Comentários Moisés Basílio: Tião Rocha é mineiro, e como bom
mineiro gosta de contar causos. Mas também é educador e gosta de aprender. Por
isso a gente aprende muito com seus causos. Axé!
Este
"causo" é bom.
Por Tião Rocha (Fonte: Internet, Facebox, em
17/11/2012, https://www.facebook.com/tiao.rocha.5/posts/544800255533514
Eu fui pró-reitor de extensão por 1 dia
da UFOP, em 1982. Fui indicado pela manhã, à tarde fui a uma reunião dos reitores
da universidades mineiras com o secretário estadual de educação, em BH, e fui
destituído do cargo à noite, quando voltei a Ouro Preto. Deve ser um recorde!
A reunião era sobre a "crise do sistema público de
ensino" (isto há 30 anos...parece que ela ainda
continua...rsrsrs). Todos os reitores e pró-reitores falavam, falavam e
falavam...
De repente meu deu um clarão
(os americanos chamam de "insight", mas em Minas, a gente tem é
clarão mesmo).
Pedi a palavra e disse:
- Acabei de aprender uma coisa legal, a partir das falas dos senhores.
Há uma escola neste país que nunca teve crise, greve de professores, 2a. época,
dependência, recuperação, etc. e todas estas coisas que os senhores falam!
- A assessora do secretário retrucou: "professor, é sobre isto que
estamos tratando; precisamos criar esta escola porque ela não existe"!
- Ela existe sim, professora!
- "E qual é?", respondeu brava.
- E eu, quase inocentemente: a escola de
samba, professora.
Aí ela ficou indignada como a maioria dos presentes. E mandou ver:
- "Professor, esta é uma reunião séria. Quer dizer então que
o senhor acha que a nossa escola deve ser aquela bagunça?, no que foi apoiada
pela audiência.
- E eu retruquei: Professora, estou vendo que a senhora e nem os
senhores conhecem uma escola de samba.
- Eu lhes pergunto: nas escolas públicas
têm disciplinários?
- E ela e outros, responderam: "Claro,
porque é fundamental para o funcionamento da escola".
No que eu emendei: pois é, na escola de samba não tem e nem
precisa de disciplinário, porque tem "diretor de harmonia". É outra
coisa, né. Desculpem!
Nesta altura, a mulher, já possessa, diz:
- Quer dizer então que o senhor acha que o senhor Joãosinho Trinta
é que deveria estar aqui no lugar do secretário?!", ironizou.
- Não, desculpe, mas jamais pensei isto, mas que ele (o Joãozinho
Trinta) podia ser o "Reitor da Universidade Brasileira", aí isso ele
podia.
- Sabe por que?
- Porque ele mudou uma cidade, Nilópolis, (de lugar
dormitório) em uma cidade comunitária e humanizada, a partir de uma escola de
samba, a Beija-Flor.
- Ah! se as nossas universidades fossem
assim e quisessem aprender ( e não só ensinar)!
- Ah! se as nossas universidades se
inspirassem no nosso povo e se alimentassem de nossa cultura!
E antes que eu continuasse, o tempo fechou, a reunião acabou,
voltei a Ouro Preto, feliz com a minha aprendizagem daquele dia.
- Às 11 horas da noite, recebo uma intimação de Reitor, que voltou
urgente de Brasília depois de receber um telefonema do Secretário de Educação
contendo o ocorrido.
- Às 4 da madrugada, o reitor (em lágrimas, entre agradecido e
pedinte) implorava para que eu ficasse, mas numa universidade que queria um
grande centro de "ensinagem" e não de "aprendizagem".
...O resto vocês já sabem: fui o primeiro professor daquela
universidade a se demitir porque não queria ser "professor", mas
"educador".
- A diferença?
- Professor é aquele que ensina e educador é aquele que aprende.
Prosa e "causo" longos. Coisa de mineiro. Espero que
também de alguma utilidade.
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