domingo, setembro 09, 2018

A memória da família e o encontro com a prima Cida de Patos de Minas

Por Moisés Basílio Leal


Prima Cida Rosa Ventura de Patos de Minas comentando nossa árvore genealógica com os primos Tuca e Zezinho.



Em meados dos anos de 1920 o casal Maria Cândida de Jesus e Isoldino Basílio Leal, depois do falecimento da mãe da Vó Maria, a bisavó Cândida Maria de Jesus, deixaram o seu quilombo da Vargem do Arroz, no núcleo rural de Campo Bonito, que fazia parte do então distrito de Lagoa Formosa pertencente ao município de Patos de Minas. Venderam todos os seus poucos pertences e com o dinheiro apurado foram se aventurar, em busca de melhor sorte, trabalhando como meeiros nas fazendas de plantação de arroz da região dos municípios de Conquista e Uberaba.

Vó Maria, com 12 anos, se casou com o Vô Isoldino no dia 27/07/1914 na Paroquia de Nossa Senhora da Piedade, Lagoa Formosa, conforme certidão de casamento do religioso, e tiveram os seguintes filhos: José, que morreu aos 9 meses; Arminda (Tia Fia), Geraldo, que morreu com 1 mês de vida; e Adelino, que morreu com 3 anos. Depois que migraram para as fazenda de Conquista e Uberaba tiveram mais os seguintes filhos: Maria Natalina (Tia Dinha); Gasparim, que morreu com 11 anos; Luzia, Terezinha (Tia Eza); Aparício Divino (Tio Fiinho); Pedro, que morreu aos 9 meses de vida; Conceição (Tia São) e a caçula Iraci, que faleceu aos 9 meses de vida. No total foram 12 filhos entre 1914 e provavelmente 1945 quando o Vô Isoldino faleceu.

A distância entre Conquista/Uberaba de Lagoa Formosa é de cerca de 300 quilômetros e levando-se em conta as dificuldades de transportes daquela época o contato com os familiares que deixaram na Vargem do Arroz só se realizava por carta. Foi assim que a Vó Maria soube do falecimento de seu pai, o bisavô Pedro Mariano Leal e do falecimento do pai do Vô Isoldino, o bisavô José Basílio Leal.  

A Vó Maria contava que quando o bisavô José Basílio Leal faleceu a bisavó Maria José de Jesus (Bisavó Cotó) escreveu para o Vô Isoldino e pediu a presença dele na Vargem do Arroz, mas ele não foi. Tempos depois ele escreve para a mãe pedindo uma ajuda financeira, mas a mãe lhe manda uma carta dizendo que não iria dar nada pois ele não tinha atendido a sua solicitação quando da morte do pai. Diz a Vó Maria e que o Vô Isoldino nervoso rasgou a carta e o envelope e desde então ela não mais se correspondeu com os parentes da terra natal.

Por volta de 1945 o Vô Isoldino acometido de maleita, contraída durante o trabalho na plantação do arroz e sem tratamento médico adequado pelo fazendeiro veio a falecer. O fazendeiro de pronto já avisou que não renovaria o contrato de trabalho de meeiro com mulher viúva e que ao final da colheita a Vô Maria estava convidada a se retirar da fazenda.

Com o pouco que apurou ao final da colheita a Vô Maria com os filhos e agregados migrou para a cidade de Uberaba e deu fim ao seu ciclo de trabalho na roça. Com muita dificuldade conseguiu autorização para montar sua casa de pau a pique num terreno na beira da estrada de ferro da Companhia Mogiana, que ligava Uberaba à cidade de Campinas e começou a luta pela sobrevivência da família no mundo urbano.

No final dos anos de 1940 a Tia Dinha com 21 anos e a Tia Eza com 16 anos migraram para São Paulo e começaram a árdua luta para sobreviver na cidade grande trabalhando como empregada doméstica. O núcleo da família da Tia Fia e do Tio Chico voltaram para roça e foram parar na cidade de Guará.

A Tia Dinha se estabeleceu na Vila Prudente (Santa Clara) e iniciou o processo de trazer os parentes para São Paulo. Na década dos anos 1960 todos já estavam morando em São Paulo. A Vó Maria, a Tia Dinha e a Tia Eza formavam o núcleo que moravam na Vila Santa Clara. A Tia Fia, o Tio Fiinho e a Tia São formavam o núcleo que foram morar em Jandira. E assim a família criou raízes em São Paulo e devido as dificuldades financeiras e a distância, Minas Gerais foi ficando num cantinho escondido do passado.

A Vó Maria, Vô Isoldino e seus 12 filhos formaram a primeira e segunda gerações deste núcleo familiar que se desgarrou do território de Vargem do Arroz/Campo Bonito em Lagoa Formosa, percorreu as zonas rurais de Conquista, Uberaba e Guará e vieram se estabelecer em São Paulo.

A terceira geração é formada por 28 primos, netos da Vó Maria e do Vô Isoldino: A Tia Fia teve 7 filhos: Cida, Irene, Geni, Matilde, Tião, Zezinho e Maria; A Tia Dinha uma filha que morreu logo após o nascimento: Dejanira e criou o Newton (filho da Tia Luzia); A Tia Luzia 1 filho: Newton; A Tia Eza teve 3 filhos: Moisés, Ana Rita e Maria Izabel; O Tio Fiinho 6 filhos: Luiz, João, Carlos, Sonia Regina, Célia e Maurício; e a Tia São teve 11 filhos:  Marta, Matilde, Marcia, Lourdes, Marisa, Marli, Margarida, Margarete, Marilene, Marcio e Marcelo.

Em 2013, os primos Zezinho, Newton, Moises e seu filho Pedro resolveram se aventurar e pesquisar esse cantinho da história das origens do nosso núcleo familiar em Minas Gerais e rumaram para a cidade de Lagoa Formosa. As informações básicas de que dispúnhamos era uma entrevista que o Moisés havia gravado em 1978 com a Vô Maria Cândida de Jesus falando de sua terra natal. Nesta viagem conversamos com muitas pessoas que nos deram várias pistas dos familiares e pisamos nas terras da Vargem do Arroz, onde a Vó Maria e o Vô Isoldino nasceram. Mas, o tempo era curto para uma pesquisa mais aprofundada.

A descoberta mais importante foi encontrar a prima Aparecida Rosa Ventura, a Cida, em Patos de Minas. Pela árvore genealógica montada a partir dos depoimentos da Vô Maria, a Cida é descendente direta de um dos irmãos dela, o José Pedro Leal, casado com a Celestrina. A Vó Maria teve quatro irmãos por parte de mãe e de pai: Livino Mariano Leal, José Pedro Leal, Antonio Leal e Deolinda Cândida de Jesus.

No dia 7 de setembro de 2018, finalmente conseguimos organizar um encontro dos primos de São Paulo com a Prima Cida de Patos de Minas, em Jandira, na casa da Prima Cida com a presença de 13 dos 20 primos vivos da terceira geração da Vó Maria e do Vô Isoldino (Cida, Irene, Geni, Matilde, Zezinho, Maria, Newton, Moisés, Celia, Regina, Mauricio, Matilde e Margarete) e mais uma quantidade enorme de primos das 4ª, 5ª, 6ª e etc. gerações, que não vou citar os nomes pois posso cometer a injustiça de esquecer algum.

Entre os comes e bebes a conversa correu solta entre os primos ao som da boa música comandada pelos primos mais novos. A prima Cida de Patos de Minas nos contou da organização dos parentes lá de Minas Gerais, remanescentes de quilombos, pela terra de nossos antepassados e pela preservação da memória e da cultura e nos convidou-nos para participar do Seminário, dia 22 de setembro de 2018, em Patos de Minas, onde será realizada uma mesa de debate com a presença de autoridades, líderes quilombolas, congadeiros, apresentação de propostas finais e assinatura de uma carta compromisso dos representantes institucionais a respeito da valorização, reconhecimento e políticas públicas práticas destinadas a essas comunidades. Para que a nossa participação seja efetiva a Prima Cida de Patos também propôs que constituíssemos uma associação dos remanentes de quilombolas da Vargem do Arroz, Campo Bonito, Lagoa Formosa.

Ao final decidimos formar uma caravana para participar do seminário e nos informamos melhor dessa nossa história. Marcamos de sair dia 21 de setembro de 2018, às 08h00 da casa da Cida rumo a Patos de Minas. A Prima Cida ficou de ver com seus amigos de Patos de Minas o preço das estadias nos hotéis. Os primos Maria, Newton e Moisés vão com seus carros. Pela internet vamos combinar os detalhes. A Prima Cida de Patos também ficou de organizar a documentação para formalizar a Associação.


Árvore Genealógica da Família. 


Nenhum comentário: