sábado, novembro 17, 2012

UM CAUSO DO EDUCADOR TIÃO ROCHA


Comentários Moisés Basílio: Tião Rocha é mineiro, e como bom mineiro gosta de contar causos. Mas também é educador e gosta de aprender. Por isso a gente aprende muito com seus causos. Axé!


Este "causo" é bom. 


Por Tião Rocha (Fonte: Internet, Facebox, em 17/11/2012,  https://www.facebook.com/tiao.rocha.5/posts/544800255533514



     Eu fui pró-reitor de extensão por 1 dia da UFOP, em 1982. Fui indicado pela manhã, à tarde fui a uma reunião dos reitores da universidades mineiras com o secretário estadual de educação, em BH, e fui destituído do cargo à noite, quando voltei a Ouro Preto. Deve ser um recorde!


     A reunião era sobre a "crise do sistema público de ensino" (isto há 30 anos...parece que ela ainda continua...rsrsrs). Todos os reitores e pró-reitores falavam, falavam e falavam...


      De repente meu deu um clarão (os americanos chamam de "insight", mas em Minas, a gente tem é clarão mesmo). 


     Pedi a palavra e disse:


    - Acabei de aprender uma coisa legal, a partir das falas dos senhores. Há uma escola neste país que nunca teve crise, greve de professores, 2a. época, dependência, recuperação, etc. e todas estas coisas que os senhores falam!


    - A assessora do secretário retrucou: "professor, é sobre isto que estamos tratando; precisamos criar esta escola porque ela não existe"!


     - Ela existe sim, professora!


     - "E qual é?", respondeu brava.


     - E eu, quase inocentemente: a escola de samba, professora.


     Aí ela ficou indignada como a maioria dos presentes. E mandou ver:


     - "Professor, esta é uma reunião séria. Quer dizer então que o senhor acha que a nossa escola deve ser aquela bagunça?, no que foi apoiada pela audiência.


     - E eu retruquei: Professora, estou vendo que a senhora e nem os senhores conhecem uma escola de samba.


     - Eu lhes pergunto: nas escolas públicas têm disciplinários?


    - E ela e outros, responderam: "Claro, porque é fundamental para o funcionamento da escola".


     No que eu emendei: pois é, na escola de samba não tem e nem precisa de disciplinário, porque tem "diretor de harmonia". É outra coisa, né. Desculpem!


     Nesta altura, a mulher, já possessa, diz: 


     - Quer dizer então que o senhor acha que o senhor Joãosinho Trinta é que deveria estar aqui no lugar do secretário?!", ironizou.


     - Não, desculpe, mas jamais pensei isto, mas que ele (o Joãozinho Trinta) podia ser o "Reitor da Universidade Brasileira", aí isso ele podia.


     - Sabe por que?


  - Porque ele mudou uma cidade, Nilópolis, (de lugar dormitório) em uma cidade comunitária e humanizada, a partir de uma escola de samba, a Beija-Flor.


     - Ah! se as nossas universidades fossem assim e quisessem aprender ( e não só ensinar)!


     - Ah! se as nossas universidades se inspirassem no nosso povo e se alimentassem de nossa cultura!


     E antes que eu continuasse, o tempo fechou, a reunião acabou, voltei a Ouro Preto, feliz com a minha aprendizagem daquele dia.


     - Às 11 horas da noite, recebo uma intimação de Reitor, que voltou urgente de Brasília depois de receber um telefonema do Secretário de Educação contendo o ocorrido.


     - Às 4 da madrugada, o reitor (em lágrimas, entre agradecido e pedinte) implorava para que eu ficasse, mas numa universidade que queria um grande centro de "ensinagem" e não de "aprendizagem".


     ...O resto vocês já sabem: fui o primeiro professor daquela universidade a se demitir porque não queria ser "professor", mas "educador". 


     - A diferença? 


     - Professor é aquele que ensina e educador é aquele que aprende.


     Prosa e "causo" longos. Coisa de mineiro. Espero que também de alguma utilidade.

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