sexta-feira, março 29, 2013

CHINUA ACHEBE: A VOZ DA LITERATURA AFRICANA DO SÉCULO XX

Comentários Moisés Basílio:

Pouco da história e das coisas em geral da África chegam ao Brasil pela voz dos africanos. Ainda os vieses colonialista ou neocolonialista estão presentes nas informações que temos recebidos do grande continente. As coisas que são importantes sabermos sobre a África não ignoradas. O falecimento do grande escritor e intelectual, nigeriano, do povo Igbo, é um bom momento para evocar nossa ancestralidade e refletirmos sobre os rumos que vem tomando o continente negro.

Nascido no século XX e temperado na luta anti-colonial, Chinua Achebe soube preservar a memória oral através de seus escritos, e por isso só em parte a biblioteca arde, como diz um ditado africano. Kalumba resgata a importância dos mais velhos para as culturas de matrizes africanas: 

"Os anciãos são também a memória do povo, aqueles que preservaão a história e uma infinidade de acontecimentos e palavras recebidos do passado. 'Velho que morre, biblioteca que arde', dizia Hempaté Ba. Um provérbio bambara, na África ocidental, afirma que 'o velho vê sentado aquilo que o jovem de pé não descortina'. Desta forma se associa a idade (os anos vividos) à sabedoria. Em diversos idiomas da cultura banta, 'ancião' e 'sábio' são dois conceitos coincidentes; por exemplo, mzee, em swahili, significa ancião, sábio, respeitavel. Os anciãos são aqueles que 'viram o Sol antes dos mais novos', aqueles que sabem ensinar. (in Blog Além Mar, Anciãos: os pilares da África, por Léon Ngoy Kalumba, sacerdote Jesuíta Congolês, http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EEFlAZZpuFgpqgltZb).

A seguir um apanhado informações sobre Achebe.

Texto 1: Artigo publicado no Estadão em 27/03/13;
Texto 2: Texto do Wikipedia;
Texto 3:  Um comentário sobre seu principal livro "O mundo se despedaça", editado no Brasil pela Companhia das Letras.
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Achebe, a voz da África

O escritor nigeriano era conhecido por defender o que acreditava e lutou energicamente contra a corrupção

27 de março de 2013 | 2h 09

É ESCRITOR, FOTÓGRAFO, VICTOR, EHIKHAMENOR, THE NEW YORK TIMES, É ESCRITOR, FOTÓGRAFO, VICTOR, EHIKHAMENOR, THE NEW YORK TIMES - O Estado de S.Paulo
Cresci embaixo da antiga pereira do meu avô, na aldeia de Uwessan, na Nigéria. As raízes da árvore eram poderosas e suas folhas nos protegiam do sol tropical quando jogávamos futebol. Os mais velhos também aproveitavam da sua sombra sob a qual tomavam vinho de palma e, à noite, sentavam para contar histórias de caçadas. Às vezes, trepávamos num galho mais baixo para colocar armadilhas e apanhar passarinhos. Quando um galho mais velho caía, ia para o fogo.
Mas o mais importante era que a árvore rendia um bom dinheiro ao meu avô, que vendia seus frutos a comerciantes vindos de longe.
Chinua Achebe, o escritor nigeriano morto na semana passada, foi uma valiosa fonte cultural para toda uma geração de nigerianos. Ele significou coisas diferentes para pessoas diferentes, mas, antes de tudo, foi um escritor que todos aprendemos a respeitar.
Fama. Fomos criados ouvindo as histórias de Achebe. Sua fama se espalhou por cidades e aldeias de toda a Nigéria, e até mesmo além das fronteiras. Eu o conheci quando tinha 10 anos através das páginas de Chike e o Rio, um livro de histórias infantis. Mais tarde, Achebe tornou-se uma leitura fundamental em cada fase da minha educação.
No curso secundário, sua obra prima, O Mundo Desmorona, era um texto recomendado.
Meus irmãos mais velhos leram o romance e me transmitiram a história e um exemplar bastante manuseado. Uma de minhas irmãs mais velhas me alertou que alguma partes do livro eram tão trágicas que me fariam chorar. Até então, eu nunca soubera que palavras escritas poderiam produzir tais emoções. Quando uma criança cresce numa aldeia como a minha, não são muitos os livros que têm personagens, ambientes ou uma fraseologia familiar como os de Achebe.
O seu uso das parábolas e dos provérbios fez com que eu me apaixonasse por sua escrita, pois dizia coisas que eu ouvia todos os dias na aldeia.
Na universidade, no departamento de língua e literatura inglesa, escrevemos longos ensaios sobre o escritor e sua obra. Durante quatro anos, quase todos nós lemos tanto as suas obras que tínhamos a impressão de conhecê-lo pessoalmente.
Finalmente pude conhecê-lo, anos mais tarde, em Nova York. Quando ele entrou na sala, todos congelamos fascinados. Ele não era um gigante fisicamente, mas tinha uma voz possante. Era a agulha delicada que costurava vestes andrajosas, a minúscula cauda do escorpião repleta de veneno. Respondeu a todas as perguntas com a precisão de um franco atirador. Falava delicadamente, mas foi um escritor "em cuja companhia as paredes da prisão desmoronavam", como disse Nelson Mandela.
Achebe foi um motivo de orgulho para muitos nigerianos, um ancião que podíamos apontar quando o mundo ria de nossas deficiências. Muitas vezes invocamos seu nome como o de um deus violento.
Defensor. Além do seu vigor literário, Achebe era conhecido por defender aquilo em que acreditava.
Quando os que a desconheciam, contavam a história africana para se vangloriar, ele se levantava como um leão e destruía o discurso dos caçadores com a verdade. Não só ele atacava os relatos mentirosos dos exploradores brancos sobre nossa história; mas preparou outros escritores para fazê-lo.
Com obras de ficção e de não ficção, ele nos ajudou a zombar do colonialismo. No final dos anos 60, esteve na linha de frente da Guerra de Biafra, e foi embaixador de uma república separatista de vida breve, quando sentiu a necessidade de apoiar seus companheiros da etnia igbo em sua luta frustrada pela independência.
Também lutou energicamente contra a corrupção, ensinando os nigerianos mais jovens a não ficarem esfomeados a ponto de vender o que nos pertence por direito. Sua alma e sua consciência não eram negociáveis.
Por duas vezes rejeitou honrarias nacionais da Nigéria, pois era uma dessas pessoas que acreditam que um ancião não deve comer sua refeição em cima de um monte de lixo malcheiroso.
Achebe era um rebelde gentil que se recusou a apertar as mãos necróticas estendidas dos líderes corruptos. Ele pertencia a uma antiga estirpe, um sábio de uma geração diferente que não tolerava a pilhagem deliberada dos cofres públicos da Nigéria.
Achebe teria adorado passar os anos do crepúsculo de sua existência entre seu próprio povo e não nos Estados Unidos. Com a degradação de uma nação da qual outrora se orgulhara pelos cleptocráticos governantes militares e civis, o ancião não teve mais um país onde viver. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
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CHINUA ACHEBE
FONTE: WIKIPEDIA - http://pt.wikipedia.org/wiki/Chinua_Achebe

Chinua Achebe (Ogidi16 de novembro de 1930 – Boston22 de março de 2013) foi um romancistapoetacrítico literário e um dos autoresafricanos mais conhecidos do século XX. Achebe escreveu cerca de 30 livros (romance, contos, ensaio e poesia), alguns dos quais retrataram a depreciação que o Ocidente faz sobre a cultura e a civilização africanas, bem como os efeitos da colonização do continente pelos europeus, mas também escreveu obras abertamente críticas à política nigeriana.

Biografia

Albert Chinualumogu Achebe nasceu em Ogidi no início da década de 1930, 30 anos antes da Nigéria se libertar do domínio colonial britânico. Fez seus estudos básicos em um colégio missionário e, embora educado na cultura ocidental, também foi criado na cultura tradicional Igbo, seu grupo étnico, no sudeste da Nigéria. Quando chegou a universidade, ele renegou o seu nome britânico, Albert, para assumir o seu nome Igbo: Chinualumogu (Chinua abreviado).
Sua obra mais conhecida é O mundo se despedaça (em inglês: Things fall apart), publicada em 1958, quando ele tinha 28 anos, e que foi traduzida para mais de cinquenta línguas. O romance tratava de considerações a respeito dos conflitos entre o governo colonial britânico e a cultura Igbo. Outros destaque da sua carreira literária foram A paz dura poucoA flecha de Deus e A educação de uma criança sob o protetorado britânico. Ele foi um crítico da maneira como os autores estrangeiros retratavam a África, especialmente no livro O coração das trevas, de Joseph Conrad.
O escritor deixou sua pátria várias vezes para trabalhar como professor nos Estados Unidos e passou a morar definitivamente nesse país em 1990, após sofrer um acidente de carro que o deixou com problemas motores. Ainda assim, lecionava na Universidade de Brown. Mesmo sendo muito respeitado na Nigéria, tanto pela sua obra literária quanto também pelas suas tomadas de posição, Achebe criticava frequentemente os dirigentes nigerianos, pela corrupção e má administração do país, tendo recusado por duas vezes ser condecorado pelas autoridades locais.
Em 2007, foi galardoado com o prestigioso Prémio Internacional Man Booker. Em 2012, ele lançou o livro There was a country: a pessoal history of Biafra, onde relembrou suas vivências na época do conflito em Biafra e o governo central da Nigéria, quando Achebe desempenhou funções diplomáticas e fez parte do Ministério de Informação de Biafra até o fim da guerra.
Achebe morreu em Boston, aos 82 anos, em março de 2013.

Referências

Ligações externas

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O MUNDO SE DESPEDAÇA
Fonte: Sítio da Editora Companhia das Letras - http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=12738
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O mundo se despedaça conta a história de um guerreiro chamado Okonkwo, da etnia ibo, estabelecida no sudeste da Nigéria, às margens do rio Níger.

O momento que a narrativa retrata é o da gradual desintegração da vida tribal, graças à chegada do colonizador branco. Os valores da Ibolândia são colocados em xeque pelos missionários britânicos que trazem consigo o cristianismo, uma nova forma de governo e a força da polícia.

O delicado equilíbrio de costumes do clã vinha sendo mantido por gerações, mas então atravessa um momento de desestabilização, pois os missionários europeus e seus seguidores, africanos convertidos, começam a acorrer às aldeias de Umuófia pregando em favor de uma nova crença, organizada em torno de um único Deus. A nova religião contraria a crença nas forças anímicas e na sabedoria dos antepassados, em que acreditam os ibos. Além disso, os homens brancos trazem novas instituições: a escola, a lei, a polícia. 

Okonkwo, o mais bravo guerreiro do clã, é dos principais opositores dos missionários, mas ele não contava com a adesão à nova crença de muitos de seus conterrâneos, vizinhos e companheiros de aldeia. Entre eles está ninguém menos que seu primogênito, Nwoye. Também aderem à religião do homem branco aqueles que foram marginalizados pela sociedade tradicional, os párias ou osus, as mulheres, os jovens sem perspectiva. 

Como escreve o diplomata e estudioso das literaturas africanas Alberto da Costa e Silva, no prefácio ao livro, o romance de Achebe é uma das obras fundadoras do romance nigeriano contemporâneo. Segundo ele, o livro "narra a desintegração de uma cultura, com a chegada do estrangeiro, com armas mais poderosas e de pele, costumes e ideias diferentes". Mas, para o ensaísta, Chinua Achebe, que escreve em inglês,"é cidadão de uma Nigéria criada pelo colonizador" e sabe que a "História não é boa nem má, nascemos dela, de seus sofrimentos e remorsos, de seus sonhos e pesadelos".

O romance é considerado um dos livros mais importantes da literatura africana do século XX e fundador da moderna literatura nigeriana. Foi publicado originalmente em 1958, dois anos antes da independência da Nigéria. Primeiro romance do autor, foi publicado em mais de quarenta línguas.


"Chinua Achebe é um escritor mágico - um dos maiores do século XX." - Margaret Atwood

"Uma imaginação vívida ilumina cada página [...] Um romance que enxerga a vida tribal de um ponto de vista interno, genuíno." - Times Literary Supplement

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