domingo, março 30, 2008

A educação, entre o balcão e o ensino

COMENTÁRIOS MOISÉS BASÍLIO: Alguns discursos e notícias sobre educação ecoaram pela mídia durante as duas últimas semanas do mês de março de 2008. Os preparativos para a "Provinha Brasil", que o MEC realizará este ano, pois em destaque os números desfavoráveis entre a relação aprendizagem e anos de estudos. Também ganhou evidência os estudo elaborado pela UNICEF, das 37 redes municipais de educação que estão dando certo, e realizando experiências significativas em educação. Também deu repercutiu a entrevista do ministro da educação, dada à Folha de São Paulo, que discorreu sobre os principais problemas da educação.
Para alinhavar esse conjunto de discursos, reflexões e notícias, que forma um pequeno dossiê - palavra meio provocativa na atual conjuntura - de temas que formam a complexidade que é o problema da educação hoje em dia, selecionei um texto do Profº. José de Souza Martins que tem o mérito de dialogar com esses problemas de maneira crítica.


Fonte: Jornal "O Estado de São Paulo" - Caderno Alias - 30/03/2008.
A lógica do preço por quilo é para salsichas, não para escolas

José de Souza Martins

As reiteradas e desencontradas notícias sobre o ensino e a educação no Brasil nem sempre tocam no essencial. De um lado, espetaculares estatísticas sobre matrículas nos vários níveis de ensino sugerem que crescente e alta proporção de brasileiros tem acesso à escola e por ela se interessa. De outro lado, porém, notícias de rendimentos escolares muito aquém do mínimo numa sociedade com as aspirações e as necessidades da nossa sugerem que o êxito numérico nas estatísticas seja contrabalançado por fracassos melancólicos no aprendizado. Portanto, muita gente estudando e pouca gente aprendendo. Nossa educação não está preparando as novas gerações para que o Brasil idílico tire as patas do Terceiro Mundo e ponha os pés no mundo moderno e desenvolvido. Porque, se continuarmos nessa relutância educacional e nesses resultados desalentadores, nosso destino será, inevitavelmente, o passado, de quando os brasileiros que trabalhavam eram politicamente classificados como semoventes.

Essas preocupantes adversidades não devem se sobrepor ao fato de que há no País generalizado apreço pela educação e disseminada vontade de aprender. Fazendo pesquisas em remotas regiões do Brasil, conheci esforços comoventes de pais muito pobres para assegurar aos filhos a escolarização sem a qual, sabem, estarão eles condenados à vida sem perspectiva que ameaça os faltos de escolaridade. Em lugares de absoluta ausência do poder público, pais pagando professores leigos com gêneros colhidos na roça para que em troca ensinassem a seus filhos o fundamental para transitar neste complicado mundo de letras e escritos. Ou crianças caminhando pelo vazio dos ermos para, na casa de pau-a-pique de um mestre-escola, sentadas em tamboretes de couro cru, usando os joelhos como carteira, aprenderem a desenhar as letras enigmáticas do grande e misterioso mundo que as relegou à orfandade cultural. Armei minha rede em muitos casebres, por aí, cujos donos se orgulhavam de ter em casa até “livros”, como os almanaques de farmácia e suas preciosas informações sobre as fases da lua e as épocas de plantio de plantas que conheciam só de nome, ou modos de fazer sabão com o óleo de sementes para não dependerem só do sebo. Sem contar as folhinhas de Santo Antônio ou do Sagrado Coração, com as mesmas fases da lua, o número do dia bem grande, e, no verso, o conselho do dia. Coisas de quem quer ler e saber.

Outro indício dessa valorização da escola é, sem dúvida, o êxito da escolarização promovida pelo MST, apesar dos conteúdos pedagógicos discutíveis e dos simplismos ideológicos que empobrecem as metas educativas e, nesse particular, suprem carências de saber com outras ignorâncias. Em particular na mutilação da utopia da universalidade do ser e do direito. Mas nem por isso deve-se deplorar o justo colocar ao alcance de gente no geral muito pobre e desprovida o acesso à leitura e ao livro, ao aprendizado, a saberes alternativos, a formas defensivas de cultura e de compreensão. Sobretudo porque a ideologia educacional do MST tem a coerência que falta à ideologia sindicalista dos professores da rede pública e privada de ensino: a escola dos sem-terra liga-se ao projeto utópico de um modo de vida que é viável e representa uma resistência legítima às diferentes forças que, em nome da grande economia multinacionalizada e voraz, nulificam valores, crenças, maneiras de viver e capitais sociais acumulados ao longo dos séculos. Mesmo na dureza de acampamentos instáveis, não falta a escola do professor voluntário que em nome de uma esperança e no meio do desespero ensina aos imaturos que na educação reside uma das poucas saídas da sociedade contemporânea.

Avaliação recente da qualidade das escolas mostrou que os melhores resultados estão em municípios que não se destacam pela exuberância econômica. São aquelas localidades em que ainda há lugar para um estilo comunitário de vida, norteado por valores tradicionais, em que os pais se sentem parte da instituição, em que a escola é considerada uma extensão da casa e das missões da família, em que o professor é tratado com admiração e respeito. Tudo muito longe da racionalidade econométrica e quantitativa, em que o aprendizado é mero subproduto do diploma.

O que surpreende em tudo isso é que o déficit da educação brasileira só não é maior por conta dessas iniciativas enraizadas em objetivos conservadores e esperanças restritas, até estranhas em relação às grandes funções da educação moderna, iniciativas à margem das responsabilidades e possibilidades do Estado e do governo. Iniciativas em contraste com a modernidade que pode dar à educação sua verdadeira missão civilizadora, sobretudo no estabelecimento de metas mais amplas e consistentes, relativas aos grandes desafios de conhecimento que se erguem diante do homem contemporâneo, para o qual a mera capacidade de ler está muito aquém do que se faz urgente e necessário.

Em manifestação estes dias, o próprio ministro da Educação, que é um educador, do corpo docente da melhor e mais bela expressão dessa esperança entre nós, de uma revolução social pela via da universidade pública e gratuita, que é a Universidade de São Paulo, reconheceu a gravidade da crise educacional. Assinalou quanto o ensino médio é o momento problemático da redução na qualidade do ensino e quanto o Estado perdeu o controle do processo educacional ao recorrer à privatização do ensino e à lógica do mercado como meios de ampliar a oferta de vagas.

O mesmo ministro anunciou uma segunda onda de cancelamento de milhares de vagas no ensino superior, nos cursos de direito, para ajustar a oferta de vagas à qualidade do que se ensina nessas escolas. Tudo de difícil remendo no curto prazo, sem contar os egressos desses cursos que não foram alcançados pela tentativa tardia, mas necessária, de colocar um filtro de qualidade no acesso às escolas de terceiro ciclo e de frear a sobreposição do lucro ao ensino.

Já no regime militar o governo alargara a opção pela expansão do ensino pela via da coadjuvância de empresas que vendessem serviços educacionais, em detrimento de maciça opção pela escola pública e gratuita. Aquela opção perdura até hoje, como se viu com o Prouni, um programa de subsídio às escolas privadas de terceiro grau em vez de amplo investimento nas universidades públicas. Em vez de expansão significativa da rede de escolas superiores gratuitas, de corpo docente recrutado segundo os rigores próprios das grandes universidades, de acordo, aliás, com a lei, escolas equilibradamente devotadas à docência e à pesquisa, sem cuja combinação a escola de terceiro ciclo não é mais do que mera escola técnica superior.

Em entrevista recente à Folha de S. Paulo, o ministro tocou num ponto delicado dessa inversão de valores que em boa parte responde pela crise da educação brasileira, quando disse que antes o Estado avaliava e o mercado regulava, mas que sua compreensão é a de que “o Estado deve avaliar e regular”. Cauteloso, não tocou no fato de que o Conselho Federal de Educação e os conselhos estaduais se regem hoje pelos valores de uma concepção de educação que anula a função prioritária do Estado na definição de conteúdos educacionais, modos de ensinar e metas nacionais de educação de conformidade com o prioritário interesse público. Enquanto a educação pública tiver que concorrer com a educação privada, como se fosse empresa de serviços educativos bancados pelo Estado e concorrente das empresas privadas, não haverá saída para o impasse.

Um dos grandes empecilhos às mudanças rápidas e necessárias é, além do mais, o descompromisso dos docentes da escola pública e da escola particular com as funções propriamente sociais da educação, muito além da mera formação profissional. Desde a ditadura perdidos na teia sindical e das lutas sindicais, sucumbiram às demandas da sobrevivência em face da degradação de suas condições de trabalho, e reduziram suas demandas aos interesses pessoais e corporativos. Deixaram de lado um aspecto do que já foi chamado de sacerdócio do professor, abrindo mão da missão própria do educador que é a de assegurar a realização das metas propriamente educativas do ensino, sem nenhuma concessão a mediações partidárias e econômicas que atravessem e subjuguem o essencial e prioritário.

O econometrismo educacional bloqueia e distorce a educação brasileira, equiparando-a a uma mercadoria de carregação, equivalente das que podem ser adquiridas dos marreteiros que nas feiras de todo o País anunciam os sucedâneos de tudo que se deseja e não se pode, o xarope de catuaba que dá a ilusão da vitalidade a quem dela carece, a educação que custa menos e distribui mais diplomas, dando a impressão de sabido a quem sabido não é.

Tudo fazemos para nos enganar. Quando se estabeleceu que os professores do ensino elementar deveriam ter formação superior, o próprio governo aceitou todo tipo de improvisação, com cursinhos de fim de semana. Contentou-se com a cartorial solução, bem brasileira, de que o papel substitui a competência. Milhares de docentes formados pacientemente nas universidades, no entanto, estão aí ao deus-dará dos empregos precários ou do desemprego em vez de serem recrutados como agentes de uma nova e mais ambiciosa educação brasileira. O ensino em tempo integral, previsto pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que deveria ter sido implantado até 2002 não o foi até hoje. Isso implicaria definir gabaritos justos e rigorosos seja para a qualificação dos docentes seja para seu salário, o que colide com o econometrismo que devasta a educação brasileira. A lógica da produção, do vale quanto pesa, do preço por quilo, que vai bem numa fábrica de salsichas, mas vai muito mal numa escola, sobrepôs-se à lógica da formação e, propriamente, da educação. Sem a precedência do educador na educação, nossa escola continuará dominada pela lógica do balconista. Ou escapamos dessa ou nos perderemos de nós mesmos. Em educação só devem ter lucro o aluno e o País.

*José de Souza Martins é professor titular de Sociologia da Faculdade de Filosofia da USP



SEGUNDA, 24 DE MARÇO de 2008
Campeões de aprendizagem

Pesquisa da Unicef revela: a aplicação de dez metas indispensáveis para uma educação básica de qualidade fez de 37 municípios brasileiros “campeões” em aprendizagem escolar. A regra de ouro, dizem professores de Marilena (PR), é não deixar nenhum aluno para trás.

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo – Vida & - 23/03/2008.

Um terço dos estudantes de 4ª série sabe o equivalente a um aluno da 1ª

Ministério da Educação elabora parâmetros inéditos para dizer o que se deve esperar da criança em cada fase escolar

Lisandra Paraguassú, BRASÍLIA

Um terço das crianças brasileiras matriculadas na 4ª série do ensino fundamental não sabe nem sequer o que deveriam ter aprendido ao final do 1º ano de escola. A conclusão, desta vez, é oficial, e parte de um estudo ainda inédito preparado pelo Instituto de Estatísticas e Pesquisas Educacionais (Inep), ligado ao Ministério da Educação, e obtido com exclusividade pelo Estado. Pela primeira vez, o ministério criou parâmetros para dizer objetivamente o que um aluno deve saber em cada nível de escolaridade. A conclusão é que as crianças vão à escola, mas isso está longe de significar que estão aprendendo.

A base do estudo são os resultados da chamada Provinha Brasil, a primeira avaliação de alfabetização feita no País, que começa a ser repassada para os Estados neste mês. Para poder dizer a cada Secretaria de Educação se seus alunos sabem o que deveriam saber ao final da alfabetização, foi criada uma escala com cinco níveis.

O quarto nível, em que um estudante deve ser capaz de ler textos curtos com vocabulário comum na escola, foi considerado pelo Inep como o ideal para um menino de, normalmente, 8 anos que esteja terminando a 1ª série primária - ou o 2º ano, na nova metodologia do ensino fundamental de nove anos.

A comparação dessa escala com a do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) - a avaliação da 4ª e 8ª séries do fundamental e 3º ano do ensino médio, feita a cada dois anos - mostra que esse quarto nível corresponde de forma muito aproximada à pontuação de 125 a 150.

Porém, na 4ª série (ou, agora, o 5º ano do fundamental), um terço dos estudantes brasileiros avaliados em 2005 não passou desse nível. Se forem consideradas apenas as escolas públicas - descontadas as federais, que costumam puxar as notas para cima -, esse índice ainda fica um pouco pior: 33,3%. Nas redes municipais chega a 35%.

São crianças terminando a 4ª série, prestes a entrar em um mundo escolar ainda mais complexo, e que não conseguem entender o enunciado de uma questão ou mesmo uma historinha mais longa. E essa realidade fica ainda pior quando se olham as diferenças regionais.

Mesmo com melhorias recentes, o Nordeste ainda mantém os piores indicadores: metade das crianças de 4ª série tem nível de 1ª. No Rio Grande do Norte, quase 60% estão nessa situação. Mesmo em São Paulo, o Estado mais rico do País, são 28,7% dos estudantes.

A escala preparada pelo Inep ainda permite calcular qual seria a pontuação ideal de um estudante da 4ª série/5º ano do fundamental: entre 200 e 210 pontos, seguindo a progressão natural do aprendizado.

No Saeb, 71% ficaram abaixo da média ideal

Alunos da rede pública foram ainda pior na avaliação realizada em 2005

Lisandra Paraguassú, BRASÍLIA

Cerca de 71% dos estudantes avaliados pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2005 ficaram abaixo da pontuação indicada como ideal para um estudante da 4ª série/5º ano do fundamental - entre 200 e 210 pontos -, segundo a nova escala elaborada pelo Inep. Nas escolas públicas, os que não atingiram a meta são 75,3%. O cruzamento de dados e a escala devem causar protestos, especialmente entre os especialistas em educação.

Apesar de o Saeb existir desde 1995, não havia uma definição para que se pudesse dizer se aquilo que os estudantes sabem é o suficiente para o ano escolar em que estão. A posição da maior parte dos especialistas era de que a aprendizagem é subjetiva e estabelecer parâmetros seria muito arbitrário. Isso apesar de as próprias escolas terem que fazer, todos os anos, essa avaliação “arbitrária” para dizer se seus estudantes aprenderam o suficiente para passar de ano.

“Com a criação do Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb), nós passamos a ter uma meta, um ponto ideal. A partir daí podemos trabalhar para dizer o que os estudantes devem saber em cada nível de ensino, se queremos chegar a essa meta em 2022”, explicou o presidente do Inep, Reynaldo Fernandes.

O Ideb foi apresentado pelo MEC em abril. Reúne os resultados do Saeb, de aprovação e abandono escolar para formar um índice para o País, para cada Estado e município.

O Ideb Brasileiro hoje é três. A meta é alcançar, em 2022, a nota seis, o que deixaria o Brasil dentro da média dos Países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), com quem o Brasil se compara - e sempre fica nos últimos lugares - em avaliações internacionais. A partir da criação do Ideb, cada Estado e município tem sua meta própria a ser alcançada nesse prazo.

“Essa é uma escala compatível com as metas do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). A idéia não é que se saia reprovando as crianças, mas que se faça um acompanhamento e se possa identificar os problemas para que elas aprendam como devem”, explica Reynaldo. E problemas não faltam para serem resolvidos.

NOVA ESCALA
A escala do Inep para avaliar a Provinha Brasil tem 5 níveis e pontos objetivos. Para considerar um aluno alfabetizado, a escala espera que ele chegue ao nível 4, que consiste em:

saber ler textos de 8 a 10 linhas e vocabulário simples
localizar informações
entender qual é o assunto do texto e sua finalidade
identificar o tipo de texto (um bilhete, uma piada)
identificar elementos como tempo, espaço e personagem

Para esse nível, é preciso acertar 21 ou 22 das 24 questões do Provinha Brasil (125 a -150 pontos no Saeb). No nível 3, 100 a 125; no 2, 75 a 100; no 1, menos de 75 pontos.

Mais informações sobre o IDEB - http://ideb.inep.gov.br/Site/

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Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 26/03/2008 – Cotidiano - http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2603200823.htm

SABATINA FOLHA/FERNANDO HADDAD

Ministro da Educação, Fernando Haddad, durante a sabatina

Ensino médio é o elo frágil da educação, diz ministro

Governo Lula deve assumir parte das matrículas do ensino médio para tentar mudar quadro, afirma Haddad

O ELO FRÁGIL da educação brasileira, que precisa de uma grande intervenção. Foi assim que o ministro da Educação, Fernando Haddad, classificou o ensino médio do país, durante a sabatina feita pela Folha.
Para tentar reverter o quadro, Haddad afirmou que o governo Lula pretende assumir parte das matrículas desse nível de ensino do país.
Durante duas horas, o ministro respondeu ontem, em São Paulo, perguntas da platéia e de quatro jornalistas da Folha: a secretária de Redação Suzana Singer, o colunista Gilberto Dimenstein e os repórteres Antônio Gois (sucursal do Rio) e Vera Magalhães ("Painel"). (FÁBIO TAKAHASHI)

ENSINO MÉDIO
As escolas do ensino médio, como estão organizadas hoje, fazem pouca diferença na vida dos alunos. Faz alguma, pois o jovem que estuda tem mais acesso ao mercado de trabalho, à cidadania, do que aquele que não faz o ensino médio.
A escola que temos é melhor do que sair da escola. Mas o ensino médio hoje é o elo mais frágil do ciclo educacional.
Os indicadores de qualidade nesse nível pioraram desde 1995. Há apenas três anos nem sequer contava com livro didático. Por isso, criamos o Programa Nacional do Livro de Ensino Médio, algo inédito no país.
Também tramita no Congresso Nacional a extensão de programas importantes que estavam restritos ao ensino fundamental, como merenda escolar e transporte.
Há também o programa Brasil Profissionalizado, criado para permitir uma maior integração do ensino médio com a educação profissional.
E sabemos que, apesar da grande expansão feita com o Reuni [programa do governo federal para expandir as universidades federais], apenas perto de um sexto dos meninos chegará à universidade. Isso quer dizer que, se não sair do ensino médio preparado para uma inserção no mercado de trabalho, o jovem verá pouco interesse em seguir na escola.
Nesse contexto, entendo como positiva a extensão do Bolsa Família para jovens de 16 e 17 anos, para mantê-los na escola.

FEDERALIZAÇÃO DO ENSINO MÉDIO
Nosso objetivo é federalizar uma parte do ensino médio, chegarmos a alguma coisa perto de 8% a 10% das matrículas [hoje está próximo de 1%]. Se tivermos um instituto federal em cada mesorregião, criando parcerias da rede federal com redes estaduais, não precisaremos federalizar 100%.
Poderemos ter uma rede robusta, que vai vertebrar o ensino médio nos Estados, que precisam, mais do que apoio financeiro, de apoio técnico.
O governo Lula, no primeiro mandato, já é recordista na entrega de escolas técnicas federais. Foram 47, e chegará a 214 [até o fim do mandato]. Lembro que, durante quase um século na educação profissional federal, foram inauguradas apenas 140 unidades.

CEUS
Foi entendido apenas do ponto de vista da infra-estrutura. Ele modifica a paisagem urbana. Acompanhei o projeto até o momento que as obras foram licitadas [quando integrava a gestão Marta Suplicy].
A presença dos CEUs no bairro teve um impacto arquitetônico, de sociabilidade, tão grande que a questão político-pedagógica acabou à mercê desse sucesso.
A idéia original era que esse equipamento constelasse as escolas do entorno, mas isso acabou não vingando. Não sei bem o motivo, pois [quando as primeiras unidades começaram funcionar] eu já estava em Brasília [no MEC].

ENSINO SUPERIOR
O que se entendia antes era que o Estado deveria avaliar, e o mercado, regular [o ensino superior privado]. A nossa compreensão é que o Estado deve avaliar e regular. Se não houver regulação do Estado, a tendência é o sistema competir por preço. Já quando há a presença do Estado, a tendência é o sistema competir por qualidade.
Até criarmos o Sinaes [sistema de avaliação que abrange uma prova para os alunos e visita de técnicos às instituições], as competições eram com base apenas no preço.
Em parte do setor privado, houve abertura de vagas sem critério, e processos seletivos com menos critério ainda. Não é razoável que uma universidade não verifique se aquele aluno tem condições de ingressar.
Por isso, fechamos em janeiro mais de 6.000 vagas em cursos de direito. Semana que vem vamos anunciar mais uma rodada, que deve fechar mais 13 mil vagas. O objetivo não é inibir o setor privado, mas inibir o setor privado naquela área de atuação em que ele não está bem.

BÔNUS POR DESEMPENHO A PROFESSORES
O pagamento de bônus por desempenho [adotado neste ano pela Secretaria da Educação de SP] é uma experiência muito recente, pouquíssimos países adotaram e nenhum país que esteja nas primeiras posições no ranking do Pisa [avaliação internacional] o tem.
A literatura mostra que essas iniciativas têm vida curta, principalmente quando não há uma pactuação com a categoria.
Em segundo lugar, até agora os indicadores de qualidade não refletem um impacto importante [onde foi adotado]. Não sou contra, mas estou alertando para os cuidados a serem tomados. Não existe bala de prata na educação. Não vai melhorar só com uma iniciativa.

INFORMATIZAÇÃO
Os dados mostram que um computador conectado no Brasil impacta no ensino, sobretudo em leitura. A minha hipótese é que o país é muito ligado à imagem e pouco à leitura. E ao contrário da TV, a internet obriga a ler. Por isso estamos com um programa de informatização. Tirar a criança da frente da TV e trazer para um ambiente virtual, evidentemente estudando os conteúdos, causará impacto.

LAPTOP DE US$ 100
O problema é que o laptop de US$ 100 não existe. Contratamos a FGV para fazer um redirecionamento do programa, porque o preço real é de US$ 300. Se multiplicarmos pelos 50 milhões de alunos, estamos falando em US$ 15 bilhões. Daria para montar o melhor programa de formação de professores do mundo.

CANDIDATO EM SP?
Ninguém falou comigo sobre essa possibilidade [de disputar a Prefeitura de São Paulo].

COLOCARIA OS FILHOS NA ESCOLA PÚBLICA?
A partir do momento que você tem indicadores de qualidade, diria que colocaria meus filhos em escolas públicas boas.
Se a condição permite pagar uma mensalidade em um estabelecimento melhor, o pai vai fazer isso. É racional. Mas é racional também que, se ele tiver uma boa escola pública perto de casa, ele coloque o filho lá.

FALTA DE CONTINUIDADE NAS POLÍTICAS
A idéia do Compromisso pela Educação [programa do governo federal, que integra o Plano de Desenvolvimento da Educação, em que governadores e prefeitos se comprometem com metas de qualidade] é justamente que não haja descontinuidade. Felizmente, me encontrarei com o governador José Serra (PSDB-SP) na próxima sexta-feira e ele será o 27º governador a assinar.

PROGRAMA CORTADO
O único programa do MEC que foi prejudicado com o fim da CPMF foi o Saúde na Escola, que previa visitas ao menos duas vezes ao ano de equipes de saúde da família às escolas públicas. No geral, houve até um incremento [no Orçamento da Educação], porque uma parcela da CPMF foi substituída pelo [aumento do] IOF. Sendo este um imposto e não uma contribuição, incide nos 18% de vinculação. O governo perdeu, mas a educação teve um pequeno ganho [com o fim da CPMF].

APOSENTADORIA
Entendo que é ilegal o pagamento de inativos com verbas da Educação. E isso está sendo firmado pelo Tesouro. Significa dizer que a regra será alterada.

VESTIBULAR
Iniciamos uma discussão com os reitores neste ano, em que o Ministério da Educação apresentou à Andifes [entidade que reúne os reitores das federais] a agenda de pensar formas alternativas ao vestibular tradicional. O modelo atual é um horror. Ele não orienta o currículo do ensino médio e acaba prejudicando alunos que não tiveram acesso a conteúdos específicos, mas que são extremamente talentosos.

GOVERNO LULA
Entendo que foi uma vitória da democracia. Permitiu a uma pessoa do povo ter chegado à Presidência, com competência e com atenção bastante evidente para às camadas historicamente mais prejudicadas.

DESAFIOS
Temos ainda três desafios do ponto de vista de reformas estruturais. Gostaria de equacionar a questão dos hospitais universitários [que passam por uma crise por falta de recursos]; fazer uma reforma importante no Sistema S [Sesc, Senai e Sesi, entre outros], que se distanciou da escola pública; e acabar com a DRU [Desvinculação de Receitas da União, mecanismo que permite que parte da receita vinculada à educação vá para outras áreas]. Estou conversando com o ministro Guido [Mantega, da Fazenda]. Em 14 anos, perdemos quase R$ 100 bilhões com esse dispositivo.


Veja o vídeo da sabatina com o ministro Fernando Haddad


Redes de Aprendizagem

Notícias Pesquisa Municipios Selecionados

Municípios garantem o direito de aprender

Pesquisa apresenta 37 redes municipais que asseguram aprendizado de qualidade

O que faz com que uma rede municipal de educação garanta a cada um de seus alunos o direito de aprender? A pergunta orientou a pesquisa Redes de Aprendizagem ― boas práticas de municípios que garantem o direito de aprender, em que pesquisadores do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) identificaram 37 redes municipais de ensino, espalhadas pelo país, que asseguram o aprendizado de qualidade mesmo em condições adversas. O estudo será apresentado durante o 3º Fórum Nacional da União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), em Brasília, nesta terça-feira, dia 25.
A partir de visitas de campo às redes bem-sucedidas, os pesquisadores descobriram dez boas práticas e ações de aprendizagem que, combinadas, garantiram às redes municipais desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) acima da média nacional de 3,8, numa escala de zero a dez. Em todos os casos exemplares, foram observadas ações que privilegiam foco na aprendizagem, consciência e práticas de rede, planejamento, avaliação, valorização do professor, formação do corpo docente, valorização da leitura, atenção individual ao aluno, atividades complementares e parcerias externas.
Para a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda, as boas práticas devem ser disseminadas. “A pesquisa é importante para iluminar as boas experiências do Brasil e possibilitar que outras redes conheçam e aprendam com elas”, disse.
As redes foram escolhidas com base no cruzamento de informações socioeconômicas dos alunos, com informações dos municípios e com a nota do Ideb de cada rede. Os municípios visitados possuem características diversas, com população que varia de seis mil a 788 mil habitantes e estão localizados nas cinco grandes regiões do país. Dessa maneira, essas redes municipais representam e incorporam a diversidade e os desafios para se garantir o direito de aprender nos 5.564 municípios brasileiros.
Para entender os motivos do sucesso dessas redes, foram entrevistados secretários de educação, coordenadores pedagógicos, professores, alunos, pais, funcionários e membros do conselho escolar. Cada um deles apontou as razões que acreditam ter sido importantes para o aprendizado de qualidade dos estudantes das escolas públicas municipais.
“A pesquisa constatou que essas 37 redes têm em comum o compromisso com a aprendizagem de cada um de seus alunos e alunas”, afirmou a representante do Unicef no Brasil, Marie-Pierre Poirier. ”Esse compromisso se expressa na consciência e na atuação da rede, que enfrenta os desafios e busca soluções de forma efetivamente solidária”, completou.
A publicação Redes de Aprendizagem é resultado de parceria entre o Unicef, o Ministério da Educação, a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e o Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC).

Assessoria de Imprensa do Unicef

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