sábado, setembro 29, 2007

OCUPAÇÃO E GREVE NA FUNDAÇÃO SANTO ANDRÉ

Comentário Moisés Basílio: Recebi e publico a mensagem de apoio que meu filho Pedro enviou aos companheiros da Fundação Santo André. Axé!

OBS: Esta mensagem segue como apoio contra os atos arbitrários que o Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA) e seus administradores vêm tendo contra os alunos que lutam pelos direitos de uma educação pública e de qualidade. Mais informações sobre o assunto visitem: http://ocupacaofsa.blogspot.com

Salve, salve companheiros da FSA!

É com grande satisfação que escrevo esta mensagem, já que acompanhei e venho acompanhado os atos de selvageria por parte de um grupo, representado pela desgraça pelada do senhor excelentíssimo reitor Odair Bermelho, que está preocupado em servir as exigências do mercado indo contra um modelo de Universidade que precariamente está vigente em nosso país e na America Latina desde o levante em Córdoba.
Creio não ser um problema exclusivo do Centro Universitário Fundação Santo André: o sucateamento, a falta de investimento, a qualidade na formação, o suporte para alunos pobres, etc. Digo essas palavras, pois sabemos que a invasão de faculdades privadas com o aval do MEC, entre outras coisas, liberando cursos de licenciatura curta é apenas o começo para um projeto bem maior que é a total mercantilização da educação. Não podemos nos esquecer que esse processo de sucateamento do ensino público já está em vigor há tempos. Quem já não viu ou ouviu falar do ensino público de antigamente, que se tinha vestibulinhos para entrar nas escolas públicas e quem estudava em escola privada era apenas pessoas endinheiradas que não passavam nos testes públicos. Eu mesmo tenho boas recordações do ensino público na época em que a ex-prefeita Luiza Erundina exercia o cargo na cidade de São Paulo.
Hoje com todos os problemas ainda nos deparamos com a reforma universitária que tenta resolver problemas de vagas apenas aumentando as mesmas sem que haja verbas para novos professores serem contratados, ou ainda, com a proposta de diversificar cursos como vemos na USP Leste e Universidade Federal do ABC, com cursos de humanidades, tecnologias, gestão ambiental, etc não se preocupando com a qualidade da formação dos jovens, já que essa formação é genérica, sem profundidade e com objetivos finais bem definidos e claros, isto é, visando o mercado. Talvez fique mais claro se eu usar um exemplo dado pelo Prof° Roberto Leher da Universidade Federal do Rio de Janeiro: è como se você entrasse no shopping onde todos tem acesso e podem se deliciar vendo os produtos expostos nas vitrines das lojas mais chiques, produtos esses que durarão muito tempo, que serão recordados ao longo da vida, etc, porém essas opções custam dinheiro e então você se contenta com um pacotão da loja de departamentos(C&A, Lojas Americanas e assim por diante). Então ao invés de fazer Geografia que lhe custará mais tempo e conseqüentemente mais dinheiro ele fará Gestão Ambiental, ou seja, um pacotão genérico e sem profundidade.
Pode-se ainda perguntar-se: não será bom um curso com menos duração? A pessoa não sairá com uma carreira? O aumento de vagas não será uma forma de inclusão? Não é interessante a diversificação dos cursos?
Ora , vamos pegar o que disse o Reitor da Federal da Bahia: - já que hoje se vive um momento, no processo do desenvolvimento capitalista, que o trabalho é flexível e que as pessoas não tem carreiras especificas para seguir, então a formação dessas pessoas deveria ser flexível também. Interessantíssimo um reitor de uma Universidade pública afirmar isso, pois ele pode deter o Poder do conhecimento de fato, enquanto a massa se contentará com o pacotão da loja de departamentos.
Indo mais fundo e fazendo uma analise mais global, vemos que a onda do etanol no Brasil não é resultado de uma decisão governamental apenas e sim uma necessidade dita mundial, mas que na verdade atende interesses de nações nortistas, tais como, estadunidense, união européia e Japão, fundamentalmente. Se for verdade está afirmação, não teria dedos imperialistas por trás dessa reestruturação do ensino público no Brasil? Porque não se Reestrutura a Harvard ou então a Universidade de Berlim? Porque não diversificam seu conhecimento?
Uma Coisa certa é que precisamos de intelectuais e pesquisadores em nosso país, tanta vezes conduzido pelo coronelismo, igreja, industriais, corporações e lobbystas. Só na região do Amazonas, segundo estimativas, precisamos de milhares de Doutores. Precisamos pensar o futuro do país e do mundo, porém embasado em conhecimento verdadeiro. Não digo aqui que o conhecimento positivo que vem sendo construído desde o período da modernidade será a salvação, porém muito menos esse que estão querendo nos impor. Partiremos dele sim, pois é o que está posto! Mas queremos mais, eu quero mais! Quero um conhecimento sem doutrinas ou paradigmas, um conhecimento que possa ser questionado. Fora a racionalização e que paire a racionalidade. “A verdadeira racionalidade conhece os limites da lógica, do determinismo e do mecanicismo... É não só crítica, mas autocrítica” (MORIN, E. – Os sete saberes necessários à educação do futuro – p. 23).
Creio ter me alongado na discussão, porém o que quero deixar claro é a necessidade de apoio as instituições públicas e a Fundação faz parte desse rol. E mais, é uma Universidade com um histórico de luta e que foi fundada para atender a classe operária que ali era crescente. Com o passar dos anos a Fundação Santo André que não cobrava nada passou a cobrar um valor simbólico e hoje vemos mensalidades que ultrapassam os R$ 500,00. Vemos aqui que as apropriações dos espaços públicos não se dão de uma hora pra outra e pior se dão dentro de uma legalidade democrática e com o cansaço da população que necessita desses lugares. Se conversássemos com o Capeta sem dente, isto é, o reitor ele nos afirmaria que os cursos só estão fechando, pois não há concorrentes no vestibular e são necessários tantos alunos para abrir uma sala ou poderia dizer que a FAFIL, principal prejudicada pela perda de salas, não dá lucro.
E digo mais: A fundação Santo André se diferencia, talvez, das outras universidades públicas, pois lá as pessoas estão a fim de aprender de fato, já que lá não se tem possibilidade de uma pós-graduação, mensalidades são abusivas e também a lógica dos colegiados perpassam a quantidade de produções científicas publicadas e o foco é a qualidade do ensino.
Ora, porque ele não lutou para que a implementação da federal do ABC fosse a fundação já que essa tinha uma estrutura montada, porém como já foi dito acima talvez não fosse interesse do governo federal o modelo de Universidade da Fundação que faz pensar. A federalização não eliminaria a falta de interesse por vaga? Pelo que me consta as pessoas não desanimaram de estudar e sim não tem incentivo e em muitos casos olham grade horária da Fundação Santo André e tem que pagar R$500,00, tem aulas de sábado, duração de 4 anos o curso e pelo outro lado as instituições privadas de ensino que cercaram a Fundação cobram R$300,00 e são apenas 3 anos. Claro que de um lado a Fundação oferece licenciatura e bacharelado de qualidade e outras privadas (UNIBAM,UNIP,...) são os cursos de licenciatura curta como já citado acima.
Pergunta-se: A perda de qualidade na formação de profissionais não está legitimada? Se a fundação Santo André é pública então porque se cobra R$500,00 de mensalidade? Os cursos de licenciatura curta estão preocupados com a qualidade dos futuros professores da região?
Apesar de quere falar mais e poder estar ai ajudando neste momento de luta que eu sempre sonhei que aconteceria, deixo aqui meu apoio à ocupação, ao acampamento (PESSOAL DA RESISTÊNCIA) e que tenhas forças a cada dia para lutar contra uma força local, mas que não deixa de refletir o modo de vida e produção da Sociedade industrial capitalista desenvolvida e a qual estamos condicionados.
Saudações brasilianas,
Pedro Carignato B. Leal
Ex-aluno de Geografia da Fundação Santo André e atual aluno de Geografia da Federal de Uberlândia

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