quinta-feira, abril 05, 2007

ENTREVISTA DA MINISTRA MATILDE RIBEIRO

Comentário Moisés Basílio: A entrevista da ministra Matilde para a BBC Brasil gerou grande repercussão na grande mídia. A cerne da polêmica foi a resposta que a ministra deu à pergunta da entrevistadora sobre a existência de racismo do negro em relação ao branco no Brasil. No mérito concordo com a ministra, pois no plano histórico todo afrodescendente tem um pé atrás em relação aos eurodescendentes pelos motivos que todos sabemos e que ainda não foram superados pela sociedade brasileira. Mas esse pé atrás é muito mais um postura de defesa e resistência do que uma atitude ou prática racista. Vamos ao debate!


Fonte:
http://www.bbcbrasil.com
27 de março, 2007 - 10h59 GMT (07h59 Brasília)

Denize Bacoccina - De Brasília

Não é racismo se insurgir contra branco, diz ministra

A ministra Matilde Ribeiro, titular da Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial (Seppir), diz que considera natural a discriminação dos negros contra os brancos.

Em entrevista à BBC Brasil para lembrar os 200 anos da proibição do comércio de escravos pelo Império Britânico, tido como o ponto de partida para o fim da escravidão em todo o mundo, ela disse que "não é racismo quando um negro se insurge contra um branco".

"A reação de um negro de não querer conviver com um branco, eu acho uma reação natural. Quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou”, afirmou.

Ribeiro disse que ainda vai demorar até que as políticas públicas implantadas nos últimos anos comecem a dar resultados concretos e diminuam a diferença econômica e social entre as populações branca e negra do país.

“Ainda temos muito o que fazer”, afirma, enumerando ações que já começaram, como na área de educação e saúde.

Ela diz que, embora a abolição da escravatura tenha chegado atrasada ao Brasil, hoje o país tem uma das legislações mais avançadas do mundo em relação a direitos iguais, mas ainda falta uma mudança de postura da sociedade.

BBC Brasil - De acordo com as estatísticas, a proporção de negros abaixo da linha da pobreza na população brasileira é de 50%, enquanto entre os brancos é de 25%. Quando isso vai começar a mudar?

Matilde Ribeiro - As ações neste momento ainda são na ordem da estruturação das políticas. Por exemplo, no Ministério da Saúde estamos incluindo o quesito cor nos formulários. Precisamos ter referência do que adoece e morre a população brasileira, para poder ter programas específicos.

BBC Brasil - A secretaria já tem quatro anos, o que se pode perceber de resultado prático neste período?

Matilde Ribeiro - Na educação, uma lei de 2003 obriga o ensino da história e cultura afro-brasileiras para as crianças, desde o início. O processo de implementação está em curso. É muito difícil ter números, resultados concretos. Mas já tem alguns resultados. Por exemplo, o (programa) Prouni, de bolsas de estudos para alunos carentes de escolas, já concedeu em menos de três anos mais de 200 mil bolsas no Brasil, dos quais 63 mil negros e 3 mil indígenas.

BBC Brasil - E em quanto tempo a senhora acha que poderemos ter uma situação de igualdade, onde as pessoas sejam julgadas pelo mérito, independentemente da raça?

No Brasil, o racismo não se dá por lei, como foi na África do Sul. Isso nos levou a uma mistura. Aparentemente todos podem usufruir de tudo, mas na prática há lugares onde os negros não vão. Há um debate se aqui a questão é racial ou social. Eu diria que é as duas coisas.
Matilde Ribeiro

Matilde Ribeiro - O Brasil tem 507 anos. Há quase 120 anos, em 1888, foi assinado um decreto como este que o presidente assinou dizendo que não havia mais escravidão no Brasil. Só que não houve uma seqüência. Hoje, o fato de os negros e os indígenas serem os mais pobres entre os pobres é resultado de um descaso histórico. Então fica muito difícil hoje afirmar quanto tempo.

BBC Brasil - Como o Brasil se coloca no contexto internacional? O Brasil gosta de pensar que não tem discriminação e gosta de se citar como exemplo de integração. É assim que a senhora vê a situação?

Matilde Ribeiro - É o seguinte: chegaram os europeus numa terra de índios, aí chegaram os africanos que não escolheram estar aqui, foram capturados e chegaram aqui como coisa. Os indígenas e os negros não eram os donos das armas, não eram os donos das leis, não eram os donos dos bens de consumo. A forma que eles encontraram para sobreviver não foi pelo conflito explícito. No Brasil, o racismo não se dá por lei, como foi na África do Sul. Isso nos levou a uma mistura. Aparentemente todos podem usufruir de tudo, mas na prática há lugares onde os negros não vão. Há um debate se aqui a questão é racial ou social. Eu diria que é as duas coisas.

BBC Brasil - E no Brasil tem racismo também de negro contra branco, como nos Estados Unidos?

Matilde Ribeiro - Eu acho natural que tenha. Mas não é na mesma dimensão que nos Estados Unidos. Não é racismo quando um negro se insurge contra um branco. Racismo é quando uma maioria econômica, política ou numérica coíbe ou veta direitos de outros. A reação de um negro de não querer conviver com um branco, ou não gostar de um branco, eu acho uma reação natural, embora eu não esteja incitando isso. Não acho que seja uma coisa boa. Mas é natural que aconteça, porque quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou.

BBC Brasil - Neste mês, a Grã-Bretanha comemora os 200 anos da proibição do comércio de escravos, coisa que no Brasil só aconteceu muito tempo depois. O Brasil ainda continua atrasado nesta área?

Matilde Ribeiro - Não, nós temos acompanhado os fóruns internacionais. O Brasil é um dos países mais progressistas neste aspecto de legislação e de ação efetiva. A legislação no Brasil é extremamente avançada. Não é pela via legal que o racismo acontece. O que falta é mudança de postura das pessoas. Não adianta só o governo fazer. Muito já foi feito, mas como você disse no início: alterou os índices? Ainda não, portanto temos muito a fazer.

Confira abaixo a íntegra da nota divulgada pela Seppir:

"Nota de Esclarecimento

Em relação à entrevista da ministra Matilde Ribeiro, divulgada pela BBC Brasil nesta terça-feira (27/3), esta Secretaria esclarece que a frase 'não é racismo quando um negro se insurge contra um branco' aparece no título de maneira descontextualizada, induzindo o leitor ao equívoco.

A ministra deixa claro, no decorrer da conversa, que 'não está incitando' esse tipo de comportamento e afirma: 'Não acho que seja uma coisa boa'.

A afirmação apenas reconhece a histórica situação de exclusão social de determinados grupos étnicos no Brasil, prevalente após 120 anos da abolição, que pode, por vezes, provocar esse tipo de atitude - também condenável.

Esclarecemos, ainda, que a missão da Seppir é justamente tomar iniciativas contra as desigualdades raciais no país e formular políticas públicas de igualdade racial, de forma conjugada com os demais ministérios e em diálogo com diversos setores da sociedade civil.

A Secretaria também atua no sentido da valorização e do respeito às diversidades, em um trabalho integrado com negros, indígenas, ciganos, judeus e palestinos em espaços como o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial e a Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, com a intenção de garantir a essas comunidades acesso a bens e serviços públicos, qualidade de vida e oportunidades iguais.

Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial"





O RACISMO NA BOCA DE MATILDE


"A reação de um negro de não querer conviver com um branco, eu acho uma reação natural, embora eu não esteja incitando isso" - disse a ministra Matilde Ribeiro, da SEPPIR, conforme estampado em O Globo de hoje, 28.03.07.

E daí? Um branco não querer conviver com um negro de quem ele não goste é antinatural? Um negro não querer conversa com um branco que lhe "enche o saco" é alguma coisa demais?

Mas o caso é que o racismo anda solto por aí. E "baixaram o açoite" na ministra, que vem fazendo um bom trabalho em sua espinhosa área. Então, aproveitamos este espaço para botar as coisas nos seus devidos lugares.

Vamos a um exemplo: o leitor acha que todo indivíduo maduro que se sente atraído por uma adolescente insinuante como as de hoje é um pedófilo? Não! "Pedofilia é a perversão sexual que leva um indivíduo adulto a se sentir sexualmente atraído por crianças" (cf. Houaiss). Da mesma forma, o conceito de "racismo" anda sendo mal usado, em nome de outros interesses, como é o caso da ministra.

O Racismo, com "R" grande, é aquele comportamento através do qual um indivíduo manifesta, em relação a outrem de origem étnica diferente da sua, um sentimento baseado em um julgamento antecipado, em um preconceito, nascido em geral de um estereótipo, de um "carimbo", do tipo "todo negro é feio e sujo", "todo judeu é avarento", "todo português é burro", "todo sulafricano branco é racista" etc. E tem também o estereótipo positivo, o "carimbo" simpático, do tipo "todo alemão é inteligente", "todo japonês é trabalhador", "todo crioulo é bom de bola e de ritmo", "a mulata é a tal" etc.

Um negro não gostar de um branco é natural, sim: é da natureza, é humano. O que não é muito natural é um negro não gostar de branco nenhum, só porque um dia um branco o maltratou. Mas, convenhamos, um negro que - tendo ou não dado motivo - nunca recebeu amizade ou um simples gesto de carinho de branco nenhum, como é que o leitor acha que vai se sentir em relação a todos os brancos, hein? Se gostar, é masoquista!

-0-0-0-0-

Veja como o "Estadão" repercutiu a entrevista no dia seguinte:

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo - Quarta-feira, 28 março de 2007
'Não é racismo quando um negro se insurge contra um branco', diz ministra

Declaração da titular da Secretaria da Igualdade Racial provoca polêmica no governo e nos
meios acadêmicos

Vannildo Mendes e Roldão Arruda - COLABORARAM FABIANA CIMIERI e FELIPE WERNECK

Causou desconforto no governo uma declaração da ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial, para quem é natural a discriminação de negros contra brancos. Em entrevista à BBC Brasil para lembrar os 200 anos da proibição do comércio de escravos pela Inglaterra, ela afirmou que “não é racismo quando um negro se insurge contra um branco”. E explicou: “Quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou.”

Houve reações dentro e fora do governo. “Como negro, não alcanço o sentido de tão estranha declaração”, criticou Percílio de Sousa Lima Neto, vice-presidente do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, órgão do Ministério da Justiça. Ele disse que condena qualquer tipo de preconceito, seja de negros ou brancos, mas avaliou que precisaria conhecer o contexto da entrevista “para emitir melhor juízo”.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto, afirmou que há uma boa distância entre entender os processos que levam à discriminação e aceitar o preconceito. “Compreender o sistema perverso da escravidão e do preconceito decorrente dela é importante, para que o Brasil tenha de fato uma democracia racial”, avaliou. “Mas aceitar qualquer tipo de preconceito não pode ser medida eficaz no que se refere à democracia racial.”

Manolo Florentino, estudioso do tema na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lamentou a declaração. “O mínimo que se pode exigir de um ministro dessa pasta é que saiba que raça não existe”, afirmou. “A luta de negros contra brancos é um conflito social, não passa pela cor da pele.” Para ele, a ministra enxerga “um País bicolor”, o que nega toda a história de miscigenação brasileira.

A rigor, a declaração de Matilde Ribeiro contraria o Estatuto da Igualdade Racial, aprovado no Senado em junho do ano passado e hoje em discussão na Câmara, com apoio da secretaria. É verdade que o texto estabelece cotas raciais nas universidades e prevê o acesso de minorias étnicas à Justiça. Mas o estatuto define como discriminação racial “toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor descendência ou origem nacional ou étnica”. Portanto, não importa se o autor é branco, negro ou de outra raça ou cor da pele para ser enquadrado como racista, ficando sujeito a processo criminal.

Integrantes do governo envolvidos no combate ao preconceito ficaram constrangidos. O secretário nacional de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, evitou comentar o assunto. Representante da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) no conselho do Ministério da Justiça, Marcelo Tognozzi disse ter ficado perplexo: “Acirrar conflitos nunca é bom. Todos nós, não-racistas, não podemos concordar com tal afirmação.”

A ministra também recebeu manifestações de apoio. Na coordenação do Núcleo de Consciência Negra da Universidade de São Paulo (USP), Zélia Dias de Andrade afirmou que a ministra apenas se referiu à realidade do País. “Não é que sejamos racistas”, disse. “Mas a partir do momento em que os brancos cortam nossas oportunidades é natural que surjam reações contrárias.” Para Zélia, o racismo do negro contra o branco é sutil, assim como o inverso. “Os dois lados sabem disso, os dois lados disfarçam com uma camada de cordialidade.”

Frei David, franciscano que coordena o movimento Educafro, também defendeu a ministra. Observou que existem várias formas de racismo - entre elas a de negros contra brancos. Isso não quer dizer, no entanto, que o preconceito esteja aumentando ou em vias de aumentar. “Existe maturidade cada vez maior, entre negros e brancos, para analisar esta questão”, disse.

Diante da reação negativa, Matilde divulgou uma nota, por meio da secretaria, alegando que trechos da entrevista foram tirados de contexto, “induzindo o leitor a equívoco” (leia a nota ao lado).

A PERGUNTA

E no Brasil tem racismo também de negro contra branco, como nos Estados Unidos?


Eu acho natural que tenha. Mas não é na mesma dimensão que nos Estados Unidos. Não é racismo quando um negro se insurge contra um branco. Racismo é quando uma maioria econômica, política ou numérica coíbe ou veta direitos de outros. A reação de um negro de não querer conviver com um branco, ou não gostar de um branco, eu acho uma reação natural, embora eu não esteja incitando isso. Não acho que seja uma coisa boa. Mas é natural que aconteça, porque quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou.

A NOTA DA SECRETARIA

“Em relação à entrevista da ministra Matilde Ribeiro, divulgada pela BBC Brasil nesta terça-feira (27/3), esta Secretaria esclarece que a frase ‘não é racismo quando um negro se insurge contra um branco’ aparece no título de maneira descontextualizada, induzindo o leitor ao equívoco. A ministra deixa claro, no decorrer da conversa, que ‘não está incitando’ esse tipo de comportamento e afirma: ‘Não acho que seja uma coisa boa’. A afirmação apenas reconhece a histórica situação de exclusão social de determinados grupos étnicos no Brasil, prevalente após 120 anos da abolição, que pode, por vezes, provocar esse tipo de atitude - também condenável.

Esclarecemos, ainda, que a missão da Seppir é justamente tomar iniciativas contra as desigualdades raciais no país e formular políticas públicas de igualdade racial, de forma conjugada com os demais ministérios e em diálogo com diversos setores da sociedade civil. A Secretaria também atua no sentido da valorização e do respeito às diversidades, em um trabalho integrado com negros, indígenas, ciganos, judeus e palestinos em espaços como o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial e a Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, com a intenção de garantir a essas comunidades acesso a bens e serviços públicos, qualidade de vida e oportunidades iguais.”
Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial

'É uma incitação ao ódio racial'

Demétrio Magnolli, sociólogo da USP

Entrevista

Para o sociólogo Demétrio Magnolli, da USP, a declaração da ministra Matilde Ribeiro foi uma clara incitação ao racismo. Na opinião dele, ela deveria ser destituída do cargo.

Como o senhor viu a declaração da ministra sobre racismo de negros contra brancos?

Em primeiro lugar pensei que vivemos uma época sombria. Afinal, o que pensar quando uma pessoa dá uma declaração dessa no cargo de ministra e continua ministra? Acho impressionante que ela ainda continue no cargo.

E quanto à declaração de que o racismo se justifica em função do que os negros sofreram no passado?

É uma declaração essencialmente racista. Uma incitação ao ódio racial. Atribui aos brancos, como raça, os açoites que os negros, como raça, sofreram no passado. Interpreta a história como um conflito de raças. E é nesse sentido mais profundo, de visão do mundo e da história, que a declaração dela é racista. Não se trata de uma visão circunstancial, ou conjuntural.

Mas ela disse que não apóia.

Apesar da saudação à bandeira, dizendo que não incita, ela está criando uma pretensa racionalidade política para uma expressão de racismo. Eu acho que isso é coerente com o conjunto da política que ela conduz - que é a política de dividir os brasileiros segundo a cor da pele, com a finalidade de fabricar a raça como conceito de identidade oficial no Brasil.

E a questão da exclusão social dos negros, detectada em diferentes pesquisas realizadas no País?

Está errado. O que existe é uma exclusão social e econômica dos pobres - entre os quais os de pele escura e também os de pele clara. É falso definir como problema racial o que é na verdade um problema social e econômico. Trata-se de um expediente esperto de um governo que não quer enfrentar o problema verdadeiro, das extremas desigualdades sociais e econômicas.

O senhor acha que a conscientização dos negros sobre a exclusão pode elevar o grau de racismo?

Isso também é falso. Aplicada de maneira geral, a idéia de que as pessoas se tornam mais racistas à medida que sua consciência aumenta, é uma justificativa para a existência da Klu Klux Kan. Na realidade ocorre o contrário: à medida que a consciência aumenta, as pessoas percebem que os mecanismos de desigualdade não são mecanismos raciais, mas sociais. A questão da raça pode aparecer como cobertura, justificativa, fantasia.


'Negro brasileiro se sente oprimido'

Carlos Santana (PT-RJ), deputado federal

Entrevista

O deputado federal Carlos Santana (PT-RJ), da Frente Parlamentar da Igualdade e Promoção Racial, considera que a ministra se referiu, sem hipocrisia, a um problema que existe. Na opinião dele, o racismo de negros contra brancos é bastante forte no Brasil.


O senhor acha que existe racismo de negros contra brancos entre os brasileiros?

Sim. Ele existe e não é pouco. E a origem dele é a opressão. Nunca nos deram os mesmos direitos, como demonstram pesquisas feitas pelos brancos sobre oportunidades sociais, escolaridade. O negro brasileiro se sente oprimido.

O senhor acha que há uma tendência para a exacerbação deste racismo?

Não. O esforço este governo está fazendo com políticas, cotas, leis para a comunidade afrodescendente é uma forma de resgatar o que se perdeu lá atrás. Temos que continuar nesse caminho, procurando a igualdade racial.

Não acha que a conscientização dos negros sobre a exclusão social poderia agravar os pontos de conflito?

Quanto mais consciente, mais o negro percebe o quanto é marginalizado pelo branco - que representa a classe social dominante. Mas essa não é uma luta que se define pelo pigmento da pele. Temos pessoas com pele branca que assumem nossa luta. E também temos pessoas de pele negra que não assumem sequer que são negros. É o caso do Pelé, que nunca se manifestou a respeito de políticas afirmativas, de cotas para os negros nas universidades. Outras personalidades, como cantores, artistas, já se manifestaram, mas o nosso representante máximo nunca fez qualquer pronunciamento.

O senhor acha que estão ocorrendo avanços com a atual política do governo?

Houve avanços, mas ainda estamos muito atrasados. Houve um genocídio em nosso país e os passos para superar isso são muito lentos. No mundo inteiro existem políticas de cotas. No Brasil, quando se discute o assunto parece que estamos falando em matar alguém.

Como senhor viu a declaração da ministra?

Ela deve ser vista dentro de um contexto geral, da história do Brasil, que foi sempre contada sob o ponto de vista dos brancos. Segundo essa história, nós somos descendentes de escravos - e não de povos africanos, com sua cultura, suas tradições. A ministra vai contra a idéia que as classes dominantes tentam impor de que não temos um problema racial, mas social.

_____________________ / _______________________

Acesse, também, a crônica do Luís Fernando Veríssimo - Racismos - no Blog do Noblat - publicada em 1/4/2007 http://oglobo.globo.com/pais/noblat/post.asp?cod_Post=53070

Nenhum comentário: