Já é o meu sexto censo. Quando nasci em 1960 o Brasil tinha uma população de cerca de 70 milhões de habitantes. 40 milhões ainda viviam no campo e o sexo masculino era predominante.
Quanto ao quesito cor/raça o censo de 2000 trouxe novidades. O número dos que se declaram branco que desde 1940 vinha caindo teve um crescimento percentual de 2,12% entre 1990 e 2000. O número dos que se identificam como pretos, que também vinha caindo desde 1940, teve um crescimento percentual de 1,03% entre 1990 e 2000. Já com os que se declararam pardos aconteceu o contrário. Os pardos que sempre cresceram desde o censo de 1940, entre os anos 1990 e 2000 tiveram uma queda de 4,04%. Os amarelos continuam a tendência de queda. E os indígenas mais que dobraram de tamanho suas populações entre 1990 e 2000, sendo que antes de 1980 nem eram contados pelo censo.
Para o censo de 2010 aguardo ansioso o que irá acontecer com a categoria parda. Pelo crescimento dos movimentos negros, até 2000, muitos que declaravam pardos ou brancos em censos anteriores assumiram a categoria parda no censo. Do ano 2000 até 2010 a luta racial ampliou seus questionamentos em torno da ideia de senso comum de que no Brasil vivemos uma democracia racial. O principal instrumento de pressão foi à luta pela política de cotas, principalmente nas universidades públicas. O tema é polêmico e divide opiniões até nos movimentos negros, mas teve o mérito de publicizar para o grande público essa discussão da identidade do brasileiro a partir das categorias cor da pele e raça. Particularmente minha hipótese é que haja um aumento substantivo de pessoas se autodeclarando preto e uma queda acentuada dos que se autodeclaram pardos. Vamos aguardar os números finais do censo.
Para concluir, repito o mote: Não deixe a sua cor passar em branco, pois ela faz parte da sua identidade. E olhe também a bela poesia na letra do samba composto por Nei Lopes a respeito do censo brasileiro de 2010. Axé!
Tabela - Distribuição proporcional da população por cor ou raça – censos selecionados
Branca | Preta | Amarela | Parda* | Indígena | s/ declaração | |
1940 | 63,58 | 14,66 | 0,59 | 21,32 | - | - |
1950 | 65,08 | 10,36 | 0,59 | 23,98 | - | 0,01 |
1960 | 59,70 | 8,37 | 0,66 | 31,27 | - | 0,08 |
1970 | - | - | - | - | - | - |
1980 | 54,91 | 6,09 | 0,60 | 38,40 | - | 0,58 |
1991 | 51,83 | 5,16 | 0,46 | 42,36 | 0,19 | 0,35 |
2000 | 53,95 | 6,19 | 0,45 | 38,32 | 0,43 | 0,66 |
Nota: * Até 1980, inclusive, a população parda incluía a população indígena. Fonte : IBGE, Censo Demográfico 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991 e 2000. |
Fonte: Sítio do IBGE - http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/pesquisas/demograficas.html
No Brasil de 2000 menos pessoas se declararam de cor parda.
Comparados aos resultados do Censo de 1991, os resultados do Censo 2000 registraram a redução da parcela da população que se declarou parda e um pequeno aumento da população que se declarou branca ou negra
Veja o gráfico abaixo:
Composição da População por Raça | |||
1991 | 2000 | ||
Total | 146 815 796 | Total | 169 872 856 |
Branca | 75 704 927 | Branca | 91 298 042 |
Parda | 62 316 064 | Parda | 65 318 092 |
Preta | 7 335 136 | Preta | 10 554 336 |
Amarela | 630 656 | Amarela | 761 583 |
Indígena | 294 135 | Indígena | 734 127 |
Sem declaração | 534 878 | Sem declaração | 1 206 675 |
No Brasil de 2000 menos pessoas se declararam de cor parda.
Comparados aos resultados do Censo de 1991, os resultados do Censo 2000 registraram a redução da parcela da população que se declarou parda e um pequeno aumento da população que se declarou branca ou negra
Veja o gráfico abaixo:
Composição da População por Raça | |||
1991 | 2000 | ||
Total | 146 815 796 | Total | 169 872 856 |
Branca | 75 704 927 | Branca | 91 298 042 |
Parda | 62 316 064 | Parda | 65 318 092 |
Preta | 7 335 136 | Preta | 10 554 336 |
Amarela | 630 656 | Amarela | 761 583 |
Indígena | 294 135 | Indígena | 734 127 |
Sem declaração | 534 878 | Sem declaração | 1 206 675 |
Fonte: Censo Demográfico 2000: Resultados do Universo
Fonte: Blog Meu Lote - Nei Lopes - Quinta-feira, Setembro 02, 2010 - http://www.neilopes.blogger.com.br/
QUANDO O CENSO BATER NA MINHA PORTA
Sou mameluco, sou cafuzo?/ Negro de keto ou nagô?/ Amarelo, pardo, índio,/ minha cor qual é que é? / Judeu, ateu, ET / Cristo, buda, oxumaré / Qual é a minha tribo / responde, IBGE! ..."
– De um samba-enredo dos jornalistas João Pimentel, Marceu Vieira e Arnaldo Bloch, em O Globo, 29.08.2010
Quando o Censo chegar aqui no Lote
Pra saber minha cor ou minha origem,
(Pois é cláusula que hoje o senso exige
Pro Brasil entender qual é seu dote),
Eu que sei que sou afro realmente,
Por meus beiços, nariz e pixaim
Que me dizem na certa de onde vim,
Pela história de vida dos parentes
De racismo e exclusão sempre presentes;
Pela saga de meus antepassados
Imigrantes também, só que forçados,
Eu respondo: sou afrodescendente!
Todo negro nagô veio de Queto
Da fronteira Nigéria-Daomé
De onde veio a família do Pelé
E de muito sambista pardo e preto.
Veio negro do sul do continente
Certamente parente de Mandela,
De Cabinda, Luanda e de Benguela
Do sudeste africano e do oriente.
E eu que guardo esse mapa em minha mente
Quando o Censo bater na minha casa
Faço um passo de samba e mando brasa:
– Meu “cumpádi”, eu sou afrodescendente!
O Brasil é de fato misturado
Porém só se mistura nos porões:
Quando a coisa é nos altos escalões,
A alegada mistura nunca chega.
E isso assim de “meu nego” e “minha nega”
Só se passa na cama, e não na mesa.
Quando é pra compartilhar riqueza
Dividir posição proeminente,
Ninguém vai me querer como parente.
É por isso que, quando da entrevista,
Digo ao IBGE que sou sambista
E me orgulho em ser afrodescendente.
(NL, 30.08.10).