them previous to that time, and had never seen either since that transaction; that he saw them execute a bill of sale to BURCH, saw BURCH pay him $625 and take the bill of sale, and that he read that bill, but could not tell who was the vendor nor who was the person sold, as appeared by the bill of sale.
Mr. THORN was next called upon the stand, and testified that he was in this tavern in the Spring of the year 1841, and saw a white man negotiating a trade with BURCH for a colored man; but whether this was the colored man or not, he could not tell-for he never saw either white man or colored man but that once, and did not know whether or not BURCH bought and paid for him.
BURCH himself was next offered as a witness in his own behalf, to prove the loss of the bill of sale. His evidence was objected to by the prosecution, but was allowed by the Court. He testified that he had the bill of sale and had lost it, and did not know what had become of it. The counsel for the prosecution requested the Court to send a police officer to bring the books of BURCH, containing his bills of sales of negroes for the year 1841 and previous years. They were fortunately procured, but no bill of sale was found of this colored man by any name. Upon this positive evidence that the man had been in the possession of BURCH and that he had been in slavery for a period of more than eleven years, the Court decided that the testimony of the slave trader established the fact that BURCH came honestly by him, and consequently discharged the defendant. The counsel for the defendant had drawn up, before the defendant was discharged, an affidavit signed by BURCH, and had a warrant out against the colored man, for a conspiracy with the two white men before referred to, to defraud BURCH out of $625. The warrant was served, and the colored man arrested and brought before Officer GODDARD. BURCH and his witnesses appeared in Court, and H. B. NORTHRUP appeared as counsel for the colored man, stating that he was ready to proceed as counsel on the part of the defendant, and asking no delay whatever. BURCH, after consulting privately for a short time with, stated to the Magistrate that he wished him to dismiss the complaint, as he would not proceed further with it. Defendant's counsel stated to the Magistrate that, if the complaint was withdrawn, it must be withdrawn without the request or consent of the defendant. BURCH then asked the Magistrate to let him have the complaint and the warrant, and he took them. The counsel for the defendant objected to his receiving them, and insisted that they should remain as a part of the records of the Court, and that the Court should indorse the proceedings which had been had under the process. BURCH delivered them up, and the Court rendered a judgment of discontinuance by the request of the prosecutor, and filed it in his office.
The condition of this colored man during the nine years that he was in the hands of EPPES, was of a character nearly approaching that described by Mrs. STOWE, as the condition of "Uncle Tom" while in that region. During that whole period his hut contained neither a floor, nor a chair, nor a bed, nor a mattress, nor anything for him to lie upon except a board about twelve inches wide, with a block of wood for his pillow, and with a single blanket to cover him, while the walls of his hut did not by any means protect him from the inclemency of the weather. He was sometimes compelled to perform acts revolting to humanity, and outrageous in the highest degree. On one occasion, a coloured girl belonging to EPPES, about 17 years of age, went one Sunday without the permission of her master, to the nearest plantation, about half a mile distant, to visit another colored girl of her acquaintance. She returned in the course of two or three hours, and for that offence she was called up for punishment, which SOLOMON was required to inflict. EPPES compelled him to drive four stakes into the ground at such distances that the hands and ancles of the girl might be tied to them, as she lay with her face upon the ground; and having thus fastened her down, he compelled him while standing by himself, to inflict one hundred lashes upon her bare flesh, she being stripped naked. Having inflicted the hundred blows, SOLOMON refused to proceed any further. EPPES tried to compel him to go on, but he absolutely set him at defiance and refused to murder the girl. EPPES then seized the whip and applied it till he was too weary to continue. Blood flowed from her neck to her feet, and in this condition she was compelled the next day to go in to work as a field hand. She bears the marks still upon her body, although the punishment was inflicted four years ago.
When SOLOMON was about to leave, under the care of Mr. NORTHRUP, this girl came from behind her but, unseen by her master, and throwing her arms around the neck of SOLOMON congratulated him on his escape from slavery, and his return to his family, at the same time in language of despair exclaiming, "But, Oh, God! what will become of me?"
These statements regarding the condition of SOLOMON while with EPPES, and the punishment and brutal treatment of the colored girls, are taken from SOLOMON himself. It has been stated that the nearest plantation was distant from that of EPPES a half mile, and of course there could be no interference, on the part of neighbors in any punishment however cruel, or however well disposed to interfere they might be.
By the laws of Louisiana no man can be punished there for having sold SOLOMON into slavery wrongfully, because more than two years had passed since he was sold; and no recovery can be had for his services, because he was bought without the knowledge that he was a free citizen.