sexta-feira, dezembro 01, 2006

Dia Nacional do Samba

Caros,
Segue, mais uma vez, um reflexão do meu "guru" de negritudes atualmente, o Nei Lopes, a respeito do Dia Nacional do Samba.

O SAMBALANÇO SAÚDA O DIA DO SAMBA - Nei Lopes - fonte: www.neilopes.blogger.com.br/

Dias atrás ganhei em São Paulo, do músico Marco Mattoli dois CDs e um DVD. O conteúdo é "samba-rock", que aqui no Rio a rapaziada chama de "suíngue" - aportuguesamento do inglês swing, balançar.

No DVD, depoimentos e aparições de velhos conhecidos como Marku Ribas, Luiz Camilo, Boca Nervosa, Seu Jorge, Paula Lima; do inefável Ivo Meireles, dos indispensáveis herdeiros do grande cantor Wilson Simonal, e até do "tremendão" Erasmo Carlos, que um dia ia entrando no samba mas foi embora, ler seu Pasquim.

Pra quem teve a oportunidade de dançar samba ao som, principalmente, de Ed Lincoln ou apenas ouvir os que vieram depois, como os conjuntos Copa Sete, Devaneios, Charme e Chanel, foi uma viagem que merece reflexão, aliás já feita por nós, em outro lugar e momento.

É que, a partir da bossa-nova, instituiu-se uma espécie de "samba de concerto", que só se podia ouvir sentado, geralmente no chão, quase em postura de ioga, sem dançar, como nas disciplinadas e quase militares rodas de choro.

Mas o samba, que desde o pós-guerra, principalmente nas gafieiras, à base de trombone, sax e piston, já canibalizava elementos do be-bop e do boogie-woogie e os devolvia em um produto de alta voltagem rítmica, dançante até a raiz dos cílios anais, não se aquietou. E, depois de ter contaminado Denis Brean, Osvaldo Guilherme, Haroldo Barbosa, Geraldo Jacques, Geraldo Pereira e até Gordurinha, foi gerando o samba-jazz dos trios de piano, baixo e bateria; e chegou ao sambalanço de Pedrinho Rodrigues, Sílvio César, Orlann Divo, Sonia Delfino, Miltinho, Elza Soares, Luiz Reis etc, nas boates da Zona Sul, até parir Jorge Ben.

Esse Jorge, depois Benjor, é pois o mítico herói-fundador do samba-rock e do Clube do Balanço. Que tem hoje no Marco Mattoli e na Tereza Gama seus pontas-de-lança em São Paulo.

Sinceramente, meus camaradas: se vocês têm pelo samba a gamação que eu tenho, deixem de radicalismos e ouçam o Mattoli e seu Clube do Balanço. Aí, vocês vão ver o samba numa de suas formas mais fortes e competitivas: totalmente dançante, capaz de encarar pau a pau, nesse campo, a imbatível música afro-cubana. E de botar até o rythm'n' blues no chinelo, quanto mais esse pop-rockzinho michuruca que anda por aí.

Quem quiser música pra ficar ouvindo sentado (o que também é bom!) ligue na Rádio MEC. Ou vá ao Teatro Municipal. Quem estiver a fim de letras literariamente elaboradas, ouça, além dos mais antigos, o Paulinho Pinheiro, o Aldir, o Hermínio, o Luiz Carlos da Vila...

Mas quem, neste Dia Nacional do Samba, quiser dançar, segurando a dama pela cintura, dizendo uma lera no ouvido dela, cruzando, soltando, rodando, grudando de novo... não vá a rave, não, que rave dá raiva. O verdadeiro êxtase (e não ecstasy) é dançar um samba balançado, com a metaleira metendo bronca. Como o que faz o pessoal o pessoal do sambalanço, suíngue, samba-jazz ou samba-rock - ao qual o meu mais novo amigo de infância Marco Mattoli acaba de me reapresentar.

"Samba é isso, afro-mestiço, do jeito que negão nunca negou" - falou Alcione, que também é do ramo.

Nenhum comentário: