Fonte: Sítio da RTS - Rede de Tecnologia Social - http://www.rts.org.br/entrevistas/david-de-ugarte-socio-da-sociedad-de-las-indias-electronicas-e-autor-do-livro-el-poder-de-las-redes
Entrevista: David de Ugarte, sócio da Sociedad de las Indias Electrónicas e autor do livro El poder de las redes.
Foto: Divulgação RTS
David de Ugarte
30/04/2008 - Desde 1994, o especialista mundial em redes David de Ugarte desenvolve trabalhos, projetos e empreendimentos ligados à Internet. Atualmente, é sócio da Sociedad de las Indias Electrónicas, empresa fundada em 2002 com o objetivo de realizar análises de redes sociais. Nesta entrevista, que recupera parte do debate com representantes de instituições associadas à RTS durante o Encontro Redes – Nova Arquitetura Organizacional, realizado em São Paulo (SP), David fala sobre a evolução das redes centralizadas para redes distribuídas, da expansão da internet e do surgimento de novas esferas de relação social.
DU - Eu acho que a identidade transmuta uma coisa que pertence ao indivíduo. Até agora pertencíamos à nossa religião, à nossa nação. Agora é a nacionalidade que pertence ao indivíduo. Então, temos um novo tipo de multiculturalidade, que não é de caixas ou separada e de onde você não pode sair. Passa a ser uma ação pessoal porque é você que passa a construir a rede. Então, quando falamos numa nação-rede, estamos falando de uma nação de identidade, não garantida pelo Estado, pelo nacionalismo, mas pelas próprias pessoas em seu interagir.
Como funciona essa nova rede que os blogs e Internet estão formando?
DU - Os blogs e a internet estão expandindo o campo do local. O local sempre foi distribuído, todos com todos. Vocês, no Brasil, têm uma instituição que gosto muito que se chama multidão. A blogosfera dá às pessoas a possibilidade de organizar multidões massivas num espaço social muito maior.Muitas pessoas que tentam empreender localmente e se articular em rede não têm acesso à internet no Brasil. Como contornar esse gargalo?
DU - Quando falamos da exclusão digital, estamos defendendo o modelo de infra-estrutura pública. Hoje é cada vez mais barato garantir acesso à internet. Tomemos oexemplo de uma cidade de três milhões de pessoas, como Montevidéu. Você poderia doar uma conexão de internet para essas pessoas, para toda a vida, com um investimento básico de US$ 1,5 milhão. Então, isso é muito pouco para uma prefeitura como Montevidéu. Depois, pode, por exemplo, dar às empresas a oportunidade de vender a conexão global à internet. Fazer a rede local é um investimento muito pequeno. Na Espanha, temos experimentado a internet gratuita para uma cidade inteira.
O problema de inclusão é um problema de vontade política. A gente quer se incluir. Mas não podemos esquecer uma coisa. Em Montevidéu, os jovens, segundo um estudo apresentado este ano, dedicam um mínimo de duas horas por dia à internet e aos cibercafés. Hoje os cibercafés são espaços de liberdade, de coesão social. Em países como o Marrocos, homens, mulheres e jovens estão juntos, e estão juntos nos cibercafés. A sociedade é inclusiva. Se você deixa a mínima liberdade e as mínimas infra-estruturas, a sociedade inclui ela mesma.
É possível fazer uma distinção clara entre países ditos desenvolvidos e em desenvolvimento no que se refere à constituição de redes distribuídas?
DU - Não há diferenças por princípio. A diferença fundamental é cultural. A primeira grande mobilização em uma rede distribuída na internet, por exemplo, foi a queda do presidente das Filipinas. A segunda foi a queda do presidente Asnar na Espanha. A forma foi praticamente idêntica e a motivação muito similar, embora estes países sejam bastante diferentes.DU - A boa comunidade é uma comunidade de produção. A rede panal, na Argentina, é um bom exemplo. Formada por músicos amadores e profissionais, os integrantes da rede produzem música coletivamente e novas parcerias a partir da internet. É uma comunidade virtual, mas é sobretudo real por envolve pessoas que se dedicam a esta interação e à produção de conhecimentos que só podem passar a existir pela troca.
Como vê o futuro destas redes?
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