terça-feira, agosto 11, 2009

MASCULINISMO

Comentários Moisés Basílio:

Lá se ia o ano da graça de 1989, quando me deparei com uma cópia do Manifesto Masculinista, que me foi dada por um amigo da secretaria de formação da CUT de Minas Gerais, Geraldo Magela, durante o I Encontro dos Povos da Floresta em Rio Branco - Acre.

O texto da cópia já era uma versão mineira do original pernambucano que veio a público em 1985, mas nessa época não sabia de quem era a autoria do texto original. Fiz as devidas adaptações e copilei o texto à minha realidade paulistana e a partir do ano de 1989 distribui várias cópias desse texto por onde passei. Como um bom texto de humor e com alta dose de questões polêmicas, sempre proporcionou ampla discussões entre homens e mulheres.

Nos anos noventa perdi a última cópia que havia reproduzido e do manifesto só sobrou fragmentos em minha memória. Mas, outro dia fuçando na internet acabei achando a preciosidade no Blog do Marcelo Mario de Melo, que é o autor do texto original e pude me deliciar novamente com o esse e outros belos textos. Segue a seguir a minha adaptação do texto. Divirtam-se e ao mesmo tempo repensem seus conceitos e preconceitos. Axé!

Fonte: Blog de Marcelo Mario de Melo - Sempre à esquerda: Não ultrapasse pela direita. http://humorsempreaesquerda.blogspot.com/2008/09/manifesto-masculinista.html









MANIFESTO MASCULINISTA PAULISTANO

MELO, Marcelo Mario de. Edição do Autor, outubro de 1991, 3 mil exemplares. Capa, programação visual e editoração eletrônica, Paulo Santos. Revisão, Lamartine Morais. Impressão, Gráfica Pernambucana LTDA. – Observação: Texto compilado e adaptado à movimentação masculinista paulistana.

Cabecinha

Nas questões ligadas á discriminação e aos papéis sexuais, as mulheres já estão na sua, os homossexuais idem, os bissexuais também. E até machões se organizam esse solidarizam, como se viu no caso daquele cara que ferrou a mulher no rosto e teve o apoio da Associação dos Maridos Traídos, fundada no Ceará.
Todos os setores se mobilizam. E como ficamos nós, que não somos mulheres, nem homossexuais, nem bissexuais, e rejeitamos o modelo machista que nos é imposto desde criancinhas como a marca da masculinidade?

A resposta está no MASCULINISMO – uma movimentação crítico-autocrítica, reivindicativa, desfrutativa, solidarista e convivencial.
Sabemos que, de cartas de princípios e discursos generosos, a humanidade já está de sacos e ovários repletíssimos, colocamos os dedos nas feridas através de um manifesto e proclamamos, indicativamente, o que rejeitamos e pretendemos transformar para viver melhor.

Começo de Penetração
MMP – Movimentação Masculinista Paulistano.
Símbolos – o Pico do Jaraguá e o Obelisco do Ibirapuera
- Contra o terror machista;
- Contra a ditadura clitoriana;
- Contra o autoritarismo gay;
- E pela reconciliação do espermatozóide com o óvulo.
Renunciamos a todas as prerrogativas do poder machista.
Que omem seja escrito sem “H”
Não nos consideramos superiores, nem inferiores às mulheres, aos homossexuais e aos bissexuais: somos diferentes e iguais.
Rejeitamos todos os modelos pré-fabricados se sexualidade, caretosos ou vanguardeiros, partindo de três princípios:
1) carência não se inventa;
2) receita, somente de bolo;
3) vanguarda também é massa.
Somos solidários com qualquer saída ou entrada sexual que a humanidade venha inventar e curtir, desde que não haja imposição e violência.
Exigimos que se respeite a nossa opção fundamental e exclusiva: gostamos é de mulher.

Aprofundando a entrada
- Abaixo o guarda-chuva preto. Não somos urubus.
- Abaixo as exigências do paletó e da gravata.
- Contra o serviço militar obrigatório e exclusiva para homens.
- Contra o relógio-bolachão.
- Pelo direito de mijar sentado.
- Pelo respeito ao pudor masculino: mictórios privativos.
- Pelo amparo aos pais solteiros, abandonados pelas mulheres amadas desalmadas.
- Creches dos bares
- Queremos pensão por viuvez, auxílio-alimentação e licença-paternidade. Não amamentamos, mas podemos trocar fraldas.
- Contra o fechamento do mercado de trabalho aos homens. Queremos ser secretários, telefonistas, babás e tiüos de escolinha.
- Não queremos ser “chefes-de-família”, nem regentes sexuais. Igualdade fora e em cima da cama.
- Queremos transar mais por baixo.
- Queremos ser tirados pra dançar.
- Queremos ser cantados e comidos pelas mulheres.
- Pelo direito de dizer “não” sem grilos nem questionamentos da nossa masculinidade.
- Pelo direito de broxar sem explicação. Mulher também brocha. Aquele ou aquela que nunca brochou, atire primeira pedra.
- Abaixo a máscara da fortaleza masculina!
- Pelo direito de assumir nossas fragilidades.
- Pela liberação da lágrima.
- Proclamamos que nas coisas de coração e cotovelo todo homem é igual a qualquer mocinha.
- Abaixo o complexo de corno. Por que mulher não e corna? Fidelidade ou infidelidade recíproca.
- Cavalheirismo é cansativo e custoso. Delicadeza é unissex. Que seja extinto o cavalheirismo ou
se instaure, também, o damismo.
- Queremos receber flores.
- Pela igualdade de acesso homem/mulher, quando usa bermudas ou camisetas sem mangas.
- Queremos ser “primeiros cavalheiros”, com direito à Legião Assistencial competente, caso companheiros de prefeitas, governadoras e presidenta.

Empurradinha Final
- Exigimos a modificação do Pai Nosso: a) Pai e Mãe nosso que estais no céu...; b) Bendito o fruto do vosso ventre, do nosso sêmem.
- Pela capacitação dos homens, desde a infância,para as tarefas tidas como “essencialmente femininas”. Reciclagem geral. Queremos aprender corte e costura, culinária, cuidado de crianças, etc. em contrapartida, ensinaremos ás mulheres: trocar pneu de carro, bujão de gás, lâmpada e fusível; dar porrada, atirar e espantar ladrão; matar barata e rato.
- Pela paternidade de responsável e contra a gravidez e os filhos serem utilizados como elementos de chantagem sentimental sobre nós.
- Pelo respeito á intuição masculina.
- Denunciamos a utilização depreciativa das expressões “cacete”, “caralho”, “pra cacete”, “pra caralho”. Exigimos que cada um ou cada uma se posicione: cacete/caralho é bom ou não é? Se é bom, respeitem como ao seu pai ou à sua mãe.
- Protestamos contra o fato do nosso órgão do amor ser representado por espadas, canhões, porretes e outros instrumentos de agressão e guerra. Só aceitamos a simbolização a parir de
coisas gostosas e sadias: chocolates, biscoitos, bananas, picolés, pirulitos, etc.
- Denunciamos como principais vias condutoras do machismo: as vovozinhas cândidas, as mulherzinhas dondocas, as mãezinhas possessivas e as professoronas assexuadas.

Orgasmo Total
Consideramos que muitos masculinistas trabalham dois expedientes, estudam e freqüentam um milhão de reuniões e eventos, sem falar das poligamias possíveis, não iríamos incorrer na atitude fascistóide de inventar mais uma reunião pra a comunidade masculinista. Portanto o nosso princípio de organização é o seguinte: grupos de um e cada grupo obedece a seu chefe. Assembléias gerais com ego, id e superego. Voto de minerva para ego.
Convencidos de que a perfeição não é uma meta e é um mito, procuramos fazer um esforço no sentido de romper com 70% do nosso machismo atual e acrescentar sempre novos itens neste Manifesto, aceitando a contribuição crítica e propositiva de todos os masculinistas e outros segmentos sexuais, preservada a nossa opção fundamental e exclusiva pelas mulheres.
Denunciamos os machões enrustidos que, utilizando o discurso masculinista, pretendem, apenas, dar os anéis para não perderem os dedos. Recuam em 30% de machismo para manterem os 70%. É o neoliberalismo do machismo.
Somos todos oprimidos. E sendo os homens, estaticamente, minoritários diante das mulheres. Nós, homens masculinistas, sofremos a pressão dos machões, das feministas sectárias e dos homossexuais autoritários mais oprimida. Requeremos, portanto, o apoio extremo e a solidariedade máxima por parte da sociedade inservil.

Tirando de Dentro
Com o objetivo de recolher elementos críticos, este Manifesto foi enviado ao Movimento dos Machões-ões-ões, à Federação das Feministas-Istas, Istas, e a Irmandade dos Homossexuais-Ais-Ais, infelizmente, somos obrigados a publicá-lo sem os pronunciamentos destas entidades, devidos aos contratempos que as atingiram.
No Movimento dos Machões-ões-ões, o presidente tinha ido a um motel com moça e brochado pela primeira vez. Entrou em profunda crise psíquica e foi internado na clínica psiquiátrica mais próxima, depois renunciar o mandato. Na diretoria do MMOO irradiaram-se a insegurança, as brochações e internações generalizadas, não havendo clima para a discussão do nosso Manifesto.
Na Irmandade dos Homossexuais-Ais-Ais, a maioria dos diretores conjugava o verbo na voz passiva e, nas transas de sexta para sábado, só topou com parcerias que tinham ejaculações precoce, instalando-se, também aí, um clima impropício aos eventos analíticos.
Na Federação das Feministas-Istas-Istas chegou a ser convocada e iniciada a reunião, mas, quando o Manifesto ia ser lido e debatido, irrompeu de surpresa na sala uma grande barata, que subiu pelas pernas da presidente e voou sobre a mesa. Predominando o subconsciente tradicional, houve correria e pânico generalizado – e a Movimentação Masculinista Paulistana deixou de contar com mais essa contribuição.


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