quarta-feira, dezembro 02, 2009

Idade de entrada da criança no Ensino Fundamental

Comentários Moisés Basílio: 
Com a ampliação do Ensino Fundamental de oito anos para nove anos, que será totalmente implantado em 2010, os sistemas de ensino nacional, estaduais e municipais não se entenderam quanto à padronização da entrada.  
O que preocupa é essa ânsia, que vai da família ao poder público, de antecipar a entrada da criança na escola formal que se caracteriza pelo foco mais na "ensinagem" do que na "aprendizagem". 
É uma pena, pois desde a década de 80, principalmente depois da aprovação da Constituição, a Educação Infantil se desenvolveu muito no Brasil, e tem apresentado uma proposta pedagógica consistente de trabalhar com a criança pequena, respeitando seus direitos, principalmente o de viver plenamente a sua infância.
É triste ver uma criança de seis anos entrando às 7 horas da manhã, numa sala de aula, sentar numa carteira e ficar boa parte do tempo, até as 12 horas - 5 horas -, privadas do lúdico e sendo massacrada pela "ensinagem". A seguir uma notícia sobre a intenção que padronização e uma opinião critica. Axé!

Fonte: Jornal Folha de S. Paulo - 27/11/2009 - Caderno Cotidiano

Conselho de Educação quer padronizar regra Órgão federal reunirá Estados, municípios e colégios privados para buscar data-limite nacional para criança entrar no ensino fundamental

Meta é que criança complete seis anos até fevereiro, início do ano letivo; dificuldade atual ocorre porque as redes já adotavam datas diferentes

DA REPORTAGEM LOCAL
O Conselho Nacional de Educação, ligado ao Ministério da Educação, reunirá em dezembro representantes de Estados, municípios e escolas particulares numa tentativa de criar uma data-limite nacional para que a criança, segundo o dia de nascimento, possa ser matriculada no primeiro ano do novo ensino fundamental.
O conselho teme que, caso a ausência de padronização permaneça, crianças novas demais entrem no ensino fundamental. Para o órgão, os alunos de cinco anos devem ter atividades lúdicas e brincadeiras, e não lições de alfabetização.
"Se um sistema estabelece dezembro como limite, a criança cursará todo o primeiro ano com cinco anos. É uma temeridade", diz o presidente da Câmara de Educação Básica do conselho, Cesar Callegari.
O órgão vai defender que o corte nacional seja fixado em fevereiro, início do ano letivo.
A dificuldade para a padronização ocorre porque parte das escolas já vinha adotando datas diferentes para o corte. O Estado de São Paulo, que fixou a data de aniversário limite em 30 de junho, tinha dezembro como corte anterior. Se passasse para fevereiro, a mudança seria demasiado brusca.
Mesmo com a decisão do Conselho Estadual de Educação, o corte das escolas estaduais e municipais localizadas apenas na cidade de São Paulo ficou definido em fevereiro.
Na cidade, a maioria dos colégios particulares fixou 30 de junho como corte. E parte deles faz a criança vinda de outro colégio, ainda que aprovada, repetir o ano caso ela não se enquadre no limite etário. A criança, então, refaz o estágio e entra no primeiro ano só no ano seguinte, já com seis anos. É o que ocorre nos colégios Santo Américo, onde o corte é em 31 de julho, e Vera Cruz. Os alunos que já estudavam lá não enfrentam o problema e continuam os estudos normalmente.
Há outras que aceitam as crianças, mas não automaticamente. A vida escolar anterior é analisada. Caso os professores julguem que elas têm condições de entrar no primeiro ano, são matriculadas.
Esse é o caso dos colégios Pentágono, Magno e Santa Maria. "Respeito a história do aluno e não olho só a data de nascimento", diz Cláudia Mileo, diretora do Pentágono. "É preciso olhar caso a caso", concorda Cláudia Tricate, do Magno. (RICARDO WESTIN E FÁBIO TAKAHASHI)

Fonte: Jornal Folha de S. Paulo - 02/12/2009 - Caderno Cotidiano
Início precoce não garante vida escolar exitosa
ROSELY SAYÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Muitos pais de crianças que estão com cinco anos agora, principalmente se completados no segundo semestre, estão mergulhados em uma missão: convencer a escola de que o filho está apto a iniciar o Ensino Fundamental em 2010.
O maior problema é que o ano tem 12 meses e as crianças nascem em todos eles. Para resolver tal questão, talvez pudéssemos decretar o nascimento de crianças até 30 de junho, apenas. Pelo menos no Estado de São Paulo.
É essa a data de corte para a matrícula no primeiro ano do Ensino Fundamental por aqui. Isso faz com que pais de crianças que nasceram em meados de julho ou nos meses subsequentes contestem a medida.
Pais advogados ou de outras profissões têm mil argumentos dos mais lógicos e legais aos mais apaixonados e grosseiros na busca de tentar garantir ao filho o domínio da leitura, da escrita e da aritmética o mais cedo possível.
Quais as razões que os pais têm para essa atitude? Sem dúvida, o clima altamente competitivo em que vivemos. O raciocínio é o de que quanto mais cedo a criança começar o aprendizado formal, maiores seriam suas chances de se dar bem na vida futuramente.
Pesa também a quase certeza da precocidade das crianças: elas se viram muito bem com as mais variadas facetas do mundo adulto e muitas demonstram gosto pelas letras, números e tarefas escolares. Entretanto, estudos e pesquisas têm apontado que não há relação entre uma vida escolar exitosa com início precoce dela.
Talvez fosse mais interessante pensar no presente das crianças e não em seu futuro.
Na Educação Infantil, a criança goza ou deveria gozar de liberdade para aprender. Explora o mundo à sua volta de preferência em um ambiente amigável, confiável e seguro -ao seu modo, em seu tempo e sempre por meio de brincadeiras, sem ser dirigida por adultos, apenas acompanhada por estes. O grande aprendizado nessa época da vida é o que chamamos de socialização: aprender a conviver consigo mesma, com o grupo de pares e com adultos por eles responsáveis.
Para bem começar o Ensino Fundamental e o primeiro ano dele ainda deve ser de mais tempo dedicado ao brincar do que ao ensino formal a criança deve estar preparada para estar com os outros em um espaço comum, saber compartilhar, seguir sem grandes dramas as instruções dadas, acatar as orientações dos adultos e estar pronta para crescer. Tudo isso é muito mais importante que suas habilidades com letras e números.
Colocar a criança antes dos seis anos nesse clima é queimar uma etapa em sua vida, é colocá-la sob pressão. Em nome dos anseios dos adultos? Não vale a pena já que sabemos que toda etapa queimada, um dia volta. Só não sabemos como.


2 comentários:

Claudio Oliver disse...

Caro Basílio
você aponta para o problema: a destruição da criança, sua adultificação pela compulsoriedade (agora levada ao extremo de obrigar e forçar crianças em plena explosão de conexões neuroniais a deixar o lar e a comunidade para irem ao inferno da cela de aula).
Muito bom saber de gente como você.

Anônimo disse...

É triste perceber que nossos governantes não estão nem um pouco preocupados com o desenvolvimento pleno dessas crianças.
Mais triste ainda é verificar que os pais da atualidade preferem se livrar dos filhos, empurrando-os para as escolas, sem se preocupar se as mesmas têm estrutura para o bom desenvolvimento de seus filhos.
Muitos pais hoje não estão preocupados com o aprendizado da criança, com seu desenvolvimento geral e sim em deixar essa criança por muitas horas ocupada e longe.

Silvia Tiago